Lembro muito bem, que quando partir com a minha família para o Estado de São Paulo, em 1964, precisamente no mês de abril, acho que no início, fui com a minha família morar na cidade de Ribeirão Pires. A essa altura, Miltinho, meu irmão primogênito, já se encontrava lá e fomos para aquele estado levado pelas dificuldades até então vividas e pela covardia da qual meu pai, Milton Modesto, foi vítima quando levou cinco tiros de um desafeto e ignorante daqui de Buíque, que não mais me interessa declinar do seu nome, uma vez que, ele também já se foi para dormir o seu sono eterno. Felizmente, que nenhum dos tiros acertou o meu pai.
Fomos morar primeiramente em Ribeirão Pires, que fica depois de Mauá, porque lá já morava um irmão de madrinha Auta, mãe de Blésman, que era esposa de meu tio José Modesto, Luis Pinto, seu cunhado que era casado com uma pessoa chamada de Dona Argentina e tinha cerca de mais de meia dúzia de filhos. Ele já era uma pessoa familiarizada lá naquele lugar e tinha, pelo tempo que lá morava, muita influência com as pessoas do lugar, inclusive política, tendo chegado até a ser secretário de governo de Ribeirão. Dessa família, não mais tive notícias, só sei que o casal já faleceu há alguns anos, pela idade avançada, mas eram ótimas pessoas. Lembro também, que pelo fato de não termos televisão, todos os dias íamos assistir televisão ainda em preto e branco, na casa dele, que ficava bem acima do barraco onde morávamos, isso um certo tempo depois, porque quando chegamos de trem da Estação do Braz, à cidade de Ribeirão Pires, fomos morar numa rústica casa, que meu irmão arrumou de improviso e estava caindo aos pedaços, numa outra extremidade da cidade, depois, com o passar do tempo, Luis Pinto arrumou um barraco para a gente e passamos a morar nas proximidades da casa dele. Lembro bem, que a fruta chamada de caqui, que é tipicamente paulista, brota nos quintais das residências, nos próprios jardins das casas.
Naquela época ainda guardo também, lembranças do Escola Dom José Gaspar, localizada no centro de Ribeirão Pires, próxima da Igreja local, onde cheguei a repetir o aprendizado das primeiras letras e passei a criar os meus primeiros escritos e poemas. Cheguei a me ligar mais a um filho de Luis Pinto, de nome, se não me engano, Rinaldo, que estudava para ser padre em São Bernardo do Campo, mas enveredou mesmo pela carreira de teatro, chegando inclusive a se casar com uma dessas atrizes que iniciou a sua carreira na televisão de Sílvio Santos, mas que já atuou em novelas da Rede Globo, que não me vem o seu nome à cabeça no momento. Desse casamento, pouco tempo durou, mas ainda cheguei a assistir alguns ensaios da peça Morte e Vida Severina, da qual ele participava juntamente com essa pessoa que se tornou uma das famosas atrizes do Brasil. Rinaldo não chegou a ser padre, terminando por se casar com essa atriz, e pelo que soube, se tornou cenografista e daí então não mais soube de notícias dele.
Influenciado por Rinaldo, ainda pensei em também ser ator. Coisa de sonho de menino; depois, queria me tornar pintor, pensava até então em fazer faculdade de Belas Artes, acaso tivesse ficado no Estado de São Paulo, certamente influenciado pelos grandes pintores mundiais, a exemplo de Rembrant, Leonardo Da Vinci, Gaugin, Lautrec, Michelângelo, Picasso, Portinari, entre outros. Adorava ler a história desses pintores que fizeram tão belas pinturas, que se tornaram nas mais belas artes do Planeta e eles, imortais das artes. Daí sonhava em me tornar também um grande nome da pintura. Com a passar do tempo, não mais sonhara em me tornar mais num grande pintor, mas simplesmente um escritor, para traduzir as histórias e os fatos do fundo de minha alma; retratar a vida, criando personagens e retratando a realidade então vivida. Ao chegar em Buíque, ainda adornei o Bar Arizona com várias pinturas feitas pelas minhas próprias mãos, mas o dom de pintor, com a passar do tempo, se esvaiu, se foi e ficou somente a marca da vontade de ser escritor, mas na verdade, sou apenas um sujeito metido que gosta de escrever, somente isso e para mim já é o bastante, porque ter pelo menos um pouco de domínio para escrever algumas maus traçadas linhas, já é de bom tamanho. Das pinturas que fiz não guardo nenhuma fotografia sequer, mas eram pinturas bem primorosas e belas.
Depois que entrei por concurso público no Banco do Estado de Pernambuco S/A - BANDEPE, em 1975, após ter retornado à Buíque, em 1972, a minha mente foi dando lugar para fazer o curso de engenharia, onde prestei vestibular em 1977 e passei a estudar o curso na UFPE, no segundo semestre do ano de 1978, isso porque era um aluno disciplinado em Matemática e Português, daí não ter dúvidas de que engenharia me cairia bem e no decurso da minha vida, após cursar com muito esforço, trabalhando no Banco à noite, no serviço de compensação de papéis e cheques e estudando engenharia durante o dia, fiz um concurso interno para um cargo mais elevado, pois já casado e pai de família, precisava ganhar mais e assim, vim a passar no concurso para ser Chefe de Carteira Rural, depois Chefe de Seção de Desenvolvimento, vindo então morar no interior, precisamente em Buíque, depois tive que partir, por questões políticas, na década de oitenta, para Pesqueira, onde cheguei a conviver em duas vezes consecutivas, por cerca de dez anos. Morando em Pesqueira, em 1985, mais de cinco anos sem estudar e de ter perdido o vínculo com a UFPE, no curso de Engenharia, cismei de fazer algum curso superior, que era o meu maior sonho e como gostava de política e de conviver com o social, a problemática do nosso povo, partir para fazer vestibular de Direito para ingressar na Faculdade de Direito de Caruaru. Assim foi feito e passei no vestibular de Direito, passando então a concluir o curso de Direito, tendo me formado em 1990 e na ocasião, por unanimidade dos colegas, fui escolhido o orador da turma. Hoje sou um advogado que ainda luta pela vida, pela sobrevivência, sendo a voz de quem não tem voz, e fazendo o combate do bom combate. É assim minha vida e foram esses os meus sonhos que tanto acalentei em minha vida, mas na verdade, nem sempre estamos preparados para realizar todos os sonhos que ousamos sonhar fazê-los. Dos sonhos da nossa vida, a maioria deles se vão, desaparecem como fumaça, mas quem sabe, não poderei ainda querer me tornar num Rebrant, em minha gente!
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