De mãos covardes de
um revólver
Em idos que
permanecem no tempo
Cuspiram cinco estilhaços
de fogo
De forma covarde e
infame,
Em direção à meu
pai,
Que tendo como arma
uma vassoura
Só fizera se
movimentar feito boneco,
Balançando de um
lado e para outro
Como se livrando
dos petardos de chumbo,
E como que numa
sorte desmesurada,
Nada veio a lhe
atingir seu corpo,
Não sendo ceifada a
sua vida,
Que certamente veio
de um manto divino
De um anjo
compadecido
Que viu naquele
homem humilde,
Que dos tiros
covardes e traiçoeiros
Não iria lhe levar
consigo,
Porque ele tinha ainda
neste mundo,
Uma missão a ser
cumprida.
Sua hora não fora
àquela
Razão não existia
para partir
Com seus seis
filhos a criar
Como de uma ação
covarde,
Vir a deixar de
suspirar?
Foi triste, muito
comoção a nos dominar,
Criança de nada
sabia
Mas vinha um ódio indômito
Com saber na boca
de sangue
Daquele que quase
tira de meu pai
O que de mais
importante existia,
Que era a sua vida.
Foram para mim dias
tristes
De revolta por uma
ação indescritível
Para um déspota
pistoleiro do acaso
Mas já bem
acostumado
A ser metido a valentão
E justamente num
homem mirar sua arma
Cinco tiros em
frente ao Mercado Público disparar
Sem que houvesse
motivação que justificasse
Àquela iniciativa
de um bandoleiro
Que se imaginando o
rei dos boiadeiros
Quis nos tirar
nosso pai sem nenhuma razão.
Quando lembro de
tudo isso
Fico dominado por
uma emoção incontida
De um momento de
meus tenros anos de vida,
E ainda uma revolta
no peito
Que busco conforto
nas brumas do tempo
Mas dessa injustiça
nunca me esqueço,
Apesar de meu pai
já se encontrar dormitando
Há quase três
décadas
O seu sono eterno
dos justos.
Mas não há mal
maior nesta vida
Para quem busca
ferir à vida
De quem nunca feriu
ninguém
Que só quis da vida
viver
E deixar os outros
também...
O que não sai de
meu imaginário
Que ficou não como
um tormento
Foi que o ano de
1963,
Em que meu pai
levou cinco tiros
Que antes de o
matar,
Naquele momento,
Foi um divisor em
nossas vidas
Em que meu pai,
Mais uma vez
nasceu.
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