QUEM REALMENTE SOU

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BUÍQUE, NORDESTE/PERNAMBUCO, Brazil
A VERDADE SEMPRE FOI UMA CONSTANTE EM MINHA VIDA.

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

UMA FOTO TELÚRICA DE NOSSA BUÍQUE DOS ANOS 50, ME FEZ VOLTAR AO PASSADO, À MINHA ESCOLA INFALTIL ONDE APRENDI AS PRIMEIRAS LETRAS E DA TRISTEZA, PELO FATO DE QUE ESSA ESCOLA NÃO MAIS EXISTE HOJE, COMO PATRIMÔNIO HISTÓRICO, ARTÍSCICO E CULTURAL QUE DEVERIA TER PRESERVADO, MAS DE FORMA INSANA, RESOLVERAM POR BEM EM DESTRUÍ-LA, TIRANDO-A DO MAPA DA GEOGRAFIA DE MINHA CIDADE, MINHA SAUDADE. ELA FOI EXTIRPADA DO MAPA, MAS NÃO DE NOSSAS MENTES.

MINHA CIDADE, MINHA SAUDADE, BUÍQUE DOS VELHOS TEMPOS


      Vi essa foto antiga de Buíque, certamente lá por volta da década de cinquenta, pois pelo que dá para se perceber, ainda estava sendo calçado o centro da cidade ou sendo feita alguma reforma na pracinha central, não dá bem para entender. Isso deveria ter sido nos governos municiais de Zé Cursino Galvão, Zé Emílio de Melo ou de Jonas Camêlo de Almeida, não dá para se ter uma certeza absoluta, porque além de morar no Sítio Cigano, não tinha idade suficiente ainda para ter conhecimento do que realmente se tratava e de quem era de fato e de direito o gestor público ocasional da época do coronelismo brabo, que imperou em Buíque por muito tempo, se bem que, ainda hoje a gente se depara em algumas atitudes pontuais com esse mesmo coronelismo, só que, de uma forma mais sofisticada e moderna de se encampar o autoritarismo de alguns gestores públicos ocasionais do momento presente, de forma camuflada de se jogar embaixo do tapete e de se esconder nos bastidores. Pois bem, nesse flash fotográfico captado por uma máquina do tipo lambe-lambe, dá para se perceber a simplicidade do que era a nossa cidade, onde lá nos fundos da esquerda para à direita, a gente percebe a mesma Igreja de São Félix de Cantalice daquela época, a casa paroquial que na época servia de mora para o pároco local e o mercado público encolhido daquele tempo. Era o nosso Buíque telúrico, simples, onde ainda não existiam esses modernismos de hoje e em que, em conversa de gente grande menino não se metia, senão levava uma bronca danada, senão uma boa surra e um castigo impiedoso, porque lugar de criança perto de gente grande era só ouvir e permanecer calado e jamais faltar com o respeito e em nada se meter, mas pelo menos era um Buíque mais respeitoso do que o de hoje, apesar do coronelismo de botas e trincheira de balas dominar os fazendeiros e os políticos locais, menos Dr. José Cursino Galvão, que sempre se gabou de ter tirado o coronelismo de Buíque, quando derrubou o seu próprio tio Osório Galvão, mas já pela visão de outro, o ciclo do coronelismo em Buíque, só veio a acabar mesmo com a eleição de Blésman Modesto, em 1962, o que gera uma certa controvérsia. Pelo sim, pelo não, de qualquer forma, o coronelismo ainda perdura em nossa política local, só que, travestido em outras roupagens modernistas. O Buíque daqueles idos também, sequer tinha luz elétrica. Tudo era na base da lamparina ou candeeiro, sonho que só veio a ser realizado em 1963, quando Blésman Modesto veio a ser eleito prefeito, ainda com tenra idade, foi quando veio a energia elétrica de Paulo Afonso, foi aí que nossa cidade deu à luz e a gente da época ficou maravilhada com essa façanha.
     Na foto telúrica e que nos faz voltar inexoravelmente ao passado, o que mais me chamou a atenção, foi a Escola Reunida Duque de Caxias, posicionada logo na parte direita, na frente, porque foi lá onde vim a aprender as primeiras letras, nas mãos da rigorosa professora Dona Aderita Cursino, que ainda ensinava na base de uma potente palmatória previamente lapidada com madeira de lei, para castigar os alunos faltosos com os seus deveres e os metidos a incontroláveis e traquinas, mas o castigo em muitos caos, era aplicado até injustamente, em que a gente vinha s ser punido, sem saber o porquê. Era também a época de se ajoelhar perto da lousa (quadro-negro), quando fazia alguma traquinagem mais cabeluda, em cima de caroços de milho ou de feijão, de costas para o restante do alunato, por um determinado momento, que poderia chegar até meia hora. Na verdade, era uma verdadeira via-crúcis, uma dolorosa tortura, mas se não fora isso, muitos dos que passaram por esse tipo de ensino, com certeza não teriam sido alguém na vida ou sequer teriam chegado a um nível elevado de preparo pera vida como muitos se firmaram, mas lembrar do estalar de cada palmada nas mãos, que em muitos casos ficavam avermelhadas e inchadas ou o castigo de ficar ajoelhado, é ainda em nossas mentes, um verdadeiro martírio, principalmente quanto o castigo era aplicado em quem não merecia, como costumava acontecer, porque sempre existira aquele tipo de aluno que fazia o inferno numa sala de aula, e por tabela, tirava o seu da seringa e termina por colocar a culpa em outro qualquer, ou por pura maldade, traquinagem ou porque mesmo achava engraçado alguém receber tais castigos, e isso era injusto. Passei por muitos momentos desses.
     As cadeiras dos alunos, ainda eram daquelas preparadas para se colocar um vidro de tinta para o uso da caneta-tinteiro, porque não existia ainda a caneta esferográfica, que só veio a aparecer algum tempo depois. Mas o que mais me dói, me dá um certo corte no coração e uma auréola de lembrança, é que por àquela escola, muitos buiquenses que por ela passaram, como grandes mestres de nossa cidade, hoje são gente de bem, apesar dos que partiram para o andar de cima. Muitos já se foram e verdade, mas outros ainda estão na caminhada da vida, esperando na fila, se não for por outro furada, o dia também inevitavelmente chegará. Naquela rústica escola, que foi história de nossa terra e permanece em nossos subconscientes, passaram, só para citar dos que tenho lembrança, Blésman Modesto, Tião Modesto, Edvanda Modesto, Milton Modesto (meu irmão), Minhas irmãs Lindinalva Modesto (Nalva), Maria José Modesto (Ninha - já falecida), a outra Maria José Modesto Irmã (Nina), além de minha própria pessoa, entre tantos outros buiquenses ilustres, que se fosse listar a todos eles, com certeza dariam muitas páginas. A escola se tratava de parte de cada um de nós, como se fora um membro orgânico de nosso próprio corpo ou de quem nela estudou. Também passaram grandes mestres buiquenses, só para citar os que me vem à mente, como Dona Umbelina, Dona Dodoce, Dona Lenira Cursino, Dona Aderita Cursino, entre tantos outros mestres, que noutra ocasião citarei, tanto alunos quantos os professores. Professores na época, eram respeitados, porque senão, a lei era a dolorosa palmatória ou então, ficar de joelhos em cima de caroços de milho ou de feijão. Mas tudo isso em minha vida, foi também uma grande lição. Era uma espécie de pedagogia do medo, para forçar o aluno malandro a aprender. Na verdade, a vida da gente, a estruturação e formação de cada um, é um pouco de cada coisa que vem a nos preparar para sermos pessoas melhoradas, embora nem sempre, isso venha a acontecer com uma grande parcela, mas que para nós, tudo isto representa um resumo valiosa para a formação moral e social de todo e qualquer ser humano em termos estruturais para preparação para o enfrentamento do que na vida vem pela frente. Agora uma das coisas que até hoje me revolta, foi ver àquela escola ser vilmente derrubada sem nenhuma justificativa, na época do gestor de Buíque, Anibal Cursino de Siqueira, que tirou, apagou de nossas vidas, uma importante parte de nossa história, pois se a escola ainda existisse, a gente teria a marca que sempre foi o local onde vivemos a aprender as nossas primeiras letras, os nossos primeiros rumos que cada um deve seguir no seu caminhar e preparo para à vida em sociedade. Mesmo com essa atitude insana, uma das coisas que a derrubada da escola não conseguiu fazer, foi tirá-la de nossas mentes, de nossa memória e da história de cada um de nós. Quem sabe se um dia chegar a ser prefeito de Buíque, não venha a reconstruir no mesmo local, da mesma forma arquitetônica àquele prédio que marcou muita gente por toda à vida de cada um da gente que por ela passou, hem? – A preservação e manutenção do patrimônio histórico e cultural de um povo, representa a sua vida, a sua cultura, o espelho do que foi, daquilo que aprendeu e do presente alicerçado e do futuro que vem traçando como meta de vida até quando cada um puder. Mas uma vez repito e faço sempre questão de represar, de que “povo sem passado, é povo sem história, sem presente e sem ter condições de traçar o seu próprio futuro”, quiçá na direção de um povo.

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