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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

AMIZADE É PARA SER PRESERVADA - AO AMIGO LUCILO MELO DE ALMEIDA

Prédio do Recife Antigo, onde o Bandepe começou como Caixa do Estado de Pernambuco. Hoje é Centro Cultural BANDEPE.


      Foi não foi, a gente vez por outra se vê envolto pelo Banco do Estado de Pernambuco S/A - BANDEPE, que teve o seu golpe final de liquidação, no governo de Miguel Arraes de Alencar, quando Eduardo Campos era Secretário da Fazenda. Como já afirmei em outras ocasiões trabalhei por quase dezesseis anos naquele banco e foi lá que pude conhecer muitas pessoas e fazer algumas amizades de fé e como não poderia deixar de ser, melhor me estruturei como ser humano. Foi mais um aprender de vida. Para trabalhar no banco oficial do Estado, tive que passar pelo processo de concurso público, o primeiro realizado por àquela instituição estatal. Morava em Buíque, ralei muito, estudei com afinco e fui classificado em 119º lugar, sendo o primeiro buiquense a passar num concurso público na década de 70. Em 19 de novembro de 1975, me iniciei a trabalhar no banco, na agência 033, de Buíque, como Escriturário Inicial A, para, logo depois, assumir a vaga de Investigador de Cadastro, que eu levava ao pé da letra. Quando alguém chegava ao banco, abria uma conta-corrente e vinha fazer o seu cadastro para se beneficiar de alguma linha de crédito do banco, eu era rigoroso nas apurações da vida pregressa do indivíduo na questão de bom ou mau pagador.
        Tendo iniciado em Buíque meu trabalho de bancário, que tinha um valor danado naqueles idos, em início de 1977 fui morar na cidade do Recife, pois pretendia fazer cursinho para me preparar para fazer vestibular. Em Recife morei com grupamentos de colegas em velhos edifícios centrais, depois montamos uma república formada por cinco/seis pessoas, da qual eu era o presidente, mas como tinha muitos dos componentes que só queriam mesmo farrar, pouco tempo depois voltei a morar em uma pensão mais reservada que era mais tranquila para se estudar. Finalmente veio o vestibular e eu fui aprovado no curso de engenharia da UFPE. Foi para mim motivo de muita alegria, de muitas comemorações e muitas farras, principalmente em Buíque, onde fui comemorar o êxito alcançado. Depois veio à matricula e o início do curso, que era durante o dia e para isso tive que pedir transferência do meu trabalho no Setor de Cadastro do Banco, no Edifício Central da Cais do Apolo e passei a trabalhar num setor chamado de SECOD, que era vinculado a um departamento conhecido como DECON, que controlava toda a contabilidade do banco e era comandado por um senhor que não me entrava bem, chamado de Rui de Deus. Nosso trabalho se inciava às 07h00 da noite e podia se prolongar até uma hora da madrugada do dia seguinte e até um pouco mais tarde quando dava diferença no fechamento da contabilidade. O trabalho consistia na conferência e implantação de títulos de empréstimos que eram realizados ainda de forma muita arcaica, em toda rede de agência do banco, pois ainda naquela época a informática estava engatinhando. 
    De sete horas da manhã, pegava o ônibus com destino à Cidade Universitária e ficava às vezes o dia todo por lá, almoçando no próprio restaurante universitário e também com certa frequência, saia direto dos estudos e ia para o trabalho. Era uma dureza indescritível. Trabalhar à noite e estudar durante o dia, fazia com que muitas vezes cochilasse na sala de aula ou no auditório, quando a aula englobava uma mesma matéria que alcançava alunos de vários outros cursos de engenharia existentes. Foi uma dureza danada, mas ainda cheguei a aguentar esse modo de vida por cerca de três anos, tendo cursado até o sexto período de curso de engenharia, quando tranquei o curso e terminei por perder o vínculo com a universidade.
      Foi nesse período noturno trabalhando no Bandepe, que cheguei a conhecer o velho amigo Lucilo Melo de Almeida. A gente trabalhava nesse turno, ao mesmo tempo em que caçoava também com os demais colegas. Alguns deles não gostavam, chispavam e queriam até mesmo às vezes partir para a briga. O velho amigo Lucilo, no seu primeiro dia de trabalho veio vestido com uma roupa roxa, composta de um jaquetão e calça da mesma tonalidade e assim de repente, não deu outra, coloquei logo o apelido dele de "Zé do Caixão". Tinham outros colegas, em alguns deles, eram extremamente metidos a pavão misterioso, a exemplo de George, que estudava medicina e um tremendo metido a intelectual, não gostava de se juntar muito com o s demais integrantes do grupo. Tinha outro, formado em Direito, Eduardo, e Portela, que se não me engano, estudava sociologia, que eram boas pessoas. Esses dois vieram a falecer ainda com tenra idade. Já Marco Polo, que era um magrão alto, estudava letras na Universidade Católica e era bem inteligente e um tremendo gozador. Outro mais tinha o apelido de Chico "Penico" ou de Chico "Mentirinha", porque mentia demais. Cheguei algum tempo depois a encontrar com o velho Marco Polo, mas pelo que soube vagamente, ele está no Canadá. Já Ari, que tinha sido marinheiro, a gente dizia que ele nas longas viagens marítimas mar adentro, sem mulher, ele fazia as vezes dela para os demais marinheiros e ele ficava fulo da vida. Sobre o amigo Ari, por haver sofrido um grave acidente, está aposentado por invalidez e ficou com marcas para sempre em sua vida. Tinha um outro, que gostava de fazer caricaturas, de Araripina, era o famoso e estranho Farias, que não gostava muito que se fizesse gozação com ele e quando isso ocorria, ele partia mesmo para a ignorância, para a briga mesmo. Já Paulo Figueiredo, um velho amigo também, era o nosso chefe e muitos dos finais de semana, a gente saia em sua brasília amarela e amanhecia o dia, da sexta para o sábado, tomando umas e outras que às vezes durava o dia todo do sábado, por muitos recantos do Recife antigo, quando não íamos para em algum boteque de algum bairro da cidade. Paulo Figueiredo, hoje é aposentado e está doente. Trabalhei também com outro sujeito, que vinha das hostes do exército e se gabava por isso e fazia Direito, curso que concluiu e hoje e delegado de polícia civil na cidade do Recife. Desse, que se dizia meu amigo, não tive mais ligações. Tinha uns outros que não me vem à memória nesse momento, mas um fato que me marcou até hoje, quando voltávamos para casa num fusquinha de um dos colegas, foi sermos numa certa madrugada, após sairmos de mais uma noitada de trabalho, foi uma abordagem truculenta feita pelo polícia civil, que nos trancaram assim de repente na avenida Conde da Boa Vista, metralhadoras em cima da gente, mãos na cabeça, até que nos identificamos de que éramos trabalhadores e eles nos liberaram, mas foi de uma truculência sem precedentes essa abordagem policial a nos confundir com possíveis bandidos.
        Em que pese as minhas amizades, mas a que mais me marcou mesmo foi a de Lucilo Melo de Almeida, que o chamava na brincadeira pelo apelido de "Zé do Caixão". Depois voltei a trabalhar no interior, Lucilo foi sendo promovido aos saltos até chegar a assumir o cargo de Diretor de Recurso Humanos do banco, um grande feito para alguém que só tinha o segundo grau e era formado em contabilidade em Caruaru. Ele assumiu essa função, mas sempre que precisa do velho amigo, ele estava sempre pronto a servir. No fechamento  e liquidação do Bandepe ele ficou até o fim, mas sempre foi uma pessoa correta e digna, disso posso falar com propriedade de quem conheceu um amigo de verdade. Pai de duas filhas, uma com 24 anos e outra, com 26, Lucilo, já de cabelos completamente brancos, recentemente veio a perder a esposa, que faleceu de CA, mas independentemente de tudo isso que a gente pode e tem que passar na vida, ele continua a mesma pessoa e quando nos encontramos é motivo de alegria e comoração e sempre nos quedamos para tomarmos umas e outras e falar do tempo passado. E isso camarada Lucilo, você foi um dos meus grandes amigos de verdade e quando a gente tem um amigo de verdade, se pode dizer que é para sempre, apesar de ser coisa difícil de se encontrar.

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