Nada mais importante na
vida de alguém, quando se imagina que algo existe, que uma coisa vai acontecer
de verdade, porque isso alimenta a ânsia da esperança, do viver, do crescer e
do alimentar do imaginário de muitos. Isso pode até ser importante até certo
ponto de nossas vidas, mas não é nada positivo, quando se chega a triste realidade
de que, muitas das coisas que nos introjetaram na mentalidade, não passam mesmo
de meras invencionices criadas com algum objetivo de enganação, que podem levar
à frustração de muita gente ainda na fase de formação de suas personalidades no
decurso de suas vidas.
Ora, quantas não foram às vezes em que fui aturdido,
assombrado e atordoado por duendes, por bruxas, por fantasmas do mal, mesmo que
tais não existissem, mas que, nossos ancestrais faziam com que a gente
acreditasse em tudo isso, certamente como forma de nos refrearmos no medo e nos
contivéssemos para não praticarmos peraltices! Talvez fosse por isso, ou não!
Quem sabe eles mesmos também não acreditassem em tudo isso e por esta razão nos
passassem essas crendices de um misto de medo e de realidade.
Pior na vida mesmo, era nos fazer crer no velhinho barbudo de
final de ano, Papai Noel, que na verdade, sempre existiu para crianças ricas, porque
para as pobres, ele na verdade nunca apareceu nem para dar um brinquedo
qualquer encontrado nos lixões espalhados por aí afora. Meninos ricos sempre
foram privilegiados. O bom velhinho sempre apareceu do Pólo Norte ou de qualquer
outra região. Acredito que no Sertão Nordestino, certamente papai Noel deveria
vir em sua carroça, não de renas, mas sim, puxada por uns doze jumentos a andar
voando pelos céus, para entregar o que à nossa criançada pobre? Apenas desesperança
e nada de presente de final de ano. Mesmo assim, ainda acreditávamos nesse bom
velhinho!
Nos natais não me deixava abater pela falta de comida na
mesa; de uma mesa farta com todo tipo de iguaria, que nunca existiu! Acaso
tivesse pelo menos algum naco de pão na ceia de natal, já se podia dizer que o
nosso natal era feliz. Natal para gente pobre nunca existiu; nunca existirá,
porque isso é coisa de gente rica. Criança pobre, continua a vislumbrar um
natal sem luz, sem presentes e sem esperanças, por mais que queiram convencer
comercialmente essa imagem do bom velhinho, mas jamais vai passar meramente de
um produto comercial, só mesmo quem pode comprar um presente é quem tem o
sagrado direito de ser clicado sentado no colo desse bom velhinho, bafejando um
fedor de álcool ou de nicotina, quando não, de um mormaço de maconha.
Nunca tive esses tipos de natais em minha vida, porém sentia
um certo espírito natalino nesse período de final de ano. Não propriamente por
vontade própria, mas sim, de minha mãe, que acreditava piamente, como crédula
fervorosa que era, na comemoração do nascimento do Menino Jesus e isso para
mim, já era o bastante e suficiente para adorar esse período natalino. Íamos
rezar, padres-nossos incontáveis, salve-rainhas de montões, ave-marias e sei lá
mais o quê!, mas rezávamos pra valer. Mesmo que pulasse rezas ou apenas
balbuciasse, mas pelo menos fazia de conta. Não tinha muita convicção nas
minhas rezas; eram evasivas; não via ou encontrava nenhum nexo de ligação entre
reza, menino Jesus e salvação, mesmo assim, tinha por dever e obediência, que
concordar com a minha mãe. Meu pai, esse não! O que ele queria mesmo, era
aproveitar tais épocas festivas, não pelo lado religioso, mas sim, do
pecaminoso, da farra, das festanças, que era mais o lado laico dele, que de
religiosidade, ele não tinha lá muita coisa, porém minha mãe, era do tipo beata
de igreja. A católica, claro, por que outra ordenação, não lhe entrava na
mente. Faleceu nesse crédulo e pela crença dela, se realmente tudo isso lhe
valeu à pena, então deve estar lá no Céu, não ao lado do Menino Jesus, mas do
próprio, que morreu aos 33 anos e não mais envelheceu, apesar de contar com
mais de 2 mil anos.
Já fui mais afoito nesse período natalino. Hoje não mais. Só
restam lembranças de natais infelizes e depois, já na juventude, de alguns
finais de anos de muitos exageros, noutros nem tanto, como os da atualidade. O
espírito festivo desse período, invadia minh’alma, não propriamente no sentido
de religiosidade, mas de irmanação, de festejos, de cair na farra e só parar
quando não aguentava mais, porque nunca fui muito de acreditar nessa do bondoso
velhinho, Noel, que na verdade, nunca me trouxe um presente sequer nesta vida e
sei que me vou, não sei para onde e jamais verei Noel, porque na verdade não
passa de invencionice da cretinice do mundo capitalista selvagem.
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