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sexta-feira, 1 de julho de 2011

MESTRE CYL GALINDO, FAZ CONSIDERAÇÕES SOBRE A IDENTIDADE DE CATIMBAU


Cyl Gallindo*

      Afirmei, noutros momentos, que um povo sem História é um povo sem identidade. Essa ânsia que nos acode para afixar a nossa presença no mundo anuncia a busca dessa identidade. Cada ser humano tem um grito espetado na garganta. Pronto para gritar “eu estou aqui!” E está!
    Muito se fala de História Universal, como se se tratar de fatos que estão além de nós mesmo, além da nossa província, do nosso chão. Isto não é verdade. O verdadeiro fato histórico pode acontecer no recanto mais insignificante da face da terra, em épocas e espaços que lhes forem propícios acontecer, com seres que jamais se imaginaram personagens históricas.
    Teria a citar milhares de exemplos. Restrinjo-me a estes:
     As inscrições e desenhos rupestres, existentes em cavernas e pedras, manuscritos a milhares de anos, como os da serra do Catimbau /Buíque, e da serra da Capivara, no Piauí, e tantas outras mundo em fora, são hoje apontadas como reveladoras da trajetória da humanidade no globo terrestre. Falam linguagens irrefutáveis. Embora seus autores estejam anônimos.
    A raça negra no Brasil. Criaturas trazidas nos porões de navios negreiros, famintas e sedentas, acorrentadas e chicoteadas, vem se impondo à Nação brasileira (como o vem fazendo) a ponto de conquistar a posse das terras dos quilombolas, criar um símbolo nacional na estatura de Zumbi. Em detrimentos dos poderosos latifundiários, senhores de engenhos e fazendeiros, da época.
    Canudos, tão bem retratado por Euclides da Cunha em Os Sertões: Um “louco, desvairado, antirrepublicano”, arregimentou famílias desamparadas no Sertão nordestino, fixou-se em Canudos /Bahia, na ânsia de se livrar dos exploradores mercenários. Lutou contra o Exército, até ser esmagado. O campo da batalha foi inundado, mais tarde. Mas não afogaram a verdade.
    Quem imaginaria Zumbi, Antônio Conselheiro e todos esses autores anônimos figurando no painel da História Universal? Estudados e analisados pelo mundo inteiro.
    A História não tem compromisso com o tempo, nem com o espaço. A ela interessa a verdade desmistificada, cristalizada, independente de fama, projeção, poder, ou glória de seus personagens.
    Para dar identidade ao Catimbau, parte integrante da cadeia de montanhas, que compõe o planalto de Buíque com as serras do Coqueiro, de São José e do Quiry d’Alho e do mesmo nome, o casal João Evangelista Albuquerque e Maria Nair da Guia resgatou-a no livro a História de Um Povo – Catimbau /Buíque – Pernambuco.
    A obra, além de revelar toda uma família de artistas participando do mesmo projeto, com capa, digitação, diagramação, prefácio, enfoca a Origem do Distrito de Catimbau e sua localização. Mais pessoas que se destacaram na comunidade, na educação, na política e vida social, agricultura, turismo, na construção civil, na repressão ao grupo de Lampião. E estende-se até os dias atuais, ao enfocar Catimbau sob administração do atual prefeito de Buíque Jonas Camelo. Ainda traz uma significativa iconografia.
     Num estilo claro, e narrativa precisa, os autores foram comedidos na adjetivação e digressões elogiosas, e por isso mesmo o livro prende a atenção e segura o leitor.
    Como primeiro passo na História do Catimbau /Buíque, temos um trabalho apropriado para historiadores, professores, alunos guias turísticos e o público em geral.
   Faltaram, no meu ponto de vista pessoal, apenas um registro mais acurado sobre a tribo dos Kapinawa, finalmente são os primeiros habitantes da terra; e outro sobre a epidemia de glaucoma, que tanto atormentou a população da localidade, vítimas do mal e de preconceitos, até a chegada do Dr. Hipólito de Lima Borba, oculista/sanitarista. O empenho deste profissional da saúde na busca de verbas, medicamentos e gente para livrar a população do Catimbau da epidemia do glaucoma jamais poderá ser esquecido. No entanto, essas falhas poderão ser sanadas numa segunda edição de História de Um Povo – Catimbau /Buíque – Pernambuco, ou mesmo noutra obra.
    O que não falta são os meus aplausos para trabalhos dessa natureza que arranquem o Município de Buíque da subsistência cultural, já que lhes sobram motivos e fatos históricos.

Recife, 13-06-11
 Cyl Gallindo é escritor e jornalista. 

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