QUEM REALMENTE SOU

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BUÍQUE, NORDESTE/PERNAMBUCO, Brazil
A VERDADE SEMPRE FOI UMA CONSTANTE EM MINHA VIDA.

sábado, 25 de outubro de 2014

A MATÉRIA PUBLICADA NO BLOG DO MANOEL MODESTO, BUSCO TRATAR DE ALGUMAS FAGULHAS DO PASSADO DE MINHA VIDA, ONDE NA SELVA DE PEDRA, SÃO PAULO, SOFRI PRECONCEITO, TRABALHEI DE PEÃO COMO BURRO EMBARCADO, E FUI HOMENAGEADO NA ESCOLA QUE ESTUDEI E FIZ MEU PRIMEIRO DISCURSO EM PÚBLICO.

ALGUNS LEGEIROS FLASHS DE UM PASSADO DO FILME DE MINHA VIDA
Minhas únicas imagens de quando era ainda uma criança chegando à adolescência.


      Não é em poesia que vou escrever, mas sim, em prosa mesmo. Em vários escritos meus, sempre me reportei sobre a minha via-crúcis de minha estada no Estado de São Paulo e do que foi para mim e minha família, as dores do sofrimento enfrentadas naquela Selva de Pedra, mesmo sendo nos idos dos anos sessenta para um pouco mais dos setenta, a dureza enfrentada foi demasiadamente grande. Quando chegando naquele estranho lugar, fomos morar em Ribeirão Pires, onde já residia de há muito tempo, o irmão de minha Madrinha Alta, mãe de Blésman Modesto, naquela cidade paulistana. Primeiramente, tivera ido meu irmão mais velho, Miltinho, para, pouco tempo depois o restante da família, fazer o mesmo percurso tangidos que fomos para àquele lugar, por circunstâncias alheias à nossa vontade, que não quero aqui no momento esmiuçar, mas houve duas motivações principais, uma delas, foi justamente uma tentativa de homicídio sofrida por meu pai, logo no iniociozinho da década de sessenta, quando Blésman Modesto foi eleito prefeito de Buíque pela primeira vez e uma outra, como de todo nordestino, de questão econômica, diante das dificuldades e agruras enfrentadas quando das estiagens esporádicas e da seca causticante, resolvemos enfim, viajar para o estado de São Paulo. Logo no início, depois de ter saído de minha rústica escola de Buíque, que ficava no centro da nossa cidade, ao chegar em Ribeirão Pires, fui estudar numa escola municipal chamada de Dom José Gaspar, vizinha à Igreja Matriz daquela cidade, que para mim, tudo era uma estranha novidade. Ainda criança lá por volta dos meus tenros doze anos de idade, era o tipo de menino matuto, acanhando, vergonhoso, recolhido à minha insignificância de nordestino, porque o que se chama hoje de bullyng, naquela época também já existia e, para nós nordestinos, tinha o agravante, de sermos discriminados pelo preconceito, sendo chamados de baianos, cabeças chatas, o que nos entristecia e fazia-nos nos recolher a nossa própria insignificância, embora com o peito estufado de revolta, esse “buliço” só fazia com por dentro da gente crescesse e externasse nos estudos mais raça do que os próprios paulistanos. Foi esse um primeiro release de minha vida infantil, só para ficar somente nisso, lá numa terra para mim, diametralmente diferente e estranha. Era como se tivesse ido para outro Planeta.
    Chegamos em Ribeirão Pires, vindo de trem da Estação do Braz, onde lá nos esperava, meu irmão Miltinho, todo paramentado de terno engravatado, parecendo gente, certamente para mostrar que as coisas estavam dando certo em sua vida e, pegamos o trem para ir ao nosso destino, que era a terra onde morava Luis Pinto, seus familiares, que por sinal era uma grande família, sua esposa dona Argentina e, perto deles, pouco tempo depois, nos arrumaram um barraco, que foi a nossa segunda morada naquela cidade da região metropolitana do Estado de São Paulo. Meu irmão trabalhava de pedreiro, meu pai arrumou um emprego de serviços gerais em Taboão da Serra, cidade que fica depois de Ribeirão, indo para a estrada de Santos. Só guardo na lembrança, o choque que passei, junto com minha família, num mundo distante do da gente, de modos e costumes diferentes e por tabela, além de todos esses desencontros, veio por tabela o preconceito, que na verdade, nunca deixou de existir e ainda permanece com toda força nos dias atuais, é só ver o que está acontecendo com o ódio implantado nas eleições presidenciais em que os nordestinos praticamente votaram em massa na candidata presidencial Dilma Roussef, aonde houve postagem em redes sociais da internet, incitamento à violência, a ponto de alguém recomendar que o Nordeste brasileiro, merecia mesmo era ser jogada uma bomba atômica do tipo daquelas que arrasaram Hiroshima e Nagasaki, para durante setenta anos não viesse a nascer nenhum nordestino, como se fôramos puro lixo desprezível. Isso minha gente, só pode partir de pessoas imbecis, idiotas, sem visão de mundo, e que não tem a menor noção do que vem a ser pessoas e o sentimento através do qual devemos nos irmanar como brasileiros, porque como um república federativa, nosso país é indivisível, mesmo que alguns estejam insatisfeitos, mas se o Brasil não tivesse o Nordeste, acredito que seria bem diferente e não seria este País do tamanho que ele é hoje, porque foi o nosso povo quem a força motriz que levantou literalmente esta Nação, quer no trabalho pesado, ao mundo das ciências, das letras e das artes, esta é a verdade, engula ou não, quem bem quiser.
   Depois de certo tempo, por fatores circunstanciais da vida, passamos, eu e meus familiares, a morar na própria capital, São Paulo, na Vila Ema, onde vim a trabalhar de servente de pedreiro, de peão de fábrica e, durante à noite, estudava o curso ginasial numa Escola Estadual da Vila Zelina, próxima da Vila Prudente. Nessa escola, de periferia, existiam os bons e os maus alunos. Eu me dava com todos, mas fazia questão de me incluir entre os melhores, por isso mesmo, era o primeiro aluno da minha classe e fiz muitas amizades, certamente, porque nos dias das provas, grande parte dos colegas, ficava voltado para mim, para passar alguma fila e assim, quando o professor se descuidava, dava fila a um e a outro. Nessa escola, por ser o primeiro de minha turma, fiz muitas amizades, das quais nem lembro mais, só depois de muitos anos, através das redes sociais, foi que vim a encontrar um deles, que nunca esqueci, pelo nome pitoresco que tem, João Segcs Filho, de origem turca, se não me engano. Com esse colega também, estudei no Colégio João XXIII, na Vila Prudente, onde fiz o curso de admissão ao ginásio, que ainda existia naquele tempo. Existiam muitos outros, mas não me vem o nome à memória no momento, mas as suas fisionomias tenho guardas em minha mente. Naquela época, ainda imperava a ditadura militar e nas proximidades da escola onde estudava, numa certa ocasião, só ouvi o estalar repetitivo de tiros de metralhadora e no outro dia soube, que se tratava da morte de um dos que pegaram em armas contra à ditadura e que se tratava do guerrilheiro Sargento Carlos Maringhella, que deixou o exército brasileiro, para lutar contra o que muitos brasileiros se fizeram e partiram para à luta armada, a exemplo de nossa presidente Dilma Roussef. Na ocasião, vendo as coisas de perto, diante dos excessos impostos pela ditadura militar, também tive um imenso impulso de também em armas pegar, mas só fiquei mesmo no pensar. Mas uma das coisas que mais me emocionaram mesmo, foi quando numa certa ocasião, fui comunicar ao diretor da Escola Estadual da Vila Zelina, Professor José Nórcia Filho, homem extremamente dócil e educado, já falecido, que ia volta para o Nordeste, para minha terra, Buíque e, se sentindo meio desalentado, porque eu era um bom aluno, um dos primeiro da escola, tentou me dissuadir da ideia, mesmo assim, lhe disse que era uma decisão definitiva e não deu em outra, ele marcou para certo dia, sem que eu soubesse, e veio a reunir todos os professores e alunos, e me fez uma surpresa, para a minha despedida, me deu uma carta de recomendação elogiosa, que até hoje a tenho comigo e, me senti tão emocionado com aquele humano e belo gesto, que pela primeira vez na vida, criei coragem, tremeliquei, balbuciei trêmulas palavras e discursei pela primeira vez em público. Pois é minha gente, isso se ratam apenas pequenas fagulhas de minha vida, que com certeza, carregarei ao sono eterno, mas que nesta ocasião, achei por bem relatar um pouco de desse passado, parte de meu caminhar e sei que ainda, tenho muito para dar, para fazer em favor de nossa gente e de nosso povo, por isso mesmo, quero mais servir do que propriamente vir a ser servido.

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