Entre o trágico E O MISTÉRIO
Sinceramente, foi com um grande pesar e tristeza, que recebi
pelos meios de comunicação, quando me dirigia caminhando pela calçada da
avenida Aurora Laerte Cavalcanti, em Buíque-PE, por volta das 12h30, da
residência do camarada Rilke, para à minha residência, quando uma popular por
nome de Dona Nelcides, em frente de uma padariazinha onde sempre compro os meus
pães para o café e jantar, que se voltou para mim e indagou: Ô Seu Mané, o Sr.
soube de Eduardo? – Fiquei assim meio que atônito, sem saber assim de soslaio,
quem era o Eduardo de quem ela falava, quando de imediato, emendou...o Eduardo
Campos, morreu! – Perguntei-lhe meio confuso, como? – Respondeu-me, em um
desastre, tá em toda televisão! – Então fiquei a imaginar, será que Eduardo
sofreu esse acidente mesmo! – Continuei na minha trajetória a caminhar e,
minutos depois, cheguei à minha casa e liguei o meu aparelho de TV, que a
bagaceira da tragicidade estava realmente sendo noticiada no ar. A notícia era
a de que, um jatinho executivo em que usava para fazer campanha, na cidade de
Santos, em São Paulo, quando ia levantar voo com destino à Guarujá, onde daria
continuidade ao seu movimento de encontros políticos como candidato à
presidência da república e isso, me deixou assim meio perplexo ainda mais. Como
pode um político tão jovem, ex-secretário da Fazenda no terceiro governo de seu
avô, Miguel Arraes de Alencar, ex-deputado federal por mais de um mandato,
Ministro das Ciências e Tecnologia no Governo de Lula, ex-governador de
Pernambuco por dois mandatos, um político realmente de sucesso e que tinha o
tino nas veias, herdado com toda certeza, se seu avô, que da mesma forma que
ele, faleceu há nove anos passados, justamente num dia 13 de agosto, sem
conseguir realizar o sonho de ser presidente da República Federativa do Brasil,
o qual estava sendo pleiteado pelo seu neto, político bem articulado e
engenhoso na arte de fazer política praxista e, despontava nessa peleja no
terceiro lugar na preferência de intenção de votos.
Imaginei eu, que talvez seria ele, como candidato, que embora
não fosse eleito nesta oportunidade, poderia ter a sua imagem projetada para
futuras disputas, como bem o fez o próprio Lula, que após tentar por cerca de
três vezes à presidência do Brasil, terminou sendo eleito finalmente e, chegou
a cumprir dois mandatos presidenciais. Eduardo não era diferente de Lula e, se
não chegasse a superar a intenção de votos de Dilma e Aécio, poderia com
certeza, por ter apenas 49 anos de idade, ter tempo suficiente para enfrentar
novas batalhas na guerra da política, mas infelizmente, uma tragicicidade
inesperada, provocada ou por falha humana, técnica ou de qualquer outra
natureza misteriosa, tirou ele dessa tão sonhada caminhada, para que, se não
dessa vez, pudesse de outra ou outras mais vezes, vir a concorrer e quem sabe,
chegar a concluir o tão sonhado sonho de Miguel Arraes de Alencar, e vir a se
tornar Presidente do Brasil, mas infelizmente, os desígnios da vida lhe impediu
precocemente, em plena jovialidade de toda força política da qual era dotado,
de concluir a sua jornada. Mas como a vida prega muitas peças em qualquer um de
nós, pregou também, na vida de Eduardo Campos de forma inesperada e trágica, na
cidade de Santos, longe de seus filhos, de sua esposa e de seu Estado,
Pernambuco, isto porque, acalentava um sonho maior, que era o Brasil, mas
certamente, morreu assim de repente, como a interrupção de um raio de luz, sem
sequer sentir dor, partindo assim sem mais nem menos, desta feita, para outro
mundo para nunca mais voltar.
A morte de Eduardo Campos, me fez voltar aos tempos de
08.09.1987, quando também em circunstâncias trágicas e inexplicáveis, no Amazonas,
em visita aquele Estado, quando levantava voo num avião executivo também, o
nosso saudoso Senador, então Ministro da Reforma Agrária do Governo de José
Sarney, na cidade de Manaus, veio a se chocar com um helicóptero e todos que
estavam naquele voo, da mesma forma vieram a morrer tragicamente e até hoje,
ninguém soube bem explicar como foi que aconteceu àquela tragicidade que da
mesma forma, ceifou e calou a boca de um dos grandes políticos pernambucanos e
combatente da liberdade brasileira na época do regime militar, que foi o nosso
olindense, Marcos de Barros Freire, que eleito prefeito de Olinda, ainda na
época do regime militar, como forma de protesto ao então regime vigente, não
assumiu a prefeitura de seu lugar. A imagem que ficou comigo de Marcos Freire
como um político combativo, foi a mesma que ficou de Teotônio Vilella, senador
do Estado de Alagoas, de Pedro Simon, Senador do Rio Grande do Sul, Mário Covas,
Senador do Estado de São Paulo, e o deputado federal, Ulisses Guimarães, entre
outros que não me veem à memória no momento, que tiveram grande importância na
redemocratização brasileira e na luta contra a ditadura militar. De todos eles
tenho lembranças fortes, principalmente de um comício realizado na década de
70, quando então estudava no Recife e, num desses movimentos, todos eles
estavam presentes, na praça da antiga Faculdade de Direito do Recife, no Largo
Treze de Maio, até aparecer uma aparelhada tropa de choque, armada até os
dentes, a mando do então governador Moura Cavalcanti e só sei que, todos se
dispersaram, eles saíram de braços dados em frente ao povão, mas o povão, com
medo dos pelotões em paços de gansos, armados até os dentes e com grandes
escudos de proteção, saíram em debanda e alguns chegaram a ser presos. São
lembranças que jamais sairão de minha memória em que vivi nesse período de
chumbo da ditadura militar. Quanto a Eduardo, embora não tenha enfrentado à ditadura
militar, mas seu avô foi alvo desta e foi forçado a se apear do poder, em 1964,
quando governador de Pernambuco pela primeira vez e, por isso mesmo, o jovem
que hoje se foi, na mesma data da morte de seu avô, também se foi tragicamente,
não pela ordem natural da vida, mas de uma tragédia inexplicável, de uma falha
humana ou técnica, isso ninguém poderá saber no momento, mas que acredito,
sempre vai ser motivo de se levantar suspeita, principalmente num mundo
dantesco como o que vivemos e que, sempre convivemos com o perigo, mesmo em se
travando uma batalha de ordem política. Então nada pode no momento, ser
descartável, uma vez que, o avião que o transportava ainda chegou a pegar fogo
ou explodir, antes mesmo de cair, o que torna esse acidente, encoberto por uma
certa dosagem de mistério e de nebulosidade.
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