A bem da verdade, a novela Avenida Brasil, apresentada pela poderosa Rede Globo de Televisão, indiscutivelmente, foi uma das novelas que mais fez sucesso nos últimos anos. Ontem, final do folhetim, parecia até final de copa do mundo, com o Brasil na disputa pelo caneco. Foi realmente uma catarse coletiva inconsciente total da população, que deixou praticamente, os grandes centros, as pequenas cidades, vazios, sem uma viva alma sequer. Parecia até que as cidades se transformaram em fantasmas, ante à ausência de circulação de pessoas se movimentando, principalmente numa sexta-feira, final de semana, aonde geralmente, após mais um dia cansativo de trabalho, a tendência é as pessoas procurarem por diversão, os seus repiais de finais de semana, os barzinhos com música ao vivo, os pagodes, todos esses lugares, enfim, estavam sombrios e vazios. Não dava para acreditar que toda essa evasão dos grandes e pequenos centros urbanos, se deveu única e exclusivamente ao final de uma novela, que de certa forma, com equívocos pontuais do autor/escritor, retratava de forma dantesca e cruel, através da ficção, o retrato do Brasil em que vivemos. Claro que existiram no desenvolver do folhetim, os exageros inimagináveis que só povoam mesmo a cabeça do criador da história, mas que de certa forma, vem a bater com o anseio de uma população que clama por justiça, por mais dignidade humana e por vingança, diante da violência e da brutalidade em que está envolta à nossa sociedade de um modo geral. A novela procurou demonstrar a eterna luta entre o bem e o mal, mas que no final de contas, tudo na verdade, passa a fluir mais pelo lado do coração do que pela crudelidade da ração, mesmo se tratando de tantas maldades praticadas por alguns de seus personagens no decorrer do curso de cada capítulo transmitido pela Rede Globo de Televisão.
Há de se pontuar, que a megera principal do folhetim, Carminha, mulher do ídolo aposentado do futebol, Tufão, apesar de ter praticado tantas maldades, não pagou devidamente pela extensão das ruindades que semeou, pois tendo matado o seu amante Marx, o fez em legítima defesa de terceira pessoa, no caso, de Nina, a mocinha vingativa da história, o que provado o fato, viria na instrução processual, no momento da pronúncia, impronúncia ou absolvição, a ser submetida a um Júri Popular, com certeza, seria absolvida, mas o que não deu para entender, foi ela ter sido condenada a três anos de reclusão em regime fechado e de ter cumprido o tempo integral do dosimetria da pena, sem o direito à regressão desta no decurso da execução penal, um erro crasso, o que demonstra na realidade, que a equipe do autor da novela, João Emanuel Carneiro, não atentou para esse detalhe. Outra mais, ela antes, foi a autora de seu próprio sequestro e por tal crime não respondeu, mais uma falha do autor, uma vez que, o crime de sequestro, além de ser hediondo, é imprescritível para o mundo do direito, o que seria certamente condenada por mais essa conduta delitiva, além da tentativa de homicídio contra o seu ex-amante, Marxwel e do assalto do qual foi também cúmplice, contra o seu próprio marido, Tufão, que da mesma forma, lhe impunha uma dosimetria de pena além da pena aplicada na história. Então se encarando as coisas do ponto de vista do mundo realístico, para que a ficção viesse a se parecer com a realidade nua e crua, a pena da megera não seria tão-somente de três anos de reclusão, mas sim, de mais de trinta anos, juntando-se todos os crimes por ela perpetrados n o decusso da história, além dos agravantes de práticas criminosas contra pessoas da própria família. A mocinha Nina também, mesmo sendo sabedora e tendo acompanhado o auto-sequestro da megera Carminha, ainda assim, mesmo que culposamente, quando na realidade foi por dolo, se apoderou de parte do dinheiro ilícito do crime, quando encontrou o pacote de dinheiro escondido pelo cúmplice e amante de Carminha, Marx, para depois desse valor se apoderar, o que não ocorreu, em face de Nina ter dado o bote antes, mesmo assim, não deixou de ser uma prática delitiva e antijurídica. Então ela também, praticou uma conduta criminosa, que levada ao pé da letra, foi da mesma forma, uma co-partícipe do auto-sequestro e dolosamente, que ela sabia da origem ilícita do dinheiro, então teria também da mesma forma que os demais malfeitores da novela, pagar concomitantemente com os demais, por essa conduta criminosa, com o agravante de, mesmo tendo conhecimento da origem do dinheiro, ficou dele fazendo uso, para chegar ao seu objetivo final, que era a vingança contra a megera Carminha. Uma das grandes surpresas do autor, foi o velhinho Santiago, afável, amável, sempre cordato e cordial, com sua oficina de consertos de bonecas, que foi revelado um tremendo de um perigoso bandido, o que implica em dizer, que nem tudo que aparenta num ser humano, é totalmente puro e verdadeiro. Na realidade o velhinho Santiago se revelou no tipo da pior espécie da raça humana, insano, insensível, violento e cruel, até mesmo com a própria filha Carminha, que ele a jogou no lixão quando esta ainda era criança, transformando-a talvez, no que ele se tornou na vida, para, no final, se arrepender de todos os seus erros e terminar por amargar as agruras do início de sua vida, o que em parte pode até acontecer, quando se trata da vida no mundo da realidade como ela realmente é.
Certamente, nesta minhas divagações, posso até ter esquecido algum detalhe, pois quem é humano, na catarse generalizada que dominou este país, possa até ter esquecido de algum detalhe, mas de uma coisa posso ter certeza, inclusive com o que a gente tem observado no mundo à nossa volta e se indagar, quantos não são os "tufões" que existem por aí, pedindo, clamando por uma vida melhor; quantas não são as "carminhas" da vida praticando maldades e achando graça, tirando proveito, até que vem a cair nas armadilhas da vida e termina como a ficção veio a demonstrar; quantas não são as "ninas" por aí afora, da mesma forma, clamando, suplicando com lágrimas nos olhos, com dor no peito, por justiça dos homens, justiça pelas próprias mãos ou até mesmo, pela obra do Criador, hem? - Embora a vingança não venha a ser o melhor caminho a ser seguido, mas diante de tanta violência, tantas barbaridades que são praticadas entre seres humanos, não dá para calar a voz, não gritar bem alto e não pedir por vingança, mesmo que esta nunca venha a acontecer, o que deixa as pessoas atingidas pelas maldades da vida, completamente frustradas, depressivas e sem um norte de vida. Quantos também não são os bairros afavelados dos grandes centros urbanos, assemelhados ao Divino, que apesar de humilde, parte de seu povo ainda, de acordo com a ficção, vivia uma vida digna, de alegria e de contentamento, como se na vida tudo fosse flores. Mostra também o lado cruel da vida, de quem até certo tempo, com uma penca de mulheres, se achava o dono do pedaço do mundo rico em que vivia, para, de uma hora para outra, por ter se descuidado de seus próprios negócios e afazeres, passar a confiar piamente em um amigo íntimo, chegando por isso mesmo, a ficar numa pindaíba de Jó, a ponto de deixar de viver nababescamente em um bairro nobre da Zona Sul do Rio de Janeiro, de classe alta, para passar a viver num bairro miserável, chinfrim e de classe pobre. É esta também, uma das realidades da vida, nos vais-e-vens que são próprios da vida no mundo real das coisas, se confundindo aí, pelo menos em parte, a ficção com a realidade. No geral, o folhetim da Globo, foi uma obra genial em que hipnotizou toda a população brasileira, principalmente no final, que se imaginou até, se tratar de final de copa do mundo, com o Brasil na disputa pela taça. Na realidade, de tantas pragas que persistem em existir neste Brasil, as pessoas ainda, para fugirem da realidade e sentirem em suas próprias peles, nas almas o que gostariam que acontecesse com cada uma delas, que vivem com os seus próprios fantasmas a lhes rondar e atormentarem, se imaginam como se estivessem viajando na ficção de uma novela, que de certa forma, provocou essa catarse generalizada na população, que foi o folhetim, Avenida Brasil, finalizada com uma venida vazia, no dia de ontem à noite.
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