O BÊBE CHORÃO
Por um certo tempo de minha
vida, morei no Recife, numa primeira vez, em parte na década de final de 70 até
meados do início de 80 e, tempos depois, entre os idos de 2000 a 2004, quando
para cá voltei justamente para trabalhar como advogado eleitoral na campanha
que iniciar-se-ia em julho de 2004, em que viria defender justamente Zé Camêlo,
que doente, debilitado como se encontrava, se imaginava que talvez não viesse
sequer a terminar a sua campanha, mas ainda com muito esforço em face de seu
debilitado estado de saúde, finalmente conseguimos e pior das hipóteses, não
fosse à doença, teríamos ganho à campanha, em face de ter sido derrotado para o
seu ex-aliado Arquimedes Valença, por parcos 329 votos. Foi uma campanha dura,
mas quase chegamos lá, só não terminando uma caminhada vitoriosa em face de seu
estado de debilidade.
Nunca houvera em toda minha vida, pensado em votar em Zé Camêlo,
em face de nossos diametralmente passados de vida e de sermos adversários
políticos históricos entre nossa família e a dele, mas mesmo assim,
independentemente de Blésman Modesto, resolvi apoiá-lo. Esse apoio se deu mais
pela ligação que meus filhos tinha com o seu primogênito, Jonas Neto, do que
propriamente por ele, mas com a convivência de campanha, passamos a nos
entender como duas pessoas civilizadas e cheguei a vestir de verdade a sua
camisa, a ponto de sem um tostão furado, ter ido ao Recife, defender em
Plenário do Tribunal Regional Eleitoral, a sua candidatura e pedir
afirmativamente no púlpito de um Plenário lotadíssimo, a manutenção da
impugnação da candidatura de Arquimedes, da qual era advogado de Zé Camêlo,
mesmo no meio da arena dos leões, sozinho, praticamente me sentindo isolado,
mesmo assim, não fiz feio e falei como com firmeza me sentido um Davi prestes a
enfrentar um gigante Golias, em nesse Plenário lotado se encontravam renomados advogados,
os sete desembargadores, políticos, uma caravana levada por Arquimedes ao
Recife e fiz bonito, não decepcionei, mas mesmo assim, terminou prevalecendo a
tese do advogado Dr. Luis Coelho, de Arquimedes, que era pago com o dinheiro
público, para fazer as suas defesas, como acontece a mesma coisa na atualidade
com praticamente todos os prefeitos, inclusive defesas administrativas nos
tribunais de contas do Estado e da União.
Antes mesmo dessa gloriosa campanha, embora não vitoriosa,
conheci um bebe chorão que vivia a se lastimar e lamuriar da vida, em face de
viver praticamente em verdadeiro estado de terra arrasada, na pindaíba mesmo.
Não ia bem nos estudos, morava num apartamentozinho chinfrim, não tinha sequer
o suficiente para pagar à faculdade, que sem muito estímulo a fazia com muito
gosto, e não chegou sequer a sair do primeiro ano. Esse bêbe chorão, apesar de
precisar se dedicar mais para os estudos, para assumir responsabilidades no
futuro, mesmo tendo ciência de tudo isso, como vivia ainda uma época de
jovialidade do tempo em que acontece com a maioria dos jovens, sem nada querer
com a vida, ia levando esta como ela a levasse. Sempre em nossos encontros,
falava de seus sonhos, até mesmo com tom de chacota, gozação e de descaso com o
seu próprio futuro e do próprio povo, mas mesmo assim, era uma pessoa chegada a
nós através de meus filhos. Seríamos até então, em plena pindaíba em que vivia,
amigos de verdade, mas quando essa fase de bêbe chorão e numa pindaíba extremada
em que vivia, passou tudo isso mudou, porque quando o homem é atingido por
crises de estrelismo, e chega ao pedestal do poder, ele esquece que um dia a sua
estrela não passava de uma rústica luz apagada sem nenhuma perspectiva de vida
e sem sequer imaginar, esperar que esta viesse a acender um dia em sua vida. Tudo
em sua vida era um mar de tristeza, de infortúnios e de menosprezo.
Na vida da gente, muitas surpresas acontecem, mas existem
muitas, que podem até ser esperadas e eu via que aquele pobre bêbe chorão
poderia um dia vir a conquistar um certo espaço em sua vida, porque assim a
tradição familiar poderia perfeitamente ser um fator decisivo e determinante em
sua vida, e eis que finalmente, isso realmente veio a acontecer e a sua estrela
brilhou como de quem ganha na megasena, só que, esse brilho, deu um poder
desmedido, que nem mesmo ele poderia via a imaginar, entretanto, até quando
essa estrela, que já dá sinais de apagão, poderá chegar a brilhar, até quando
ninguém pode prever ou até que pode, do jeito que as coisas estão se
desenvolvendo. Pode estar bem próxima essa perda de brilho, que na verdade, é
um brilho meio opaco, translúcido, quase se apagando, mesmo assim, se acha no
dever, por ter conquistado o poder por vias enviesadas, ser o todo poderoso
ocasional do momento, quando na realidade, ainda para mim, não passa do mesmo
bêbe chorão que encontrei e o conheci ainda em tenra idade e mais do que
ninguém, sei de sua trajetória de vida. Então minha gente, ninguém pode se
olvidar como o tal, o poderoso, que tudo pode, porque de uma hora para outra,
tudo pode vir a desmoronar, e o castelo que construiu de areia, a riqueza
indevida que acumulou, tudo isto de uma hora para outra, pode perfeitamente vir
a ruir, porque nada foi conquistado com o desforço, a garra, o suor, o
sofrimento para se conquistar tudo que está colocado nas mãos, porque quando se
adquire as coisas na vida, mal adquiridas, sem tê-las conquistado de verdade,
pode ter certeza que há de chegar um dia que tudo se esvai como fumaça e nada
melhor do que se sentir ainda no útero da mãe na tristeza, na solidão e no
esquecimento, que é isso que acontece para com os ímpios, infiéis e desonestos
que tanto vemos passar a cada dia de nossas vidas, ou será que estarei eu a ver
miragens, hem minha gente!
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