A QUESTÃO MAIS DISCUTIDA DA CIDADE E REGIÃO: LEILÃO DO CASARIO DAS
FREIRAS
A questão mais discutida destes
últimos dias, foi o leilão anunciado pela Justiça Federal, de que a Casa das
Freiras de Buíque iria à hasta pública, em face do não pagamento de um
empréstimo contraído em uma instituição bancária, por uma freira e que, por em
face da inadimplência, veio inexoravelmente, o processo de execução da dívida
e, após todos os trâmites legais, sem que houvesse nenhuma solução, o que
certamente imaginavam ser uma brincadeira, veio enfim, o deslinde final, que é
colocar os bens alienados em leilão público, para que, arrematado, venha a
cobrir o débito contraído até que ele venha realmente a ser satisfeito e o
valor de avaliação pelo Judiciário, estava uma pechincha, para os padrões
atuais da especulação imobiliária de Buíque.
Na questão jurídica, algo está me cheirando meio equivocado
pelo que tem divulgado algumas pessoas desinformadas, de que o empréstimo foi
contraído por uma determinada freira da ordenação religiosa e de que, toda
àquela área, foi oferecida como garantia ao empréstimo bancário contraído,
certamente com algum objetivo de ampliação, de investimento em melhorias
daquela área ou outras finalidades quaisquer. A verdade, a meu ver, do ponto de
vista do direito, a freira não pode ser responsabilizada única e
exclusivamente, isso sem adentrar no mérito da questão, mas sim, em uma análise
despicienda de maiores conhecimentos da causa. Em primeiro lugar, para que a
freira viesse a contrair um empréstimo e alienasse toda àquela área em
garantia, não poderia ser em nome dela na condição de pessoa física, se ela não
era titular da propriedade e, para isso, deveria existir uma espécie de
entidade associativa, da qual ela deveria ser presidente e, para contrair um
empréstimo qualquer, pelo que me consta, teria que ter a aprovação da
Assembleia Geral dessa associatividade, ou então do próprio grupo dirigente,
mas ela sozinha, jamais poderia ter contraído esse tal empréstimo e dar em
garantia um bem que ela isoladamente não poderia ter esse poder, já que não era
a titular do bem. Então a freira, no meu entender, não pode ser
responsabilizada unicamente por ter contraído esse empréstimo e dele ter usufruído
indevidamente e permitir que a Casa das Freiras, como atualmente é denominada,
chegado a esse ponto. Em segundo lugar, sem também ter conhecimento de causa,
mas somente uma questão de opinião jurídica, não é possível que todas elas, as
freiras, tivessem conhecimento dessa dívida, porque se era uma associatividade,
com toda certeza, as principais cabeças tinham disso conhecimento sim e, pelo
visto, não tomaram as devidas providências a tempo e permitiram que chegasse ao
ponto aonde chegou, porque num terceiro ponto de vista, a coisa só vem a
atingir esse ponto máximo na Justiça, principalmente quando é federal, porque
na estadual, nunca assisti até hoje um leilão público da alçada da Justiça
Comum e, se já houve algum, nunca cheguei a tomar conhecimento, por isso mesmo,
houve negligência de parte das próprias freiras ou de quem esteja à frente da
associatividade religiosa, para não ter tomado as rédeas e buscado uma solução
enquanto tinha tempo. Claro que toda instituição financeira, não quer nem saber
quem está lá na outra ponta passiva, como devedor. O que mesmo ela quer é
receber o que emprestou, não interessando a quem.
Pela beleza e exuberância da área e pelo seu valor histórico
para Buíque, já que ali foi moradia do Monsenhor José Kherle, padre que veio da
Alemanha para o Brasil e terminou sua vida em Buíque, estando enterrado na
Capela dentro desse terreno objeto do leilão, enquanto vivo, buscou disseminar
ele, que mantinha contato com Nossa Senhora e, por ter, antes de ser padre, estudado
medicina em seu país de origem, tenha conhecimento da matéria, o que atraia
pessoas doentes de todas as regiões, que faziam romarias e grandes ajuntamento
de pessoas, somente para fazer uma consulta com ele, que diziam ser milagroso,
pelo fato de conversar com Nossa Senhora, pelo menos foi isso que se criou no
inconsciente coletivo do crente católico buiquense e de outras regiões, mas na
verdade, o que ele entendia na verdade, era porque já houvera, antes de ser
ordenado padre, estudado medicina na Alemanha, daí as suas curas miraculosas
por ter conhecimento da medicina. Mas o padre, por ter se fincado em Buíque por
muito tempo, participou ativamente não só da vida religiosa, mas também, da
vida política de nossa terra, foi partidário ferrenho de Anibal Cursino e do
que mais ele gostava mesmo, era jogar gamão com o Tenente Saturnino, Anibal
Cursino, Félix Gostoso, Badefu, entre outros da época dele. Gostava de fumar um
grande charuto e de dar sérios carões de fazer medo nos meninos, com o seu
jeito de alemão grosseiro. Lembro disso porque era ainda criança, porque
assisti com minha mãe, muitas de suas missas, e muito ouvia falar do gosto do
padre por esse tipo de entretenimento fora da igreja. O Padre Kherle era tão
grosso e ignorante, que certa feita, um molecote adentrou naquele sítio para
roubar algumas azeitonas e terminou sendo vítima de um tiro, dizem que foi de
sal, que chegou a ferir à bunda do garoto. Por isso, não sei se foi ainda
processado ou não, mas que ele atirou no garoto com uma espingarda soca-soca,
disso todos tem conhecimento. Era do tipo carrancudo, mas terminou por ganhar a
simpatia do povo de Buíque e àquela área sempre foi chamada de Casa do Padre Zé
Kherler, por possuir muitas fruteiras, plantações de flores e, também pelo fato
de que, quando das romarias de Frei Damião, o seu lugar de hospedagem era
naquela casa. Então de certa forma, àquela área com toda certeza, tem um grande
valor histórico para nossa terra e, deixa-la ser leiloada assim, mesmo não tendo
certeza de como se deu essa alienação à uma instituição bancária, seria alvo
fácil dos gananciosos de plantão, que com toda certeza iriam dar destinação
diversa naquela propriedade, que seria apropriada para construção de um
conjunto de residências privadas, de um hotel de luxo, aproveitando as
visitações turísticas ao túmulo do padre José Kherle, além de outras
destinações que com certeza iriam trazer muitos lucros aos usurários de plantão
de nossa terra, que não estão nem aí para o nosso patrimônio, artístico,
histórico e cultural, porque naquela área também, se tornou um ponto de cultura
de nossa gente.
Permitir que a área viesse a ser leiloada, com toda certeza,
seria burrice da parte de nossa municipalidade, o que pelo visto, isso não vai
acontecer, o que impede que mais uma fonte da história de Buíque, venha a ser
destruída como tantas outras foram sem que ninguém tomasse nenhuma providência,
pois se tivessem elaborado uma lei de preservação do patrimônio artístico,
histórico e cultural de nossa cidade, principalmente na questão de nossas
antigas construções, não teríamos chegado a essa cidade monstrenga que em um só
olhar se percebe que fere os nossos olhos, de tão modificada para pior como
atualmente se encontra. O Buíque telúrico de outrora, deu lugar a uma cidade da
usura, da busca da lucratividade e do capital selvagem que substitui os mais
comezinhos valores culturais e históricos de nossa cidade, nossa saudade, como
bem o disse o nosso historiador da região, em seu livro, Minha Cidade, Minha
Saudade.
Em síntese, se as freiras tivessem tomado as devidas
providências dentro de tempo hábil, com toda certeza, não teria chegado ao
ponto que chegou e com toda certeza, não necessitaria da intervenção do poder
público municipal, para apresentar uma suposta solução para o caso, porque com
o mobilização dos fiéis da Paróquia loca e da Diocese, com toda certeza se
teria chegado a uma solução, antes de ter que enfrentar uma situação vexatória
e vergonhosa como essa, mas é bom que realmente se tenha um desfecho positivo,
para que não se venha a perder para as mãos de gananciosos, àquela bela área,
como tantas que passaram para mãos outras de inescrupulosos, que se pintam de
santinhos do pau oco, mas que, no final de contas, o que buscam mesmo, é
tirarem uma casquinha de sua fé de araque e religiosidade de algaroba.
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