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quarta-feira, 8 de outubro de 2014

O NOSSO ENTREVISTADO SURPRESA DE HOJE, É O NOSSO QUERIDO AMIGO, PAULO TARCISO (PAULINHO DO FÓRUM), QUE FALA DE SUA VIDA, DE SUA ARTE, A LITERATURA DE CORDEL E DAS DIFICULDADES ENCONTRADAS PARA PUBLICAÇÃO DE SEU PRIMEIRO LIVRO. LEIA E CONFIRA A ENTREVISTA DE NOSSO ENFOCADO DESTA QUINTA-FEIRA.

PASSANDO a LIMPO – ENTREVISTA COM MANOEL MODESTO

SÉRIE BLOG DE ENTREVISTAS



PAULO TARCISO POR MANOEL MODESTO

Nossa entrevista da SÉRIE O BLOG ENTREVISTA COM MANOEL MODESTO, vai focar nosso grande cordelista, poeta e escritor, PAULO TARCISO FREIRE DE ALMEIDA (PT), que é serventuário da Justiça, porém um grande ícone da cultura de nossa terra e que como tantos outros valores, vem despontado por desforço próprio, a exemplo de outras pessoas ligadas à nossa cultura, ao mesmo tempo em que, vem lutando para que o nosso Buíque, venha realmente a ser reconhecido como um celeiro cultural de nossa região, apesar de muitos que estão nesse campo de luta, não ter o devido reconhecimento e aonde pouca coisa tem sido feita por parte tanto dos poderes públicos, quanto da iniciativa privada, portanto, com essa colher de chá de nosso importante cordelista, segmento cultural no qual nosso entrevistado de hoje mais tem se sobressaído e se identificado, ele nos veio falar de sua vida, suas experiência e do que espera de nossa cultura, na condição de também ser um dos protagonistas desse movimento cultural buiquense, que aos poucos vem eclodindo e com certeza, cada um, na medida do possível vai expondo os seus valores e a nossa meta, é a de que isso venha a ser uma realidade para que possamos ter um povo livre, liberto e dotado de cultura e de conhecimentos. Vamos então conferir o que disse o nosso entrevistado de hoje, de nosso BLOG ENTREVISTA – PASSANDO A LIMPO:

P - MM– Gostaria que o nobre amigo, em ligeiras pinceladas, falasse um pouco de sua vida, de sua infância e de seus sonhos e de como foi esse despertar para abraçar essa veia literária?
R – PT – Primeiramente sou buiquense barriga-preta legítima e tenho orgulho disso. A minha infância foi um tanto dura. Penei muito. Estudei no Colégio das Freiras (São Félix de Cantalice), o primário. Da 5ª ao Segundo Grau, foi na Escola Vigário João Ignácio, que na época, a diretora era Dona Lenira Cursino de Freitas, irmã do nosso querido Xéu. Na questão de trabalho, fui engraxate, carreguei água, vendi cocada e picolé na rua...(risos). “É camarada, nessa parte, tem afinidade em parte, com o que passei também na minha infância”. Depois trabalhei vendendo sapatos, no Mercado Santo Antônio, em Luis Nilson (Mercadinho Moderna) e daí, fui trabalhar no Cartório de Imóveis de Buíque (pertencente a Xéu). Depois fui trabalhar no Fórum da nossa Justiça, onde permaneço até os dias atuais. Antigamente na feira de Buíque, tinha movimentos de cultura popular de violeiros, repentistas, emboladores, sanfoneiros, zabumbeiros e até mesmo o pedinte de esmolas tinha um viola para tocar. Tinha em especial um cego que tocava viola na calçada do Sindicato de seu Austriclínio, e isso veio a despertar o meu interesse pela poesia popular (cordel). Nessa época tinha na faixa de 8 a 10 anos de idade e passei a escrever mesmo a literatura de cordel, ainda como estudante de segundo grau, aonde grande parte de meus trabalhos era baseado na literatura de cordel.

P - MMPor qual razão o nobre amigo, em tantas vertentes literárias, escolheu a Literatura de Cordel como o seu carro principal de se expressar para o mundo no que você imagina e pensa?
R – PT – Primeiramente pela facilidade na criação e, segundo pela liberdade de se expressar no manusear das letras, que não exige uma regra rígida da expressão da língua portuguesa. No cordel você tem a maior liberdade de expressão possível, podendo usar do que de mais popular existe em termos de letras e também, de uma linguagem erudita, em que fiz um cordel especialmente contando a história de Maquiavel, do livro o Príncipe, que o transformei em linguagem popular. Inclusive tirei um 10 na cadeira de Ciência Política na Faculdade de Direito de Caruaru, chegando inclusive a ser matéria veiculada pela TV Asa Branca de Caruaru.

P - MM– Como cordelista você já publicou vários cordéis, que é uma espécie de corrente literária popular e praticamente artesanal. Você sempre bancou os seus trabalhos ou já obteve alguma ajuda, alguma espécie de patrocínio?
R – PT – Minha obra literária de cordel, em torno de 70% foi bancada por mim mesmo, sem ajuda de ninguém. Alguns ainda ajudaram, mas a maioria é omissa na questão de ajuda, quando se trata de cultura de nosso povo.

P – MM – Com sua aura de cordelista, você já se apresentou em vários lugares. Quais foram esses lugares e se foi bem acolhido onde fez suas apresentações?
R – PT -.Já me apresentei em Buíque em todas as escolas da rede municipal e estadual, na sede, nas vilas e nos Distritos de Catimbau, São Domingos e Carneiro. Fora de Buíque, me apresentei em Pedra, Venturosa, Arcoverde, Caruaru, no Tribunal de Justiça, em Recife e por último, em Lagoa dos Gatos. Sempre fui bem acolhido, porque minha apresentação além do cordel, é seguida de acompanhamento musical característico de nossa região. Na realidade é um verdadeiro show de cultura popular.

P – MM – A exemplo de mim próprio (entrevistador), você também já veio a publicar o seu primeiro livro. Quais foram as principais dificuldades encontradas para que esse seu sonho viesse a se tornar realidade? – Você obteve ajuda de alguém, dos poderes públicos ou você mesmo bancou o seu trabalho?
R – PT -.Eu banquei 100% de meu trabalho (primeiro livro). Não tive ajuda de ninguém. (risos)...”camarada, disso também tenho conhecimento, pois já penei muito”. Procurei o Executivo, o Legislativo, a Associação Comercial de Buíque, alguns comerciantes e todos eles me bateram à porta na cara. No dia do lançamento, ainda tiveram algumas pessoas que ajudaram, comprando mais de um livro, mas ajuda mesma para à publicação, não obtive de ninguém. Tive até que obter um empréstimo bancário, a ser pago em 60 parcelas que ainda estou pagando, para não ficar muito caro. A primeira tiragem foi de 500 exemplares, destes cheguei a vender uma parte, outra doei e ainda tenho um saldo de cerca de 52 exemplares. Doei para quase todas as escolas da sede de nosso município e para a biblioteca, que depois fui procurar saber, pelo visto tomou chá de sumiço. Aí, para não a nossa biblioteca não ficar sem minha primeira obra literária, cheguei a doar mais dois. (risos).... “camarada, eu também doei à biblioteca dez livros de meu segundo lançado, mas também pelo visto, tiveram o mesmo destino”. Que biblioteca é essa que não guarda bem o seu acervo literário? – Nossa biblioteca precisa se organizar mais, deveria ter pelo menos dois bibliotecários para organizar o acervo literário por assunto, por autor, por tema e por ordem alfabética rigorosa e ter um fichário próprio de tombamento dos livros.

P – MM Sabemos, tanto eu quanto você, que nossa terra tem um potencial cultural adormecido e pouco tem sido feito nesse setor. O que você acha que poderíamos fazer para movimentar e despertar essa veia cultural de nosso Município?
R – PT – Primeiramente reunir esse pessoal que gosta de cultura, juntar num caco só, discutir, independentemente dos poderes constituídos ou não e a partir daí, se pensar conjuntamente e buscar um campo de ação, ouvindo a opinião de cada parte interessada em vivificar a nossa cultura. A gente, a exemplo de você mesmo, entre movimentos do Grupo de Leitores Cyl Gallindo, do Matutano Reggae, dentre outros, já vem fazendo isso, sem o apoio de ninguém. Resta porém, a gente se organizar mais, num conjunto e buscar novos horizontes para despertar essa cultura adormecida.

P – MM – Como é de seu conhecimento, eu mesmo já venho nessa luta há muito tempo. Já publiquei três livros sem a ajuda de ninguém. O que você acha, já que também está inserido nesse mesmo contexto, que poderemos fazer para mudar a mentalidade de nossa gente?
R – PT A questão do fator cultura é um tanto quanto complicada. Colocar na cabeça do povo de que precisamos melhorar e valorar o nível de nossa cultura, é uma batalha árdua, porém não impossível. O que temos que fazer, é insistir sempre, como a gente vem fazendo, eu, você, entre outros, para tentar mobilizar e sensibilizar as pessoas de que, quem tem cultura, adquire conhecimento e quem tem este, é uma forma, uma brecha para se libertar do aprisionamento, das amarras, em que grande parte de nossa gente vive. Então a gente nesse mister, não pode desistir, de também insistir, de nosso Buíque, no sentido de despertar os nossos valores culturais que são importantes e variados. Por isso mesmo, é que devemos criar um projeto cultural para não desistir de Buíque.

P – MM – Nossa gente é muito carente de mais conscientização, de mais leitura, de se voltar mais para movimentos culturais, disso somos testemunhas. Você acha que poderemos fazer um movimento libertador para despertar nosso povo para se voltar mais para os nossos valores culturais?

R – PTAcredito que sim e é através desses movimentos que vai despertar nos outros, a verve de também se inserir nesse contexto de valoração de nossa cultura, de nossas artes e de nossos valores. Isso porque nós somos seres influenciadores e também, influenciados. Quem nos ver fazendo alguma coisa, quer com certeza vai querer nos imitar, valendo o mesmo, para nós também. Quer dizer, sempre haverá uma troca de aprender e de conhecimentos.

P – MM – Como você sabe, ambos gostamos de política e de certa forma, estamos sempre envolvidos, direta ou indiretamente. Como é que você vê os rumos atuais de nossa política local, pernambucana e brasileira?
R – PT – Na política local, há carência de novas lideranças que venham a colocar em prática novas ideias renovadoras e revolucionárias, pois as próprias urnas mandaram um recado nestas últimas eleições. Na política estadual, houve sim uma renovação, se bem que, na onipresença de Eduardo Campos, morto tragicamente em acidente aéreo, pode ser que venha a inovar em alguns pontos cruciais de nossas carências em várias áreas que estão sucateadas, principalmente saúde, segurança pública, que apesar de melhoras pontuais, ainda há muito por se fazer e noutras questões que existe muito a ser feito, inclusive o Poder Judiciário que se encontra caótico. Em nosso Estado há um déficit de cera de 200 juízes, além de outros servidores, o que vem prejudicando sensivelmente à população do nosso Estado em questões jurisdicionais. Quanto à questão nacional, o que queria dizer era a questão de Marina Silva, que infelizmente ainda não deu certo dessa vez, pois no meu entender, era a única que representava de fato a mudança da forma de conduzir nossa Nação, se bem que estruturalmente, não poder-se-ia mudar muita coisa, em face da conjuntura internacional. No segundo turno, pelo menos eu, vou votar em Aécio, embora não seja a renovação que desejaria, mas como não tenho opção, não sou de compactuar com o Brasil dessa esculhambação petista, como não sou de desperdiçar meu voto, vou votar na pessoa de Aécio Neves, não propriamente nas ideias de seu partido.

P – MM – Caro camarada, você, a exemplo de mim também, ambos estamos imbuídos nessa luta em movimentar a nossa cultura. Você acha que é possível a gente fazer um movimento para fervilhar e acordar os valores culturais que a gente tem, independentemente de quaisquer ajuda por parte dos poderes públicos e da iniciativa privada, e qual seria a mensagem que você deixaria para nossa gente e para os jovens buiquenses?
R – PT – Uma das maneiras, além do que já se vem fazendo, seria se cadastrar como produtor cultural na FUNDARPE/FUNCULTURA e elaborar projetos para ser analisados e aprovados por eles, para poder se disponibilizar de verbas. Esse cadastro pode ser feito como pessoa jurídica ou pessoa física. Quanto aos poderes públicos locais, ou da iniciativa privada, a gente não pode contar muito, pois parece que são omissos quando a questão é cultura, porque pelo visto, o conhecimento do povo trás liberdade e isso é coisa que muita gente do meio político não quer. Um dos eventos folclóricos de Buíque que acabou de vez, foi a tradicional Festa do Comércio de Final de Ano. Atualmente tudo isso acabou, só restam mesmo nas lembranças de quem viveu aqueles tempos. O recado que deixo para a nossa gente e, em especial para os jovens, é o de que, busquem sempre insistir nos seus ideais, em seus sonhos, que cada um terá a capacidade de um dia vir a realiza-los, pois sem luta, ficar quieto nada se faz e não se chaga a lugar nenhum. Isso inclusive é tema de um cordel que escrevi com o título “TUDO OU NADA”, demonstrando que na vida, a escolha é de cada um. Nós mesmos, eu, Dr. Manoel, somos exemplos dessa insistência, dessa inquietude de não esperar por ninguém. Quero agradecer pelo apoio de seu Blog, que me deu esta oportunidade de mostrar o meu trabalho, e dizer também que esse trabalho que você faz não é de hoje, mas desde o tempo que morava em Pesqueira, com a publicação de um jornalzinho “A VOZ DE BUÍQUE” e que nos dia atuais continua incluído na cultura de Buíque, através do Blog, de livros publicados, de colunista no Jornal de Arcoverde e fazendo palestras quando é convidado. Agradeço também pelo prefácio de o meu primeiro livro, “A JANELA DO SOBRADO”. Outra coisa, a primeira publicação de meu primeiro cordel, foi patrocinada por você, quando ainda também morava em Pesqueira, que viu meu trabalho, gostou e levou para a gráfica da Diocese de Pesqueira e mandou editar uma tiragem de 500 exemplares. Esse cordel era “O POBE NA INLEIÇÃO”, que era uma crítica à forma de condução das eleições com a compra de votos, de outros métodos reprováveis, dos quais nunca concordei. O homem, o cidadão, jamais deve desistir de andar quando está no meio do caminho.

         É isso aí, caros e diletos amigos leitores deste Blog, mais uma vez, trouxemos com mais uma entrevista de todas às quintas-feiras, em que o entrevistado, foi o nosso dileto amigo Paulo Tarciso, o “Paulinho do Fórum”, que nos presenteou com essa inteligente entrevista, em que demonstrou os seus pontos de vista com relação à cultura, as formas de melhorar e valorar os níveis culturais de nossa gente, falou de sua vida, de suas dificuldades frente à falta de motivação das instituições públicas, da iniciativa privada em questões de iniciativas culturais, além de ter opinado sobre política e de que, gosta de escrever literatura de cordel, porque é uma tradução mais facilitado do manejo das palavras, naquilo que a gente do povo fala e deseja transmitir da forma mais simples possível. Realmente foi uma grande entrevista, o que prova que a SÉRIE DO BLOG ENTREVISTA, COM MANOEL MODESTO, está no caminho certo para o fortalecimento de nossa cultura, de nossa terra e de nossa gente. Próxima quinta-feira tem mais uma entrevista inédita. Aguardem camaradas!

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