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BUÍQUE, NORDESTE/PERNAMBUCO, Brazil
A VERDADE SEMPRE FOI UMA CONSTANTE EM MINHA VIDA.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

QUANDO SE ABATE UM ANIMAL, PARA CONSUMO HUMANO ATRAVÉS DE MEIOS DESUMANOS E CRUÉIS, QUEM É O MAIS ANIMAL IRRACIONAL DOS DOIS?


   Nasci em um sítio, na zona rural de Buíque, apelidado de Cigano, não sei se esse nome foi dado porque naquelas brenhas em que minha família morava àquela época, era caminho preferido dos nômades povo cigano, ou por alguma outra razão, que não vem ao caso nesta ocasião, mas não sei como explicar. Aos 6 para os 8 anos de idade, por insistência de minha mãe, eu e minha família, para que pudéssemos estudar e aprender pelo menos, a escrever uma carta, fomos morar na cidade, isso lá por volta de final da década de 50, acho que foi isso, também não gravei bem essa mudança, só lembro que à finalidade era a de nos alfabetizar, aprender a Cartilha do ABC. A cidade não tinha o formato arquitetônico atual, que continua aleijado, como bem já a tinha descrito em seu livro Infância, o intelectual e famoso escritor de Quebrangulo das Alagoas, Graciliano Ramos, que aqui residiu entre 1892 a 1898, e foi aqui em nossa terra, que aprendeu as primeiras letras, em que, mesmo nessa tenra idade, com mente fotográfica gravou a cidade de Buíque daquele tempo, descrevendo-a em seu livro com propriedade, como se a cidade se "parecesse com um corpo aleijado", o que é bem verdade, se fora olhada de alguma de suas partes mais altas. Mas voltando alguns anos no tempo, mas me ficando na década de final de 50 para início da de 60, nossa cidade, se limitava praticamente ao seu principal centro, compostas bor várias "bodegas", as menores e, mercearias, as maiores, mas mesmo assim, o que hoje se alargou no entorno da cidade, em sua volta como se fora um círculo de construções irregulares, o que antes era um aleijão, o que se pode dizer hoje, é que se antes já era uma feiura nossa cidade, desse aleijão, com esse crescimento desordenado e com falta de controle e planejamento de ocupação do solo urbano, veio esta a se transformou num monstrengo ainda maia aleijado do que antes. O que antes aram sítios em volta da cidade e até mesmo chegando em suas limitações na década de 60, cresceu desordenadamente em direção do centro para as redondezas periféricas, em todos os seus quadrantes, por isso mesmo, de sua aparência que não respeitou uma ocupação planejada, tampouco, os valores artísticos, culturais e patrimoniais, que demonstra justamente a história de nossa gente e seu passado, talvez o reste hoje se limitam apenas a cinco construções antigas e ninguém sabe até aonde à ganância vai permitir. Até mesmo a casa onde o grande escritor Graciliano Ramos morou, foi transformado numa casa comercial, mesmo com uma lei rabiscada por mim e aprovada pelo Legislativo Municipal, tombando-a como patrimônio artístico e cultural a ser preservada, mas como aqui, os limites de aceitação entre o certo e oque é errado, está nas tendências políticas de determinados segmentos, daí então, a casa que deveria ser preservada como um tesouro histórico, artístico e patrimonial, virou simplesmente mais um ponto comercial. É realmente uma visão cultural cega de nosso povo, que não está nem aí para determinados valores, que devem ser preservados, a exemplo de Pesqueira, que ainda hoje preserva através de lei, todas as suas construções antigas.
    A questão dessa ligeira explanação saudosista de parte de meu passado vivido, não se limita ao que realmente presenciava aqui mesmo em nossa cidade, quando do Sítio Cigano, passamos, eu e meus demais familiares, a morar na cidade. Moramos em três ou quatro casebres simples e pobres na periferia da cidade, que na verdade, era o mesmo que morar no centro, mas neste, moravam mesmo, os barões, coronéis e famílias mais abastadas daqueles idos de 50 para 60, até 64 quando fomos para São Paulo e lá vivemos um intervalo de vida de 8 anos. Só sei que, nessa passagem da zona rural para à cidade, passei a estudar, meus irmãos também e, morando na rua, como era costume no dizer dos matutos que vinham dos sítios morar na cidade, nos dias de matanças, costuma ir olhar, naquela tenra idade, sem entender muito bem o porquê, as matanças de animais em todas às sextas-feiras, com exceção da Sexta da Paixão, que era considerado na época, o maior dia santificado, que ocorriam no Matadouro que se localizava vizinho à Escola Nossa Senhora de Fátima e, naquele tempo, mesmo entupido de lixo, ainda existia o Açude da Penha, que ficava ali nas proximidades onde hoje está funcionando o Banco do Brasil. O problema não era só olhar à matança, mas mesmo sem ter o devido discernimento do daquele porquê, ainda assim, ficava fitado, com os olhos estatalados, coração acelerado, quando se chegava a vez de se desferir brutalmente cada machada, que se dava na cabeça de cada animal, quer fossem bois, vacas, porcos e bodes ou cabras, estavam ali com as horas ou minutos contados. Era de uma crueldade sem limites. Os coitados, entravam naquele lúgubre lugar de sangue e morte, sem saber para qual finalidade, alguns até, esperneavam, lutavam contra as cordas presas aos seus pescoços ou chifres, como se soubessem que iam de fato ter os seus momentos finais. Era doloroso ver cada um dos animais sendo sequencialmente mortos com fortes machadadas, que eram desferidas uma ou mais vezes, quando o animal esperneava, como se não quisesse morrer, aí então, ao invés de desferir com o dorso do machado, se desferia um ou mais golpes com a própria lâmina no cabelouro do animal que fica na nuca do bicho, próximo dos chifres e, logo depois, com uma faca de umas doze polegas, se desferia mais um golpe cruel na parte do coração do animal, que jorrava sangue para todos os lados, até que viesse alguém com um bacio sujo para a coleta do sangue. Isso era praticadamente uma modalidade de matança utilizada com todos os animais. Era doloroso ver aquilo, mas não sei por qual razão, com outros coleguinhas da época, gostava de toda sexta-feira à tarde, hora da matança, ver o cair no chão, de forma cruel, desumana e violenta, a morte de cada animal, para no outro dia, no Açougue Público, nos ser vendida a carne de cada um de tais animais mortos no dia anterior, para nos servir de alimento, na chamada cadeira alimentar. Além dessa crueldade, a falta de higiene era zero! - Não existia. Na hora da morte, muitos animais defecavam na dor indescritível que ia chegando para cada um que vinha a ser abatido e, mesmo em cima de toda sujeira, ali mesmo, eram tirados as couraças de cada um deles, as vísceras, que lavadas de forma grotesca, eram também negociadas no dia de feira, que era, como ainda o é, todos os dias de sábados. Hoje a matança no Matadouro Público de Buíque, não difere muito daqueles idos não senhor! - É a mesma coisa, os mesmos métodos de requintes de crueldade e violência, só sei que, daqueles tempos para cá, nunca mais fui ver nenhuma matança de animal e, se dessas cenas que de perto presenciei, se humanamente pensasse, não deglutia alimentação de origem animal, por que minha gente, é de doer o coração de qualquer ser humano que tenha um mínimo de sentimento. E esse tipo de morte de animais da época medieval, é fato notório não só em Buíque, mas praticamente em todos eles, com exceção de alguns, que dizem realizar à matança, de forma humanizada, mas aí indago, será que para matar, existe humanização nisso? - Outro fator também, é a questão de falta de higiene, além da morte humanizada dos animais, se é que existe morte nesse sentido figurado, nos matadouros públicos mantidos por muitas cidades, além daqueles que são mortos e comercializados clandestinamente. É um verdadeiro e abominável absurdo tudo isto que se presencia, dentro desta realidade em que vivemos. 
     Matar é um verbo, uma palavra muito forte, mesmo que seja um animal. Quer seja um ser humano, que para isso existem leis, mesmo assim, quem tem o dom insano e voltado para matar seu semelhante, não tem a menor sensibilidade quando tira à vida de mais um ser, quiçá, de um pobre animal irracional que sequer sabe como se defender. De outros animais eles até que se defendem, porque é próprio de cada um deles em seus habitats naturais o dom do instinto de cada espécie em se defender, mesmo assim, uns se alimentam uns dos outros, em obediência ao princípio de sobrevivência e da chamada cadeia alimentar, existindo também, os herbívoros que se alimentam da flora. Para os irracionais, tudo bem, o que necessariamente, não pode se coadunar com o nosso poder de sabedoria e de discernimento, sobre o que é certo e o que é errado. Não estou aqui nesta minha narrativa, criticando quem quer que seja, pelo fato de em sua cadeia alimentar, ser carnívoro de carteirinha, pois quem é que não gosta de um bom filé mignon, de um bom churrasco preparado com uma boa carne bovina, tipo picanha, patinho, etc e, suína, de bode ou de outro animal qualquer, a depender da região onde fica situado os seus costumes e hábitos alimentares, hem? - A maioria carnívora, com certeza, se esbalda com tais delícias em um bom restaurante qualquer, ou em sua churrasqueira particular. Mas se quem presenciar uma matança de animais como as que já presenciei na minha infância, com toda certeza não terá coragem, se bem pensar, de deglutir esse tipo de alimento carnívoro de nossa cadeia alimentar. Existem também modalidades desportivas com animais, praticadas por gente da Idade da Pedra, que está mais para uma loucura, que de um costume cultural e, por isso mesmo, não há como se admitir tais práticas como ato de cultura de um povo, mas sim, da própria brutalidade humana. Pude ver nesses últimos dias, um vídeo postado na internet, em que numa arena da Espanha, após àquela palhaçada de vais-e-vens entre touro e toureiro, após se encontrar o pobre animal cravado por lanças, o toureiro assim como de repente, ao se sentir mal, cansado, se senta no local próximo da murada dos limites desse repugnante espetáculo, e o touro, mesmo cravado por lanças em seu lombo, rugindo de dor, chega próximo ao mesmo e passa a olhá-lo, como que sentido dó do pobre moribundo que antes estava a lhe cravar de lanças, buscando aos poucos, matar o touro, mas não, ficou este somente fitando o seu matador, sem a menor reação, como ali, se estivesse invertido os papéis, em que o irracional se transmudou em humano e, o humano, em irracional. A cena me emocionou, pela lição que o animal irracional deu ao homem, isso porque se o touro quisesse, naquele exato momento em que o toureiro se sentiu mal, o teria matado ferozmente de chifradas, àquele que antes, cruelmente, haveria de ser o seu matador. Então a pergunta que indago é a seguinte: nessas situações, tanto da matança de animais para suprir a nossa cadeia alimentar ou nessas práticas desportivas se utilizando de animais para manipulá-los cruelmente em espetáculos brutais e nada humanos, quem está sendo o racional e o irracional, hem minha gente?

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