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sábado, 10 de julho de 2010

UM DIA O SOL HÁ DE NASCER E A LIBERDADE FLORESCER - CAPÍTULO II

        
ESCURIDÃO DE UM VIVER  



            O cotidiano de vida na Vila Nova de Santo Esmeraldo, era uma só. Na nascente nascia o Sol escaldante já de manhãzinha e, à tardinha, no poente, de mansinho ele se escondia. Era uma vida sem novidade viver naquela vida pobre e desgraçada. Zé de Ló, o quinto filho dos cinco irmãos que seu Joaquim teve com Dona Maria, com seus dez anos, não dava lá muita bola para aquele jeito de vida, pelo menos não se dava conta até então. Tanto fazia como tanto fez, afinal de contas, já estava habituado a amanhecer com a barriga roncando e adormecer com a barriga vazia, a não ser quando se caçava algum bicho do mato prá se comer com farinha seca, que podia ser um passarinho, um preá, um mocó ou um camaleão. Na época da safra de caju, ainda se fazia dessa fruta a mistura para se comer com feijão e farinha de mandioca, isso quando tinha alguns grãos de feijão de corda ou de arranca pra se botar na panela de barro e no fogo de lenha. Era uma vida dura e difícil, mas Zé de Ló, já vinha adquirindo  um pouco de consciência na vida e prometia a si mesmo, será que existe outro mundo além daquele em que vivia? - Desinformado naquele mundo esquecido, ali quando muito, se tinha um radinho de pilha, pois televisão, que ainda era na época de preto em branco, nem pensar. Aliás, nem de televisão ele tinha ouvido falar, tamanho o atraso em que vivia. Até mesmo para chegar algum tipo de veículo naquele recôndito esquecido do mundo, só mesmo se fosse jeep, carro-de-boi, transporte em animais, carroça, pois outro meio de transporte não chegava lá não senhor! - Era uma vida dos diabos. Zé de Ló, na sua santa ingenuidade, antes de ver um carro, pensava que só ia mesmo chegar carro naquele mundo quando as galinhas criassem dentes. Era assim que a sua mãe lhe dizia quanto ainda era pequenino e quando ainda, estava aprendendo a dar os primeiros passos e a falar. Mesmo assim, diante de tantos contrastes, dificuldades de viver e de que as coisas viessem a melhorar, já vinha despertando alguns questionamentos no seu eu interior. Como numa escadinha, Zé de Ló, o quinto dos irmãos com apenas dez anos de idade, tinha logo pertinho de si, a irmã mais velha, Cristina Maria, mais conhecida por Cris, com nove anos de idade; logo depois vinha outro irmão, Josiano de Ló, com sete anos de idade; depois vinha em linha decrescente, Juliano de Ló, com quatro anos de idade e, por último, a caçulinha ainda de braços, com apenas dois anos de idade, Josefina Veridiana de Ló, que já começava a balbuciar as primeiras palavras e aprendia a dar os primeiros passos. Em condições de vida precárias, Seu Joaquim e Dona Mariazinha, tinham muita dificuldades para manter toda essa prole e o pior era que, ambos com idade ainda fértil, podia parir mais gente para o mundo. Tendo herdado o catolicismo apostólico romano dos ancestrais, Seu Joaquim e Dona Mariazinha, eram todos rezas e mais rezas e a tudo entregava a Deus, tudo estava nas mãos de Deus e era sempre o que Deus quisesse que fosse. A idéia de aceitação de tudo, de todas as dificuldades encontrava lastro e consolação na crença, na religião. As dificuldades eram grandes. Zé de Ló, apesar de raquítico, com aparência de desnutrido, não diferia muito dos demais irmãos, pois todos passavam necessidades. Ora estavam praticamente nús, lombriguentos, sujos, sem o menor senso de higiene, afinal, saúde para essa família e para o pequeno vilarejo era fruta braba. O alcance e interesse do poder público ainda não tinha chegado naquele lugar, porque lugar de poucos votos, prá que se dar importância política? - Era assim que os mandas-chuvas da época pensavam, nas suas vãs idéias de jericos como condutores políticos do Município de Jurió, que naquela década de 1970 contava com apenas cerca de 5 mil habitantes e o que valia mesmo na política era sempre roubar, enganar o pobre com alguma migalha e se manter no poder de mando enquanto existir gente para ser dominada. Assistir o povo, educar, dar uma melhor saúde pública, prá que? - Melhor mesmo é povo analfabeto, doente e pobre, para que fique sempre acorrentado aos políticos salafrários que já existiam desde àquele tempo. Desonestidade em política, na realidade, vem desde que o mundo é mundo e passou a viver em sociedade. 
          Mesmo com tenra idade, Zé de Ló vivendo naquele mundo cão, pobre e esquecido do mundo,  já imaginava um dia em que as coisas poderiam ser bem diferentes, pelo menos era assim que imaginava e, ao mesmo tempo, cabisbaixo, triste e com cara de desânimo, pensava ao mesmo tempo, mas como fazer da vida para um dia tudo ser diferente. Quase analfabeto, mesmo assim, nas condições precárias em que vivia, não queria desanimar, afinal de contas, tinha uma família pobre, miserável e ele, quem sabe talvez, fosse a única salvação. É quem sabe.....



NÃO DEIXEM DE ACOMPANHAR O PRÓXIMO CAPÍTULO DESTA HISTÓRIA...PRÓXIMO SÁBADO TEM MAIS.

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