quarta-feira, 9 de março de 2011

RECIFE, A FACE CRUEL

Ontem Recife
Singela Recife
Acorrentada pelas veias correntes do Capibaribe
Embevecida pelas límpidas águas navegáveis do Beberibe
Recife dos sonhos
Louvada Recife
Pura e amada
Recife das cabrochinhas
Sem o manto da maldade
Recife saudade
Dos rústicos postes de foscas luzes
De seresteiros da noite
Recife de outrora
Recife era uma bandeira
Na maestria poética dos versos de Manuel
Do mel com sabor de mel
Recife poema
Esmerados à pena
Recife Manuel Bandeira
De face dócil
Mais doce do que o mel.

Hoje Recife!
-Quem era Recife?
Recife cidade
Da face cruel
Recife do mel
Com gosto de fel
Pintada de sangue
Coberta de mangues
De monstruosa vida
Da miséria ardilosa
Calamitosa.

Recife sem alma
Sem calma
Própria dos grandes céus
Envolvendo minúsculas gentes
Tão miúda qual u’a célula
Que antes de preservá-la
Estraçalhou suas entranhas
Que sangra, arde e exala
O pútrido odor
A vergonha
Dominando os antes límpidos leitos
Com o leite das excrescências humanas
De alimento servindo até
A pobreza, a miséria
Do tormento
Daqueles que nem sequer sabem mais
Sê gente
Sê espectros a rastejar
Nos manjares dos putrefatos lamaçais.

És hoje Recife
A face cruel
De um povo ofendido
De pessoas sofridas
Que respiram o fel
Da natureza ferida
Que dormita esquecida
Arquejando ao léu
Clamando aos céus
Por socorro divino
Já que os humanos
A têm visto com desatino
Recife cruel
Da face do fel.....

OBS: Fiz este poema em um momento em que estava contemplativo com a vida na cidade do Recife, quando lá residia, estudava e cursava faculdade. 

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