domingo, 13 de fevereiro de 2011

DA INSTRANSCENDÊNCIA DA VIDA E DA MORTE

            Não quero nestas minhas ilações mentais, me referi à intranscendência penal, que trata da individualização da pena no caso concreto, mas sim, do inconsciente da vida e do que supostamente pode vir a sobrar ou perdurar depois do fator fenomênico, morte. Quer na vida, quer na morte, existe alteração da matéria que nos circunda. Primeiramente, quando viemos ao mundo com vida e, em segundo lugar, quando temos garantido o dormitar do sono eterno. São duas situações bem distintas e diametralmente opostas na intranscendência entre nascer e morrer.

          Embora antagônicos tais fenômenos naturais, ambos estão próximos um do outro. A vida, por nos aproximar daquilo que é humanamente possível, palpável e mutável. Quanto à morte, por nos afastar de forma brusca, sem pré-aviso, do ligamento natural dos movimentos vivificantes e da privação da ausência de domínio das faculdades mentais de pensamento e de agir livremente, se constituiu no maior entrave do nascer e viver. Não há uma explicação plausível que nos faça compreender com exatidão, até que ponto estamos de fato estreitamente ligados entre a vida e a morte, mas que de certa forma existe um elo entre ambos, disto não se pode duvidar. Vida e morte se complementam na medida em que nascemos e morremos, e é justamente nessa instranscendência do nosso subconsciente mental, que navega a nossa alma, o nosso espírito no decurso da vida de cada um de nós. Após à morte, certamente, essa intranscendência poderá não mais fazer parte do subconsciente do ser humano que passou a ser imaterial, mas pode perdurar e permanecer de outra forma invisível de continuidade da vida após a morte, senão não teria sentido algum se viver uma vida toda, para se chegar a lugar algum, mas que, obrigatoriamente, perde todo o contato com o elo natural e material de forma de toda e qualquer forma de vida, a não ser as larvas que por um curto lapso de tempo devoram o que da nossa matéria sobrou.

           No mundo material das coisas, nos limitamos ao que objetivamente está ao alcance de nossas mãos, já no subconsciente e no subjetivismo de cada ser humano, tudo se pode, tudo é permitido, nada sendo proibido ou que possa sequer vir a se constituir em fato delituoso. Na intranscendência de cada um de nós, viajamos no espaço e no tempo, para onde bem quisermos. Viajamos para galáxias às mais longínquas possíveis, povoadas por gente, bichos, geringonças ou seja lá o que tipo de coisa ou vida que venha a ser, de formas e hábitos inimagináveis, mas temos a liberdade de fazermos e imaginarmos o que bem entendermos. Somos também o que quisermos, afinal, no nosso subconsciente, no nosso subjetivismo, podemos agir e pensar livremente. Somos como aves a voar no firmamento sem nos preocuparmos com as mazelas que existem a nos circundar por todos os recônditos deste decadente mundo. Neste mundo imaginário, podemos nos livrar dos pecados que a sociedade nos impõe, sonhamos o mundo que bem entendemos, inclusive nos imaginar que seremos sempre eternos na natureza e dotados da mais plena beleza do corpo e da alma. É quando deixamos o imaginário nos dominar num mundo de sonhos, que vem da intranscendência da vida, de dentro do nosso subconsciente, até mesmo como forma de se fugir da dura realidade em que vivemos.

       Quando deixamos o mundo material e objetivo em que vivemos e partimos para a imaterialidade da implacável morte, certamente essa intranscendência, não mais fará parte do mundo material até vivido no limiar entre a vida e a morte, mas algo de misterioso deve continuar a existir para que se possa justificar a vida humana de forma inteligente, que por este mundo passou. Será que o subconsciente da gente na intranscendência da morte, continuará a vaguear nessa imensidão de mundo, pelas galáxias infindas, ou também, terminará de vez com o último suspiro? – A questão é complexa para se ter uma explicação satisfatória, tanto para os que são partidários de que existe a continuação desta intranscendência mesmo após a morte e, da mesma forma, existem os que acham que tudo se finda com o fator fenomênico do término da natureza da vida de cada ser humano, ao ser volvido ao pó do qual adveio. Na verdade, quando nascemos, de logo somos uns privilegiados, pois somos o que sobrou de uma batalha de mais de bilhões de outros seres, que da mesma forma, brigaram para ver a luz da vida, mas não, para infortúnio dos demais, o felizardo, o dotado da dádiva divina, foi quem nasceu com vida. Quanto aos demais, sequer tiveram o privilégio de sentir a brisa do vento, aspirar o ar que respiramos e beber a água da vida. Então, minha gente, na realidade, envoltos por todo esse mistério, que uns explicam de uma maneira, outros entendem como bem querem entender, tratados são fundamentados, doutrinas são formuladas, religiões e mais religiões são criadas, tudo isto, mais tudo isto, para explicar a intranscendência da vida, que dificilmente se terá uma explicação de fácil aceitação e que venha realmente a convencer de verdade. A complexidade da vida e da morte, são fatores fenomênicos naturais, que por mais explicações que existam, poucos na verdade, tem a certeza inconteste sob o qual manto misterioso existe de fato a nos envolver. A vida vai passando a passo largos e a morte, jamais deixará de existir, outras vidas virão, é como uma roda-gigante girando sem parar, pontificando aqui, acolá, uma vida, uma morte, milhares de vidas, outros tantos milhares de mortes. É assim o ciclo da vida e da morte e na intranscendência natural da vida, melhor viajarmos como bem entendermos para que não venhamos a nos perturbar com os tantos e tantos problemas que no decurso da vida temos que enfrentar e devemos sempre fazê-lo, não cabisbaixos, como derrotados, mas sempre de cabeça erguida, como guerreiros, batalhadores que nunca param de lutar numa frente de guerra. É esta a vida que devemos desfrutar com todo fervor, todas as forças, mesmo tendo plena consciência, de que somos presas da inexplicável intranscendência de vida e da morte.

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