ATÉ QUANTO DEVEREMOS SER
REFÉNS DA FILOSOFIA DO CONFORMISMO?
Sinto muito minha gente, se desde cedo, sempre aprendi a
questionar as coisas e fatos à minha volta. Nunca fui de aceitar muito bem,
nada sem antes questionar. Por isso mesmo, é que já nessa fase da vida,
continuo a questionar da mesma forma, porque foi assim moldada à minha mente
quanto ao “ser e o dever ser”, na minha visão de mundo. Não suporto observar à
olhos vistos que uma coisa está errada, e me omitir, ficar calado, me confinar
ao faz-de-conta e ficar refém do conformismo vendo as aberrações intoleráveis
ao extremo, continuarem acontecendo em torno de minha existência. Então como
ser conformista, a ponto de tudo aceitar, sem ao menos ter o livre discernimento
de questionar? – Não, não posso calar, como disse num dos meus poemas, “...E não posso calar//Devo falar!/Mesmo
ruflando em grito errante/Devo falar/ultrapassar as barreiras/Sem interrupções
rotineiras/De certo mundo de asneiras... – Não vim ao mundo para ser um
conformista, tampouco para permanecer calado, mesmo que esteja pregando no
deserto, mas haverá de chegar um dia em que todo mundo vai com certeza me dar
razão, apesar das aversões que percebo quando coloco o verbo para fora e digo o
que realmente penso e que deve ser dito, sem rodeios ou meias palavras, por
isso mesmo, posso ser admirado por uns, aceito com ressalvas por outros e até
mesmo, odiado por uma parte, mesmo assim, não posso mudar o que sou na
realidade, por que senão, não seria verdadeiro comigo mesmo. O filósofo
Descartes, acentuou, “Cogito ergo sum”
(Penso, logo existo!). Se a gente existe, tem que ser por e para alguma razão,
senão não haveria o porquê do pensar e do existir. Não que não se deva pensar
no pão dos filhos quando a gente toma uma posição na vida, mas como lembrou bem
meu segundo filho, Hémerson Modesto, num de seus escritos que publiquei neste
Blog neste último domingo, ao citar Voltaire, esse ilustre sábio acentuou: “Posso não concordar com nenhuma palavra do
que você disse, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-lo.” – É exatamente
dessa forma que penso. Para os que me criticam, me censuram, podem falar à
vontade, nada contra. Pior seria se tivesse o poder de fechar à boca de cada um
para que não pudesse vir a se expressar livremente, mesmo que o seja contra
minha própria pessoa, porque também como tantos, não sou perfeito, tampouco
obrigo quem quer que seja a agir e pensar da mesma forma que minha pessoa. Eu,
no meu mundo particular introspectivo, sou o que sou e cada um tem da mesma
forma, o seu próprio mundo de ver as coisas. Agora uma coisa é ter a sua
própria visão; outra o puro e simples conformismo com tudo que acontece à sua
volta.
Muitas pessoas censuraram as manifestações que aconteceram
alguns meses passados, mas de minha parte, desde que mansas, pacíficas e
reivindicatórias de direitos e contra desmandos dos poderosos, sempre fui e sou
a favor, porque triste do povo que sendo vilipendiado, esfoliado e vendo tantas
maledicências e ainda assim, permanece omisso e calado, mesmo que isso venha
fazer dele um inimigo ou desagradar alguns desses pseudos-poderosos ocasionais,
mas o que não posso de forma alguma, é me omitir e aceitar tudo que nos querem
fazer engolir goela à dentro, sem cuspir. Aceitar tudo, é puro conformismo
daquele tipo de que “foi à vontade de Deus”; “Deus quis assim, então assim o
seja”. É essa a ideia dominante, de um modo geral, a filosofia pregada pela
maioria das religiões, com exceção do radicalismo islamismo em suas bestiais e
aterrorizantes violências, bem como, de algumas outras seitas existentes mundo
afora. Ora, nem o próprio Jesus Cristo, aceitou pacificamente, a exploração dos
poderosos, que usando o seu próprio nome, queriam com isso, tirar vantagens
mercantilistas e com isso, na base de chicotadas, os expulsou de seu próprio
templo de orações. Claro, reconheço em Jesus Cristo um grande homem sábio, mas
ele não ensinou que o povo aceitasse toda injustiça através do conformismo, mas
sim, da busca pacífica pelo objetivo de cada um. É essa pelo menos a minha
visão simplista, do mundo da religiosidade. Aceitar tudo em nome de Deus,
acredito, não ser a melhor forma de se sobreviver nesse mundo cão em que
estamos vivendo na atualidade, sem nada falar. Existem os omissos por
conveniência, àqueles também que tem medo, por isso mesmo, se submetem a todo
tipo de humilhações, a ponto de mendigar, se ajoelhar, implorar na base do
beija-mão, para poder conseguir uma migalha qualquer, que na maioria dos casos,
sequer vale à pena o sujeito perder suas próprias honra e dignidade, às vezes
até, sem nenhum resultado prático, mas para pura e simplesmente, ficar
prisioneiro e de mãos atadas a qualquer poderoso ocasional. Quando a gente vem
ao mundo, o vem por obra da natureza, livre, nu em pelo e ao dar o primeiro
suspiro nesta vida terrena, veio não para ser escravo de ninguém, mas sim, para
se preparar para conquistar neste mundo a sua própria liberdade e não viver com
essa ideia equivocada de conformismo em que muitos passivamente aceitam para
não se rebelar contra a ordem vigente, mesmo que seja esta imoral, ilegal e
tirânica! – Por isso é que sempre tive minha formação de caráter, de vida,
mesmo diante de dificuldades, de não me dobrar a ninguém. Se queres ser meu
amigo, que o seja de verdade, não para defender o que eu defendo, mas pelo
menos parecer que acredita naquilo que acredito, não necessariamente nessa
ordem, mas o verdadeiro amigo confia no outro sem questionar, mas apenas o
ouvindo sem nada falar.
Em sua visita ao Brasil, o próprio Papa Francisco, declarou
em Campinas, São Paulo, que “jovem que
não protesta não lhe agrada”. Na verdade, Francisco alertou os jovens para
não ficarem ensimesmados, fechados dentro de si mesmos, pois a vida é abertura
e se realiza na história enquanto complexo das manifestações do agir humano.
Com isso o Papa não exortou ninguém ao uso da violência, mas a que cada um deve
ter o direito de não ser omisso e só, pois não se faz parte integrante da
história de vida de cada um de nós, se não reagir a determinadas circunstâncias
que nos faz clamar aos céus, como em muitas ocasiões, quando presenciamos os
descasos que acontecem diuturnamente em setores básicos da sociedade, como
segurança, saúde, educação, nas necessidades básicas sociais, então como
permanecer calado e conformista diante de tantos descasos e descalabros
praticados pelos poderosos ocasionais, hem minha gente? – Como permanecer
calado diante de tantas corrupções que são praticadas em frente de nossa cara
e, o corrupto de cara lisa, “sirrindo à toa”, na maior cara-de-pau, gozando “tirando
onde” da cara da gente, se fazendo de besta, enquanto permanecemos calados,
omissos, reféns do conformismo como meros cordeiros de Deus! – E isso que
ensina a filosofia religiosa, indago? – Acredito que não, porque senão Jesus
Cristo não teria expulso os mercantilistas de seu Templo, pelo fato de estarem
usando de sua boa-fé para obter lucros ou indevidas vantagens e isso, minha
gente, não se pode em hipótese alguma se aceitar no mundo moderno atual. Quem é
adepto da filosofia do conformismo, que me perdoe, mas está arredondamente
equivocado e deixando um péssimo exemplo aos seus pósteros. O filósofo alemão
E. Kant, por exemplo, escreveu um belo texto falando sobre a necessidade de
passar do estágio da “menoridade” para o da “maioridade”. O estágio da maioridade
é para aquelas pessoas que ousam pensar com suas próprias cabeças, que não
precisam de tutores, que são livres e, autônomos. A juventude brasileira de
certa forma, vem demonstrando isso, uma certa maturidade, quando vem às ruas
exigindo melhorias de vida, critica os serviços públicos, pede um padrão de
vida melhor para a educação, saúde, transportes, segurança, entre outras
melhorias salutares a uma vida digna para cada um dos brasileiros.
Infelizmente, no País do futebol a ignorância política faz parte do cotidiano
de tantos brasileiros, mas pelo visto, a gente pode antever uma ponta de
esperança de que isso está ficando no passado. Nossos jovens querem “zoar”, “farrar”,
próprio de suas idades, mas também exigem respeito e cidadania em todas as
áreas da vida. A filosofia não pode se omitir em determinados momentos, mas
fazer repercutir em todos os quadrantes do Brasil, nas salas de aulas, os
gritos de insatisfações, as rebeldias que então foram demonstradas nas ruas em
momento recente, o que nos promete de que o Brasil está mudando, uma nova
consciência está surgindo e os frutos, certamente, virão no tempo certo, disso
não posso ter a menor dúvida. Desfecho finalizando que, por isso mesmo, é que
jamais sou ou serei adepto da filosofia do conformismo, que isso venha a me
trazer inimizades, aversões, críticas, antipatias, mesmo assim, melhor manter
distâncias de certas pessoas, do que compactuar com o mal maior que estão fazendo
aos nossos jovens e à sociedade como um todo. Poder dar o meu grito de
liberdade, SEMPRE, ser refém da filosofia do conformismo, JAMAIS!
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