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terça-feira, 13 de julho de 2010

O COTIDIANO DA VIDA


SE TROPEÇA

            A vida é construída de vários tropeços. Acho que não existe ninguém que não tenha por algum momento enfrentado alguma barreira, encontrado uma pedra por menor que seja, no meio do caminho. O que acontece ou como tudo  venha a acontecer na vida de cada um, é algo que pode ser circunstancial por fatores fenomênicos da própria vida do ser humano ou pode vir de dentro do eu ontológico de cada pessoa. O que quero dizer é que as coisas podem acontecer por acaso, por algum fator advindo de alguma circunstância do momento ou pode ser fruto daquilo que já se encontra incrustado na mente de cada um, afinal de contas cada pessoa vive envolto dentro da sua redoma interior que ninguém pode penetrar. O mundo de cada um só a este pertence. Se constitui em um grande mistério impenetrável. Nem mesmo as ciências que estudam a alma do ser humano, a exemplo da psicologia, psicoterapia e a psiquiatria, é suficiente para explicar a conduta comportamental de cada um de nós. Como animais sociais podemos nos tornar nos mais perigosos já colocado na face da terra e capazes de cometer qualquer tipo de atrocidade inimaginável, esta é a verdade nua e crua. 

ADMIRÁVEL FORÇA

         O que mais admiro no Vice-Presidente da República, José Alencar, não é o  fato de ele ter vindo de uma família humilde, trabalhado muito e  se tornado um grande empresário nacional. Na verdade o tenho admirado mesmo pela sua luta de vida, a vontade de vencer o câncer que vem lhe consumindo há mais de uma década e cada luta pela qual ultrapassa, é mais uma batalha que ultrapassa na sua vida. Por último, com sinais de isquemia, foi submetido a um cateterismo e lhe foi colocado um minúsculo aparelhorzinho em uma de suas artérias, para melhorar a circulação sanguínea e está se recuperando bem e vencendo mais uma frente de batalha na sua guerra pela vida. Outra coisa nesse admirável ser, é de que apesar de tudo, ele não fica se lamuriando dos males de vida dos quais padece e já declarou por diversas vezes que está preparado até para morrer, que na batalha final, ninguém poderá vencer, mas viver com o espírito de luta do nosso vice-presidente já é uma grande demonstração de força, de luta pela de vida. Claro e evidente que nem todo mundo tem o mesmo padrão e regalias que o cargo lhe oferece, para ter direito a um bom atendimento e a um tratamento a altura, mesmo assim, que ele é um lutador, disto ninguém pode discordar.


POLÍTICA NACIONAL

         Embora seja muito cedo para se emitir uma opinião mais balizada, entretanto, pelos indicativos iniciais, a disputa presidencial não vai ser lá muito fácil não senhor. Serra apesar de ser defensor intransigente da política do "neoliberalismo", rotulada de "social-democracia", quer transmitir de forma enganosa ao público-alvo a imagem de um ser humano que vem de uma origem humilde, de uma pobreza de fazer dó e que para chegar aonde está, teve que lutar e batalhar muito. Até mesmo de líder estudantil e de um ferrenho combatente da ditadura militar, quer ele passar a imagem e fazer pose na fotografia, quando na verdade tudo isto não passa mesmo de meias-verdades. O que a sua equipe de marketing político quer mesmo, é vincular a sua imagem à história de Lula e, se a força midiática vingar e o povo absorver essa visão, aí sim a coisa pode se tornar mesmo dura, até por que Serra tem mais experiência de caráter administrativo do que a candidata do Presidente Lula. Por outro lado, Dilma Roussef, apesar de ter uma história de vida, administrativamente tem se destacado como uma grande auxiliar do Governo Lula e, a sua candidatura é uma questão pessoal do próprio Presidente. Se por acaso o marketing político de Dilma for fortemente vinculado à imagem de Lula como se fora ele próprio e o povo absorver desta forma, com certeza terá grandes chances de se eleger e Lula fazer a ocupante de seu cargo. Na verdade tudo poderá se tornar numa guerra de mídia e se o povo assim absorver, quem melhor tiver desenvoltura, não pelas linhas programáticas que apresentar, pois a maioria do povo pouco está se lixando para programas de governo, poderá com certeza ganhar mais destaque perante o eleitorado. O que vai definir mesmo  essa disputa presidencial, será indubitavelmente, o jogo de palavras, o manejo de cenas e o traquejo  de quem tiver mais  jogo de cintura para manipular aquilo que vai jogar para o gosto do eleitor. De oratória posso garantir, que nenhum dos dois tem lá muito bem esse dom, mas a corrida foi aberta, só resta saber quem vai nadar, nadar e terminar por chegar à praia.

MARINA SILVA


            Diferentemente dos outros dois, Marina Silva tem uma história de vida parecida com a de Lula. De origem humilde, Marina era doméstica e analfabeta até os dezesseis anos de idade. Alfabetizada chegou a se formar em professora de história e a ensinar no segundo grau, entrou no sindicalismo na defesa dos interesses dos seringueiros do Acre, ajudou a fundar o PT, se tornou Senadora da República, Ministra do Meio-Ambiente do Governo do Presidente Lula e, por discordar da política ambiental adotado pelo governo, terminou por se afastar. Afastado da esfera do poder, desfiliou-se do PT e se cerrou fileiras com o PV e atualmente, é também uma das opções à Presidência da República. Em termos de história de vida, acho Marina com um melhor perfil do que o de Dilma, entretanto, sem o apoio de Lula, a tendência é a de não decolar ou não passar do patamar em que se encontra na casa dos dez por cento, até porque vem da mesma forma que os demais partidos, fazendo alianças espúrias com adversários que sempre combateu com veemência a exemplo do Rio de Janeiro, onde se aliou ao DEM, por conta do destemperado candidato ao Governo pelo PV, Fernando Gabeira. Acredito que das mais destacadas candidaturas postas ao eleitor, a de Marina Silva com certeza, é a que tem a melhor história, entretanto, a falta de estrutura e a imagem de fragilizada que passa na mídia, contribuem para o seu não crescimento eleitoral como candidata à Presidência da República, muito embora seja dotada de propostas políticas fincadas mais no desenvolvimento sustentável e em defesa da natureza e do meio ambiente, que sempre foram as suas bandeiras de luta.


AINDA SOBRE MARINA SILVA, PARTE DE ARTIGO QUE TRANSCREVO EM MEU BLOG


"Há pouco, Caetano Veloso descartou do seu horizonte eleitoral o presidente Lula da Silva, justificando: “Lula é analfabeto”. Por isso, o cantor baiano aderiu à candidatura da senadora Marina da Silva, que tem diploma universitário. Agora, vem a roqueira Rita Lee dizendo que nem assim vota em Marina para presidente, “porque ela tem cara de quem está com fome”. *

Tenho sede. Mas não é sede d'agua. É sede de chama. Não chama de fogo. É chama de pessoa humana. Enquanto milhões de pessoas passam fome, a poucos lhes faltam fome de justica. Muitos não possuem educação. Eu grito no deserto pela inclusão. Almoço e não me conformo, com alguém que bate à porta, implorando de comida um prato. Se para tantos falta pão, para poucos coração e sensibilidade.

Pelo visto, é essa sensibilidade que falta, a Caetano Veloso e a Rita Lee, quando declaram suas rejeições eleitorais dirigidas a Luís Inácio Lula da Silva e a Marina Silva. Os posicionamentos explicam, em parte, a situação que nos encontramos, ao fazer conjecturas sobre a consciência dos eleitores diante dos candidatos oriundos das classes populares. Os compositores são pessoas que as estruturas sociais proveram de bens materiais e culturais qualitativa e quantitativamente acima daqueles que se encontram excluídos do mínimo para sobrevivência, e do lugar em que se distanciam dos despossuídos, tornam-se incapazes de pensar nas causas que geram tamanha desigualdade. Estão mergulhados em uma ideologia liberal, porque foram educados pela família, pela escola e pela religião (o Estado é responsável em grande parte pela difusão de representações e atitudes), e por isso, acreditam que suas aptidões de cantar numa língua estrangeira, ou citar um filósofo, ou usufruir de um padrão de vida sofisticado,  são qualidades individuais pertencentes a um grupo distinto de pessoas. Portanto, aderem a ideia de que seus capitais culturais são méritos legitimamente adquiridos, em detrimento de outros que não foram aquinhoados pela sorte, pelo destino ou por Deus.

Essa forma de pensar é constituída por uma organização social que prioriza o individualismo em sua conotação mais perversa. À medida que se possuem bens culturais restritos, ocorre uma distinção em relação aos demais e a preponderância de valores que passam a ser superiores e verdadeiros. Com isso, nas relações sociais do cotidiano percebe-se o outro, a partir de uma visão estereotipada, por exemplo: o perfil de um presidente da República seria de um candidato que fale fluente línguas estrangeiras, tenha diploma universitário, modo educados de pequeno-burguês e sem os traços fisionômicos de índio ou negro.

Todavia, os cantores, por estarem num grupo seleto de representantes de um segmento social, como diria Pierre Bourdieu, segmento dominado da classe dominante, na condição de intelectuais, promotores de visões de mundo emanadas de estratificações sociais, emergem no cenário conjuntural, entornando na lama suas marcas de bem nascidos e educados. Convenhamos, os termos chinfrins e as justificativas  preconceituosas, agridem a dignidade de qualquer ser humano e  ficam aquém das eminentes figuras da MPB. Aliás, desse modo, pode-se considerar tais musicistas pertencentes a nobre estirpe da Música Popular Brasileira? Apenas, e tão somente, se se retirar o povo, substantivo, do adjetivo popular. Pois, constata-se que ambos, além de serem provenientes de classe média, têm uma profunda ojeriza ao povo brasileiro e veem com desprezo o sofrimento dele. 

O que mais me preocupa, nessa performance midiática, é que os próceres artistas, longe de emitirem uma opinião original, apenas informam a sociedade os modos de pensar da elite brasileira sobre os empobrecidos. Não que esta tenha se comportado apenas agora dessa forma, mas aponta um incômodo desse segmento com ascensão social e política de grupos marginalizados que se elevam ao cenário nacional, em função da organização de classe, trabalho e capacidade de entender a lógica de exclusão da sociedade capitalista e propor dentro dos moldes da democracia, a solução dos problemas que atingem todos indistintamente.
Antes de ser causa, essa atitude de vilipendiar os grupos marginalizados é conseqüência de um processo de fascistização que  toma paulatinamente a malha social e vai em direção a hegemonia da sociedade, que se propaga pelos meios de comunicação, são reproduzidos pelas instituições e chega as cabeças de homens e mulheres de boa consciência. Tem-se, assim, sua forma pronta e acabada nos clichês que corre de boca em boca, nas mercearias, botecos, panificadoras: “Bandido bom é bandido morto”. “O governo Lula sustenta a preguiça do povo.” Sem falar da criminalização dos Movimentos Sociais. Apenas a conscientização, através de uma educação popular, pode enfrentar esse desafio.

*Trecho do artigo "A Fome de Marina", escrito por José Ribamar Bessa Freire - professor, coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas (UERJ) e pesquisa no Programa de Pós-Graduação em Memória Social (UNIRIO).

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