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segunda-feira, 4 de abril de 2011

ANOS DOURADOS, OS QUE NÃO SE ESQUECE JAMAIS


            A música sempre foi uma das coisas mais marcantes na vida de cada pessoa. Quem não tem a sua música ou as suas melodias de vida, é porque por esta passou e não viveu. A própria história em seus anais nos dá conta de que em cada época sempre existiu um estilo de música diferente, cada qual com as raízes intrínsicas do seu tempo. Acredito que muitas pessoas já ouviram falar de música clássica, algumas até com uma certa ponta de ironia, mas ninguém pode tirar das estrelas de maiores grandezas, compositores como Choppin, Bach, Beethoven, entre outros, que foram primorosos em suas belas músicas que traduzem paz, serenidade, poesia, emoção, sentimento, embora estes autores, em sua maioria, tenham sido pessoas dominadas pelo medo, insegurança e pelos seus fantasmas interiores. Geralmente, por ironia do destino, os intelectuais, os gênios, são pessoas que por uma razão ou por outra, levam uma vida de dor, de tormentas, de sofrimentos e terminam sempre as suas vidas com um fim trágico, via de regra. Mas que a música clássica ainda hoje tem os seus admiradores, isto há, sobretudo, porque é um tipo de música reconfortante, que trás paz e serenidade em determinados instantes da vida e faz com que a gente feche os olhos e se desligue dos tempos modernos, do stress a que somos invariavelmente submetidos por imposição circunstancial e adentrar na musicalidade angelical desses gênios do passado, é mergulhar numa vida que não se viveu. É como se fazer uma higiene mental, expurgando o lixo que nos fazem engolir goela à dentro nesses tempos cibernéticos, da camisinha, do amor livre, do desrespeito e da mulher inflamável.  Em qualquer parte do mundo, indubitavelmente, música é amor, é poesia e vida e para ela não existe fronteiras.
            Acredito que todos nós temos os nossos anos dourados. Meus pais também tiveram os deles, que foram os tempos saudosistas da “dor de cotovelo” de Nelson Gonçalves e a sua “Boemia”; Vicente Celestino, e o seu “Ébrio”, que marcou época; Silvino, com a música “Esta Noite”; Luis Gonzaga, o rei do baião; Ataulfo Alves e a sua “”Saudade da Professorinha” e tantos e tantos outros autores e outras músicas que marcaram as suas vidas, que às vezes gosto de ouví-las como que, revolvendo um velho baú do tempo e fico por momentos dominado por uma ponta de saudosismo, de uma dor incontida, por também não ter vivido aqueles tempos do terno de linho branco engomado, dos chapéus de massa com aba quebrada de banda e dos namoricos insossos de olhares enviesados como quem nada queria, mas querendo. Velhos tempos e nada mais que ficam marcados para sempre na vida da gente.
              Os meus tempos de criança, ainda começaram com essa ponta de saudosismo, essa musicalidade dos meus pais. Por falar em meus pais, minha mãe, de família tradicional de tocadores de oito baixos, de forrozeiros das brenhas lá do Bom Conselho, sabia, a exemplo de seus irmãos, tocar sanfona de oito baixos, embora nunca tenha demonstrado e faleceu sem que ninguém soubesse. Ainda com tenra idade, as minhas primeiras músicas que tive conhecimento, foram algumas marchinhas dos antigos carnavais, alguns frevos, uma música por nome de “andorinha”, outra conhecida como “caranguejo sá”, uma outra ainda que falava de “marinheiro” e algumas outras mais de Orlando Dias, WaldiK Soriano, Silvinho, Luis Gonzaga e de outros autores que não me vem à memória. Mas como tudo vai passando, rodando, girando, a década de setenta foi a que mais me marcou em termos de música, pois no vigor da juventude, fim da adolescência para início da fase adulta, sofrendo feito bode embarcado no Estado de São Paulo, lembro com uma certa ponta de tristeza, quando ouvi pela primeira vez a música “quero que vá tudo ‘pro inferno”, de Roberto Carlos. Aquilo caiu como algo feito para um figurino certo, pois morando numa rude casa nos arrebaldes de Ribeirão Pires, interior de São Paulo, queria mesmo mandar tudo para o inferno, principalmente pela saudade danada que me dominava, da minha terra, Buíque. Depois, já residindo na Vila Ema, em São Paulo, capital, vieram as baladas de Renato e Seus Blue Caps, o “Milionário” dos Incríveis, que animava as festinhas de casas de família, que eram muito comuns nas vilas pobres e periféricas de São Paulo, e vez por outra, o cacete comia. Marcaram-me também, a dupla Leno e Lilian, da “Pobre Menina”, Jerry Adriane, Wanderley Cardoso, Martinha, o Tremendão - Erasmo Carlos, aquele que cantava “meu carro é vermelho, não uso espelho prá me pentear”, Eduardo Araújo; o “soul music” Tim Maia, das músicas “Compadre”, “Pelo amor de Deus”, “Azul da cor do mar”, “Coroné Antonio Bento”, entre outras; Trio Esperança e no rock tinha os Mutantes, dos nacionais, era somente este que nós ouvíamos, além dos Beatles, Roling Stones, B. J. Thomas, Jonnhy Rivers, Jonny Holyday, Tina Charles, Tom Jones, Creewdence Crewater Revival, este era um dos conjuntos que mais adorava, só para citar alguns das americanizadas músicas que gostava de curtir. Houve um certo período também, do modismo exagerado, dos cabelos compridos, da calça boca de sino que cobria os sapatos, dos sapatos cavalo de aço, da calça saint tropz, que era bem apertada das canelas às coxas e o cinturão tipo fivelão era colocado no meio da bunda. Com essas calças a gente usava umas camisas todas floridas, amarradas na cintura, chamadas de psicodélicas, foi a época do psicodelismo. Houve uma época também, que somente pelo fato de Roberto Carlos ter aparecido com um anel que ele deu o nome de “brucutu”, para que todo mundo começasse a usar anel similar. Só tinha um detalhe, não existia fusca que ficasse sem àquela pecinha de jogar água no párabrisa, que era justamente usado para fazer o anel. Os donos de fuscas não tinham mais sossego, pois a meninada rapava todo “brucutu” que encontrasse nos fusquinhas. Outro detalhe também dessa época, é que nas festinhas caseiras que se promovia, ainda não podia dançar muito agarradinho nem se atracando em ardentes beijos pelo princípio do respeito à família; outra coisa interessante, era o fato de que o indivíduo de outra vila, se não tivesse um amigo naquela casa onde estava se realizando a festinha, era considerado um estranho, como uma “persona non grata” e corria o risco de levar uns “cacetes”. Era muito comum as briguinhas entre grupelhos de uma vila e de outra nessas festinhas daquelas épocas. A maior desfeita nessas ocasiões era quando o indivíduo arrumava uma namorada naquela festinha do pedaço, principalmente se a fulaninha estivesse sendo cortejada por alguém da turminha da vila. Aí sim, era rolo na certa. Em uma determinada ocasião, meninote dos meus dezoito anos por aí, sai com um grupinho de amigos da Vila Ema e fomos xeretar uma dessas festinhas na Vila Diva - uma vila vizinha da outra e, qual não foi a surpresa ao sermos acuados por um outro grupinho  desta última vila e lembro bem, que um dos molecotes tentou me acertar um soco na cara, eu me defendi e junto com o meu grupinho tivemos mesmo que correr e corremos à beça até chegarmos à Vila Ema, cansados, mas aliviados por não termos apanhado. Naquele tempo também, veio a época da pregação hipie do amor livre, dos beatiniks e do psicodelismo. A nossa bebida da época era a chamada cubra-libre - coca-cola com rum montila, que lá em São Paulo, eles faziam dentro de um caldeirão e iam servindo aos poucos aos convivas e penetras. Quanto aos maconheiros ou viciados em drogas, destes nunca quis saber, os desprezava, não os queria por perto nem em nosso grupo.
            Em São Paulo, época dos meus anos dourados, não o foram tão dourados assim, a não ser pelas tristes lembranças que de lá ainda tenho, mas nunca fui um namorador, um comilão ou coisa que o valha. Simplesmente fui um menino, um adolescente, um rapozote pobre, que trabalhava durante dez horas diárias, um nordestino cabeça chata que buscava um sonho e a volta à terra amada um dia; que à noite, esforçadamente,  estudava em escolas públicas para mostrar para muitos dos esperzinhadores e metidos paulistas, que o nordestino apesar de ser um baiano da cabeça chata, era  antes de tudo um forte, um homem que também tinha a capacidade para ser inteligente e intelectual, igualmente a qualquer outro ser humano de qualquer parte do planeta. Aos sábados à noite, me vestia dentro de uma calça lee desbotada - a grife da época - e com alguns colegas me deslocava ou para um cinema na Vila Prudente ou no centro da cidade ou então, quando convidado, ia para algum bailinho em casa de família. Em clubes não ia não senhor, pois além de caros, eram verdadeiros pés de brigas. Foram esses pois, os meus anos dourados e que ainda continuaram, ao voltar, em fins da  década de setenta para início da de oitenta, para Buíque, onde tive, juntamente com Emanuel Modesto, meu primo, o chamado “Mané da Jéga”, a complementar esses anos com belas músicas que curtíamos em nossos encontros de cachaças e dos bailes que participávamos em Buíque e das paqueras e dos amores não correspondidos. Em Buíque passei a curtir Elvis Presley, Os Fevers, Os Trepidants e as mesmas músicas dos tempos de São Paulo. O interessante mesmo foi que, ao chegar de São Paulo, como todo matuto metido a besta, cheguei com os cabelos compridos - “um fuá dos diabos”, uma calça boca de sino daquelas de varrer o chão e um par de sapatos cavalo de aço de me fazer crescer uns dez centímetros e o sotaque paulista de quem não mais conhecia o nordeste. Coisa de gente besta mesmo, mas que hoje lembro com um ar de gozação. O danado é que as menininhas de Buíque daquela época, quando o boato se espalhou na cidade que o irmão de Miltinho do Bar Arizona tinha chegado de São Paulo, muitas de forma curiosa, ficavam a passar prá lá e prá cá em frente ao bar Arizona para ver de perto o “peixão” que tinha chegado de São Paulo e matar a curiosidade. Teve até uma dessas que não me deu sossego e me seguia os passos para onde quer que eu fosse. Tempos depois vim a saber, que fui motivo de gozações, como muitos abestalhados também o são quando pensam que estão abafando e confundindo urubu com galinha preta.  Mas a minha influência de São Paulo e da música inglesa era tanta, que no ginásio onde estudei o segundo grau em Buíque, publiquei um jornalzinho com o nome de o “Plá do G. C. B”, elaborado pela “Team of my spotless”. Na época achava um arraso, hoje, coisa de gente besta. Mas o que importa é que a minha idéia valeu a pena, sobretudo, porque em Buíque, ninguém tinha noção do que vinha a ser o despertar para a publicação de um jornalzinho feito pelos próprios estudantes. A minha contribuição valera, de certa forma, a pena.
            Tudo isto, enfim, faz parte dos meus anos dourados, dourados anos que não voltarão jamais, só ficando mesmo nas notas musicais das cordas dos tempos como nostálgicas lembranças que me fazem sofrer, sonhar com coisas que se volvessem às brumas do passado, não mais faria como as fiz, mas sim, procuraria usar de mais maestria, de mais habilidade, de mais vivacidade, para que hoje fosse mais completo, mas como o passado não pode voltar, devo simplesmente me contentar com o que sou, com o que posso, com a minha capacidade de ainda construir das cinzas os meus “anos dourados da vida”, que um dia ainda virão. O tempo fluiu como uma nuvem que desaparece, mas a minha vida ainda é uma flor que resplandesce das estrelas que me guiam para dias melhores. Nem tudo deve ser considerado como perdido, pois enquanto forças tivermos, uma luz que vicejar com a sua claridão lá no fim do túnel, devemos lutar até o fim para buscarmos a nossa verdadeira realização na vida e sempre viver intensamente  “os nossos anos dourados”

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