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quinta-feira, 6 de setembro de 2012

É UMA BRASA, MORA! - VOLTANDO UM POUCO À JOVEM GUARDA DOS BONS TEMPOS VIVIDOS


    A jovem guarda, movimento musical que externava à rebeldia dos jovens que despontavam na década de 60 para a de 70, em contraponto às músicas da MPB, foi um movimento musical inspirado de fora para dentro, sobretudo nos Beatles de Liverpool, da Inglaterra, Elvis Presley, dos EUA, entre outros. Na verdade, para quem viveu esses tempos, foram memoráveis na vida de cada um de nós, que a cada música lançada dos ídolos da época, era um frenesi dos diachos dos jovens que contrariavam as regras impostas pela sociedade daqueles idos, mas tudo na verdade, em comparação com o mundo em que hoje vivemos, era fichinha em termos de modo de vida e os vícios daí advindos. Era ainda uma época de pureza e ingenuidade, em que cada gíria, cada palavra diferente jogada para o público jovem, era uma coisa que pegava imediatamente, se transformando nem estado de êxtase e contentamento da juventude.
     As gírias, os adereços e as roupas extravagantes que se usavam na época, era uma coisa que extasiava e diferenciava a juventude, e tudo era uma novidade, principalmente, quando chocava à sociedade, mas não existia um mundo sujo, imundo e dominado pelas drogas,  como as que hoje presenciamos, mesmo assim, drogas como maconha e LSD, já despontavam entre alguns jovens mais afoitos, com inspiração nos moldes de vida dos norteamericanos, principalmente quando foi realizado o festival hippie de Woodestock, que foi um ícone da contracultura desse movimento surgido em 1960, cujo festival ocorreu no dia 15 de agosto de 1969,  numa Fazenda de Max Yasgur de lácteos, na cidade de Bethel, fora de White Like, New York. Embora ainda não existissem os meios de comunicação sofisticados como os que dominam o mundo de hoje, o festival ganhou mundo, ficou conhecido em todo o planeta. Tendo para os padrões da época reunido cerca de mais de 300 mil jovens. Drogas como maconha, LSD, amor livre e muita gente nua, tudo isso também, chocou a opinião mundial, mesmo assim, passou para a história como um prólogo do que viria a ser a juventude do futuro. O que para muitos se tornou uma algazarra sem freios, veio a ser um patamar de inspiração para a mudança comportamental de muitos jovens, sobretudo ao derrubar vários preceitos e ainda então mantidos como sérios tabus encarados pela sociedade de então, mas o festival foi uma porta para o amor livre, sexo à vontade e o início para um mundo de disseminação das drogas também, pois era próprio do movimento hippie, a bandeira do amor livre e da liberdade sem limites, como bem quisessem fazer de suas vidas. Foi justamente aí que surgiram vários movimentos comportamentais em todas as partes do mundo. Aqui no Brasil  já fervilhava o movimento da jovem guarda, que tinha como pano de fundo, inspiração hippie e noutro surgido antes, conhecido como beatnik, que foi um movimento surgido nos Estados Unidos na década de 50 para início da de 60. Esses movimentos de contracultura ou de contraponto à cultura dos padrões vividos naqueles idos, influenciou uma grande parcela de toda à humanidade, principalmente no mundo ocidental.
     Vim a conhecer a jovem guarda, quando ainda tinha tenros 12 anos de idade e quando de Buíque, com meus familiares, rumamos para São Paulo, especificamente para Ribeirão Pires, em maio de 1964, cerca de dois meses depois do golpe militar, que para mim, naquela idade, de nada entendia do que se passava. Chegamos como retirantes, sem rumo, sem norte e sem sequer saber da sorte, mas chegamos mesmo desnorteados e sem de nada saber, naquele refúgio de nordestinos fugidios das agruras sofridas nas fases sazonais do tempo na região Nordeste. Não tínhamos naquela época, televisão, pois nem todos tinham um aparelho desses, mesmo que fosse preto e branco, que era o único modelo existente, assim mesmo, parecia mais um mondrongo qualquer, menos um aparelho de TV dentro dos designers atuais. Para assistir televisão, a gente tinha que ir para a casa de um conterrâneo nosso, Luis Pinto, irmão de minha querida Madrinha Auta, mãe de Blésman Modesto, o qual que morava em Ribeirão Pires há muitos anos, tendo chegado inclusive, a ser secretário de governo daquele município, entretanto, esse senhor, como minha madrinha, já faleceu, mas foi quem muito nos ajudou naqueles primeiros e árduos dias em que passamos a viver em ares nunca dantes imaginado. Foi justamente na TV Record, que já existia naquele tempo, que comecei a assistir aos shows da jovem guarda, comandado por Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléia, que eles a tratavam de "ternurinha". Era uma coisa de estimular, mexer com os sentimentos de cada um de nós, que sequer música ouvíamos, por nem ao menos ter um radinho de pilhas para ouvir programas transmitidos por meios radiofônicos, que só existem mesmo em ondas de AM. 
    Lembro bem que, quando dos meus primeiros dias de trabalho já não mais em Ribeirão Pires, mas sim, em São Paulo, quando comecei a trabalhar como servente de pedreiro, peão de fábrica, já na casa dos 14 anos em diante, foi quando por volta do ano de 1965, quando surgiu uma música que estourou nas paradas de sucesso, de Roberto e Erasmo Carlos, intitulada, "Quero que Vá Tudo pro o Inferno". Era um hino para nós que estávamos naquele lugar estranho, trabalhando como jumentos embarcados, e ganhando um mísero salário. Mesmo àquela música, me fazia remorar lembranças de minha terra, de minha gente e da árdua situação em que vivia naquele lugar, em que se trabalhava demais, era bastante humilhada, então eu também, queria que tudo fosse para o inferno. Além do trabalho, como pensava em ter um futuro diferente, estudava à noite em escolas públicas, mas a luta de tudo isso, valeu à pena, pois após árdua batalha travada, cheguei em parte a vencer.
      Era muita produção musical inovadora naqueles idos de sonhos da juventude, que se aflorava em rebeldia para os muitos conservadores da ocasião. Toda gíria que eles, os representantes da jovem guarda colocavam no ar, de imediato pegava no meio dos jovens, como, "é uma brasa, mora!", "é isso aí, bicho!", "que legal", afora o trejeito de andar meio malandro, da dança rebolativa, remexendo todo o corpo,  entre outras gírias e manias, que não me veem à memória no momento. O modismo tomou conta também de uma grande maioria dos jovens, como a calça lee confeccionada com tecido jeans, mas a autêntica tinha que ser importada, só encontrada na Rua 25 de Março, na Galeria Pajé e custava os olhos da cara, em torno de um salário mínimo da época, mas com muito desforço, ainda cheguei a comprar uma e o toque especial mesmo, era o uso dessa calça, quando ela começava a ficar desbotada na parte das cochas até os joelhos. Não tinha conversa, o que a jovem guarda lançava como modismo, pegava como uma mágica, em toda à juventude extasiada com mais uma novidade que surgia. Assim foi com a calça boca-de-sino, com o cinturão com um fivelaço de fazer inveja a qualquer vaqueiro de hoje, o sapato cavalo-de-aço e, depois, foi a vez, inspirada na moda do surgimento do tropicalismo, liderado por Caetano Veloso e Chico Buarque de Holanda, que foi o surgimento da calça saint-tropez, que consistia de uma cintura baixa, mostrando as beiradas da bunda, apertada até à canela na entrada do sapato e era usada com uma camisa de tecido tipo seda e toda colorida, com um lacinho amarrado na cintura. Era coisa de louco e os mais velhos, ligados aos rígidos costumes da sociedade tradicional, combatiam com veemência tais modismos, chegando ao ponto extremo de se ver muitos jovens mesmo, ao absurdo de serem presos porque usavam essas calças e cabelos compridos, além de adereços como correntes e anéis extravagantes. Sobre o uso de anéis, veio o anel do chamado "brucutu", que é justamente aquele apetrechozinho colocado no capô de qualquer fusca, para salpicar água para limpar o parabrisa, que passou a ser modismo e roubados dos fuscas pelos jovens para fazer o dito anel, quando Roberto Carlos, passou a usar um desses em suas tardes da Jovem Guarda aos esperados domingos na TV. Não deu outra, não tinha fusca que ficasse com esse apetrecho, que muitos jovens os furtavam para fazer o dito anel. Era uma coisa interessante o poder de influência da jovem guarda aqui no Brasil, bem como, do modismo influenciado por músicas estrangeiras em nosso país. Era uma coisa de louco tantas mudanças ao mesmo tempo, mas ainda assim, o mundo da jovem guarda, de grandes lembranças, ainda foi bem melhor do que o mundo atual em que vivemos e vez por outra, ainda penso em mandar alguém, no bom sentido, "para o inferno", como na música de Roberto e Erasmo Carlos, que como líderes da jovem guarda, fizeram um movimento de mudanças comportamentais em nossa sociedade, que dificilmente outro venha a surgir num futuro próximo, isso porque, a juventude de hoje, salvo engano, vive alienada, talvez até, vítima do próprio desenvolvimento a que se chegou. 
       Por isso mesmo, camaradas, viva nós que chegamos ainda a curtir bons momentos de vida, ouvindo as belas músicas da jovem guarda, o que hoje, só nos faz mesmo, sermos eternos saudosistas do que existia de bom a melhor, em termos musicais, porque o que se ouve hoje, é pra se jogar na lata de lixo, pois os jovens de hoje, pelo visto, fizeram de seus ouvidos, penicos e não aprenderam discernir o ruim do bom, o bom do melhor, quer dizer, a juventude de hoje, salvo algumas exceções, está completamente perdida. Então, a jovem guarda foi e é, "uma brasa, mora!", ou não bicho!   

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