URBANO ROCHA, VOCÊ NÃO
MORREU, APENAS FEZ COMO UMA ESTRELA, APENAS MUDOU DE LUGAR
Conheci a família de Urbano
Lopes, desde criança, quando ainda estudei com os seus irmãos Amaro e Amauri na
Escola Duque de Caxias de Buíque e, através de seu pai, que junto com o meu,
sempre se juntavam entre outros da época deles, para bebericarem e fazer farras
à vontade. Além de Amaro e de Amauri, sendo que este último, foi meu colega da
época de bancário do BANDEPE e, com sua irmã Amália, também cheguei a estudar
junto com ela. Então falo de uma pessoa que mesmo que não tenha sido dos
primeiros familiares a com ele conviver, mas por vários anos o conheci e
convivemos juntos trocando ideias, jogando conversa fora, falando de política e
até mesmo tomando umas e outras, como era
de costume, junto com outros amigos ocasionais de cachaça, e sempre vi nele,
apesar de simplicidade de vida, o seu caráter, seu estilo, a sua formação de
homem honrado, sério e honesto que sempre buscou pautar a sua vida e de educar
aos seus filhos da melhor maneira possível e dentro de suas reais
possibilidades. Certamente ainda não era a sua vez de partir para o andar de
cima, mesmo assim, o ser humano vivente, não tem escolha para qual venha a ser
a hora mais adequada para de vez, num abrir e fechar de olhos, dar um apagão
letal para sempre. Não foi bem assim que ocorreu com Urbano Rocha, popularmente
conhecido pelos amigos, como “Bana”, “Cabeção”, mas ao adormecer após um dia de
domingo, em que tinha tomado umas doses de uísque, sua bebida favorita e de ter
fumado vários cigarros, haja vista ser um fumante inveterado, quem sabe até sem
nada sentir, na manhã desta segunda-feira, seu corpo não mais dava sinais de
vida, estava imóvel, estático, sem ter mais sequer que seja um movimento vital.
Morreu certamente como nasceu, sem sequer saber para que veio a este mundo, e
sem também, da mesma forma, para aonde vai, mas que, para os que creem, pelo
que ele foi em vida, dotado de uma bondade e de um caráter inigualáveis, com certeza,
pela lógica de vida pautada em sua existência, a recomendação é a de dormitar seu sono eterno
em um bom lugar, uma quimera de um belo e infinito paraíso.
A família “Rocha” ou “Laudelino Rocha”, aportou aqui em
Buíque há muitos anos, através do Cabo Rocha, que era daquela polícia militar
de Pernambuco, das antigas. Usava ainda aquele tipo de fardamento, pelo menos
lá pela década de 60, quando convivia a fazer farras junto com o meu pai, do
tipo dos jagunços que combateram os cangaceiros de Lampião. Naqueles idos eu
deveria ter por volta dos 8 para 10 anos de idade. Mas o Cabo Rocha, era uma
pessoa de tez morena, de uma estatura não muito alta, talvez da altura de meu
pai, que tinha não mais de 1,65 m de altura, mas era uma pessoa bondosa e aqui
em Buíque teve uma extensa família, que buscou criar da melhor maneira
possível. Teve grandes homens em sua família, apesar de problemas pontuais aqui
acolá, como é de costume em toda e qualquer grupo familiar, mas nunca deixou de
ser duro em sua forma de criar e educar os seus filhos. E de todos eles, apesar
da simplicidade da qual era possuidor, Urbano Rocha, entre outros, foi um
grande homem que sabia honrar com a sua palavra e os seus compromissos. Tinha
grande confiança em minha pessoa e sempre que trocávamos ideias, sempre me
dizia que votaria em mim se fosse eu candidato a qualquer que fosse o cargo
eletivo em disputa aqui em Buíque, porque tinha por mim, uma grande admiração,
sendo verdadeira a recíproca e por isso mesmo, nunca busquei falhar com o nobre
amigo que se foi, nas horas mais difíceis em que precisou de mim nos meus
préstimos advocatícios, e também na amizade pessoal. O ser humano sempre se
liga mais pelas ideias, por mais simples que sejam estas, que ambos concordam,
do que pela discordância e foi assim que sempre tive essa ligação com o amigo
de fé e camarada, Urbano Rocha ou o popular “Bana”, o “Caeção”, como também era
popularmente conhecido pelos mais próximos. Nunca me recebeu em seu recinto ou
em qualquer lugar, com cara feia, mas sempre receptivo e afável quando me via e
hoje a única coisa que me resta, é o pesar pela sua morte com os seus ainda, se
muito, cinquenta e poucos anos de idade, o que é muito pouco para quem passou por
essa odisseia de vida e se foi assim sem maiores explicações ou talvez mesmo,
pelo fato de que, quando à morte vem, não manda recado nem para as pessoas
novas, com média ou há velhas na idade, mas pelo decurso da vida, a gene sempre
espera morrer velho.
Não poderia deixar de passar em brancas nuvens e não prestar
minha homenagem derradeira a esse grande homem, que apesar de sua simplicidade,
de sua conduta mansa, pacífica e dura quando era preciso, mesmo assim, foi um
pai zeloso na criação de seus filhos, cuidadoso na condução de buscar lhes
mostrar o norte de vida para cada um para que cada um deles tivesse um futuro
melhor de vida, dias melhores e antes de tudo, de ter um caráter, que como eu,
na dureza da vida, aprendemos a ter e firmar nas nossas formações de vida, que
herdamos com certeza, de nossos pais, que por bem ou por mal, à maneira de cada
um, soube nos educar, às vezes até, grotescamente, mesmo assim, trilhamos o caminho
da honradez, da honestidade, da hombridade e da dignidade humanas, qualidade
que hoje em dia, é coisa rara em poucas pessoas. Por isso mesmo não poderia
deixar de prestar esta minha homenagem a um grande homem, que antes de tudo, de
ter sido um bom pai para os seus filhos, foi uma pessoa exemplar em Buíque
pelas suas posições inarredáveis que tomava e não havia quem o convencesse para
muda-las, mesmo que viessem a lhes oferecer a troca de suas convicções por puro
ouro, pois para ele, o que valia mesmo era a retidão de caráter, a honradez de
conduta e a firmeza e palavra de um homem que moldado pela humildade em que
traçou toda essa estada neste mundo, nunca se dobrou diante dos poderosos
ocasionais e sempre teve uma visão de mundo diferente da de muitas pessoas
daqui mesmo de nossa terra. A Urbano Rocha, o grande amigo “Bano” o “Cabeção”,
minhas sinceras homenagens pela sua existência, que sem você, acredito, Buíque
não teria sido o mesmo, o mundo também não e a lacuna que você deixou, com
certeza não vai ser preenchida por ninguém, pode até ser substituída, mas preenchida
pelo que você foi e representou, jamais. Meu adeus caro e dileto amigo e
camarada, e que durmas em um bom lugar o seu sono eterno, aonde talvez virás a encontrar
à paz, que certamente em vida não fostes capaz de completar a tua missão, pois
para quem se vai para sempre, nem tudo que se deixou para trás, fica por
completo, sempre haverá muita coisa que se queria fazer e não se chegou a
tanto. A morte como fator derradeiro da vida, sempre nos deixa na inquietude da
vida, uma obra que durante o lapso temporal vivido, não fomos capazes de
complementá-la por inteiro.
Cabo Rocha e meu pai, Milton Modesto, foto tirada lá pela década de 60, ainda no tipo de máquina lambe-lambe. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário