MINHA
CIDADE, MINHA SAUDADE, BUÍQUE DOS VELHOS TEMPOS
Vi essa foto antiga de Buíque, certamente lá por volta da
década de cinquenta, pois pelo que dá para se perceber, ainda estava sendo
calçado o centro da cidade ou sendo feita alguma reforma na pracinha central,
não dá bem para entender. Isso deveria ter sido nos governos municiais de Zé
Cursino Galvão, Zé Emílio de Melo ou de Jonas Camêlo de Almeida, não dá para se
ter uma certeza absoluta, porque além de morar no Sítio Cigano, não tinha idade
suficiente ainda para ter conhecimento do que realmente se tratava e de quem
era de fato e de direito o gestor público ocasional da época do coronelismo
brabo, que imperou em Buíque por muito tempo, se bem que, ainda hoje a gente se
depara em algumas atitudes pontuais com esse mesmo coronelismo, só que, de uma
forma mais sofisticada e moderna de se encampar o autoritarismo de alguns
gestores públicos ocasionais do momento presente, de forma camuflada de se
jogar embaixo do tapete e de se esconder nos bastidores. Pois bem, nesse flash
fotográfico captado por uma máquina do tipo lambe-lambe, dá para se perceber a
simplicidade do que era a nossa cidade, onde lá nos fundos da esquerda para à
direita, a gente percebe a mesma Igreja de São Félix de Cantalice daquela
época, a casa paroquial que na época servia de mora para o pároco local e o
mercado público encolhido daquele tempo. Era o nosso Buíque telúrico, simples,
onde ainda não existiam esses modernismos de hoje e em que, em conversa de
gente grande menino não se metia, senão levava uma bronca danada, senão uma boa
surra e um castigo impiedoso, porque lugar de criança perto de gente grande era
só ouvir e permanecer calado e jamais faltar com o respeito e em nada se meter,
mas pelo menos era um Buíque mais respeitoso do que o de hoje, apesar do
coronelismo de botas e trincheira de balas dominar os fazendeiros e os
políticos locais, menos Dr. José Cursino Galvão, que sempre se gabou de ter
tirado o coronelismo de Buíque, quando derrubou o seu próprio tio Osório Galvão,
mas já pela visão de outro, o ciclo do coronelismo em Buíque, só veio a acabar
mesmo com a eleição de Blésman Modesto, em 1962, o que gera uma certa
controvérsia. Pelo sim, pelo não, de qualquer forma, o coronelismo ainda
perdura em nossa política local, só que, travestido em outras roupagens modernistas.
O Buíque daqueles idos também, sequer tinha luz elétrica. Tudo era na base da
lamparina ou candeeiro, sonho que só veio a ser realizado em 1963, quando
Blésman Modesto veio a ser eleito prefeito, ainda com tenra idade, foi quando
veio a energia elétrica de Paulo Afonso, foi aí que nossa cidade deu à luz e a
gente da época ficou maravilhada com essa façanha.
Na foto telúrica e que nos faz voltar inexoravelmente ao
passado, o que mais me chamou a atenção, foi a Escola Reunida Duque de Caxias,
posicionada logo na parte direita, na frente, porque foi lá onde vim a aprender
as primeiras letras, nas mãos da rigorosa professora Dona Aderita Cursino, que
ainda ensinava na base de uma potente palmatória previamente lapidada com
madeira de lei, para castigar os alunos faltosos com os seus deveres e os
metidos a incontroláveis e traquinas, mas o castigo em muitos caos, era
aplicado até injustamente, em que a gente vinha s ser punido, sem saber o
porquê. Era também a época de se ajoelhar perto da lousa (quadro-negro), quando
fazia alguma traquinagem mais cabeluda, em cima de caroços de milho ou de
feijão, de costas para o restante do alunato, por um determinado momento, que
poderia chegar até meia hora. Na verdade, era uma verdadeira via-crúcis, uma
dolorosa tortura, mas se não fora isso, muitos dos que passaram por esse tipo
de ensino, com certeza não teriam sido alguém na vida ou sequer teriam chegado
a um nível elevado de preparo pera vida como muitos se firmaram, mas lembrar do
estalar de cada palmada nas mãos, que em muitos casos ficavam avermelhadas e
inchadas ou o castigo de ficar ajoelhado, é ainda em nossas mentes, um
verdadeiro martírio, principalmente quanto o castigo era aplicado em quem não merecia,
como costumava acontecer, porque sempre existira aquele tipo de aluno que fazia
o inferno numa sala de aula, e por tabela, tirava o seu da seringa e termina
por colocar a culpa em outro qualquer, ou por pura maldade, traquinagem ou
porque mesmo achava engraçado alguém receber tais castigos, e isso era injusto.
Passei por muitos momentos desses.
As cadeiras dos alunos, ainda eram daquelas preparadas para
se colocar um vidro de tinta para o uso da caneta-tinteiro, porque não existia
ainda a caneta esferográfica, que só veio a aparecer algum tempo depois. Mas o
que mais me dói, me dá um certo corte no coração e uma auréola de lembrança, é
que por àquela escola, muitos buiquenses que por ela passaram, como grandes
mestres de nossa cidade, hoje são gente de bem, apesar dos que partiram para o
andar de cima. Muitos já se foram e verdade, mas outros ainda estão na
caminhada da vida, esperando na fila, se não for por outro furada, o dia também
inevitavelmente chegará. Naquela rústica escola, que foi história de nossa
terra e permanece em nossos subconscientes, passaram, só para citar dos que
tenho lembrança, Blésman Modesto, Tião Modesto, Edvanda Modesto, Milton Modesto
(meu irmão), Minhas irmãs Lindinalva Modesto (Nalva), Maria José Modesto (Ninha
- já falecida), a outra Maria José Modesto Irmã (Nina), além de minha própria
pessoa, entre tantos outros buiquenses ilustres, que se fosse listar a todos
eles, com certeza dariam muitas páginas. A escola se tratava de parte de cada
um de nós, como se fora um membro orgânico de nosso próprio corpo ou de quem
nela estudou. Também passaram grandes mestres buiquenses, só para citar os que
me vem à mente, como Dona Umbelina, Dona Dodoce, Dona Lenira Cursino, Dona
Aderita Cursino, entre tantos outros mestres, que noutra ocasião citarei, tanto
alunos quantos os professores. Professores na época, eram respeitados, porque
senão, a lei era a dolorosa palmatória ou então, ficar de joelhos em cima de
caroços de milho ou de feijão. Mas tudo isso em minha vida, foi também uma
grande lição. Era uma espécie de pedagogia do medo, para forçar o aluno
malandro a aprender. Na verdade, a vida da gente, a estruturação e formação de
cada um, é um pouco de cada coisa que vem a nos preparar para sermos pessoas
melhoradas, embora nem sempre, isso venha a acontecer com uma grande parcela,
mas que para nós, tudo isto representa um resumo valiosa para a formação moral
e social de todo e qualquer ser humano em termos estruturais para preparação para
o enfrentamento do que na vida vem pela frente. Agora uma das coisas que até
hoje me revolta, foi ver àquela escola ser vilmente derrubada sem nenhuma
justificativa, na época do gestor de Buíque, Anibal Cursino de Siqueira, que
tirou, apagou de nossas vidas, uma importante parte de nossa história, pois se
a escola ainda existisse, a gente teria a marca que sempre foi o local onde
vivemos a aprender as nossas primeiras letras, os nossos primeiros rumos que
cada um deve seguir no seu caminhar e preparo para à vida em sociedade. Mesmo
com essa atitude insana, uma das coisas que a derrubada da escola não conseguiu
fazer, foi tirá-la de nossas mentes, de nossa memória e da história de cada um
de nós. Quem sabe se um dia chegar a ser prefeito de Buíque, não venha a
reconstruir no mesmo local, da mesma forma arquitetônica àquele prédio que
marcou muita gente por toda à vida de cada um da gente que por ela passou, hem?
– A preservação e manutenção do patrimônio histórico e cultural de um povo,
representa a sua vida, a sua cultura, o espelho do que foi, daquilo que
aprendeu e do presente alicerçado e do futuro que vem traçando como meta de
vida até quando cada um puder. Mas uma vez repito e faço sempre questão de
represar, de que “povo sem passado, é povo sem história, sem presente e sem ter
condições de traçar o seu próprio futuro”, quiçá na direção de um povo.
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