Paulo Cordel: - Bom dia Dr. É uma grande satisfação realizar essa
entrevista, para que os amigos conheçam mais um pouco de sua história de vida,
seus projetos, sua visão de mundo.
De início, gostaria que você
informasse os seus dados pessoais (onde nasceu, data, filiação etc.
MANOEL MODESTO: - Bom dia amigo Paulo Tarciso (Paulo Cordel) e também
aos leitores deste site que vem tratando com muita dedicação e esmero de nossa
cultura. Primeiramente, nasci aqui mesmo em Buíque, pelas mãos de uma parteira,
no Sítio Cigano, praticamente num lugar que fica no horizonte do oitão do
pequeno sítio onde moro atualmente (atualmente é zona urbana). Vim ao mundo no
ano de 1952, em 28 de março e o prefeito de Buíque, era Dr. José Cursino
Galvão. Meus pais, já falecidos, são Milton Modesto de Albuquerque e Adelaide
Alves de Albuquerque. Meu pai era filho de Manoel Modesto (Mané Modesto, meu
avô) e Aurora Laerte Cavalcanti (minha avó). Fora minha pessoa, tive mais cinco
irmãos, três homens e três mulheres, dos quais só restam hoje, cinco, contando
comigo: três homens e duas mulheres. A minha visão de mundo foi a que aprendi
dentro das dificuldades em que vivi e tive que enfrentar no desenvolvimento de
toda a minha existência. Sou humanista de nascença, sonhei sempre com um mundo
mais justo, busquei sempre combater o bom combate, me posicionar sempre ao lado
dos mais fracos e oprimidos e sei que quando me for desta para outra, apesar de
tudo que tentei fazer, acredito não ter realizado o idealismo de vida que
sonhei diferente como mudança de vida e de mundo, mas a vida é assim e
certamente, algo de mim vai ficar para os pósteros, porém não como deveria ou
como imaginaria que fosse, mas fiz o que esteve ao alcance de minhas mãos ou
até aonde estas puderam alcançar. Poderia ter feito mais, porém não foi
possível e fiz o que pude fazer nesta minha caminhada.
Paulo Cordel: - Conte-nos, como foi a sua infância.
MANOEL MODESTO: Tive uma infância difícil. Tendo nascido no Sítio
Cigano, que sequer um veículo chegava até o casebre chinfrim de meus pais, me
entretia com o criatório de galinhas de minha mãe, algumas cabras e ovelhas de
meu pai e, mesmo pequenenino, trabalhava
na roça para ajudar e da terra tirar o sustento da família. Por volta de meus
oito para dez anos, fui acometido por uma doença grave na época, que chamavam
popularmente de “febre tifo”, fui trazido para à cidade no lombo de um jumento
(na garupa) e meu irmão Miltinho montado no lombo forrado por um saco, todo
coberto por um rude cobertozinho de lã chula e lembro vagamente que fui
atendido num Posto de Saúde que existia em frente da atual prefeitura, onde é a
Casa de Saúde Senador Antonio Farias, por Dr. Zé Cursino, que prescreveu umas
dez ou mais injeções de bezotacil (penicilina), que para tomar na casa de meu
tio Zé Modesto, onde ficamos no período da doença, e só sei que tinha que umas
cinco pessoas ou mais me seguraram para poder aguentar a levar a picada da
injeção na bunda, que era aplicada por um dos antigos guardas de prevenção de
saúde pública da época. Era uma via-crúcis de morrer, mas felizmente, não
cheguei a tanto. Consegui escapar, e com a luta de minha mãe, por volta dos dez
anos de idade, a família veio morar na cidade para que pudéssemos estudar. Sei
que aprendi minhas primeiras letras na Escola Duque de Caxias, que ficava
localizada entre as duas praças do centro de Buíque, Vigário João Ignácio e Major
França, que foi derrubada de nossa história pelo então prefeito Anibal Cursino,
já na década de 70. Por conta de problemas enfrentados por meu pai, que houvera
sofrido uma tentativa de homicídio em fins de 1963, no ano seguinte, logo após
o golpe militar de 1964, quando contava com apenas 12 anos de idade, fui com a
família para o Estado de São Paulo, onde vim a sofrer juntamente com os meus
pais e irmãos, o pão que o diabo amassou, porém foi lá onde terminei o curso de
alfabetização e fiz o curso de admissão ao ginásio, onde comecei a estudar o
que hoje se denomina de ensino fundamental. Em 1972, com vinte anos de idade,
eu e demais familiares, voltamos para Buíque, onde conclui o curso ginasial no
Ginásio Comercial de Buíque e, trabalhando no Bar Arizona, com meu irmão
Miltinho Modesto, estudei o curso científico, o que se denomina hoje, de ensino
médio, na Escola Estadual Carlos Rios. Em 1975 fiz o primeiro concurso público
do Banco do Estado de Pernambuco - BANDEPE, e fui o primeiro buiquense a passar
num certame público dessa natureza, vindo a trabalhar como bancário por
dezesseis anos, quando em 1991, no governo de Joaquim Francisco, vim a ser
demitido com mais duas mil famílias, em face da quebra do banco pelos políticos
da ocasião, dando novo rumo à minha vida. Como já era formado em Direito,
comecei advogar e com o dinheiro recebido de indenização, inventei de colocar
um comércio em Arcoverde e como não fui uma pessoa moldada para esse ramo de
atividade, cheguei a quebrar e perdi tudo que ganhei dos meus dezesseis anos de
bancário, fiquei endividado, sem crédito no mercado, porém continuei a militar
na profissão de advogado até os dias atuais e terminei por atravessar mais uma
etapa dessa travessia que é a vida de cada um de nós.
Paulo Cordel: - Em que escolas você estudou na fase infante, e quem
foram seus(as) professores(as)? Se possível, cite também os nomes de cinco
colegas de classe.
MANOEL MODESTO: - Como já dito na pergunta anterior, estudei na fase
infantil na Escola Duque de Caxias, no centro de Buíque e minha professora que
me ensinou as primeiras letras, foi Dona Aderida Cursino, rigorosa professora,
em que se a gente não respondesse certo a lição ou faltasse com o respeito, até
mesmo por traquinagens de outros colegas peraltas que colocavam o sujeito numa
encrenca, ia direto para a espessa palmatória ou então, dependendo da gravidade
da traquinagem, o castigo era ficar de joelhos na frente do quadro-negro, de
costas para a turma, em cima de caroços de milho ou de feijão. Era praticamente
uma tortura daquela época na base da psicologia corretiva aplicando-se a
violência, a tortura em si mesma, porém às vezes dava resultado, porém na
maioria dos casos, quando o meleque era ruim, traquina mesmo, não tinha quem
desse jeito. Mesmo nessa psicologia da intimidação e do medo, muitos não se
corrigiam. Dos colegas que vagamente me lembro, posso citar Siana de Liminha,
Edmilson de Zé Soares (Bill Kid), Diana Galvão, Águeda Araújo (esposa de Joãozinho
da Santo Antônio de Pádua) e Galvãozinho, fora outros que não me vem à memória
depois de tanto tempo passado.
Paulo Cordel: - E depois na fase de jovem, onde você cursou o que
nós chamávamos de “segundo grau”. Cite
alguns professores e colegas de classe?
MANOEL MODESTO: - Como já citei, estudei o curso científico (atual
segundo grau) na Escola Carlos Rios, em Arcoverde. Dos colegas de classe,
lembro dos que iam para Arcoverde numa velha rural ou num fusquinha por mim
dirigido, estudávamos no horário noturno, naquela cidade. Demorávamos daqui
para Arcoverde, em face de ser estrada de piçarra, principalmente nos períodos
chuvosos, em torno de duas horas de percurso Buíque-Arcoverde e vice-versa.
Vandelson Pereira (Gavião) e Luis Cláudio Barros foram os que mais me marcaram
porque estudávamos juntos e viajávamos no mesmo transporte à época, entre 1973
a 1976, quando concluímos o curso científico. Dos professos lembro de Geovani,
que era o Diretor, de uma professora de matemática irmã de Dr. Gilson Duarte
(já falecido), de um professor de física da cidade da Pedra, um sujeito
agalegado, entre outros que não me vêm à memória no momento. Fiz muita amizade
por onde passei, mas minha memória pelo visto, perdeu de alcance muitas dessas
pessoas, mas ainda lembro de muitas delas, porém não sei nominar cada uma na
atualidade.
Paulo Cordel: - Em assunto de inteligência ou intelectualidade,
sempre o conheci como um destaque nesta cidade. Desde tenra idade sempre ouvi
comentários elogiosos sobre sua pessoa, nesse aspecto. A que se deve isso?
MANOEL MODESTO: - Bem, não me considero um intelectual ou inteligente,
porém apenas uma pessoa que muito fez esforço diante de fatores circunstanciais
e adversos em minha vida, para perseguir e alcançar um objetivo de vida.
Acredito que em parte cheguei a conquistar parte daquilo que nesta caminhada
imaginei, porém teria ainda muito mais a ser feito. Só sinto que o meu tempo
está encurtando e não farei tudo que sonhei ou imaginei em realizar nesta minha
caminhada, isso porque, nem tudo nesta vida a gente é capaz de realizar. Só
digo uma coisa, fui tão-somente mais um mero catador de ilusões, como muitos na
verdade o são. Antes pensava que “querer é poder”, porém cheguei à conclusão de
que, o querer é buscar fazer o que as suas mãos podem alcançar, nada mais do
que isto, porém a gente tem que sempre ter em mente a persecução de um objetivo
de vida, para que possamos dar o sentido de viver com o mínimo de dignidade
para nós próprios, nossa família e buscar na medida do possível ajudar ao nosso
próximo.
Paulo Cordel: - Como a grande maioria dos nordestinos de sua época
jovem, você e sua família também passaram pela experiência de se ausentarem da
terra natal, para tentar a sorte na cidade grande, no sul do país. Conte-nos um
pouco sobre essa experiência.
MANOEL MODESTO: - A ida para São Paulo foi uma saga seguida por muitos
nordestinos. Lá senti a dureza daquela impiedosa Selva de Pedra, insensível, em
que buscam nos ver como meros invisíveis, fazendo com que me sentisse naquele
lugar pelos oitos anos em que lá vivi, como um mero “estranho no ninho”. Claro
que a ida para São Paulo foi uma busca de melhorias de vida, mas também, por
fatores circunstâncias que ocorreram na década de sessenta, quando meu pai
sofreu uma tentativa de homicídio e, para que não houvesse uma tragicidade
maior, uma vingança em nome da honra, por essa razão, resolvemos partir para
àquele estranho e tenebroso mundo, que está mais para um pesadelo do que para
você conseguir alcançar algum sonho imaginado por qualquer um “nordestinado da
sorte”. Mas ir para São Paulo, foi muito importante e serviu de lição de vida
para que pudesse ter mais forças para alcançar algum objetivo de vida e ter
ficado mais fortalecido na persecução daquilo que na vida queria alcançar
dentro das tantas vertentes de possibilidades.
Paulo Cordel: - Ganharam muito dinheiro nesse período. Voltaram ricos? (risos). Como foi o retorno de São Paulo para Buíque e
como os amigos e familiares o receberam?
MANOEL MODESTO: - Meu camarada, claro que não! - Quem é que chega a
ficar rico ganhando mísero salário mínimo? - Quem ganhava mais era meu irmão
mais velho, Miltinho Modesto, porque era um fino pedreiro e só passou a ganhar
mais a partir do momento que começou a pegar obras por empreitada. Como ele era
um pedreiro fino, passou a ganhar um pouco mais, trabalhando em média dezesseis
horas por dia, fez algumas economias e foi o único que voltou com algumas
reservas porque deu o seu sangue naquele insensível lugar erigido pelo suor e
sangue de nós nordestinos. À volta para Buíque foi um alívio para a minha vida
e para os demais membros de minha família. Ainda com sotaque paulista, calça
boca-de-sino, cinturão afivelado e sapato cavalo de aço, só queria mesmo ser o
“metido à paulista”, o “boy” do pedaço com sotaque e tudo mais, parecendo mais
a bala que matou Getúlio Vargas. Com o tempo tudo foi se ajustando novamente e
voltamos a ser o que sempre fomos: nordestinos da gema e sempre orgulhosos de
ser o que sempre fomos.
Paulo Cordel: - Na sua avaliação, foi importante essa experiência,
ou foi indiferente?
MANOEL MODESTO: - Ir para àquele mundo distante e estranho foi para
mim, uma grande experiência de vida. Serviu de lição para que diante do
preconceito sofrido, da indiferença com que o pessoal daquele lugar nos
tratava, só veio a se firmar a vontade interior de mostrar que poderia ser bem
maior do que o desdém com éramos tratados por àquelas pessoas metidas e que na
verdade, nunca foram ou vão ser melhores do que nós de forma alguma. Somos bem
mais inteligentes do que eles. Afinal, não somos nós que devemos a São Paulo,
porque eles se utilizaram de nossa mão-de-obra barata, nos humilharam e ainda
humilham e no final de contas, quem ganham são eles com o menosprezo, o
trabalho praticamente escravo com que nos tratam. O preconceito, o tratamento
diferenciado de inferioridade, é comprovado e fato atual, pelos vídeos e falas
de muita gente do Sul e Sudeste, que pelo visto, não vão parar de nos ver com
outros olhares, que frequentemente são jogados nos meios midiáticos,
principalmente nas redes sociais. O mundo avançou, porém a mentalidade de muita
dessa gente de lá, em nada mudou.
Paulo Cordel: - Já na fase mais madura você ingressou no mundo
universitário. Em que ano isso aconteceu e qual(is) foi(ram) os cursos que você
fez?
MANOEL MODESTO: - Por toda sorte de dificuldades que passei no período
de infância, adolescência e já na fase adulta, me atrasei em demasia nos
estudos. Não existiam as facilidades de hoje, por isso mesmo, com muito
esforço, mesmo trabalhando à noite no BANDEPE, no serviço de compensação, fiz
vestibular de engenharia, do meio para o final da década de setenta, passei para
a UFPE, chegando a cursar até parte do profissional, mas não conclui esse
curso. Cinco anos depois, morando em Pesqueira, me submeti a novo vestibular,
agora no campo das ciências sociais, em Direito, na FADICA (atual ASCES) e
passei, tendo iniciado nesse curso em 1985, vindo a concluir em 1990, tendo
sido o orador de minha turma. Também fiz um curso de Pós-Graduação em Direito
Civil e Processual Civil, em Garanhuns. Pretendo ainda fazer um mestrado em
Direito Penal, que tenho muito gosto por essa matéria que tanto me emociona
quando faço um júri, porque é nessa tribuna que o verdadeiro advogado se
complementa, pelo menos é assim que aprendi e imagino ser.
Paulo Cordel: - Diga os nomes de alguns professores desses cursos
superiores e alguns colegas de classe. É uma forma também de homenagear eles.
MANOEL MODESTO: - Não tenho uma mente computacional ou fotográfica para
gravar nomes. Lembro bem das fisionomias, mas de nomes, muito poucos, porque
era uma turma de mais de cem alunos de muitos lugares de nosso estado e de
outros também, mas lembro do ex-deputado Eduardo Gomes, João Neto, os dois
Franciscos, entre outros(as).Tinha vários colegas de muitos lugares, porém
lembrar de nomes é muito difícil. Dos professores, lembro de um juiz de
direito, Dr. José Carneiro, Dr. José Izidoro Martins Souto, tinham também dois
promotores de justiça, um era o professor de Direito Penal e outro magrela e
grandalhão de Direito Civil, hoje é desembargador do TJPE, e guardo lembranças
do mestre Pinto Ferreira, que era Diretor-Presidente emérito da Faculdade.
Lembro das fisionomias de todos os nossos professores, porém a essa altura do
campeonato fica difícil citar nominalmente alguns desses nomes. Muitos até já
faleceram e acredito que de meu tempo, não deve existir mais nenhum de nossos
professores.
Paulo Cordel: - Por um bom tempo você se ausentou de Buíque,
fixando residência na cidade de Pesqueira, no entanto, nunca perdeu o contato
com seu “cordão umbilical” que é Buíque. Conte-nos um pouco dessa história.
MANOEL MODESTO: - Acredito que minha vida foi permeada por ter
perambulado como um viajante ou retirante em vários lugares. Não fixei
residência em nenhum deles, porque Buíque sempre foi o meu cordão umbilical, a
ponto de nunca ter transferido o meu domicílio eleitoral para outro qualquer
lugar onde morei, a não ser em São Paulo, na época da ditadura, quando passei à
maioridade, ainda cheguei a votar no senador Mário Covas, no deputado federal
Ulisses Guimarães, que eram do MDB que se denominava à época, de autêntico. Em
São Paulo morei por oito anos, entre 1964 a 1972; em Recife, nas duas vezes em
que morei para estudar e trabalhar, na primeira vez, fiquei em média cinco
anos, entre 1977 a 1982, na segunda vez, uns quatro anos; em Pesqueira, morei
por volta de dez anos, em dois períodos distintos de minha vida; em Arcoverde,
morei por uns cinco anos e por último, o restante de minha vida sempre tive
residência fixa em Buíque, embora não tenha tido o reconhecimento por isso, mas
tenho ciência própria que busquei sempre dar o melhor de mim.
Paulo Cordel: - Me recordo que na época do antigo BANDEPE (Banco do
Estado de Pernambuco) você foi um exímio funcionário, só deixando aquele
trabalho quando a entidade foi extinta.
MANOEL MODESTO: - Indo mais à fundo, fui admitido no Banco do Estado de
Pernambuco S/A - BANDEPE, em 1975. Fui o primeiro buiquense a ocupar um cargo
numa empresa de sociedade mista, onde o nosso estado detinha 99,9% das ações,
através de concurso público, por sinal, o primeiro realizado pelo Banco, no
governo biônico de Moura Cavalcanti, salvo engano. Iniciei minha vida de
bancário como Investigador de Cadastro, depois, já estudando engenharia e
trabalhando no Recife, tendo me casado e constituído família, por precisar
ganhar um melhor soldo salarial, fiz um concurso interno de Chefe de Carteira
Rural, que depois passou a ser Chefe de Seção de Desenvolvimento, uma carteira
que tinha status de um gerente do banco, porque cuidava justamente da parte de
desenvolvimento e financiamento de programas estruturadores da zona rural de
nosso Estado. Acredito ter feito um bom trabalho e sempre buscava trabalhar
dentro das normas, apesar da politicagem que imperava no banco, a ponto de ter
tido muitos problemas com isso, quando por influência política algumas pessoas
influentes queriam contrair empréstimos para desviar o dinheiro e eu não
aprovava e vetava tais empréstimos, ainda assim, como existia uma hierarquia,
não havia quem pudesse controlar esse tipo de empréstimos em que o banco
concedia e que não recebia nunca, ia para os ativos de fundos perdidos. Cheguei
também a fazer um concurso interno para Gerente Geral de Agência, passei, fiz
um curso no Recife por uns seis meses, fui o primeiro lugar no curso
preparatório, e só sei que fui preterido por problemas de ordem política e,
pouco tempo depois, o banco por grandes forças políticas que só usufruíam da instituição
financeira para tirar e não colocar o dinheiro de volta, o banco veio a
enfrentar inúmeras dificuldades e, em 1991, no governo de Joaquim Francisco,
junto com mais dois mil funcionários vim e ser demitido e foram fechadas em
torno de noventa agências do banco. Depois veio a liquidação do banco que
estava podre e sem condições de se reerguer novamente, foi vendido a um banco
estrangeiro por cerca de 186 milhões de reais, porém tinha na época um passivo
que não cobria esse valor. Quer dizer, bicharam o banco e depois disso, o
venderam à troco de bananas. Por politicagem barata, muita gente entrava pela
janela, porém eu que passei em primeiro lugar para ocupar o cargo de Gerente
Geral de Agência, não cheguei a ocupar esse cargo, porém o banco nunca deixou,
mesmo quebrado, de ser utilizado como instrumento político até vir a ser
despedaçado de vez. Fiz um bom trabalho no banco e minha ficha nessa
instituição, ainda existente na passagem de banco para banco, é limpa e uma das
melhores. Muitos laços de boas amizades também cheguei a fazer, e um dos
melhores amigos, que foi Diretor de Recursos Humanos, Lucilo Melo de Almeida,
ainda hoje nos comunicamos, foi um dos grandes amigos que deixei, dentre muitos
outros.
Paulo Cordel: Me recordo que você criou e manteve por um bom tempo
um jornal que circulava mensalmente, inclusive com distribuição gratuita em
nossa cidade. Como era o nome do jornal, como isso aconteceu. Como surgiu a
idéia e em que período o mensário existiu?
MANOEL MODESTO: - Como sempre fui um ativo militante na política e
como queria chegar a uma forma de criticar o então status quo vigente, resolvi no final da década de oitenta para
início da de noventa, fundar um meio de comunicação de massa que viesse a
alertar a nossa gente sobre o rumo de nossa política e em especial de
administrações públicas. Era um jornal artesanal, diagramado ainda na base de
linotipo, em que cada matéria era composta letra por letra e depois rodado numa
impressora daquelas mais antigas, talvez das primeiras existentes. O jornal era
a VOZ DE BUÍQUE, que inicialmente era composto e impresso na Gráfica da Diocese
de Pesqueira e depois noutra gráfica de um amigo pesqueirense, Zé Carlos, que
por termos ideais políticos idênticos, me cobrava um valor que coubesse no meu
bolso e assim, por muitos anos publicava matérias criticando a política local,
regional e escrevia outras matérias de cunho cultural, mas o foco principal era
a crítica política e de seus descasos. Cheguei certa feita, a quase apanhar em
Buíque, quando vinha de Pesqueira exclusivamente distribuir o jornal. Noutra
ocasião cheguei até a levar uma carreira que me seguiu em seu carro preto até a
saída de Buíque. Naquela época o meu veículo era um velho Corcel II amarelo,
mesmo assim, ninguém chegou a me agredir fisicamente, mas fui muito perseguido por
buscar expor minhas posições políticas aqui mesmo em Buíque, porém nunca
capitulei, porque meu objetivo era justamente mexer com a política desvirtuada
dos verdadeiros primados que devem sempre orientar e reger uma administração
pública. Acredito ter conseguido em parte o meu intento, porém não cheguei a
operar mudanças na mentalidade de algumas pessoas que me consideravam de
“besta”, “tolo”, por está se metendo aonde não deveria. Na Câmara de Vereadores
de Buíque, em acalorados debates fui motivo de muitas críticas, inclusive de
ordem pessoal, em face de minhas críticas à atuação negligenciada dos
vereadores da época. No meu ideal de vida, sempre tive como objetivo combater o
que estava errado e buscar mostrar os caminhos a ser seguidos. Acaso não tenha
sido compreendido, ainda assim continuei e tentei mudar naquilo que acreditava
possível e isso é uma marca, é algo fincado na alma da gente que até o presente
momento ainda carrego comigo e não é nessa altura do campeonato da vida que vou
mudar coisíssima alguma. Meus ideais de vida, mesmo não tendo conseguidos meus objetivos,
vou fenecer com eles, porque ninguém pode mudar o que sempre foi e acreditou
ser o correto.
Paulo Cordel: Além de manter duas colunas no mensário “Jornal de Arcoverde”, há muitos anos,
você já escreveu, publicou e lançou cinco livros. Sabemos das dificuldades um
escritor interiorano atingir essa meta, conte-nos um pouco sobre esse
fato:
MANOEL MODESTO: - Há mais de três décadas que escrevo para o Jornal de
Arcoverde, juntamente com o seu fundador, diretor e editor, Enaldo Cândido. A
coluna mais antiga que mantenho naquele mensário é o REVERSO DA MEDALHA, depois
vim a criar outra coluna que achei por bem em publicar a qual vim a denominar
de “O CAOLHO”, uma alusão aos que buscam não ver o mundo dentro de sua verdade
real, mas sim, dentro daquilo que venha a agradar aos poderosos de plantão, o
que não é e nunca foi o meu caso. Os meus cinco livros publicados, não tive a
ajuda de ninguém, a não ser o primeiro, editado, publicado e lançado em 1988,
em Pesqueira, há 31 anos, em que houve uma ajuda de meu irmão Miltinho Modesto
e de Dr. José Cursino Galvão (ex-prefeito de Buíque), porém os demais não tive
apoio de quem quer que seja. A gente que trabalha com cultura, principalmente
na área literária, se depara com muitas dificuldades para publicar os seus
trabalhos e se não for custeado por suas próprias economias, não há quem
apareça para patrocinar e promover o seu trabalho, a sua obra, porque isso não
dá voto e tão-somente uma minoria ainda liga para a nossa cultura e novos
escritores. As dificuldades são muitas, porém nunca desisti de meu intento,
tampouco vou parar nessa fase de vida, pois ainda tenho muitos trabalhos a
realizar e publicar antes do sono derradeiro. Escrever para mim não é buscar
ficar famoso ou obter lucro, mas o faço por amor às letras e à cultura, porém
se chegar a ser lido por algumas pessoas, já me sinto gratificado.
Paulo Cordel: Cite os nomes de cinco livros que você já leu e que
de alguma forma influenciaram a sua vida.
MANOEL MODESTO: - O primeiro, lançado em 1988, o intitulei de MODESTO À
PARTE, uma reunião de crônicas, algumas poesias e dispersos fatos históricos de
minha terra, Buíque; já o segundo livro, cheguei a publicar e lançar, dezessete
anos depois, em 2005, NO AMOR E NA POLÍTICA MUITA “SAFADAGE” HÁ, um
romance-político, inspirado em fatos políticos de nossa própria região; em
2013, diante da grande polêmica criada entre o casamento de pessoas do mesmo
sexo, com base não propriamente numa lei específica, mas numa súmula do STF,
publiquei a tese INCONSTITUCIONALIDADE LATENTE DO STF NA QUESTÃO DO CASAMENTO
HOMOAFETIVO, um livro jurídico, colocando o meu ponto de vista sobre a
legalidade ou não desse novo modelo familiar, porém sempre respeitando as
opções de modo de vida de cada ser humano; vertendo sempre nas veias a verve do
poeta que sempre percorre em nós que escrevemos, vim a publicar meu quarto
livro e o primeiro de poesias, em 2015, CHAMAS TORRENCIAIS DE MINH’ALMA, uma
reunião de poesias em que uma pequena parte provém de minha infância e a outra,
de minha maturidade de ser humano na ótica poética de ver o mundo e, por
último, tendo reunido uma série de causos, crônicas e contos, vim a publicar e
lançar em 2018, o meu quinto livro - CATADOR DE ILUSÕES, título esse que o
rotulei imaginando na reunião de parte deles e pude perceber que em cada um que
escrevi vi refletido nos meus escritos uma ponta de que nós seres humanos,
sempre temos um quê de CATADOR DE ILUSÕES, que estou trabalhando na divulgação
no momento e, via de regra, estou rascunhando o meu próximo livro, o sexto, o
qual vinha estruturando as ideias e escrevendo, desde o ano de 2017. Será um
romance que já tem título, porém só será revelado no momento oportuno. Escrever
é minha vida, buscando sempre através da escrita mostrar o mundo como o vejo à
minha volta, transformar num escrito qualquer, para, quem chegar a ler qualquer
um de meus trabalhos, vir a criar o seu próprio mundo e a fazer as suas
próprias observações sobre o que quis transmitir de dentro de minha alma.
Escrever é fazer uma profunda viagem dentro de nossa própria alma e ler é fazer
a sua própria viagem através da alma de quem escreveu.
Paulo Cordel: - Nós fomos privilegiados na época de jovem, por
termos alcançado o auge da sétima arte (o cinema) nas cidades de interior. Cite
dois filmes daquela época que marcaram sua vida e se desejar cite sobre um
filme ou série da atualidade que você recomenda aos leitores.
MANOEL MODESTO: - Aqui em Buíque, a gente assistia a filmes em preto e
branco, de O Zorro, Bat Masterson, Bill The Kid, Tarzan, entre outros. Eram
filmes, alguns deles em seriado, em que toda semana passava um capítulo e no
final de cada filme ou seriado, sempre terminava com um beijo singelo entre o
mocinho e a mocinha. Agora assistir a dois filmes que nunca saíram de minha
memória: Os Embalos de Sábado à Noite e Love Story, já numa fase mais
amadurecida, porém esses dois filmes me emocionaram. Eram filmes singelos, sem
maldades, direcionados somente para um público que em nada via, a não ser amor,
ternura e simplicidade de vida. Hoje em todo filme que se assiste, quer
brasileiro ou enlatado americano, o que se vê é sexo, violência, “fumar
baseado” e outros tipos de drogas ilícitas, sem nenhuma similaridade com os
filmes da belle epoque de nossa
infância e juventude. Mas temos bons filmes. Recomendaria para quem é amante
ainda da sétima arte, não nas telonas que só tem em shoppings centers e em
cidades grandes e de médios portes, mas indicaria dois bons seriados, Merlí,
espanhol, pura filosofia para um mundo moderno, porém se reportando sempre aos
grandes filósofos da antiguidade, da Idade Média e do Século XX, sempre
questionando e com as suas visões de mundo e, O Império Romano, que retrata com
fidelidade o grande império que foi a Roma da antiguidade. Existem outros
grandes filmes e seriados, mas vou ficar tão-somente nesses dois. Acredito que
apesar de se ter toda a liberdade que hoje temos, o que não acredito venha a
ser errado, mas nós que vivemos a nossa época, fomos uns privilegiados e foi
através daquela época que o mundo veio a mudar e pudemos enfim, dar o nosso
grito de liberdade, em face de uma sociedade castradora e opressora que existia
antes dos movimentos dos anos de fins de cinquenta, sessenta e setenta. Só nós
que vivemos essa época é que podemos falar com propriedade de sua importância,
do que representou para nós e o do saudosismo tanto do modismo quanto das
músicas inesquecíveis que nos colocam numa situação de lembranças memoráveis
que não voltarão jamais e que nos fazem encharcar os olhos de lágrimas, porque
nada mais voltará.
Paulo Cordel: - Sabemos que a fé, a religião,
a crença num ser superior está presente em todas as raças do planeta. Você tem
ou já teve alguma religião. Pra você, quem é DEUS?:
MANOEL MODESTO: - Eu nasci num mundo que foi colonizado por portugueses
e a religião católica era e foi uma imposição, não uma opção. Então eu fui
batizado na Igreja Católica Romana. Muitas vezes acompanhei minha mãe à Igreja,
em missas, novenários e outros ritos dessa religião, porém nunca fui muito de
ter uma crença ferrenha e inarredável, na forma como buscavam me incutir na
mente a religião católica, praticamente de forma impositiva e isso, eu não
gostava ou aceitava de muito bom grado. Não sei por que, ainda com tenra idade,
falava em ser padre, talvez pelas conversas de meu pai, minha mãe e de vê o
pomposo e galante padre no púlpito da igreja fazendo os seus sermões e os
coroinhas aprefilados com suas vestimentas tomando as hóstias para se redimir
dos pecados. Cheguei até de brincar rezando missas em minhas brincadeiras de criança,
porém quando me dei por gente, fui vendo as dificuldades pelas quais a gente
chegou a enfrentar, o sofrimento das pessoas, as guerras mundo afora matando
pessoas inocentes, gente morrendo de fome em muitos continentes, aí fui ficando
descrente de muita coisa e deixando de ver Deus como a Igreja Católica o fazia
com que nós o víssemos, com um Céu, um Anjo da Guarda, um Paraíso a esperar os
bons cristãos, e fui formando, sedimentando a minha ideia de que não era nada
disso que buscaram incutir em minha mente e passei então a questionar, como
ainda questiono, vários fatos, coisas e acontecimentos. Não vejo um Deus como
as religiões, seja ela qual for, pregam, mas sim, acredito que tudo que existe
em nossa volta foi fruto de uma Grande Força, um Poder além da compreensão
humana, mas que algo bem maior do que nós existe ou existiu, disso não tenho a
menor dúvida, só não sei explicar, como acredito que muitos que seguem uma
vertente religiosa qualquer, da mesma forma acredita saber, porém afirmo ainda
assim, que ninguém é capaz de nada saber ou quem diz saber alguma coisa, na
verdade não sabe de absolutamente nada, porque tudo neste mundo e nesta vida é
questionável. O que hoje é tido como certo, amanhã poderá não o ser e isso a
própria história da humanidade nos tem demonstrado.
Paulo Cordel: - Professando ou não uma fé, você acha importante o
ser humano se valer da fé para enfrentar as dificuldades que a vida nos
apresenta?
MANOEL MODESTO: - Não menosprezo quem faz seu voto de fé para enfrentar
e vencer determinadas dificuldades e turbulências pelas quais a gente passa na
vida. Acredito ser até mais fácil para alguém de fé enfrentar muitas das
mazelas e tempestades pelas quais passa na vida. Admiro muito o homem de fé,
porém repugno com veemência, o fanático, porque acreditando ter fé, o que faz
mesmo é ludibriar, enganar ao seu próximo, como vem ocorrendo em muitas igrejas
que buscam não fazer uma doutrinação para se alcançar a fé, mas sim, para
obtenção de resultados financeiros ou vantagens indevidas, com o que não
concordo de forma alguma. Para mim isso não passa de crime contra a boa-fé de
muitos inocentes que se prestam para esse tipo de coisa.
Paulo Cordel: - Me recordo que a escritora Rachel de Queiróz, em um
documentário exibido na TV, confessou não ter fé. Disse ela que sofria muito
por isso, pois quando enfrentava alguma intempérie da vida, não tinha a quem
recorrer. Declarou ela que admirava uma tia que quando passava por situações
difíceis, se ajoelhava diante de um altar, em seu quarto, acendia umas velinhas
e rezava muito. Aquilo acalmava o seu coração. “Mas eu não tenho fé, e agora,
depois de velha, não vou dizer que tenho só pra agradar as pessoas”, dizia
Rachel, embora não exista ninguém com um coração tão bom feito o meu. Respeito
todas as religiões, os padres, os pastores (etc). Espero que antes de morrer
Deus coloque fé no meu coração.
Comente sobre esse assunto.
MANOEL MODESTO: - Concordo plenamente sobre o texto da grande escritora
cearense, Raquel de Queiroz. Na verdade, quem tem fé, indubitavelmente, tem
mais facilidade de aceitação das dificuldades encontradas no decurso da vida,
das tragédias que tanto acontecem neste nosso viver. Não discuto essa questão.
A fé com toda certeza dá um poder maior de enfrentamento de tudo de ruim que nos
vem como pedras rolando no caminho da gente, é como a formação de um escudo,
porém a fé em muitos casos, não salva ninguém da morte e quiçá chegue a dirimir
alguém quando está num leito derradeiro, esperando tão-somente a morte chegar
ou mesmo até quando esta chega fora de hora ou de repente, porque em sendo a
única certeza que se tem na vida, a fé não livra ninguém da morte, tampouco
existe indicativo de que por se ter fé terá um futuro majestoso numa vida
pós-morte, fator fenomênico que tenho lá muitas dúvidas e questionamentos.
Paulo Cordel: - Na sua visão, existe vida após a morte?.
MANOEL MODESTO: - Veja bem, camarada Paulo, a questão da vida, é como
questionavam vários filósofos da Grécia Antiga, como Tales de Mileto,
Anaximando de Mileto, Sócrates, Platão, entre outros, em que indagavam e ainda se
indaga: “de onde viemos, o que somos e para onde vamos?” - Na verdade a
incógnita, por mais avançado que esteja este mundo cientificamente, ainda
ninguém chegou a responder a essas importantes indagações filosóficas. Cada
campo da filosofia, da ciência, ainda não chegou a nenhuma conclusão. As
religiões buscam explicar a maneira de cada uma, porém não existe uma unicidade
quanto a esse assunto ou alguma explicação convincente de que realmente existe
vida após a morte. O catolicismo romano diz que existe, o lado evangélico da
mesma forma, o judaísmo e o islamismo também, porém se existe vida ou não após
a morte, não acredito muito que exista, mas também tenho muitos questionamentos
e não tenho explicações, porque nunca tive uma provação para que pudesse vir a
acreditar que existe vida depois da morte. Se a gente vem de uma partícula, o
mais crível é que nessa mesma que nos deu origem, volveremos. É assim que vejo essa
questão de vida e de morte, sem nenhum demérito para os que acreditam de forma
diferente, com todo o meu respeito.
Paulo Cordel- Ainda sobre esse
tema, conte-nos sobre a experiência de seu irmão Milvernes. O que você
achou?
MANOEL MODESTO: - O fato a que você se refere com relação ao meu irmão caçula,
me deixou curioso, mas não sei se o que aconteceu com ele prova de que
realmente venha a existir vida pós-morte. A questão que ocorreu com meu irmão
foi a seguinte: Há alguns anos, numa festa junina de Arcoverde, onde ele mora,
fazendo o seu exercício matinal de bicicleta na avenida São Cristovão, fora de
pista de rolamento e reservada aos pedestres, veio a ser atropelado por um Fiat
Uno de cor branca, por volta de quatro e meia para cinco horas da manhã,
provavelmente por um condutor bêbado e outros colegas que estavam no mesmo
veículo, perdeu o controle e abalroou de frente da bicicleta conduzida por meu
irmão, jogando-o ao solo e deixando-o desmaiado, onde começou a se juntar um
grupelho de pessoas à sua volta. Acontece que, segundo relatou, como ele depois
desse passeio matutino de bicicleta, ele disse que viu as pessoas rodeadas à
sua volta mesmo estando desfalecido e dali saiu, sem nada entender, e passou a
percorrer o mesmo trajeto obrigacional que fazia todos os dias. Segundo ele,
foi caminhando, entrou na padaria de meu irmão, Miltinho Modesto, deu bom dia a
todo mundo, porém ninguém respondeu, entrou na parte de dentro da panificadora,
pegou os pães para entrega que diariamente fazia, colocou no veículo os pães,
se dirigiu até os pontos de entrega, dava bom dia a todos e ninguém respondia,
fez o seu trajeto normalmente e, quando veio a acordar, estava internado no
Hospital Regional Arcoverde, para onde foi socorrido e perguntou: “ôxe, onde é
que estou? - Foi aí que percebeu que tinha sido atropelado por um veículo,
sofrera um acidente de trânsito, e veio acordar no hospital, depois de ser
socorrido e medicado. Foi uma experiência na vida dele que no espiritismo
kardecista, se diz de quase-morte, porém acredito que tudo não passou de um
sonho enquanto ele estava desacordado, porém em estando sua mente em pleno
funcionamento e, como era de costume fazer o mesmo trajeto logo depois de seu
passeio de bicicleta, tudo aquilo ficou gravado em seu subconsciente e assim
mentalmente fez o mesmo trajeto que costumeiramente fazia todos os dias. É algo
interessante, talvez um fenômeno provocado pelo seu subconsciente, mas no meu
entender isso não prova de que na realidade existe vida pós-morte, porém há de
se questionar, porque nada resta cientificamente comprovado, porém para o mundo
espiritual, isso realmente foi uma experiência de quase-morte.
Paulo Cordel: - Mudando de assunto, você sempre foi uma pessoa
politizada. Sempre participou da política local, inclusive fundou diversos
partidos em Buíque, sendo o presidente
deles e até foi candidato a vereador uma vez. Fale um pouco sobre essa
vertente.
MANOEL MODESTO: - Embora não tenha chegado a ocupar um cargo eletivo,
que era meu sonho de participar e tentar mudar a mentalidade política de meus
conterrâneos, porque a minha política nunca foi a do pragmatismo, de se tirar
alguma vantagem, mas sim, de cunho ideológico e de idealismo, no sentido de se
fazer uma política diferente, sem a prática nefasta da corrupção, tampouco da
compra de votos para se eleger, que é o que sempre aconteceu aqui em Buíque,
com raras exceções. Fui candidato sim. Tinha o sonho de ser prefeito, porém as
barreiras são enormes e o povo pelo que percebi ao longo do tempo, pelo visto
não quer alguém para dirigir os seus destinos que tenha uma visão de mundo
diferente, que veja o bem público como algo a ser preservado como bem maior a
favor dos mais fracos e oprimidos. Sei que tentei demonstrar isso durante toda
minha vida, porém nesse campo acredito ter pregado no deserto. Fundei em 1988 o
PSB em Buíque, quando era um partido considerado de esquerda radical (hoje não
é mais) e ninguém daqui queria se comprometer com partido de esquerda, porém
fundei o partido, legalizei, porém quando Miguel Arraes foi eleito governador
quando voltou do exílio e pegou o PSB, quem estava no poder de mando à época e
tinha votos, arrebatou o partido de minhas mães e fiquei simplesmente a ver
navios. Mas não fiquei somente nisso. Depois fundei o PPS, que era o antigo
PCB, de Roberto Freire (hoje grande decepção política), mas pretendia com isso
encaminhar uma candidatura diferente, a de meu irmão Miltinho Modesto, porém
mais uma vez fui atropelado pela política viciada dominante em nossa terra e
mais uma vez, tivemos que dar novo rumo à nossa política, saímos do PPS e
deixamos para os que nesse partido tinha interesses escusos, que chegou a
eleger um vereador, Rômulo Camêlo com votos que foram trabalhados pelo partido,
que congregamos à época quase trezentos filiados, mas nos quedamos para o outro
lado. Depois refundei o PC do B, porém não participamos de eleição alguma;
depois da mesma forma, refundei o PV, pensando ser um partido sério, porém foi
outra grande decepção e por último, fundei o PEN, que atualmente é PATRIOTA,
porém é só mais um penduricalho de mais um arremedo de partido político. Sou a
favor da candidatura independente, mas acredito que isso não interessa aos
políticos brasileiros. Deixei de acreditar nos partidos, porém o meu ideário
político continua o mesmo e enquanto tivermos essa bipolarização sem sentido em
Buíque, a gente não vai mudar nunca a mentalidade política de nossa gente, nem
aqui, tampouco noutros lugares. Para mim, apesar de tudo isso, de ser
decepcionado politicamente, não vou me esquivar da participação política,
tampouco de fazer política, não a política pragmática, mas a política que
sempre idealizei desde os meus tenros anos de idade e que me deu formação de
visão de mundo humanista, que muita gente confunde ser esquerdista ou
socialista, em ser comunista, o que na verdade são ideologias de vida as
melhores possíveis, só que, jamais terão vez ou serão implantadas no mundo
capitalista selvagem em que vivemos, porque ser socialista e comunista, é ser a
favor dos menos favorecidos, então prefiro que me alcunhem com essa pecha,
porque vou sempre me posicionar contra os gananciosos, ricos e poderosos
ocasionais que veem um mundo que só é prestável quando é colocado aos seus
interesses e deste possam tirar as riquezas que bem quiserem e entender sem a
menor importância para quem está precisando de um emprego, um trabalho, um
ganho qualquer ou de um naco de pão para alimentar a família. Minha visão de
mundo não é o da ganância, mas sim, o de humanismo e de servir sem ser servido.
Paulo Cordel: - Em relação às eleições federais, você sempre se posicionou
com idéias de esquerda. Na sua opinião, o que aconteceu com as eleições
presidenciais de 2018, quando mais de 68% do eleitorado de São Paulo,70% dos
eleitores do Rio de Janeiro, e 65%, de Minas Gerais, mais de 76% de Curitiba,votaram
no candidato eleito. Esse eleitorado é fascista, coxinha ou golpista ou você
concorda que quem venceu foi o antipetismo?
MANOEL MODESTO: - Na verdade, nas últimas eleições me posicionei
politicamente naquilo que sempre fui e acreditei. Não poderia mudar porque
defendo o ideal socialista, sou esquerdista mesmo com muito orgulho e não
poderia defender alguém com um doutrinamento político extremamente fascista,
que contraria inclusive os princípios bíblicos, que tanto pregam esse
importante livro sagrado, como forma de doutrinamento de suas ovelhas. Quando a
Bíblia diz “não matarás”, entre outros ensinamentos, a pregação que presenciei
foi justamente o contrário, então jamais poderia compactuar com alguém que
prega o que Hitler pregou na Alemanha para chegar ao Poder ou Mussolini na
Itália, porque contraria os meus princípios de humanista de formação e
esquerdista por convicção. A gente não muda nosso pensamento e ideário político
como se muda de camisa. Nasci com meus ideias de vida e vou defendê-los até o
último dormitar. Quanto a questão de o candidato em quem não votei ter
alcançado todo esse índice de votação nesses estados, não significa em dizer
que sejam mais politizados do que o Nordeste não senhor. Muito pelo contrário,
a questão foi a satanização do PT e a demonização de Lula, que vinha sendo
arquitetada, orquestrada desde 2014, justamente para juridicamente arrumarem
uma brecha e apear Dilma do poder (que segundo Michel Temmer é uma mulher
honesta), forjar um processo contra Lula, condená-lo e impedi-lo, como de fato
impedido foi, de concorrer as últimas eleições, o que deu a vitória ao
candidato vencedor que salvo melhor juízo, representa os interesses da
extrema-direita, do capital internacional, dos militares e dos Estados Unidos.
Basta olhar na formação de seu governo para perceber que na realidade o que
houve, o ardil orquestrado, os meios midiáticos com informações falsas e
distorcidas, tudo isso contribuiu para se formar toda essa negatividade contra
o PT e Lula, principalmente por ele ser nordestino e vir lá de baixo e isso a
classe rica, parte da média, média-média e média-alta, não perdoa e por tabela,
como na questão dos fariseus, quanto à escolha entre Cristo e um ladrão, no tom
de comando dos fariseus, o povão também escolheu o ladrão ao invés de um inocente.
O estranho também em tudo isso,é o fato que, dos 22 ministros escolhidos (eram
15), 10 deles respondem ou a processos ou estão envolvidos em atos de
corrupção. Pior também, para quem não ia se juntar a partidos limpos, o MDB é o
que afinal de contas, com quem é aliado no momento? - Sem falar no descaramento
de um genro de um delator, Levi, foi agraciado com a presidência do Banco do
Brasil, e pior ainda, o juiz que condenou Lula, Sérgio Moro, vir a ser
agraciado com um superministério. Será que algo de podre está não fedendo neste
nosso reino da Dinamarca? - A política, a bem da verdade, será que mudou ou vai
mudar de verdade? - Não acredito em quem pregou o que o eleito pregou, venha a
ser um bom presidente, porque prega o segregacionismo, o divisionismo e o
preconceito entre grupos de pessoas diferentes, o que é inadmissível em quem é
eleito para ser governante de todos. Outra mais, é de bom alvitre lembrar que
Estados do Sudeste e do Sul do país, são os que elegem os piores políticos do
Brasil, salvo algumas poucas exceções. Veja o caso de São Paulo e do Rio de
Janeiro. É cada político eleito que sinceramente, não servia nem sequer para um
mero vereador de qualquer cidadezinha pequena de qualquer parte do país, ou
será que estou enganado? - Sem falar que o povo vai muito pelo que a mídia joga
no ar, no que ela diz ser verdade, quando se sabe que a maior parte do manejo
midiático foi fruto de farsas, manipulações e mentiras, ou será que estou
errado? - Acredito que o status quo
dominante no momento, só não vê quem não quer ou busca sempre se justificar
porque acompanhou e não quer dar o braço a torcer, mas que tudo isso está
errado, não tenho a menor dúvida. Observem também, que depois do homem eleito,
escândalos no próprio seio familiar deste estão aparecendo, porém nada está se
fazendo e o que na realidade houve foi o que em francês de chama de “lawfare”,
uma forma de vir denegrindo, distorcendo alguém, uma instituição, para no
final, se dar um golpe jurídico e isso foi o que ocorreu na política brasileira.
Houve milimetricamente uma orquestração ao longo desse tempo para gerar uma
conspiração sob medida, demonizar os inimigos políticos colocando-os contra o
povo e, num segundo momento, legitimado pelo mundo jurídico, chegar ao poder e
o pior é o fato de que, quem compartilhou com to esse ardil está sendo
recompensado de uma forma ou de outra, ou será que só eu estou vendo e
observando tudo isso que vem ocorrendo?
Paulo Cordel: - Qual foi a sua maior alegria?
MANOEL MODESTO: - Tive algumas poucas
alegrias na vida, mas as tive. A primeira foi o nascimento de meu primeiro
filho, Hélder Modesto, no Hospital João XXII, em Recife, no ano de 1980; mais
na frente, o lançamento de meu primeiro livro, MODESTO À PARTE, em 1988, em
Pesqueira e outra mais, foi a minha colocação de grau em Direito e o momento de
meu discurso como Orador de Minha Turma, em 1990. Foi algo emocionante e que só
acontece uma vez na vida. Poderia ser nessa ordem, porém nem sempre é assim,
mas a cada nascimento de um filho meu era motivo de alegria, valendo também
para cada lançamento de cada um de meus livros. Nunca quis perder nenhum deles.
Pela ordem natural da vida, queria que eles fizessem o meu velório embalado
pela música Imagine, de John Lennon e me levassem até lugar onde está reservado
para que venha a dormitar o último sono pela eternidade. Essa inversão da ordem
da vida, só me trouxe dor e sofrimento.
Paulo Cordel: Excluindo Lula, que de fato é um grande líder
político no Brasil, quem seria um bom presidente dos partidos de esquerda? Em
poucas palavras o que você acha de Ciro Gomes, Marina Silva, Álvaro Dias.
MANOEL MODESTO: - Sempre votei em Lula. Meu sonho era ter votado nele
mais uma vez, porém em face de todos esses acontecimentos devidamente
cronometrados, votei em quem ele apoiou, Fernando Haddad. Quanto aos demais,
Ciro Gomes é um sujeito bem preparado, porém politicamente, ele se prestou a
servir a todos os governantes, até mesmo ao regime militar. Não o considero um
político de esquerda, porém um sujeito de pavio curto que diz em determinadas
ocasiões, o que tem que ser dito, ou até mesmo o que não deveria dizer, porque
Lula ofereceu a vaga de vice a ele, porém pelo seu egocentrismo, ele recusou,
porque ele queria ser o indicado por Lula, mas em tendo um partido, o PT, como indicar
outra pessoa fora da linha partidária? - Se ele tivesse sido o vice de Lula, ao
ter a impugnação anunciada da candidatura de Lula confirmada, o que eu mesmo já
esperava, com certeza ele teria se sagrado o titular da cabeça da chapa e
Fernando Haddad, seu vice ou a própria Manuela D’Ávila, quem sabe. Se as
pesquisas indicavam ser ele o único a derrotar o eleito, então ele poderia ser
o nosso presidente no momento, porém o ego político dele, com o carrancismo
coronelista que o alcunharam, falou mais alto e culpar Lula, o PT, não cola
mais para ele, porque foi ele mesmo que não aceitou ser vice de Lula numa chapa
previamente impossível de passar pela “lawfare” aplicado a Lula, que o
considero preso político e refém do Estado Brasileiro. Marina perdeu a estatura
de liderança para governar o país, a partir do momento em que apoiou Aécio
Neves em 2014, ela mesma se diminuiu na política e resultado foi devastador,
frente aos votos que obteve nas últimas eleições. Politicamente o seu enterro
foi sacramentado nesta última eleição. Quanto ao Álvaro Dias, pelo seu
temperamento, suas manias de sempre bradar alto e em bom tom de que é honesto,
na verdade quando governador do Paraná se envolveu em falcatruas, não o vejo
com a grandeza de um estadista, assim como o eleito, porque em política, nos
bastidores, tudo é possível. No meu entender, um homem preparado para governar
o Brasil no momento, que por hipocrisia do eleitorado paranaense, não o
reelegeu senador, seria Roberto Requião, porque é um homem de uma grande postura
de estadista e busca sempre transmitir uma palavra verdadeira e de confiança. É
para mim um grande combatente da democracia e da liberdade.
Paulo Cordel: - Qual foi a sua maior tristeza?
MANOEL MODESTO: - A maior tristeza de toda minha existência, foi a
perda de meu filho, Hémerson Modesto, de apenas 36 anos de idade, na flor da
idade, que vou ter que carregar até os meus parcos últimos dias. Ele foi um
grande, amoroso e honrado filho, sem nenhum demérito para os demais que ainda
os tenho com todo o amor, carinho e devoção de minha vida.
Paulo Cordel: Recentemente você e toda comunidade de Buíque
foram surpreendidos com a morte prematura de um filho muito querido. Sabemos
que um fato como esse provoca um verdadeiro “terremoto existencial e sentimental”
na vida de um ser humano. Até porque o natural é o filho sepultar o pai
sepultar e não o contrário. Como está lidando com essa perca, tão recente?
MANOEL MODESTO: - É com muita emoção, tristeza e dor no peito, que vou
falar desse fato inesperado em minha vida. A gente perde pai, mãe, algum outro
parente em linha reta ou colateral, a dor não é tanta, mas perder um filho é
como se a gente perdesse um pedaço da gente. Tem sido muito duro lidar com esse
fator fenomênico inesperado, que até o momento, apesar do pouco tempo, não sei
bem o que houve, porque meu filho foi sempre alegre, brincalhão, prestativo, um
verdadeiro colecionador de amizades, as fazia em todos os lugares por onde
passou e para mim, está sendo muito duro conviver com tudo isso. Estou deveras buscando
terra nos pés para poder suportar, mas a minha dor, minha tristeza, desta
grande perda, a maior de toda a minha existência, é incomensurável, porém vou
tentando me fortalecer com tudo de bom que ele foi,com a sua bela imagem jovial
de filho exemplar, inteligente, intelectual, estudioso, prestativo, grande
profissional que foi e partir assim sem aviso, é que se torna ainda mais
difícil, porque a gente espera, pela ordem natural da vida, ser enterrados
pelos nossos e não o contrário. A dor é demais a ponto de não me conter e vivo
remoendo, tristonho e condoído por dentro e isso não vai mais parar até os
últimos dias de minha vida. Sempre amei a todos os meus filhos e jamais esperava
perder um filho nas circunstâncias em que perdi. Isso foi demais para mim.
Passei por muitas turbulências em toda a minha vida, porém essa é a maior e que
vai ficar para sempre, a que causou mais dor e torpor em meu ser, minha alma. É
duro ter que suportar tudo isso em minha vida.
Paulo Cordel: - Em outubro de 2014, você, juntamente comigo e
outros amigos apreciadores de literatura de da arte, fundamos em nossa cidade,
a ABLA – Academia Buiquense de Letras e das Artes. Como se deu esse processo e
o que significa para você esse acontecimento?
MANOEL MODESTO: - Desde tenra idade, que sempre tive um ideário em
minha vida. Queria demonstrar o meu potencial, o que aprendi minhas
experiências de vida, o que convivi e partilhar tudo isso com uma parcela de
minha gente, de meu povo e foi pensando neste povo, que por alguma razão, nem
sempre tem correspondido, que sempre estive focado em fazer algo de novo e
diferente, quer na atuação política ou na verve cultural. Sou político porque
nasci, e se nasci político sou pela própria natureza de ser. Então mesmo que o
sujeito se posicione ao dizer que “não é político, é apolítico”, esse
posicionamento por si só já demonstra que o sujeito é político sim, porque a
sua posição social é política no seio da própria sociedade porque de alguma
forma ele faz parte integrante e obrigatoriamente, de uma forma ou de outra,
ele tem que participar e se participa, como não ser um ato político? - O fato
de não ter ocupado nenhum mandato político como sonhava, não significa em dizer
que não sou político, que não participo, muito pelo contrário, até meus últimos
dias vou continuar participando de tudo, porque sou um ser social e em assim
sendo, sou político por natureza. Fundar a ACADEMIA BUIQUENSE DE LETRAS E DAS
ARTES - ABLA, instituição que só tem similar nessa região, em Pesqueira, foi um
ato que já vinha em mente há muito tempo. De início, pensei em fundar uma
Associação, mas depois me veio a ideia: por que não uma ACADEMIA DE LETRAS E
DAS ARTES? - Foi aí que levei a ideia a você, meu camarada Paulo e juntamos
outros amigos e no dia 23.10.2014, na Câmara Municipal de Vereadores, cheguei a
fazer de um sonho uma realidade, e embora tenhamos enfrentado dificuldades para
levar adiante e consolidar o que já existe de fato e de direito, temos nos
deparado com sérios entraves com a falta de ajuda tanto da iniciativa privado
quanto dos poderes públicos, mesmo assim, não vamos desistir. Vamos continuar e
consolidar o que criamos para que no futuro nossos jovens levem adiante a
cultura de nossa terra, como forma de aprimoramento de nosso conhecimento e de
libertação de nosso povo, porque CULTURA É LIBERDFADE e povo sem cultura, não
chega a lugar nenhum. Não vou e peço aos demais colegas, para não desistirem
dessa luta e vamos consolidar de vez a nossa ACADEMIA, porque precisamos dar o
melhor de nós para o nosso povo, sem nada receber em troca, porque é o que
fazemos
Paulo Cordel: - A ABLA já fez diversos eventos culturais na feira
livre, em alguns bairros de nossa cidade e no centro da cidade, levando poesia,
música e cultura gratuita à população. Entretanto, no último ano (2018) fizemos
pouco movimento. Esclareça à população os motivos dessa breve parada.
MANOEL MODESTO: - O pouco que fizemos até aqui, de certa forma foi
valioso, motivo inclusive de despertar parte de algumas pessoas e de nossa
juventude. Hoje a gente já pode ver muita gente interessada na arte, no cordel,
na poesia, em escrever um livro, então de certa forma, mesmo a passos de
cágados, o nosso trabalho não foi e não está sendo em vão. A semente foi
plantada em 2014, está sendo regada, o plantel está crescendo, resta porém, que
venha a dar os frutos que a gente espera e temos certeza que esses frutos
surgirão e com certeza, ficará um herança para a posteridade de nossa terra. Em
2018, além de um ano político, mesmo assim, ainda fizemos alguns eventos dentro
do PRJETO BALAIO DA CULTURA, de RECITAL LIVRE, no ANFITEATRO da praça Vigário,
mas não pudemos fazer tudo que pretendíamos por falta de apoio tanto da parte
do próprio povo, quanto pela falta de apoio com recursos da iniciativa privada
ou pública. Então a gente fica praticamente engessado, demãos atadas quando
fala de fazer alguma coisa voltada para a cultura e não vemos quase ninguém se
sensibilizar. Até parece que cultura é uma praga de gafanhotos contra
determinados interesses de um segmento social e de que muitos não entendem o
significado e a importância de um povo com mais cultura, mais conhecimento e
mais liberdade para voar e ganhar a sua própria vida. Mesmo assim, não vamos
desistir. Estamos vendo junto ao poder público para tentar conseguir um prédio
para montar a estrutura física da ACADEMIA e já lançamos uma AGENDA CULTURA
para 2019, com o PROJETO CULTURA - UM GRITO DE LIBERDADE! - Vamos ver se
conseguiremos o apoio do qual tanto necessitamos. Não queremos muito, apenas o
suficiente, porque vamos fazer por amor, sem nada querer em troca. Pretendemos
também, percorrer todas as escolas do município para divulgar nosso trabalho, a
literatura e as artes de um modo geral, através de nossos próprios talentos. Só
esperamos contar com o mínimo de apoio. Não queremos muito como já frisei.
Apenas o mínimo para termos condições de levantar e consolidar de vez a nossa
cultura e fazer de Buíque um Polo Cultural de nossa região, é esse nosso
objetivo. Não somente a instituição ACADEMICISTA ganha com isso, mas o nosso
Município será reconhecimento em nosso Estado, quiçá nacionalmente e no campo
internacional. Ninguém duvide do que podemos e estamos dispostos a fazer em
nome da CULTURA!
Paulo Cordel: - Em nossa vida os amigos são muito importantes, por
nos auxiliarem nos momentos difíceis e dividir conosco os momentos de alegria.
Quem são seus amigos? Diga o nome de pelo menos cinco.
MANOEL MODESTO: - Sei que tenho muitos amigos. Tenho também, não
propriamente pessoas inimigas, porém que não simpatizam muito comigo, o que é
comum nesta vida, isto porque não podemos agradar a todas as pessoas, ou como
diz o dito popular, a “gregos e troianos”. Dos amigos não vou citar nomes
porque posso desagradar alguns ou cometer injustiças, mas tive amigos que nunca
os esqueço. Um deles foi na minha mocidade, Luis Cláudio de Barros e, um outro,
que sempre o tenho em minhas lembranças, foi um colega do BANDEPE, Lucilo Melo
de Almeida, afora tantos outros, mas como disse, prefiro não citar por temer
cometer injustiças com uma parte deles, porém os únicos amigos de verdade que
sempre estiveram e estão do meu lado sempre foram e são meus filhos e meus
irmãos e irmãs. Quanto a inimigos, acredito não ter nenhum, pois como já disse,
posso ter não-simpatizantes, menos inimigos figadais.
Paulo Cordel: - Nos idos dos anos setenta seu irmão Miltinho
organizou aqui em Buíque o Bar Arizona, que foi um lugar muito frequentado pela
sociedade buiquense, dado a organização, bom atendimento e um serviço de som da
mais alta qualidade. Você inclusive pintou um quatro na parece central daquele
comércio. De onde veio essa veia artística de pintor? Conte um pouco da
história do Bar Arizona.
MANOEL MODESTO: - O Bar de Miltinho, como era mais conhecido, foi
adquirido com as economias que ele fez em São Paulo, no duro trabalho de
pedreiro na empreitada de obras particulares como o exímio profissional em que
se tornou no manejo da colher de pedreiro com azulejos, pastilhas, cerâmica e
mármore, materiais mais utilizados em acabamentos na construção civil na década
de sessenta para setenta. A questão é que ele era contratado por particulares
para fazer acabamentos em construções por metro quadrado e trabalhava em torno
de dezesseis horas diárias. Com isso foi juntando algumas economias e chegando aqui,
comprou um veículo rural, que chegou até a dar uma batida e, como esse bar que
ficava no centro de Buíque era na época de propriedade de Mané Grilo, que não
tinha lá muito jeito para o negócio, de pronto ele fez uma proposta e adquiriu
o comércio. Como sempre foi muito jeitoso com as suas coisas, ajeitou o bar e
logo começou a crescer o negócio, com a atração de uma fiel freguesia que
sempre freqüentava àquele local de lazer. Pouco tempo depois dele ter vindo de
São Paulo, eu vim depois e logo após o restante da família. Fui trabalhar com
ele no bar e logo de início era àquele ocão sem forro, com o telhado aparecendo
do tipo dessas construções mais antigas, foi quando tivemos a ideia de forrar
com telhas Brasilit e, ficou muito aconchegante e chamativo o ambiente. Como
estava em moda colocar cartazes grandes de artistas, atores de filmes, tive a
iniciativa de enfeitar o nosso comércio com vários cartazes. Depois veio o nome
do bar, que também foi dado por mim, de BAR ARIZONA e fiz a pintura em frente.
Cheguei a pintar um grande painel dentro do bar de um casal hippie dentro de
uma floresta, só que, não tenho sequer uma fotografia dessa minha obra de
pintura. A questão de pintura veio desde cedo também, porque ao ser um leitor
assíduo de gibis, passei a fazer desenhos de historinhas com àqueles
balõezinhos com palavras e cheguei a me matricular no Instituto Universal
Brasileiro, quando morava em São Paulo no Curso de Desenho Artístico e aprendi
um pouco de desenho e algo sobre pintura, só que, com o passar do tempo fui
deixando de lado a pintura e me dedicando mais à escrita e embora venha a fazer
alguns rabiscos ainda nos dias atuais, não tenho a mesma habilidade de quando
aprendi um pouco mais sobre pintura e desenho artístico. Essa de me matricular
nesse Curso por correspondência que vinha pelos correios, do Instituto
Universal Brasileiro, era porque quando adolescente me bateu uma tendência de
fazer Belas Artes, não sei se por influência de uma Escola de Belas Artes de
São Paulo, só sei que ainda pintei uma série de trabalhos, porém se esvaíram no
espaço e no tempo. Só sei que o BAR ARIZONHA marcou época em Buíque e era o “point” daquele tempo em nossa cidade.
Em épocas de festas não tinha sequer lugar para atender a freguesia, de tanto
que era freqüentado, tanto pelos daqui de Buíque e região, quando por pessoas
que vinham de fora. O Bar ficava localizado na Praça Major França onde hoje
funciona uma padaria, vizinha a seu Sátiro. Foi muita emoção vivida no BAR
ARIZONA. Para se ter uma ideia, a gente começava a fazer estoque de bebidas
desde o início de cada ano para as festas de final de ano. Só de cerveja a
gente fazia um estoque na parte dos fundos do bar, de umas cinco a seis mil
garrafas e quando do período de festas de final de ano, não ficava uma sequer.
Foi um período muito proveitoso para meu irmão e para mim também. Quando
estudava o Curso Científico (Ensino Médio) no Carlos Rios, em Arcoverde, dormia
no próprio bar, juntamente com José Arnaldo (Neguinho Arnaldo), que foi
praticamente criado por nós e nos ajudava no dia à dia de labuta diária.
Paulo Cordel: - Você tem se consolidado um grande advogado na
região. Está satisfeito com a profissão?.
Se não fosse advogado, que proferia escolheria hoje?
MANOEL MODESTO: - Tenho orgulho de ser advogado. Na minha trajetória
profissional sempre combati o bom combate, porém sinto uma ponta de decepção
com a profissão nos dias atuais em face de muita concorrência desleal, da falta
de ética, do desrespeito com a advocacia até mesmo entre os próprios colegas e
embora tenha buscado sempre primar o meu caminho profissional dentro da
lealdade, hombridade, ética, honradez, honestidade e respeito aos meus clientes
e colegas, sempre busquei dar conta do meu recado. A decepção da profissão
aparece quando a gente se depara com casos difíceis de resolver em que juízes,
promotores de justiça e até mesmo parte de serventuários da Justiça (uma
minoria), não estão nem aí para o seu esforço, o seu trabalho em defesa de uma
causa, seja esta qual for. Tive muitos êxitos na minha vida profissional,
muitas decepções, porém tenho consciência do dever cumprido naquilo que abracei
com muito esmero e orgulho. Acaso o tempo volvesse, por tanto ver crescer a
desonra, o desrespeito, o agigantamento de togados com poderes além de um Deus,
não faria mais Direito, mas sim, medicina, porque minha luta seria para salvar
vidas, se bem que, com a minha profissão, a caminhada foi lutar pela liberdade
de quem injustamente teve o seu cerceamento de ir e vir, defender causas de
quem mais precisasse e de ter lutado diante de uma Justiça tacanha, mesquinha e
lenta, em que se percebe que em muitos casos só tem funcionado mais para os
potentados, os ricos e com isso, enveredado por um caminho de se fazer grandes
injustiças. Não quero com isso desanimar os que estão fazendo o curso de
direito ou aos que imaginam fazer de forma alguma, apenas alertando para que,
quem quiser fazer que o faça, mas com o objetivo de se for advogar, que busque
sempre seguir as linhas mestras do direito em defender o bom combate, lutar
contra as injustiças e sempre ter a bandeira levantada em favor da democracia
de nosso país, caso contrário, melhor desistir, porque essa profissão não se
amolda para covardes, fracos e vendilhões do templo.
Paulo Cordel:- Você é favorável ao ensino da ideologia de gênero
nas escolas do país, principalmente com relação às crianças?
MANOEL MODESTO: - A questão de ideologia de gênero, coisa que foi
motivo de debates acalorados nessa última política, inclusive levada de forma
extremamente distorcida e buscando desnortear valores familiares, pelo que me
consta não foi colocada em prática em nenhum momento. Tudo isso foi fruto de
alguns políticos picaretas, maus-caracteres, alguns religiosos tendenciosos,
que pregaram e pregam mentiras, para colherem resultados através de uma
pregação distorcida que venha fazer de uma mentira a verdade e desta, a
mentira. Foi desse jeito que aconteceu. O que se pretendia dentro do ideário de
ensino do premiadíssimo pernambucano Professor Paulo Freire, que sempre quis
uma escola aberta e questionadora, foi justamente tentar não fazer “bullyng”
(ou bulir) nas escolas a quem tivesse um comportamento diferente, daí
aproveitaram para inventar essa questão de “kit gay” nas escolas, fato que
nunca chegou a ser colocado em prática, daí aproveitaram disso politicamente
para distorcer o que apenas seria uma ideia de respeitar a todas as pessoas,
independentemente de seu comportamento pessoal, porque ninguém nasce assim ou
assado, mas o meio social, o que não vinha ao caso, poderá ser um fator
decisivo para qualquer ser humano seguir o seu próprio caminho, seja ele qual
for, porque essa questão de gay, de lesbianismo ou outro comportamento humano
qualquer, existe desde que o mundo é mundo, ou seja, a partir do momento que o
homo sapiens se deu conta de sua existência neste Planeta Terra. Usaram isso
maldosamente e com isso influíram muita gente incauta, desinformada e abraçar
uma mentira como verdadeira. Paulo Freire, na educação, é respeitado em várias
partes do mundo e tem a sua metodologia de ensino implantada em vários países,
sendo reconhecido e premiadíssimo mundialmente, inclusive pela ONU. As pessoas,
independente de sua orientação social, religiosa e ideológica, deveriam buscar
se esclarecer mais, antes de emitirem ou aceitarem uma opinião distorcida que
tão escandalosamente os meios midiáticos tendenciosos jogam no ar com o fito de
única e exclusivamente de enganarem pessoas de mentalidades fragilizadas,
vulneráveis e sem o devido conhecimento de causa.
Paulo Cordel: - Analisando a sua vida, “entre os altos e baixos”
que todos nós enfrentamos, você se sente realizado?.
MANOEL MODESTO: - Passei nesta vida por muitos momentos difíceis, porém
o maior e que alcançou uma magnitude inimaginável, foi a perda de uma parte de
mim. Isso foi algo indescritível e que nunca mais vai sair de toda a minha
existência. Superar a tudo que na vida sofri, não vai acontecer. Fui uma pessoa
esforçada na vida. Deparei-me com muitos obstáculos. Muitos os venci, outros
não consegui, porém sei que ainda tenho muito para fazer, tendo ciência também,
que não vou conseguir, por isso mesmo, sei que vou sem querer, mas de todo
jeito sei que me vou, mas não cheguei a me realizar, porém sinto orgulho em
deixar uma bela família, bons e honrados filhos, netos e netas, e sinto muito
por ter tido a minha maior perda que já se foi antes de mim, sem sequer me
avisar. Por tudo isso que passei não cheguei a me realizar por completo, o que
acredito ser impossível para todos nós seres humanos pensantes convivendo com
os nossos próprios demônios, incompreensões, infortúnios, decepções, desalentos
e tantos males da vida, então acredito que para nós não existe ou jamais
existirá um sentimento de realização. A gente tem plena certeza que vai para
nunca mais voltar, porém só sinto pelo que não pude realizar.
Paulo Cordel: - Uma pergunta que deveria ter sido feita e não foi e
sua resposta:
MANOEL MODESTO: - Acredito que a entrevista foi quase completa. Falei
demais, talvez até disse o que não deveria, porém nunca fui de ficar calado.
Dentro de minha inquietude do meu caminhar, nunca fui de ficar parado, sem
pensar, no vazio, porém no momento estou num vazio infindo, ao ter perdido uma
parte de mim, fato que vi acontecer com muitas outras pessoas, porém a gente
nunca imagina que também pode acontecer com nós mesmos. Coisas da vida. Superar
está sendo o maior desafio de minha vida e sei que não vou conseguir. Posso até
suportar até o fim de meus dias, porém superar o que aconteceu, jamais. Outra
coisa foi no campo do amor. Acredito que amei pouco, não sei se fui amado,
porém o maior amor de minha vida foi a minha mãe, que foi a responsável
primeira pelos meus cuidados, pela minha educação e por ter me protegido nos
momentos mais cruciantes de minha vida, sem deixa de lado, claro, o meu pai,
que na simplicidade de vida em que vivíamos nos procurou educar da melhor forma
possível. Outro fato importante de minha vida, foi um ocorrido no ano de 1996,
morando em Pesqueira, quando cheguei a ser sequestrado com minha segunda
ex-mulher, por três marginais, em meu próprio carro e não me mataram porque
ainda cheguei a tomar a única arma de posse dos três delinquentes e os coloquei
para correr no meio do mato, na BR entre Pesqueira e Sanharó, próximo ao Campo
de Aviação. Foi um Deus nos acuda, mas só sei que consegui sair dessa com vida.
Não vou entrar em detalhes, por se tratar de uma longa história, mas esse foi
um dos grandes fatos ocorridos em minha vida em que saí ileso, porém não houve
nenhuma investigação da Polícia Civil para desvendar o caso, descobrir os
responsáveis para virem a ser punidos pela Justiça. Ainda cheguei a investigar
por conta própria e cheguei a descobrir algo sobre os responsáveis pelo meu
seqüestro, porém deixei pra lá, resolvi não ir mais a fundo.
Paulo Cordel: - Uma mensagem final para os leitores.
MANOEL MODESTO: - Deixo para os jovens, que não desistam fácil de seus
objetivos de vida. Não esmoreçam na primeira tropeçada. Busquem sempre o melhor
para si, leiam muito, busquem aprender sempre mais, embora ninguém consiga aprender
tudo, mas se desliguem mais desse mundo midiático internetário em que se
divulgam muitas farsas, mentiras, invencionices e que colocam coisas indevidas
na cabeça de muita gente, até mesmo dos adultos, que em se afastando dos livros
físicos, estão buscando um caminho perigoso e errado para um maior e melhor
preparo para a vida. Nunca troquem um livro por nada neste mundo, porque é
através dos livros que cada um de nós pode fazer mentalmente a sua própria
viagem como bem quiser e entender. Também nunca acreditem nos pregoeiros das
farsas e das mentiras, lutem pela verdade e por aquilo que realmente acreditam
ser o melhor caminho para cada um. Busquem sempre questionar a tudo, para poder
tirarem as suas próprias conclusões sobre de “onde viemos, o que somos e para
onde vamos”. É esta a minha mensagem dirigida a todos e todas.
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