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A VERDADE SEMPRE FOI UMA CONSTANTE EM MINHA VIDA.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

MORRE ESCRITOR BUIQUENSE, CYL GALLINDO, NA CIDADE DE JOÃO PESSOA



NOS CAMINHOS DE BUÍQUE
      Cyl Gallindo
         Projetando um livro que desejaria tê-lo publicado, mas infelizmente não cheguei a concluir o meu intento, procurei o escritor e confrade amigo buiquense, Cyl Galindo, em Boa Viagem, onde morava, na cidade do Recife, em 2005, para escrever à orelha do projeto de livro. Cheguei a conhecer Cyl, havia alguns anos passados antes dessa data, através de alguns amigos ligados à escrita, para que ele escrevesse à orelha desse meu projeto de livro. Cheguei à hospedá-lo algumas vezes em minha casa, em suas andanças por Buíque, que dizia ele, ser o seu “umbigo” e, comentava sempre com exaltação, que gostaria de fazer, tocar, ajudar em algum projeto cultural para nossa terra. Procurou vários políticos nessas diversas incursões por sua terra, e não obteve à ajuda da qual necessitava, por isso mesmo talvez, tenha morrido um tanto quanto frustrado por não ter conseguido o seu intento, que era o de ter ajudado Buíque em algum projeto cultural. É com imensa tristeza que soube que o nobre amigo veio a falecer nesta última segunda-feira à noite, dia 04, em João Pessoa, acometido que fora por algum mal da idade ou da vida e veio à óbito, após passar o final de ano naquela capital paraibana.
       Como homenagem ao velho amigo que se transformou em estrela, transcrevo nesta oportunidade, o conteúdo da “orelha” do meu projeto de livro que ele chegou a ler o original, que assim tem início: “Saí de Buíque, com 15 anos de idade. Com que vaidade e orgulho deixei esse lugar. Estava me mudando para a capital, o Recife. Quando menos esperei, estava tomado de insatisfação: como Buíque, o Recife já não preenchia as minhas expectativas. Rumei para o Rio de Janeiro. Fiz Política estudantil e partidária. Entrei nos círculos (sagrados) da Literatura. Conheci Manuel Bandeira, Vinicius de Morais, Carlos Drumond de Andrade, Jaquim Cardozo. Viajei por todo o Brasil e mais oito países. Cadê, porém, a minha obra, para me manter neste cenário? Não tinha. Ou tinha coisas sem trato literário, sem cuidados com a  língua. Só idéias e sensibilidade à flor da pele. Isto, porém, não é tudo.
       Recolhi-me de fato à real insignificância natural. Analisei o que sentia, se saberia dizer o sentimento, e se valia a pena ser dito. Voltei ao cenário, na décida de 60, pedindo A CONSERVAÇÃO DO GRITO-GESTO, por reconhecer nestes os principais veículos condutores da inteligência humana. Faltou, contudo, o lugar-espaço. Descobri, então, que Buíque é o meu umbigo. O marco zero da minha jornada. Que minha pátria, hoje, resume-se a Buíque, o Recife, o Rio de Janeiro e Brasília-DF. O meu Norte é Buíque, é Pernambuco, o Nordeste, o Brasil. Esta Geografia delineou meus dígitos, e a minha identidade; concede-me cidadania plena. O que não é tão simples. Lembrem-se: Graciliano Ramos gravou o seu Infrância em Buíque. Portanto, o cenário tem História, é um desafio!
       Não estou aqui, contudo, só para falar de mim nem de minha terra. A digressão revela, apenas, tudo que tenho feito, a serviço deste cantoçhão que se me explode da garganta, para me aproximar de Buíque e de suas gentes. Mas não tem sido fácil. E como nada tenho a oferecer, além de meus escritos, quedo ante as tentativas infrutíferas.
       Eis que agora, porém, achega-se a mim um homem da terra. Falando meu dialeto: nasceu no cigano; carregou água em lombo de jumento; comeu bolo, feito por Alta e pão com guisado, nas barracas dos Eugênio; dançou carnaval ao som do trompete de Nilton; estudou com Aderita; conhece Dona Dodoce, Joaquina, de Ernesto, Zé Cursino, Pedro Peru, Badefu, Zé Cavavá, Lia e Diva, de Austriclínio, Zé Corno, Zé Bolacha. Contou pecados ao Padre Zé Kherle e Frei Damião. É filho de Milton Modesto, primo de Blésman e Ritinha. Mais puro do que este? ...não existe.
       Seu nome: MANOEL MODESTO DE ALBUQUERQUE NETO. Ganha a vida como advogado/jornalista. Na busca da perfeição, o seu instrumento de escrever. Seus escritos parecem bisturi, cortando as próprias vísceras, dissecando o próprio coração, expondo veias e músculos, sem subterfúgio, sem meias palavras, sem mais delongas. Traça um exato perfil cruel do homem moderno, solitário e meio perdido, cheio de amor, sem saber como, onde, quando,nem a quem dar...
       Lendo o livro de MANOEL MODESTO entende-se: a realidade é cruel, violenta, impiedosa, ela é simplesmente realidade. Se a visão que ele tem da realidade lhe serve de lição, não se faça de rogado, leia o livro, tire o seu proveito. Não fique como mosca se debatendo contra a vidraça.
   Escrever é difícil, mais que difícil, é sacerdócio. É o encontrar a alma da palavra, o mistério do dizer, o VERBO, aquele que é o princípio, o meio e será também o fim. Para que isto aconteça é fundamental que haja entrega, sacrifício, renúncia. O escritor cresce na proporção que se estrutura em si mesmo, consciente de que não passa de uma insignificante partícula do Universo.
       MANOEL MODESTO, neste livro de ficção, criado de sua imaginação, através de seus personagens, revela, talvez, seguir nesta direção. E mais a condição de ser de Buíque, deram-me a satisfação imensa de ocupar estas orelhas.
       Quem sabe, seremos ouvido pelo nobre povo de nossa terra.
       Recife-PE, 15 de julho de 2005”.

P.S.: À família enlutada, meus mais sinceros pesares pela partida de mais um ícone buiquense das letras, que certamente foi se juntar a uma constelação de estrela de quinta grandeza. Cyl escreveu mais de dezesseis livros e era membro da Academia Pernambucana de Letras - APL, além de ter algumas de suas obras traduzidas para a Argentina e para a Holanda.

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