TOINHO DE BENTO LEITE, O
ÚLTIMO DOS MOICANOS, O HERÓI DO FAR WEST BUIQUENSE
Sabe
dessas pessoas, que numa determinada época, você sem ao menos conhecê-la
direito, sente repulsa, repúdio por ela, mas depois que a conhece de perto, vem
a tê-la como amiga e a admirá-la! - Foi assim a amizade que começou e tive com
Antonio Bento Leite Cavalcanti, mais conhecido em nossa região, por “Toim de
Bento Leite”. Bento Leite, seu pai, foi um grande proprietário de terras em
Buíque e na política, foi vereador em vários mandatos, chegando a ser presidente
da Câmara Municipal de Vereadores, lá por volta das décadas de 50 até se não me
engano, início da de 70, ainda na época da política do chumbo-grosso, característica
de nosso coronelismo brabo buiquense, de domínio da certas castas familiares poderosas
de nossa terra. Toinho, com mais de 1,70 m, “branquelão”, cabelos lisos, cheguei
a conhece-lo, salvo melhor juízo, quando ainda morava em Pesqueira, lá em
finais da década de 90, através de meu irmão Miltinho, de quem desfrutava de
uma grande amizade. Como uma figura estabanada, às vezes de pavio curto,
noutras ocasiões não, gostava muito de falar de suas aventuras vividas nos anos
dourados de sua jovialidade, como se fora um rei do Far West americano, uma
espécie de último dos moicanos, mas gostava muito de se gabar, envaidecer, sem
perder à majestade, pelo que na sua vida fez, dentro do imaginário de sua
vaidade interior, recheada por luxúrias, boemia, aventuras vividas por lugares
por onde chegou a viver, da ostentação de uma riqueza e poder que imaginava ter,
e sentia isso com uma ponta de orgulho, de saudade e de tristeza, entre o que
fora num momento de sua vida e o que estava vivendo naquele presente em que
sempre saíamos para nossas farras habituais e por vezes até, chegava a brotar
lágrimas de seus olhos.
No geral, nos encontrávamos nos finais e
em alguns dias do meio da semana para tomarmos em nossa época, ou a danada da
cachaça 51, eu e ele, sendo que, a bebida preferida dele mesmo, era o
tradicional Ron Montilla com coca-cola, mas às vezes entrava na cachaça também.
A turma era formada por meu irmão Miltinho, por Rômulo e por alguns outros
conhecidos, mas no geral, éramos sempre nós três. Nessas nossas viagens
etílicas, em trocas de histórias de relatos de cada um, ele sempre falava com
uma ponta de orgulho e de tristeza, quando foi da Polícia Rodoviária Federal,
juntamente com o advogado Dr. Martinho, de Pesqueira, de quem foi colega de sua
época como policial rodoviário, e depois, por ironia do destino, ambos chegaram
a perder seus cargos. Dr. Martinho, ainda chegou a se aposentar e, Toinho, nem
isso chegou a conseguir, vivendo de um favorzinho daqui, dali como um indivíduo
que teve a chance de ter tudo na vida e que na ocasião, era obrigado a se
humilhar a muitos políticos para poder sobreviver, mas nunca perdera a
serenidade de fanfarrão, de bonachão que sempre fora sua característica pessoal.
Gostava sempre de contar suas aventuras mirabolantes, que no meu imaginário, fazia-me
lembrar de filmes tipo James Bond, 007 contra Moscou, mas do que mais se gabava
mesmo, era de ter sido na década de 60, um dos maiores boêmios de Arcoverde,
tendo sido contemporâneo de Jurandir de Brito, e sempre falava de um grande
feito, de ter sido o primeiro na região a adquirir um veículo americano, que só
os ricos e mais abastados é quem poderia adquirir, da marca Buick, depois um
Impala e das farras que fazia e da maneira de ostentação de poder e riqueza que
tanto gostava de falar nesse mundo de sonhos em que ele viveu. Foi nessa época,
que levando uma de suas filhas e uma sua colega desta para à escola, por esta veio
a se apaixonar, vindo a fugir com essa mulher, deixando sua própria família e
passou a viver uma paixão torrencial que se tornou o seu grande amor até o fim
de seus últimos dias de vida, e com esta veio a ter um casal de filhos. Ela o
tratava carinhosamente de “Bang” e nunca fez cara feia quando íamos farrar em
sua residência, no Sítio Camaratu, na entrada onde existe a Escola Municipal
Bento Leite Cavalcanti, depois da Vila do Carneiro, e nunca a vi tratando de
cara feia. Sempre alegre, sorridente, não deixava de dispensar cuidados especiais
para com ele, mesmo em elevado estado de embriagues. Ela vinha de uma família
rica de Alagoas, que por essa sua atitude, de também ter se apaixonado por
Toinho, foi abandonada por seus familiares, que com essa decisão de deixar sua
vida de estudante e passar a viver com um homem casado, o que na época era
praticamente um tabu reprovável pela sociedade, a família não suportou e a
abandonou, entregando-a ao seu próprio destino. Com o passar do tempo, não sei
bem se os filhos tidos com a primeira mulher, o perdoaram ou não, mas ele viveu
até morrer com a mulher por quem se apaixonou e amou de verdade e ela também,
por ter abdicado de uma vida de princesa, para terminar como uma plebeia, já no
final da vida, ao lado de Toinho, seu grande amor, a quem tratava por “Bang”, o
último dos moicanos buiquenses. Lembro que numa certa ocasião, nos andares da
vida, Toinho estava em um boteco de Buíque, bebendo com Rômulo e, como era
época de política e ele, Toinho, tinha um cargo na Prefeitura e em determinada
ocasião, Rômulo começou a puxar uma música de campanha política, que já faz parte
de nosso folclórico político habitual, começou se iniciava assim: “Blésman já
foi prefeito duas vezes e nada por Buíque fez e agora quer retornar... – E isso
repetitivamente, para depois começar outra estrofe e o refrão quem fazia era
Toinho, que emendava:...: Já, foi, já, foi......, e assim por diante. Não
demorou muito, chegou aos ouvidos de Blésman, como é costume dos babões
ocasionais, e não deu em outra, por essa tolice, Toinho perdeu o seu empreguinho
e ficou na pior e isso, em nossos encontros etílicos, sempre era motivo de
conversas e gozações. Ironias do destino idiota da política de nossa terra.
Praticamente sem nada, vivendo isolado
no Sítio Camaratu, mas nunca deixou de possuir um veículo, mesmo a ponto de
sequer rodar direito, irregular, mesmo assim, sempre andava em seu carro e
todos os dias religiosamente, ia visitar meu irmão Miltinho, na Padaria
Cardeal, em Arcoverde. Em muitas ocasiões, ia deixa-lo de Arcoverde, quando por
um determinado tempo por lá também morei, no Sítio Camaratu e de imediato,
voltada para casa. Fumante inveterado e mesmo sem um centavo no bolso, só
fumava se fosse cigarros Carlton, que meu irmão Miltinho, até os últimos dias de
sua vida, lhes presenteava com uma carteira todos os dias. Fiquei triste num
primeiro momento, quando soube que tomado por uma doença degenerativa em
elevado estágio, porque era portador de uma diabetes fortíssima, e num segundo
momento, sem deixar os seus vícios habituais e sua rotina de vida, chegou a
perder parte de um pé, que teve que ser amputado, em face do agravamento da
doença e, não demorou muito tempo, cada vez mais debilitado, veio a falecer, o
que me deixou ainda mais triste pela grande perda desse grande amigo que foi Toinho
de Bento Leite e, vendo uma fotografia em que estava ele do lado esquerdo, Dornélio
Modesto, do lado direito e eu no meio, abraçado com os dois, num certo carnaval
de Buíque, se não me falha à memória, entre 1999 a 2000, estávamos nós a cair
na folia. Mas das grandes amizades, apesar de certos devaneios próprios da vida
de cada um, sempre tive uma grande amizade por Toinho de Bento Leite, mas sua
perda é algo que sempre vai permanecer na minha história, na minha memória, por
ter sido ele o Bang de sua amada e do Far West de Buíque, o último dos moicanos
a partir para o andar de cima. Saudades camarada Toinho de Bento Leite.
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