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domingo, 24 de março de 2013

JOSÉ ARNALDO DA SILVA, MAIS CONHECIDO COMO "NEGUINHO ARNALDO", ESSE SIM, UM VERDADEIRO AMIGO DE FÉ

Foto de uma das visitas que sempre faço com frequência, ao meu irmão de fé camarada, "Neguinho Arnaldo", também conhecido como "Peneirinha", em seu Sítio, no Catonho.

   Não é o fato da pobreza, riqueza, condição ou posição social, que vale para mim, na questão de reconhecimento de uma pessoa, mas sim, a sua retidão de caráter, de honradez, honestidade e de conduta de vida, apesar de aparentar ser um maltrapilho a buscar como um andarilho o seu endereço de vida, que venham a ter o meu desmerecimento.  José Arnaldo da Silva, ou como eu o mais conhecia, "Neguinho Arnaldo", é uma dessas pessoas que em minha vida, o tenho como a um irmão. O conheci ainda, quando voltei de São Paulo, na década de 70, filho de Angelina do Alto da Alegria e neto de um preto velho que nos carnavais de Buíque, lá do Alto da Alegria, era quem colocava a troça conhecida como as "Cambindas" nas ruas, para animar os nossos carnavais. Logo cedo, perdeu o pai, que ao ir trabalhar no corte de cana-de-açúcar, na Zona da Mata, foi morto ninguém sabe por qual razão, a golpes de foice, mas pelo que se conta, o negro era uma fera danada e por isso mesmo, veio a ser barbaramente assassinado, mas dizem que não morreu sem luta. Naqueles idos, "Neguinho Arnaldo" ainda muito pequeno, como ainda hoje é de estatura franzina, trabalhava no Bar Arizona com meu irmão Miltinho, que o considerava como pessoa de sua confiança, apesar de ter sido criado praticamente por nós. Sus mãe Angelina, era ajudante nos afazeres de serviços gerais do bar e, o "Neguinho", ajudava no carrego de água potável para o abastecimento do estabelecimento e noutros afazeres, inclusive servindo de garçom. Às vezes até, nas horas em que se precisava, ele ficava tomando conta do bar, atendia as pessoas, recebia dinheiro, passava troco e enfim, tomava conta do cofre e, pelo que se sabe, nunca tirou sequer um tostão. Era uma pessoa de nossa extrema confiança. O que na sua humilde vida conseguiu, sempre foi na base da honestidade e sua maior dor hoje em dia, é viver sozinho e abandonado, apesar de ter tido três mulheres,  treze filhos e de ter uma penca de netos, mesmo assim, vive sozinho no seu pedaço de chão de terra no Sítio Catonho e vez por outra, passa na minha casa, enebriado pela embriagues da vida, a se lamentar por hoje se encontrar sozinho, depois de ter tantas pessoas a seu lado, inclusive, a companhia de duas irmãs ao mesmo tempo. Na ebriedade da vida, ao se lamentar, vejo que ele ainda busca o endereço de sua própria vida, pois ainda não se encontrou por completo. Não tem luxo, tampouco alimenta vaidades. Anda como um maltrapilho e quantas não foram as vezes que o vi sorrir da vida, hem! - Muitas! - Sempre admirei o "Neguinho Arnaldo", que muitas vezes era perseguido pela polícia em Buíque ou discriminado por alguém, só pelo fato de ser negro e pobre, mesmo assim, naquilo que podia, sempre fui um escudeiro na sua defesa e no que pude, nunca deixei de fazer o bom combate a seu favor contra àqueles que tratam os pobres como indigentes, como deserdados da sorte e excluídos dessa sociedade imunda. Quando ia para as festas de gente metida à besta de Buíque, fazia questão de paramentar o "Neguinho" e levá-lo em minha companhia. Comigo não tinha esse negócio de exclusão social não senhor. Se eu podia ir, por que ele não?
    O que mais me apegou a "Neguinho Arnaldo", foi indiscutivelmente, a nossa ligação de amizade. Sempre o considerei como a um irmão. Nunca o discriminei, seja lá onde eu estivesse ou em que posição estevesse ocupando. Sempre o tratei a ele como a um igual, afinal qual a diferença entre pessoas feitas de carne e osso, hem? - Nenhuma, porque todos iremos no final de contas, para a mesma vala comum para ser digeridos por imundos vermes a nos corroer, esse sim, é o final de todos nós. Então nunca tive essa diferença em tratamento diferenciado com o "Neguinho Arnaldo", afinal de contas, ele não difere em nada de mim nem de qualquer metido à besta. Quando estudava o Curso Científico (hoje ensino médio), na Escola Carlos Rios em Arcoverde, ainda na década de 70, eu viajava com outros colegas com quem dividíamos as despesas de gasolina, saia por volta de cinco para cinco e meia, pois a viagem demorava mais de hora e, se estivesse em época de inverno, esse tempo poderia chegar pra lá de duas horas de viagem, pela precariedade da estrada de piçarra, mesmo assim, como um cão de guarda, o "Neguinho Arnaldo" ficava me esperando até que eu voltasse da escola, que geralmente era em torno de onze para meia-noite, mesmo assim, o velho amigo, não me deixava na mãe. Tinha um cuidado dos diachos para comigo. Esse sim, é o que se poderia dizer, como ainda o digo, um amigo de fé, pela sua lealdade e fidelidade. Dormíamos em alguns cômodos do próprio bar, para no outro dia, às cinco horas da manhã em ponto, o abrirmos para servir o café da manhã ao pessoal que vinha dos sítios de Buíque, para irem receber os seus aposentos em Arcoverde, pois em nossa cidade, ainda não se prestava esse tipo de serviço, daí o périplo diário de se viajar até Arcoverde para receber míseros trocados a título de aposentadoria ou para resolver algum problema de outra origem.
     Depois que Miltinho adquiriu uma "gangorra" em Arcoverde, acho que em meados da década de 70, o "Neguinho Arnaldo" continuou ainda no bar, com o meu irmão mais novo, Milvernes Modesto, mas como o prédio foi vendido para que Miltinho pudesse ampliar o seu negócio em Arcoverde, o "Neguinho" ainda ficou por um tempo com ele, época em que eu já trabalhava no Bandepe, como bancário. Algum tempo depois, o "Neguinho" saiu de Miltinho para ir trabalhar com Zé Maria de Davi, agora na Zona Rural, cuidando de um terreno de propriedade deste último. Trabalhou com Zé Maria um certo tempo e, depois que veio a sair, como reconhecimento pelo tempo de trabalho, foi indenizado com o pedaço de terra onde vive até hoje, mas da felicidade de antes, apenas amargura, dor e sofrimento sobraram para a vida sofrida do "Neguinho", que perdeu até mesmo a sua amada, que pelo visto, não mais lhe quer de jeito nenhum, depois de ter três mulheres em sua vida e treze filhos, na sofreguidão vive só, somente só. Hoje na sua solidão, vive a sua vida a se lamuriar e se enebriar etilicamente até cair. Não é uma fase boa de sua vida, acredito, mas é o que ele escolheu para ele mesmo. Quando me encontra me abraça, chora e sempre lembra dos nossos bons e velhos tempos. Houve uma época, ainda na década de setenta, que o meu irmão Miltinho, primeiramente, tinha adquirido uma velha Rural, veículo esse que comecei a viajar para Arcoverde juntamente com os colegas para estudar no Carlos Rios, depois comprou um fusquinha e, por último, um Corcel 72 amarelinho. Vez por outra, saímos para tomar umas talagadas ao som de Roberto Carlos, ouvindo "Quero que Vá Tudo Pro Inferno", "Por isso Sofro Demais", "Rosa", "A Candinha" e muitas outras de cantores da época, a exemplo de Waldick Soriano, Fernando Mendes, Odair José, Zé Ribeiro, entre outros, que eram o topo de linha de sucesso das músicas mais tocadas no Bar Arizona. Enchíamos a cara, nada mais que isso, para, depois, irmos dormir depois de um domingo de farras. Foi esse tipo de relação e de ligação que tive com o Neguinho Arnaldo, por isso mesmo, o considero um irmão de fé e camarada. Isso porque, era uma pessoa de confiança, apesar de pobre, discriminado por uns, excluído por outros, mesmo assim, Miltinho e eu dava a ele o poder de comandar o Bar Arizona, como se fora um gerente e nessa condição, nunca tirou um centavo sequer ou de que tenha sumido alguma mercadoria. Por isso mesmo, é que um homem desses é sim, uma pessoa muito melhor do que muitas que estão por aí querendo ser o que não são. Esse sim, se pode dizer um ser humano de verdade. Uma das coisas que nunca saiu de minha mente, foi quando por questões políticas, quando Anibal Cursino era prefeito e o Capitão Bezerra, delegado de polícia, como éramos oposição, por alguma razão tola, prenderam Neguinho e Milvernes e os colocaram numa cela, os deixaram somente de cuecas, além de terem jogado sal e água no chão frio, para que não pudessem sentarem, dormirem, mas sim, andando e sentindo o sal da terra pela água fria a molhar os seus pés. Isso me revoltou, a ponto de criticar veementemente os políticos da ocasião e a atitude do delegado de polícia que na realidade não passava de um pau mandado do prefeito da época. Mesmo assim, só ficaram uma noite, mas até hoje para eles, foi uma noite que jamais saiu de suas memórias pela tortura que sofreram. O danado é que quem efetuou as prisões e fez essa barbárie, foi um policial amigo meu que nasceu na minha vizinhança e cresceu brincando e pescando na barragem comigo. Esse é o tipo de consideração que não quero ter. Amigo de verdade não precisa ser rico, mas sim, ter honradez, dignidade na conduta de vida, honestidade e consideração pelas pessoas, mesmo que seja negro, pobre, maltratado pela vida e excluído da sociedade. Amigos de verdade são para sempre. Essa é a minha homenagem que faço de coração para o meu "irmão camarada" NEGUINHO ARNALDO.

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