JAIME
GALVÃO, O ÚNICO PREFEITO INTELECTUAL BEM MAIOR DO QUE O MUNICÍPIO QUE GOVERNOU,
TUPANATINGA
Ele mesmo, Jaime Galvão, então prefeito de Tupanatinga, distribuindo alimentos para à população. |
Fui à Tupanatinga
pela primeira vez, ainda compreendida nos limites geográficos de Buíque, por
nome de Vila Santa Clara. Até hoje fico a imaginar, quando de sua emancipação,
se não teria sido mais bonito, no sentido de se manter suas tradições intactas,
se o Município emancipado por volta de 1964, permanecesse com o mesmo nome de Santa
Clara, se não teria sido mais bonito. Tupanatinga, que na língua indígena
significa ‘Deusa Branca”, não sei se foi a melhor escolha, mas tudo bem. Só sei
que, quando lá estive pela primeira vez, por volta de 1962, em plena campanha
política de Blésman Modesto para prefeito de Buíque pela primeira vez, contava
com meus tenros dez anos de idade mais ou menos. Vi na época, um vilarejo
encravado num buraco, dominado por rochas, pedras e de uma esquisitice inimaginável,
localizada num cantinho acanhado lá embaixo, sem calçamento e só existia mesmo
o centro do vilarejo. Era de uma pobreza de Jó, mas ao se emancipar, veio a
crescer, passaram por lá vários políticos e, lembro bem, que depois de nossa estada
em São Paulo, entre 1964 a 1972, o prefeito de Santa Clara emancipada, agora
Tupanatinga, era Jaime de Melo Galvão. Dessa figura corpulenta, gordo, não
muito alto, de estatura mediana, sempre num terno elegante, de fala mansa,
andar compassado, muito educado e com um intelecto acima da média para a nossa
região, só sei que dele ficou em minha mente fotográfica a figura de um
político que vivia preocupado com o seu povo e gozava de muito carisma diante
daquela gente de sua época.
O que mais me marcou na figura humana de
Jaime Galvão, como era mais conhecido, foi justamente a característica, de que
quando vinha de alguma viagem do Recife, para resolver algum problema de seu
município que certamente não contava ainda com dez anos de emancipação, tinha
como parada regulamentar obrigatória, o Bar Arizona, aqui em Buíque, de meu
irmão Miltinho Modesto e que eu e ele, tomávamos conta da administração do melhor
bar de toda a história de Buíque da década de setenta e, quiçá, de toda
história, porque um bar nos moldes em que o nosso era montado, nunca mais
cheguei a conhecer em nossa terra. Sempre chegava com o seu fiel escudeiro
Israel, se não me engano, ex-funcionário da TELPE, que não largava o seu pé.
Era como um fiel cão adestrado e amigo de seu dono. Ao chegar em nosso bar,
acomodava-se numa mesa, pedia sua bebida predileta, que era whisky e, para Israel,
Ron Montilla com coca cola. Sei que bebiam à vontade e quem chegasse por perto,
ele também não fazia questão de que a pessoa se servisse e nunca deixou ninguém
pagar uma conta. Nesses encontros, vez por outra, chegava também a acompanha-lo
à mesa e conversávamos muito sobre a sua vida, seus projetos para Tupanatinga,
sua preocupação com o seu povo e sua formação acadêmica no Estado do Rio de
Janeiro, onde morou por um certo tempo e, segundo ele, foi naquela estado que
se formou em administração de empresas. Ele falava com uma voz firme, enquanto
ainda estava bom, mas tinha um vozeirão respeitável e o português fluía corretamente
em nossas trocas de conversas. Apesar de origem de família rica na época, que
chegou a ser dona de mais de 3 mil hectares de terras na região do Manuíno, ele
pelo visto, não se preocupava muito com o riqueza que possuía, mas tinha uma
grande preocupação em desenvolver a sua terra que ainda estava caminhando a
passos de cágados para se firmar realmente como município recém-emancipado.
Lembro bem, que o carro oficial dele, era uma Brasília amarela, que dirigida,
não sei bem, se por Israel ou um outro motorista, não lembro, mas era um carro
simples, para um homem da envergadura de Jaime Galvão. No meu entender, foi o
único prefeito intelectual de Tupanatinga até os dias de hoje. Não cheguei a
conhecer outro que tivesse o seu nível de conhecimento, de educação, de tratamento
cordial com todas as pessoas, o que não mais tem acontecido nos dias de hoje.
Ele viajava muito, mas sempre esteve presente junto com o seu povo de
Tupanatinga e suas viagens eram realmente para resolver problemas de seu
município, porque apesar do cargo de prefeito, nunca demonstrou ter mania de
grandeza. Era um homem de boa aparência e simples.
Jaime era solteirão e já beirava a casa
de 40 para 50 anos e, um fato inusitado em sua vida, foi o de que tempos
depois, ter chegado a se juntar com uma empregada de sua própria família e ele,
ainda morava com a mãe, num casarão no centro de Tupanatinga, que hoje
infelizmente, por também não ter memória o povo daquela terra, é um prédio
comercial, pois se ainda existisse a casa em que Jaime Galvão nasceu, morou por
maior parte de sua vida e foi prefeito, seria com certeza um referencial
histórico para o município, cuja construção vinha desde à época de Vila Santa
Clara. Ter se juntado com uma empregada, pelo que me parece, de origem indígena,
não foi a princípio, aceito com muito bom grado pela família, mas o que valia
mesmo, era o amor que ele sentia por ela. Chegou ainda a ser prefeito de
Tupanatinga por duas vezes e pelo visto, deixou alguma marca de suas
administrações, pelo menos a sua popularidade junto ao seu povo e sua visão de
desenvolvimento de seu lugar, que na época, não se podia fazer muito, em face
dos parcos recursos com os quais contava cada município, diferentemente dos
dias de hoje. Só sei, que a marca registrada que permanece até hoje em minha
mente, é a de um político pautado pelo carisma do qual gozava junto com o seu povo,
o seu nível de conhecimento, a sua intelectualidade, o seu gesto de
pacificidade, pois nunca soube de seu envolvimento com confusões, porque era um
homem de paz, que só queria mesmo o desenvolvimento de sua terra, de sua gente,
de tomar o seu whisky junto com seu companheiro de guerra, Israel e sempre com
aquele seu jeitão carismático de homem bom, pacífico, ordeiro e com aquele seu
característico ar de intelectualidade, uma das marcas registradas do clã
familiar, apesar de ricos, todos morreram praticamente na miséria. Jaime,
depois que se juntou com a ex-empregada da família, foi morar no Recife, em Boa
Viagem, onde tinha um pequeno apartamentozinho, se não me engano, num conjunto
de prédios, com nomes de várias cidades interioranas e o dele, por coincidência
ou não, era justamente, Edifício Buíque, onde lá estive por algumas vezes,
quando namorei uma pessoa de sua família daqui de Buíque. Tenho Jaime como um
grande homem de Tupanatinga e, para mim, foi o prefeito mais intelectual que já
passou por àquela terra, porque alguns que vieram depois, sinceramente, foram
de amargar em termos de ignorância e analfabetismo, da falta de conhecimentos,
acontecendo o mesmo em Buíque, em que depois de Blésman Modesto, o único com
curso superior que foi prefeito de nossa terra, foi o médico Dr. Dilson Santos,
porém antes, já houvera sido governado, na década de 50, por Dr. José Cursino
Galvão, que também chegou a ser prefeito de Arcoverde. Jaime Galvão, como
praticamente todos os seus irmãos, morreram ainda jovens, mas que foi um
político marcante, disso ninguém pode questionar. O que não vejo em Tupanatinga
no momento atual, é o culto e o reconhecimento devido, por um político do nível
de Jaime Galvão, que pelo visto, está no esquecimento histórico de seu povo e
de sua gente, por culpa de um “magote” de políticos analfabetos que tem
ocasionalmente permanecido no topo do poder e pior ainda, jamais chegarão
sequer a chegar nos pés do que Jaime de Melo Galvão, naquilo que de positivo
ele representou para Tupanatinga e seu povo, nos primeiros anos de sua
emancipação política de Buíque. Esta é a minha homenagem que ainda guardo na
lembrança, do político, do cidadão, do homem pacato, educado, ordeiro e antes
de tudo, um amante, que chegou a se apaixonar pela própria empregada da família
e sem demonstrar nenhum preconceito, passou a viver os últimos anos de sua vida
com o seu grande amor.
Um comentário:
Um pouco de minha raiz pois o senhor Jaime Galvão de Melo é primo de meu avó Espedito Nogueira de Melo.
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