O tempo não para. Avança como quem vai danado pra Catende, como na música de Luis Lua Gonzaga. A gente fica inquieto, atônito, aturdido, desanimado e com vontade de desistir de tudo em certos momentos. Até parece que nos deixamos levar pelo total esmorecimento da vida, como se ela estivesse realmente a um fio. É triste ter que dizer e pensar dessa forma, mas é assim que às vezes nos sentimos no decurso desse tênue caminhar. Quisera que tudo fosse diferente, mas infelizmente nunca é ou jamais será do jeito que a gente quer e imagina que é. Mas desde que o mundo é mundo, uns pensam de uma forma insegura sobre o sentido da vida; outros tem uma segurança na base da corda bamba, com ceticismo mediano e outros, uma minoria, digamos assim, tem uma certeza de que a vida é de plena segurança e que não é ela um fim em si mesma, pois se assim o fosse, não existiria esse mundão a nos rodear, a nos dar alegrias, tristezas e esperanças, não somente enquanto viventes, mas também em outras plagas do inimaginável mundo do além-viver.
Quisera ter a segurança devida para enfrentar todas as dificuldades de minha vida, que por sinal, nunca foi lá muito boa. Não que tenha sido de todo uma vida de insatisfação, mas que as coisas nem sempre foram como se esperava que fosse, se bem que, ainda assim, tive momentos felizes, amáveis, afáveis e que valeram à pena ser vividos. Não propriamente os sonhados, mesmo assim, os vivi; não com a intensidade que imaginava e queria, mesmo assim os senti; não com o gosto de vida que esperava viver, ainda assim, procurei viver da melhor maneira possível. Se algum mal cheguei a fazer, acho que paguei pelos erros que cometi e, se acaso vida do outro lado existir, se vier a sofrer novamente, é o mesmo que o chamado bis in idem, termo latim, que significa, se aplicar a mesma pena em duplicidade pelo mesmo fato. Acredito que não ficarei no imaginário purgatório. Posso até não ir de vez para o Céu, porque na verdade, nunca fui tão santo assim, mas para o Inferno, desse, acho que estou livre de verdade, pois se tiver que padecer, que seja no Paraíso, que não mais mereço do outro lado, parte do Inferno já vivido neste mundo de meu Deus.
O que gostaria de incorporar, na verdade, era o enfrentamento do avanço da vida e de seus males, com tranqüilidade, aceitação e serenidade, coisa que parece estou a fraquejar, mas por outro lado, tenho que encontrar forças suficientes para enfrentar as fraquezas do corpo que vem nos aniquilando aos poucos, com a força da mente, com a crença num ser maior, tão maior quanto as minhas idéias e a minha coragem para enfrentar todas as agruras pelas quais tenho que passar na reta final que certamente um dia virá e da qual não poderemos nos quedar. Temos que nela chegar e tocar. Quer por bem, quer por mal, mas disto ninguém pode olvidar em se livrar. Não existe escapatória. Seria importante que cada ser humano aprendesse a enfrentar os seus próprios demônios que vem lhe consumindo no decurso de sua vida, principalmente, quando essas mazelas passam a amedrontar o nosso ser, passa a enfraquecer o nosso corpo e tornar incerto o nosso pensar.
Na verdade, não podemos nos desviar do destino que de cada um se avizinha. Seja branco, preto, rico, pobre, o escambau. Na verdade, ninguém consegue se livrar de que no tamanho da linha de cada um, vai chegar um momento dela se quebrar sem dó nem piedade, esta é mais pura realidade. Só quisera mesmo não pensar, não me voltar, não imaginar em nada disso. Fico irriquieto, entristecido, cabisbaixo e “borocoxô”, só de pensar que cada um de nós um dia faz uma viagem para dela nunca mais voltar. Para onde??? – Quem sabe! – Só espero que seja realmente um encontro com Deus, porque se não for assim, a vida de ninguém valerá ou vale a pena ser vivida. Se viver a vida por todo o tempo, para a nada se chegar o tempo todo, não existe nenhuma razão ou justificativa que faça com que valha à pena viver. Então tem que existir um Deus, um Ser Supremo que venha a nos dar o devido acalento, para que o sofrer, a dor, se torne em paz, amor, tranqüilidade e numa passagem indolor para o outro lado da vida, ou da morte???
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