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BUÍQUE, NORDESTE/PERNAMBUCO, Brazil
A VERDADE SEMPRE FOI UMA CONSTANTE EM MINHA VIDA.

sábado, 20 de agosto de 2011

VI E VIVI NUM MUNDO QUE OS MAIS JOVENS NÃO VIRAM, NEM VIVERAM

       
           Nasci numa época de dificuldades de toda sorte, na década de cinquenta, no Sítio Cigano, em Buíque, distante à seis léguas da cidade. Era uma vida rude, humilde e simples. O casebre não tinha absolutamente nada de luxo, era tudo na base da improvisação e do artesanal. O fogão era de lenha, as panelas e pratos para comer, eram de barro e também, o pote para beber água potável, que colocado num cantinho da casa, dava para se beber uma água friazinha. As carnes para servir de mistura, quando dava para se comprar nos dias de sábados, para ser conservadas, tinha que salgá-las e colocá-las sob o sol para secar, era a chamada carne seca, que se comia bem com farinha de mandioca. Nessa época, se tinha um modo de vida de um quê de medieval. Era uma vida dura. A luz era na base do candeeiro à querosene Jacaré. Foi numa vida assim, que passei os primeiros seis anos de vida. Num mundo isolado de tudo, pois sequer carro, que na época era coisa rara, chegava até o Sítio Cigano, por não ter estrada ideal para a circulação de veículos, como até hoje ainda não se chega lá onde eu nasci, com muita facilidade, pois a mesma estrada ainda continua praticamente intransitável. Os jumentos, nossos irmãos, como bem o disse o velho "Lua" Luiz Gonzaga, eram os nossos meios de transportes e para carrego de água que botávamos de ganho para os mais abastados de Buíque, que só bebiam a água mineral do sítio em que nasci, cujas cacimbas, ficavam um pouco abaixo de minha rude moradia.
             Depois de um certo tempo, viemos morar na cidade de Buíque, primeiramente, em uma casa em frente a antiga Cadeia Pública, depois na Rua Amélia Cavalcanti, onde veio nascer o caçula, Milvernes, depois moramos numa casa na atual avenida Coronel José Emílio de Melo, em frente à rua que hoje mora Blésman Modesto. Aquilo ali era tudo sítio, inclusive toda essa extensão do primeiro posto de gasolina até chegar à barragem com destino para Tupanatinga, era tudo mato, casas, poderia até existir de forma dispersa, mas no geral era tudo sítio mesmo. Buíque ainda se resumia somente ao centro e nada mais que isso. A finalidade de virmos morar na rua, como se dizia na época, era para que tivéssemos educação, por insistência de minha mãe. Sei que Miltinho, meu irmão mais velho, ainda estudou com Dona Dodoce, na Escola Duque de Caxias, que ficava espremida entre a praça Major França e à Vigário João Ignácio. Miltinho ainda chegou a ser alfabetizado, pois na época, o importante era aprender um ofício. Primeiramente, ele tentou aprender o ofício de sapateiro, depois, aprendeu mesmo, através do nosso tio-avô, João Modesto, o ofício de pedreiro, com que o fez ir para São Paulo na década de sessenta e de quebra, também seguimos no mesmo barco logo depois de sua partida para àquela Selva de Pedra.
             Sempre tive na vida um sonho, apesar das tantas dificuldades pelas quais passei e tive que enfrentar, que de um dia chegar a fazer um curso superior. Depois que em 1975, através de concurso público entrei no BANDEPE, ainda cheguei a estudar o curso de engenharia, mas por circunstâncias impostas pela vida, tive que fechar esse curso e terminei por perdê-lo de vez. Depois de um certo tempo, foi que acordei novamente e fiz novo vestibular para Direito, curso que cheguei a concluir e do qual tiro com dignidade o meu sustento e de minha famíalia.
              A vida é assim, nada vem com facilidades para ninguém. Na verdade a gente pode fazer o curso de nossa vida, seja ela permeada como for por dificuldades, mas nada impede na vida que cada um escolha o seu próprio caminho, como eu, apesar de toda essa odisséia de dificuldades, de sofrimentos e de dor pelas quais passei, mesmo assim, ainda continuo no batente, lutando pela vida e procurando fazer sempre mais, apesar de saber que quando dormitar o sono derradeiro, não fiz tudo que deveria fazer nesta vida curta e passageira. O que tenho ainda para fazer, sei que não farei no decurso do meu caminho, mas espero que os meus pósteros possam concluir os sonhos que sempre sonhei e que certamente não vou terminar de realizá-los.

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