TEM GENTE QUE NEM UMA
HISTÓRIA DE VIDA TEM PARA CONTAR
Na verdade é isso mesmo que
acontece na vida de muita gente. Lembro bem que minha vida foi demasiada
sofrida, a exemplo de tantas outras, mas lembro-me bem, que foi a partir de certo
momento, que me veio à mente um flash de luz, que desde então foi um marco
inicial de minha vida de existência psíquica, senão não poderia dizer que tinha
chegado à minha existência neste mundo. Nos meus tenros anos iniciais de idade,
praticamente não me lembro de quase ou de absolutamente nada, nem mesmo de uma
queimadura na mão esquerda, que me marcou para sempre com uma necrosada lesão,
mas lembro-me ligeiramente quando pisei num prego enferrujado, despontado num
pequeno pedaço de tábua, jogada no monturo da casa de meus pais, despontando
para cima, ainda quando morava no Sítio Cigano, que me fez sofrer os diabos à
quatro e, minha mãe, cuidou de mim, do inchaço do pé, que poderia até ter dado
gangrena, com os chamados remédios caseiras, os famosos “meizinhas”, mesmo
assim, passei por esse doloroso teste de criancice, que não sei bem com qual
idade à época. Outro fato de que nunca me saiu da memória, foi o de ter corrido
atrás de meu irmão mais velho, Miltinho, num dia de sábado, pelas areias finas
da estrada que ia de minha rústica casa à cidade, querendo acompanha-lo à feira
de sábado, mas que ele não me deixou ir de jeito nenhum, fato esse que me fez inconsolável
e copiosamente chorar aos soluços, mas não passou disso. Sobrevivi. Outras
façanhas obrigacionais de minha triste infância, ainda com menos de dez anos de
idade, foi trabalhar na roça, carregar água em jumentos, sem sequer poder pegar
numa lata d’água de 20 litros para colocar na cangalha do jumento, entre outros
trabalhos que desenvolvi quando nesse período que ao invés de brincar, tinha
mesmo era que trabalhar para ajudar no parco sustento da nossa casa, da família
e dos demais irmãos. Foi uma infância triste, mas foi a partir daí que firmei o
meu caráter de hombridade, de honradez, de honestidade e de buscar ganhar à
vida sempre de forma reta e honesta, por isso mesmo me tornei, sem nenhum
demérito para outras pessoas, no homem que hoje sou. Posso não ser melhor do
que ninguém, nem por isso, dou meu braço a torcer para quem quer que seja, mas
sou o que sou e isso ninguém vai, ou poderá tirar de mim, pois sou o mesmo
menino que por tudo isso passou ainda sem sequer me entender de gente.
Agora uma coisa que posso estufar o tórax, abrir à boca e bradar
ao mundo para quem quiser ouvir, é que tenho uma história de vida e isso
ninguém vai tirar de mim. Tem mais, o que aprendi é propriedade inalienável de
meu próprio eu ontológico e isso ninguém também, será capaz de extirpar de
minhas entranhas ou de minha formação de ser humano. São coisas impregnadas em minha
mente, na minh’alma, na essência da vida, que jamais alguém será capaz de tirar
de mim e disso, tenho muito orgulho, porque tudo isso que sou, será para sempre
a minha companhia e carregarei comigo como parte de mim, até mesmo para o
túmulo, coisa que nem todas as pessoas podem dizer de si próprias. Como sempre
tenho dito, não sou o dono da verdade, mas busco nesta, a minha bússola de
orientação de vida. Posso até ter pecado, porque a condição humana por si só, é
vulnerável, fraca e pode ceder e se deixar inebriar pelos pecados do mundano
mundo da vida. Mas com certeza, não tenho pecados capitais, até por que não sou
religioso e não sigo profecia religiosa alguma, pois pelo que observo, dos
muitos que seguem, ao colorem um pé fora do templo de orações, já começam a
pecar e deixa estar, vão fazer reza de enganação a alguns santos do pau-oco,
fazem romarias, mas que os pecados são os mais cabeludos do possíveis,
principalmente pela falta de respeito ao próximo, de consideração e de
reconhecimento por tudo que alguém possa ter feito por quem nada merecia que
fosse feito, mesmo assim, não me arrependo pelo que fiz, quer pelo certo, quer
pelo lado errado, porque o que fiz está feito, pronto e acabado e nada pode
mudar o que foi realizado no decurso da vida de cada um de nós. Por isso não me
arrependo de nada e certamente, se tivesse que viver de novo, fato que não
acredito, poderia até mudar o rumo de algumas coisas, mas o essencial de minha
vida, repetiria tudo de novo, sem tirar ou colocar uma vírgula que seja, pois
foi assim que aprendi e firmei o meu caráter de homem honrado, reto e honesto.
É assim que sempre fui e assim, haverei de dar o último suspiro. Ninguém pode
me mudar pelo que sou, nem mesmo eu mesmo se assim o quisesse, porque isso já
faz parte de minha própria existência de vida e não é agora que vou negar a mim
mesmo o que trilhei por toda a minha vida.
Voltando-se para uma visão mais aguçada de mundo, o que se
pode observar objetivamente, é que existem muitas pessoas, que se gabam por ter
isso, ter aquilo, por ser algo mais que os outros, em face de ostentação de
riqueza, de poder, etc e coisa e tal. Pois bem, nesse mister, muitos mistérios
escabrosos rondam as pessoas e, se olharmos bem dentro e vasculharmos a vida de
muita gente, se pode perceber, que grande parte sequer uma história de vida tem
e quando vem a tê-la, foi por uma questão de um acidente de percurso, por uma
circunstância ocasional de vida, que de forma benévola esta chegou a ser um
presente caído dos céus e a partir de determinado ponto de um meio caminho
andado, é que surge uma história nesse desandar de vida, que pode ser um tanto
quanto nebulosa, duvidosa e pouco difícil de se acreditar e de ser levada à
sério, por que determinadas coisas que aparecem de forma gratuita na vida de
muita gente, de um modo geral, impregnados pela ganância e pela indecência
comportamentais, sequer dão valor às demais pessoas e não tem o devido caráter
para uma correta condução de seu próprio modo de vida. É assim que acontece com
a maioria da humanidade, em face da hipocrisia que é pródiga pelo menos em parte
desta, que fede, expele podridão fétida por onde passa ou onde vive. Por isso
mesmo, quem só chegou a viver parte de uma história mal contada de vida, não
tem lá muito a oferecer, a não ser, quando o sujeito usa essa história depois
de certo tempo para fazer o bem sem olhar a quem e não propriamente para o seu
próprio umbigo, ignorando que em sua volta existe uma gama de pessoas que
iguais a qualquer outras, merecem também ser olhadas com bons olhos, mas diante
da insensibilidade tamanha que domina corpos e mentes, pela coisa fácil que a
muitos vem às mãos, a maioria não está nem aí para o que acontece à sua volta,
a não ser olhando única e exclusivamente para si mesmo, como se ele fosse o
próprio mundo em que é habitado por várias outros de seus pares. História de
vida, na maioria dos casos, não é coisa do destino, mas sim, obra de cada um de
nós dentro de nossas capacidades de fazermos as nossas próprias histórias. Já
no campo das exceções, a história aparece e faz o homem, não propriamente como
ele deveria ter sido moldado, mas sim, do jeito que ele quer ser moldado por um
formato de aparências e nada mais que isto e por isso mesmo, não se pode dizer
que uma pessoa que assim age poderá passar para a história ou ter uma história
de vida, principalmente quando até determinado ponto, o quadro foi negro feito
breu e a escrita de giz, o vento levou para sempre e no passado, não teve
sequer por mínimo que tenha sido, um começo de história de vida, por isso
mesmo, nada pode mostrar à humanidade, a não ser, se resumir, se encolher
dentro de sua própria insignificância de vida, porque passou à margem da
história, mas nesta não ficou a planta, porque esta não foi proveio de uma
semente bem plantada, e semente que não é bem plantada e regada devidamente,
não pode jamais se transformar numa árvore frondosa e que venha a dar bons
frutos. A história de vida de cada um, para quem se preza de verdade, vem de
uma semente e de uma árvore bem cuidada, pois como diz o dito popular que gosto
de repetir, “pau que nasce torto, vai com certeza, morrer torto”, e isso é
história de vida, faz parte da história da própria humanidade. A história de
uma vida verdadeira, é tão forte e frondosa, quando um tronco de baraúna.
Nenhum comentário:
Postar um comentário