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BUÍQUE, NORDESTE/PERNAMBUCO, Brazil
A VERDADE SEMPRE FOI UMA CONSTANTE EM MINHA VIDA.

sábado, 19 de dezembro de 2015

FEIRA DE RUA DE BUÍQUE, NOS MEUS TEMPOS DE CRIANÇA



         Lembro de parte de minha infância, não propriamente de todos os fatos, acontecimentos e momentos, porém de alguma coisa esparsa, dispersa no tempo e no espaço, ainda guardo na memória, alguma coisa.
        Até provavelmente meus tenros oito anos de idade ou menos, morava no Sítio Cigano, vindo para à cidade, por insistência de minha mãe, para que pudéssemos aprender a ler e ter uma melhor educação para à vida. A gente na verdade era feito bicho bruto.
      Foram tempos difíceis, morar naquelas brenhas lá por volta de final da década de cinquenta até vir morar na rua, em oposição à zona rural. Pelo atraso em que se vivia, o único transporte existente, diferentemente dos dias atuais, era o jumento. Hoje não, todo cidadão que reside nos sítios, tem uma motocicleta e os jumentos, cavalos e burros, foram esquecidos pela modernidade.
      Naquela época, o que mais me deixava ansioso, era esperar o dia da feira-livre de Buíque, nos sábados, para poder comer o bolinho de goma de minha avó paterna, assado em folha de bananeira. Era uma delícia. Também, quando minha mãe queria nos presentear, fazia-nos deliciar com um picolé que vinha nuns tambores forrados de zinco da cidade de Rio Branco (hoje Arcoverde), era para mim, um manjar dos deuses, deliciar-me com uma gostosura gelada e tão saborosa. Outra coisa que não poderia faltar, era o algodão doce. Ficava curioso com àquele tipo de estrovenga, uma máquina que não sabia o mistério, mas que a ser rodada manualmente pelo vendedor, produzia àquele algodão doce feito de açúcar, que parecia até com as nuvens e deleitava-me com tais guloseimas. Queria provar de tudo que era novidade, mas ficava nesses aí mesmo. Quebra-queixo, era outra guloseima que não poderia deixar de provar.
     Olhar às canoas de Leba, que sempre as colocava para a meninada brincar nos dias de feira, era também uma de minhas fixações e, quando tinha alguns níqueis, até gostava de me balançar naquelas rústicas e meio despedaçadas canoas. Era um divertimento, coisa que não existia no Sítio Cigano.
     O diferencial de vida que encontrava no dia de sábado, era a feira-livre, coisa incomum para quem vivia dias e noites sem ter o menor contato e chegar a ver ninguém. Um montão de gente aglomerada, andando, conversando, bebericando, velhas, moiçolas e todo tipo de matuto existia na feira dos sábados. Uma das coisas que me chamava atenção, eram as bancas onde se vendia perfumes, acomodados em vidros e garrafas, em que tinha um cheiro insuportável, mas todos compravam para ficarem cheirosos, mas na verdade, nada tinha de agradável para as minhas narinas. No Sítio Cigano, vizinhos de morada naquela época, era meio distantes uns dos outros, razão pela qual, raramente a gente tinha contato com outras pessoas. Por ser maturo ao extremo, quase também, no meio de muita gente na feira, não tinha o hábito de conversar com ninguém e pouca conversa tinha com meus pais. Só mesmo com os meus irmãos.
       No sítio, meu dia era praticamente em contato com as galinhas que minha mãe criava, alimentando-as com xerém, que em muitos casos, eu mesmo quebrava com uma pedra menor com os grãos colocados numa pedra maior, para poder fazer a comida dos pintinhos. Fiquei com um imenso remorso, quando certa feita, um pintinho que o tinha me apropriado como se meu fosse, veio bicar o xerém e sem querer, ao invés de quebrar o milho, esmaguei com uma pancada só, a cabeça do pintinho que morreu na hora, sangrando pela cabeça, sem ter a menor chance de sobrevida. Confesso que fiquei triste por ter matado sem querer, o pobre pintinho preto, mas não tinha o que fazer. Minha mãe, se não me lembro bem, chegou até mesmo a me passar uns “gatos” pelo meu primeiro crime cometido, o de matar impiedosamente, embora sem querer, o pintinho preto.
      Com todo esse tempo, existiram coisas que nunca desaparecem da mente da gente, e nesta permanecem até o final de nossas vidas. As coisas que seletivamente em nossos neurônios, foram consideradas mais importantes ou mesmo, aterrorizantes em nossa alma, ficam impregnadas para sempre em nossa mente; outras que não marcaram tanto, desaparecem como que por encanto, ficam, desaparecem no esquecimento. Por isso mesmo, de um período de minha infância, as coisas mais marcantes mesmo, foi a moradia no Sítio Cigano e seus mistérios mais tenebrosas das longas noites de escuridão, a vinda nos sábados, não todos, à feira-livre de Buíque e alguns fatos, a exemplo, como o meu primeiro assassinato do pintinho preto. São coisas que jamais sairão de minha mente, de um passado vivido que não pode jamais ser mudado ou mesmo revivido.

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