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BUÍQUE, NORDESTE/PERNAMBUCO, Brazil
A VERDADE SEMPRE FOI UMA CONSTANTE EM MINHA VIDA.

domingo, 16 de maio de 2010

OS TRÊS JUMENTOS

          
          O jumento, aquele tipo de animal coitadinho, hoje abandonado e sem o menor valor comercial ou para uso da força do trabalho foi de grande valia para o desenvolvimento do Norteste há mais de seis décadas atrás. Tanto é que o velho Lula, Luiz Gonzaga, numa música elegiou o jumento pela sua utilização como força motriz do trabalho nordestino, no ganha-pão dos pobres e como meio de transporte por muito tempo. Para minha família, foram eles de grande  utilidade quando nossa família vivia em situação de quase extrema pobreza no Sítio Cigano, em Buíque. Como lá no sítio existia uma fonte de água mineral, nós carregávamos todos os dias, meu pai, meu irmão Miltinho e eu, água de ganho para os figurões da época em Buíque. Os apetrochos utilizados para o transporte de água potável, era um cangalha, duas caçambas e quatro latas de água de vinte litros cada, àquelas latas utilizadas para a venda de querosene, à época. Cada carga de água custava em dinheiro vinte alguma coisa, no dinheiro da época. Era uma dureza esse trabalho de carregar água de ganho para os figurões da época em Buíque, com a carga vazia, voltávamos para enchê-las novamente, montado na garupa do jumento, mas na volta, só vínhamos tanjendo os jumentos à pé porque eles não aguentavam o peso da água com o peso da gente também montado em seus lombos. Esse tipo de trabalho de carregar água de ganho do Sítio Cigano para Buíque, perdurou por longos anos, até virmos morar na cidade para estudarmos. Sei dizer por ciência própria, que a nossa vida nunca foi fácil, mas que com persistência, espírito de luta e vontade de vencer, avançamos na vida, talvez não tenhamos vencido por completo, mas melhoramos muitos em comparação àquele período de dificuldades. Uma coisa interessante era que meu pai, como gostava muito de animais, parecia até que eles o entendiam, colocou um nome em cada jumento: um se chamava Perigo, outro, Calunga  e o terceiro, se chamava Retrato. Cada um tinha um nome e o interessante é que quando ele chamava um deles, eles o atendiam pontamente. O nome do jumento Perigo, era porque era perigoso mesmo. Certa feita, fui montar nele de lombo limpo, ele fez enes estripulias, pulando para lá e para cá, terminou por me derrubar que fiquei estatalado no chão por quase meia hora, com a dor do baque que levei. Retrato e Calunga eram mais mansos, afáveis, mas Perigo era mesmo de lascar o cano. Mas no frigir dos ovos, esses jumentos, Perigo, Retrato e Calunga, muitos nos ajudaram na nossa sobrevivência para a manutenção com honradez e honestidade a nossa família naquela época de dificuldades que passamos enquando vivíamos no Sítio Cigano,  que dista à umas seis léguas de Buíque. Na verdade, cada qual tem a sua história de vida e, da minha, nunca esqueci desse passado, é como se o tivesse vivencido-o no tempo presente, pois ainda está vivinho da silva no meu subconsciente.

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