Existem pessoas que no
geral, não sei se por um externar meramente opinativo, costumam dizer que
fariam tudo de novo, acaso tivesse uma oportunidade de tudo se repetir em sua
vida. Quanto a mim mesmo, se o tempo retroagisse e tudo tivesse que se iniciar
de novo, particularmente não repetiria a mesma vida que até agora tive. Não que
seja um insatisfeito da vida ou da que tenho e levo. Isso não. Vivo com a
dignidade que acredito que deve e não sou como muitos possam imaginar, mais um
infeliz da vida.
Na verdade me sinto muito bem em face do que na vida passei e
pelo que conquistei à duras penas e pelo que hoje sou e represento,
principalmente porque, com o avançar progressivo e inexorável desse caminhar
sempre para a frente da vida, o imperativo vital e comportamental não pode
parar de jeito nenhum, a não ser por algum fator circunstancial já cronometrado
na vida de toda e qualquer pessoa, é que venha de vez a definhar e aí, tudo
para assim de repente como num passe de mágica.
Em minha vida, tive muitos infortúnios, porém nunca deixei de
ser um contestador, não de forma graciosa e sem causa alguma, mas por que na
minha visão de mundo, sempre procurei saber discernir entre o certo e o errado
e fazer uma opção para combater o errado e aquiescer com o que está certo.
Talvez nesse ponto seria o mesmo. Na vida amorosa, com certeza chegaria a fazer
algumas arrumações pontuais, mesmo que seja feliz com a prole que tenho. Nada a
dizer, porque a minha é composta por seres humanos de boa índole, de bom caráter,
sérios, honestos e honrados. Nada a dizer. Sou feliz com os meus filhos. Mas no
campo amoroso, buscaria me soltar mais, fazer uma viagem na Pasárgada de Manuel
Bandeira e quem sabe até, teria chegado a conhecer de perto um dos maiores
escritores brasileiros, Graciliano Ramos, de quem sou fã incondicional. Também
teria feito questão de tirar um retrato com Luis Gonzaga, Rei do Baião!
Acredito que daria uma sacolejada geral em minha vida, acaso
tudo pudesse retroagir no espaço e no tempo. Teria vivido com mais afinco os
meus anos dourados, coisa que deixa-me por vezes taciturno e tristonho com essa
importante fase de minha vida. Acredito que não fiz tudo que deveria ter feito,
mesmo assim, ainda tenho o privilégio de lembrar dos anos dourados que vivi e
isso no momento, pouco importa como foi, mas quando ouço uma música daquela
época, sempre dá um tranca no coração, como se fosse explodir em chamas de
paixões não vividas. O importante mesmo é ter tido o privilégio de tê-los
vivido.
Vi e cheguei a conviver com uma ditadura militar opressora,
castradora dos mais comezinhos direitos dos seres humanos, e não pude fazer
nada, a não ser ficar calado, mesmo assim, ainda externei o meu protesto de
repúdio ao famigerado e execrável regime militar. Se o tempo voltasse, com
certeza eu também teria pego em armas, como tinha vontade de fazê-lo ainda em
tenra idade, porque não suporto injustiças como as praticadas no regime
militar, onde até para se ler um livro de um Francisco Julião, das Ligas
Camponesas da Zona da Mata de Pernambuco, o sujeito tinha que fazê-lo por baixo
de sete capas, senão seria preso e processado como subversivo. Pode um negócio
desses? – Pior é ver hoje pessoas alienadas e que não viverem uma ditadura
ainda, falar na volta de uma monstruosidade dessas. Puros hipócritas e imbecis
que não sabem que, por pior que seja a democracia, ainda é bem melhor do que a
melhor das ditaduras, por fatores óbvios.
Na área de formação, apesar de hoje abraçar com muito amor,
afinco e dedicação à minha profissão de advogado militante, acredito que não
faria mais o curso de graduação em Direito, mas sim, medicina. Agora existe
alguma razão plausível para isso? – Respondo: existe sim! Os casacudos do
Direito, os homens das togas pretas, enfrentá-los, salvo algumas exceções, é o
mesmo que você está enfrentando diferentes constelações de deuses, que podem de
conformidade com a sua maneira de se ver para dentro, do egocentrismo de suas
próprias vaidades pessoais, não dá para aguentar sem chiar tanto autoritarismo
e abuso de autoridade, que diuturnamente a gente tem que enfrentar, porém para
quem sabe o que significa ser advogado de verdade, sem jamais baixar à cabeça e
se rebaixar para parte dessa constelação. Não digo todos eles, mas existem
alguns, que dá vontade mesmo, de sair no tapa com qualquer um deles numa sala
de audiência, de tanto pedestal de endeusamento que eles imaginam que estão, em
seus tronos de vaidades pessoais. Por isso mesmo, não faria direito de jeito
nenhum. Optaria por medicina ou talvez engenharia, que cheguei ainda a pagar o
básico, mas nessa área de ciências sociais, apesar de muito ter feito nesses
meus 25 anos de militância, acreditem, não repetiria a dose por decepção com
esses deuses de araque, claro, com as exceções de praxe, mas que em maior ou
menor grau, não deixam de se imaginarem deuses e ter certeza que o são de
verdade.
No decurso do viver da gente, nos deparamos com muitas
decepções e, apesar de ser crítico abertamente dessa forma de serem os poderes
constituídos e, em especial o Judiciário, eu nesse quesito mudaria radicalmente
para não ter que encarar cara à cara, olho no olho, muitos desses deuses de
araque que na verdade, sempre descem à base do pedestal onde se imaginam que
estão e a queda é grande, na medida de quanto maior for a altura do topo do
pedestal onde eles acreditam que estão. Na minha opinião, os privilégios dessa
claque da elite jurídica de nosso país, teria que acabar de vez em estrita
obediência aos ditames do artigo 5º da nossa Constituição Federal de 1988, em
que nivela todo mundo num mesmo plano, esta é a mais pura realidade, afinal de
contas, se todo poder emana do povo, os vencimentos deles é da mesma forma pago
pelo povo que em muitas ocasiões eles tanto humilham, não fazendo pior, por que
ainda existem advogados que como eu, jamais se deixarão dobrar, sejam quais
forem as adversidades que se tenha que enfrentar diante dessa constelação de
deuses.
Nenhum comentário:
Postar um comentário