PASSANDO A
LIMPO – ENTREVISTA COM MANOEL MODESTO
BLÉSMAN MODESTO POR MANOEL MODESTO
SÉRIE BLOG DE
ENTREVISTAS
Como
não poderia deixar de ser, nosso entrevistado de hoje, é o Secretário de
Cultura e Turismo de Buíque, o “jovem” BLÉSMAN MODESTO DE ALBUQUERQUE (BM), que
foi o principal pioneiro da educação buiquense, em que, questionado por este
entrevistador, em suas respostas, falou de sua vida, de como se iniciou na
política, das perseguições sofridas por conta das intrigas políticas locais, de
seus feitos em seus três mandatos como primeiro mandatário deste município e de
como vem buscando fazer na condição de Secretário de Cultura Municipal, de seus
planos para tentar reanimar a nossa cultura adormecida e de que, continua na
vida pública como cidadão comum, mas que, não pretende mais se candidatar a
mandato eletivo algum em sua vida, apesar de sua pretensão de continuar
servindo de alguma forma, a seu povo buiquense do qual nunca se afastou. Fala
também de que, foram nesses três momentos em que governou Buíque, que para cá
vieram grandes conquistas, como a energia elétrica de Paulo Afonso, o
asfaltamento da PE-270 e o abastecimento de água com a construção da Barragem
do Mulungu, que muitos benefícios trouxeram para o nosso povo. Então minha
gente, vamos às respostas que o nosso “jovem” nos deu nesta SÉRIE DO BLOG
ENTREVISTA COM MANOEL MODESTO, para que a nossa história permaneça e nossa
cultura venha a ser reanimada e chacoalhada. Vamos então, ao que disse o nosso
entrevistado, cuja publicação acontece todas às quintas-feiras, consoante já se
tornou de costume:
P – MM – Quando foi que você se
iniciou ou teve a ideia de se tornar político em sua terra?
R – BM – Eu tive a ideia de ser político, quando tinha dez anos de
idade. Estudava no Grupo Escolar Duque de Caxias, em frente ao Mercado Público
(àquele que sumiram do mapa de nossa história), o ano era de 1949, e sempre na
hora do recreio, em palestra com as professoras Dolores Padilha e Maria Amélia
Arcoverde, revelava que o meu grande sonho era ser prefeito de Buíque, antes de
me casar e de me formar.
P – MM – Esse sonho de infância
veio a se realizar em que época?
R
– BM – No dia 18.08.1963, quando fui eleito
prefeito do Município, tendo como vice, o comerciante Félix de França Galvão. A
posse aconteceu no dia 09 de novembro do mesmo ano e eu tinha à época, apenas
24 anos de idade.
P – MM – Quais foram as suas
primeiras medidas adotadas por você logo que assumiu?
R – BM – Logo que assumi, as primeiras medidas que tomei foi pagar
uma dívida de 13 anos que o Município devia junto ao IPSEP. O alargamento da
Rua Manoel Borba (atual Cyrillo Henrique), com a desapropriação de 11 imóveis
que ficavam no meio da rua. A dívida do IPSEP, foi fruto do acúmulo do não
recolhimento ao referido Instituto Previdenciário, da gestão dos 3 (três)
prefeitos anteriores, cujos servidores estavam prejudicados. Foram construídas
escolas. Foi revestida de piçarra a estrada de São Domingos, que era no barro,
com muita dificuldade de acesso, além de outras várias obras. Antes de ser
prefeito já tinha criado o primeiro curso ginasial de Buíque, no início de
1963, mas aos 19 anos de idade, já tinha assumido a titularidade do Cartório do
Registro Civil de Buíque. Logo ainda no início de meu primeiro governo, num
encontro em Arcoverde, com Dr. Miguel Arraes, que ficou admirado comigo, por
tão jovem e de já ser prefeito de um município, com tão pouca idade, aí,
dirigindo-se a mim, ele me perguntou o que eu queria para Buíque, e respondi
prontamente, que queria a energia elétrica de Paulo Afonso e cumprindo sua
promessa, a energia veio finalmente a ser inaugurada no início de 1964, tendo
marcado presença, o buiquense Dr. João Roma, que era Secretário de Justiça à
época.
P – MM – Em ligeiras palavras,
quanto tempo você ficou como prefeito pela primeira vez e por quais razões você
veio a deixar de ser prefeito?
R – BM – Permaneci de 1963 até um período de 3 anos e 4 meses. Na
época Paulo Guerra, Governador de Pernambuco, era muito meu amigo e, muito
jovem e bem-intencionado, não percebi a ganância de outros políticos, que
queriam o poder a qualquer custo e nesse período, Nilo Coelho, assumiu à
governança de nosso Estado. Padre Simões, líder político da Pedra, representando
o governador veio a esta cidade com a missão de pacificar os ânimos acirrados
e, foi proposta a renúncia de meu mandato e de meu vice, ficando o meu grupo
incumbido de indicar um interventor e, em compensação, eu que era então
recém-formado em Direito, seria nomeado Promotor Público (naquela época não
tinha concurso), o que jamais veio a acontecer. A renúncia só aconteceu mesmo,
porque meu pai, Zé Modesto, me convenceu, como a melhor saída pacificadora
daquela situação de insegurança e de atritos políticos acalorados. Na verdade,
foi tudo um golpe, pois nem indicamos o interventor, nem saiu minha nomeação de
Promotoria Pública. Eles me passaram à perna, me enganaram e o governador Nilo
Coelho não cumpriu com a sua palavra.
P – MM – E qual foi a razão de
você ficar impedido de concorrer a mandatos eletivos por cerca de uma década?
R – BM – Com o golpe militar de 1964, os próprios políticos que
lutaram pela minha renúncia, aproveitando que o Promotor da Comarca de Buíque,
fazia parte de uma Subcomissão Geral de Investigação, criada pela ditadura
militar, me denunciaram, vindo até a ser ameaçado de prisão, em face do golpe
que me armaram. Depois essa Subcomissão encaminhou um relatório para à Justiça
local e, esse processo só veio a ser julgado em 1974, tendo sido inocentado e
absolvido das infundadas acusações a mim imputadas. Depois disso, fui candidato
com a maior votação proporcional já dada a um prefeito de Buíque. Aqui ainda
não tinha sequer 4 mil eleitores e eu fui eleito com uma vantagem de 800 votos
de diferença de meu opositor.
P – MM – Nesse seu segundo
mandato, o que foi de mais importante em termos de realizações para Buíque?
R
– BM – Realizei várias obras e, as mais
marcantes foram: construção do Clube Municipal de Buíque; ampliação do Mercado
e do Açougue Públicos da cidade; construção do Matadouro Público na Vila de São
Domingos; construção e restauração de diversas escolas da rede municipal de
ensino; construção de várias barragens e perfurações de poços artesianos;
implantação do primeiro transporte escolar no Brasil, porque na ocasião ninguém
ouvia falar nesse tipo de benefício para o estudante que morava em regiões
longínquas da cidade ou da escola. Implantação do salário mínimo do servidor
público municipal; implantação do FUNDEF e construção de Postos de Saúde nos
Distritos, Povoados e Zona Rural do Município. Também foram construídas
diversas passagens molhadas; conquista do abastecimento de água com a
construção da Barragem do Mulungu e construção do asfaltamento da PE-270 e do
sinal de televisão, entre outros tantos benefícios para a nossa população,
entre os quais, tratores de esteira e tratores com implementos agrícolas para servir
à agricultura. A frota de veículos em geral, era superior à 40 unidades e em
todos os distritos tinham ambulâncias disponibilizadas para servir ao povo.
Esse meu segundo mandato foi até 31.01.1983, quanto assumiu Zé Camêlo, em que
venceu o meu candidato, João de Godoy Neiva.
P – MM – Depois que você foi
eleito prefeito e feito boas administrações nas duas primeiras vezes, por qual
razão veio a ficar fora do poder por um período de 14 anos, só vindo a romper
esse tabu, em 1996, quando foi eleito pela terceira vez?
R – BM – Meu jovem, depois desse segundo mandato,
tentei voltar ao poder, não conseguindo por conta da esdrúxula interferência de
uma autoridade do judiciário, em que só ganhava mesmo quem ela queria,
mancomunado com políticos meus adversários, com alguma moeda de troca. Em 1996,
derrotei Arquimedes Valença, mas foi uma grande luta, mas venci e cheguei
finalmente a vir a ser prefeito de meu Município pela terceira vez. Quer dizer,
nesses três mandatos, governei minha terra por 13 anos e 4 meses e, minha meta
maior e da qual tenho muito orgulho, foi a de ter abraçado a bandeira da
educação de Buíque, dando o seu primeiro impulso, o marco principal de nosso
desenvolvimento. Nesse terceiro mandato, quando assumi, existiam 6.200 alunos
na rede municipal de ensino e, ao sair do poder, deixei com 13 mil alunos. Quer
dizer, um impulso percentual de mais de 100%. Também nas épocas em que fui
gestor, o professor foi bastante valorizado e a merenda escolar era de boa
qualidade.
P – MM – O nome “Blésman”, é
uma junção de “bles”, do alemão e “man”, do inglês, que significa “homem
abençoado”, né isso! – Essas confusões que ocorreram em Buíque em que você era
apontado como responsável e sempre conseguiu se livrar incólume de todas elas,
será que tudo isso faz jus ao nome, você é realmente um “homem abençoado”?
R
– BM – Certamente que faz,
meu jovem! - Em toda minha vida, sempre primei pela concórdia, pela
tranquilidade, pelo bom relacionamento e pela paz com todas as pessoas.
Infelizmente na política surgem inimigos gratuitos, ambiciosos que procuram a
qualquer custo atingir a moral, a dignidade e a retidão de homens de bem,
sérios e honestos. Por isso fui alvo de muitas vinditas pessoais, de muitas
críticas, muitas ameaças, até mesmo de morte, por parte de meus adversários,
que visavam tão-somente o poder e nada melhor do que atingir um homem abençoado
por Deus que sempre fui.
P – MM – Você quando em 2008,
foi candidato pelo PT e teve àquela votação vexatória e frustrante, se sentiu
magoado, menosprezado pelo seu povo a quem tanto serviu e ajudou?
R – BM – Não senti mágoa nenhuma, tampouco
frustração. Acredito que o povo não mais me queria no poder. Cada eleição é uma
história e daquela vez a história não me queria como protagonista. Da política
ainda participo como cidadão, mas acho que meu tempo de concorrer a qualquer
mandato eletivo, já se foi. Não dá mais. Nesta vida, a gente tem tempo pra
tudo, né mesmo meu jovem!
P – MM – Como Secretário de
Cultura deste Município, você tem encontrado o apoio necessário para
incrementar a nossa rica cultura buiquense? – Que mensagem você daria aos
nossos jovens?
R – BM – A cultura representa a história de cada um
dentro da sociedade e deveria ser mais valorizada. Li dias atrás no Jornal
Diário de Pernambuco, uma crítica de que nas entrevistas concedidas pelos
candidatos à presidência e ao governo do Estado, até o momento não se tocou
qual o plano de governo referente à cultura. Realmente ninguém fez qualquer
referência à cultura e isso representa um descaso e desprezo à cultura do
Brasil inteiro. E em Buíque a gente se depara com a mesma dificuldade, mas
naquilo que se pode fazer, a gente está procurando se movimentar para acordar a
nossa cultura adormecida. Ano passado realizamos a II Conferência Municipal da
Cultura, objetivando regulamentar através de uma legislação municipal
apropriada, os fundos Municipais de Cultura e de Turismo, visando o aporte de
recursos financeiros destinados a tais finalidades. Está sendo realizada a
Semana da Arte, Cultura e Cidadania, bem como da 8ª Primavera dos Museus,
durante toda esta semana, com o apoio da Prefeitura Municipal, necessitando do
apoio também das escolas e do povo em geral, para sentir de perto o valor da
cultura na vida de cada um de nós, porque cultura é arte, é vida, que retrata a
nossa história. Por isso mesmo, quero convidar a todos para participar desta
semana de Arte e Cultura, bem como, para fazer uma visita ao Museu Municipal,
que estará aberto nos três expedientes até à noite do dia 28 de setembro.
Finalmente gostaria de fazer um apelo aos gestores das escolas públicas e
particulares, no sentido de agendar uma visita ao Museu, aproventando o ensejo
da 8ª Primavera dos Museus, como já foi dito antes. A minha mensagem que mando
aos jovens, é a de que, se esforcem, estudem bastante, lutem, não desistam
nunca, que cada um de vocês, será capaz de partindo da luta sem tréguas, vir a
realizar os seus sonhos de vida, como eu realizei os meus. Na verdade, nunca se
deve desistir da luta, porque todo mundo é capaz de vencer na vida. Que também
aproveitar à oportunidade para agradecer ao meu “jovem” Manoel Modesto, por ter
aberto esse espaço em seu Blog, para que pudesse vir a falar de minha vida,
minha história e de meus planos do presente e do futuro. Obrigado meu jovem!
É isso aí pessoal! - Com esse serviço que
este Blog vem prestando à nossa gente e também à região, a prova é a de que
estamos no caminho certo naquilo a que nos propusemos, a de ter um meio de
comunicação moderno, informativo, cultural, filosofal, poético, que vem buscando
mostrar pontos de vista coerentes, concisos, críticos no bom sentido, e de
outra forma, através de cada uma destas entrevistas publicadas às quintas-feiras,
o objetivo maior, é o de mostrar a riqueza de nossos valores, de nossa cultura,
entrevistando pessoas que de certa forma contribuíram, que contribuem ou querem
contribuir de alguma forma, para o nosso desenvolvimento cultural, pois somente
assim, seremos capazes de nos libertar de vez das amarras do aprisionamento
feudal, de quem se imagina ser o dono do mundo. A entrevista de hoje foi
importante, porque mostrou o lado da história viva de um cidadão buiquense, de
um homem e de sua importância para a nossa gente, a nossa terra e de que, se
ele não tivesse existido, Buíque certamente não seria o que realmente é hoje,
pois teve ele grande participação no nosso desenvolvimento e formou muitas
mentes para viver e sobreviver com as suas próprias pernas. Quinta-feira
próxima tem mais. Até lá, minha gente e um forte abraço a todos e todas, deste
advogado e blogueiro, Manoel Modesto.
Um comentário:
Esta edição concerteza será uma das melhores que este blog já teve, pois o conhecimento que Blésman tem pra oferecer é gratuito e merece ter nossa atenção, é sempre bom ouvi-lo e poder imaginar o Buíque de outrora, das verdadeiras coisas boas que o tempo não trará mais. Mais uma vez parabéns pelo espaço dedicado ao conhecimento e ao povo desta cidade.
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