Tinha lá meus 12 anos de
idade. De repente, sem ao menos querer ou saber, me encontrava no Estado de São
Paulo. Não podia existir coisa pior. Tão jovem, sem saber nadica de nada na
vida e me encontrar num mundão que nem sabia de sua existência, isso foi demais
para mim.
Pior é sentir que diante de tudo isso que aconteceu, não
sabia muito bem o que se passava. Na TV Excelsior ou Tupi, a gente só assistia,
mais e pior ainda, era que tinha que se assistir TV, na casa de um nosso
vizinho da família Pinto de Buíque; novelas das antigas, alguns programadas da
mesmice de Sílvio Santos e outras porcarias do gênero. Noticiário, quase nada e
também, depois que eclodiu o golpe de 64, quase ninguém ouvia nada, por que
quem era que se atreveria a dar notícia ruim sobre o regime militar? – Só quem
quisesse parar em alguma masmorra da época ou então desaparecer como num passe
de mágica.
No rádio o que mais se ouvia era a música de Roberto Carlos,
“Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”, grande sucesso daquele enebriante tempo e,
tinha uma outra, de Dom e Ravel, que enaltecia o Golpe Militar de 1964, que por
isso mesmo, essa dupla, terminou no ostracismo, por ter tido o pecado mortal de
enaltecer algo que contrariava à vontade popular.
A partir de então, quando comecei a entender mais o que
representava àquele golpe, foi que fui me conscientizando de que, regime
ditatorial não é, e jamais fora o forte em toda a minha vida. Vi de perto, numa
escola estadual, já morando na capital daquele estado, um dos líderes à
resistência, ser vilmente metralhado. No outro dia soube tratar-se de Carlos
Maringhella, que em um fusquinha, carro famoso na época, houvera sido pego e
impiedosamente metralhado pelos militares na Vila Zelina. Nunca esqueci disso,
porque ainda cheguei a ouvir os repicares dos tiros seguidamente.
Depois de alguns anos, já de volta ano meu Nordeste, vi
também no Recife, então estudante e trabalhando no BANDEPE, a casa na Ilha do
Leite, onde morava Dom Hélder Câmara, sempre ser metralhada, para intimidar um religioso
que era contra à ditadura e pregava o respeito aos direitos humanos, por isso
mesmo, sempre fora vítima de ataques covardes e ameaças da parte dos militares.
Regime assim, jamais imaginaria viver e alguns ainda pedir
esse regime de volta, sinceramente, a mim me parece não saber, não ter
discernimento que venha a ser uma ditadura e me deixa triste e envergonhado de
ter que conviver com gente que pensa dessa forma. Por isso mesmo, é que sou
radicalmente contra ao golpe que querem a todo custo aplicar na presidente
Dilma Dousseff, com toda essa onda de corrupção da qual buscam acusá-la, mesmo sabendo-se
que ela é uma pessoa íntegra. Muitas dessas pessoas, antes de fazer qualquer
movimento em favor de um grupo de sem-vergonhas políticos que estão à frente
desse malfadado golpe, deveriam na realidade, leem um pouco mais de história,
para ver se refrescam as suas memórias.
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