Quantos não foram os finais de ano em que passei esperando-os
avidamente para entrar na farra; ir às festas, ao baile de final da virada e
era uma alegria extasiante que invadia as nossas almas, dominava a todas as
pessoas e a alegria transbordava além de nossas próprias vontades. Também houve
finais de ano, que quando menos se esperava, lá estava eu em sono profundo. Sequer
chegava a ver a virada, porque a empolgação vinha bem antes e ao cair na farra,
só saia mesmo quando já não tinha mais condições de dar continuidade. Exageros
à parte, mas era assim mesmo.
Hoje já não posso mais repetir as mesmas extravagâncias de
antes, porque não tenho mais condições de me permitir a esse tipo luxo, embora
seja consumido pela vontade incontida, mas pelo menos, uma ponta de casquinha,
certamente haverei de tirar, que ninguém é de ferro.
Deixando de lado os anos a fio de vivência, se bem que, não
foram ainda tanto assim e por mais que cheguemos a viver, mesmo assim, não foi
ou será jamais o suficiente, porque na verdade, deveríamos nascer para sermos
eternos, para semente, como diz o dito popular. Na verdade, a cada ano que
passa, devemos fazer disso, um período de amadurecimento da vida e de reflexão,
sobre tudo que passamos pela nossa própria vida e o que podemos ou não, fazer
para mudar o direcionamento de muitas coisas em nós próprios e em muitas coisas
a nos rodear.
Por mais que o tempo avance, não podemos escolher somente um
dia na vida para fazermos uma análise e refletir sobre o que passamos durante o
ano que se finda, dos anos anteriores, porque a vida deve ser sempre um
edifício em construção que só vem mesmo a terminar no último suspiro. Enquanto
este não vier, temos que dar continuidade ao nosso projeto de vida, de ser
humano e nos tornarmos cada vez mais humanizados, mesmo que não venhamos a
compreender, aceitar ou aprender tudo, porque impossível se chegar ao
conhecimento pleno de toda à humanidade, em face de sua complexidade de
existência.
Por mais que queiramos, jamais iremos chegar à perfeição
completa nem mesmo de nós próprios, porque frutos das imperfeições desconexas
de nossas existências, não somos capazes jamais de nos tornarmos perfeitos,
porque se assim o fosse, não chegaríamos a morrer, mas enquanto vida tivermos,
com certeza a batalha, a frente de luta, jamais poderá ser colocada num plano
secundário, mas sempre sim, como elo principal entre viver e morrer a ser
seguindo.
Por isso mesmo, pela efemeridade da vida, é que não sendo lá
muita coisa, é que devemos pensar, refletir e buscar fazer com a dignidade com
a qual devemos nos conduzir, com respeito ao próximo como a nós mesmos e
buscando fazer o que deve ser feito dentro de princípios éticos e morais,
acredito que já é grande coisa para a missão de cada ser humano e assim, pelo
menos, para os que ainda não estão afeitos a pensar, que busquem pelo menos
neste último dia do ano, fazer um reflexão na vida de cada um para ver o que se
fez, deixou de fazer e no conjunto, em nome do coletivo e de si próprio, o que
não deve ou não ser mudado, porque as verdadeiras mudanças só acontecem quando
a gente percebe que na vida da gente e em nossa volta, nada está como deveria
ser e muita coisa ou tudo, deveria ser devidamente mudado, para que a vida
tenha a sua regular continuidade e para que cada um possa vir a alcançar mais
um ano de virada e, para os que não conseguem, nada mais resta senão o nosso
eterno pesar, mas que viver e sempre buscando novas vestimentas éticas, morais
e honestas, é um imperativo importante e precioso, como a água que nos dá vida
diariamente.