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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A MINHA PASÁRGADA QUE NÃO O SONHO DO POETA MANUEL BANDEIRA


   O poeta pernambucano do Recife, Manuel Bandeira, em seus devaneios de inspirações poéticas, fez ilações por ir para um mundo melhor e assim, criou o belo poema, "Vou-me Embora Pra Pasárgada", que em sua primeira estrofe, assim textualiza: "Vou-me embora pra Pasárgada/Lá sou amigo do rei/Lá tenho a mulher que quero/Na cama que escolherei" [...]. O poema leva a mente de qualquer uma pessoa, a um mundo como bem ele entender, pois em termos de leitura, tudo pode, o mundo pode acontecer até aonde a nossa imaginação alcançar. Como muitos de nós, tive também os meus sonhos, a minha Pasárgada, mas diferentemente do ilustre poeta, diametralmente oposto à realidade dos sonhos poéticas advindos de suas veias abertas à pura poesia da melhor estirpe pernambucana do mundo da poesia, também tive os meus devaneios de poder sonhar. A minha Pasárgada, veio dos sonhos simples, humildes, rudimentares, de um pobre menino nascido no Sítio Cigano, Zona Rural de Buíque, em que imaginava se debandar para um local completamente diferente daquelas brenhas onde nasci. Não imaginava viver eternamente num mundo daqueles, se bem que, em tenra idade, não imaginava da existência de outro mundo, que não somente àquele em que rudimentarmente vivia com minha família, minha galinhas e outros animais que meu pai criava e deles cuidava. Minha mãe, vejo-a como se fosse hoje, num fogão de lenha, fazendo a rústica comida para nos alimentar da forma como as circunstâncias da ocasião mandava, além de trabalhar no cabo da enxada. Era uma vida dura, então por qual razão não imaginar um dia ir embora pra Pasárgada? - Não que conhecesse Manuel Bandeira ou o seu poema, mas quando passei a me entender de gente, imaginava um dia partir dali para uma vida e um mundo melhor. Mas qual não foi a decepção, que a minha Pasárgada, jamais foi a de Manuel Bandeira, aonde lá era amigo do rei, tinha a mulher que queria, na cama que poderia escolher. Quer dizer, ele se transportou poeticamente para um mundo imaginário aonde tudo ele podia, inclusive uma vida nababesca de orgias, magias, futilidades, fruição de tudo do bom ao melhor e o que bem quisesse. Era o seu mundo imaginário.
    A minha Pasárgada imaginada, veio enfim, quando em 1964, tive que ir junto com a minha família, para o Estado de São Paulo, onde inicialmente, fomos morar em Ribeirão Pires, depois, na própria capital, na Vila Ema. Lá, diferentemente do poeta, nada do que descreve o poema, encontrei, a não ser, discriminação, humilhação, tortura psicológica, trabalho duro quase escravo e ganhando míseras moedas de dinheiro, por um dispêndio diário de trabalho duro de dez horas, que se iniciava das sete da manhã às seis da boquinha da noite. Foi esta a minha Pasárgada. Sofri o pão que o diabo amassou, não encontrei, tampouco fui amigo de rei algum, também mulheres encontrei e não dormi em cama alguma por mim escolhida. Era uma Pasárgada dura de roer. O sofrimento de sair daqui do Nordeste para enfrentar as agruras das feridas abertas por àquela monstruosa cidade de concreto armado, me doeu no peito, me deixou triste no eito, quase morto de saudades, apesar de saber das dificuldades de se viver no nosso Nordeste, mesmo assim, não tinha jeito não, tinha que sair daquela Pasárgada cruel num trem o mais veloz possível danada pra Catende, era essa a minha pretensão a ser perseguida. Finalmente, após longos contados dia a dia, oito anos, finalmente saí daquela Pasárgada infernal e finalmente, voltei para às minhas origens, donde certamente, nunca deveria ter saído, mas de uma coisa se pode ter certeza, a gente só aprende o que é o mundo, nele procurando viver e provar do seu supra-sumo, senão ninguém jamais saberá valorar o que se deve ou não nesta vida. De alguma forma, a minha Pasárgada que não a de Manuel Bandeira, me serviu de lição de vida. Valeu à pena ter dado o meu primeiro voto ao saudoso Franco Montoro, para Senador da República, ainda na época da ditadura militar, aonde não existiam eleições diretas para presidente, mas para outros cargos eletivos existia. De partidos políticos só existiam dois: ARENA e MDB. Ainda se vivia a época dura do chumbo e das baionetas. A censura também, comia no centro e lembro da época da morte cruel do Jornalista Vladimir Herzog, pelas mãos sangrentas da ditadura militar.
     Tendo retornado ao Nordeste em 1972, eis que finalmente, estava de volta à minha verdadeira Pasárgada, onde nunca fui amigo do rei, nunca escolhi a mulher que quis, tampouco a cama para dormir, mas na verdade, mesmo assim, ainda era muito melhor do que àquela sonhada pelos meus devaneios em meus sonhos de criança de tenra idade. Nesta minha verdadeira Pasárgada, embora não tenha o devido reconhecimento que mereça ter, mesmo assim, me sinto à vontade, como se estivesse dentro de minha própria casa, pois posso me deslocar para qualquer lugar, a qualquer hora, sem que seja importunado por quem quer que seja, mas como igual aos meus iguais, não encontrei ainda o que queria, tampouco cheguei sequer, a ser amigo do Rei. Mas o importante mesmo é que a minha querida Buíque, esta sim, é a minha verdadeira Pasárgada, apesar de muitos percalços que a gente encontra pelo meio do nosso caminho, como pedras rolando incessantemente, que de forma magistral e sabiamente, a gente tem que aprender a ir pulando, passando por cima de cada uma delas. Não vou dizer que vivo totalmente feliz, mas viver em minha Pasárgada verdadeira, já é o bastante e suficiente.

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