O QUARTO
Entro no quarto, olho o teto,
este parece rústico e monótono. Olho para os lados, a mesma coisa. Procuro
fitar às paredes, estas parecem mais quatro paredes de uma prisão, como se fora
uma grande muralha. Tudo se encontra abafado, quase sem ar, sem brilho, nem
luz. Em um gesto brusco, dirijo-me à janela e abro-a, debruçando-me sobre a
mesma e procuro fitar a rua, as casas, as pessoas que passam, o Céu, que está
quase envolto por nuvens escuras e espessas, como se fosse chover torrencialmente
naquele exato momento. Tudo isso me confunde, a natureza, a vida do cotidiano
sem encontrar uma saída...
Agora as ruas são muralhas, feitas de enormes pedras, as
pessoas parecem carrascos, olham-me como se eu fosse um condenado que não
merece sequer perdão ou anistia... Ora, penso eu! – Todos nós somos condenados,
eu por ser dessa maneira, vocês por serem dessa ou daquela. Enfim, todos nós
precisamos de perdão e de anistia!
Na solidão do quarto estas cenas ganham vida, eu me confundo
com tudo, o meu quarto monótono, rústico e solitário e vejo como as pessoas são
engraçadas, da janela do meu quarto eu posso vê-las, todas elas estão presas,
exceto eu, na minha própria redoma, estou livre, para ir para aonde quiser, mas
a muralha de dentro de mim, será derrubada?
O meu quarto voará como um avião e eu conseguirei atravessar
a muralha e mergulhar no infinito? – Mas será que esta não será mais uma
maneira de prender-me ainda mais? – Oh, prender-me! – Sim, desta maneira
prender-me-ei, sabes! – Nem sequer havia pensado nisso, em assim agindo,
estarei aos poucos me destruindo e nada melhor, do que buscar agir, ir à luta,
senão tudo definha nesta vida. É mesmo! – Desta feita, o melhor mesmo é sair de
meu casulo, do meu quarto, conversar com as pessoas, contatar com outras
mentalidades, que quem sabe, sairei desde grande vazio de meu quarto e talvez,
virei a prender-me a uma dessas pessoas e dar continuidade à minha vida vazia, neste
mundo de menosprezo, de dor e de solidão.
NOTA: Escrevi este conto
sobre minha vida, quando vivi na cidade de São Paulo, especificamente na Vila
Ema, em 1971, quando me sentido atordoado, sofrendo e angustiado naquela Selva
de Pedra, em que sempre buscaram nos humilhar e esperzinhar como se nada
fôssemos, a não ser meros Nordestinos, por isso mesmo, da minha tristeza,
inquietude e me sentido dentro de uma prisão em meu pequeno mundo de minha
prisão, dentro de meu próprio quarto, mas que mentalmente, tinha o poder de
viajar para aonde bem quisesse, só que, sempre estaria preso naquele rústico e na
penumbra de meu quarto.
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