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A VERDADE SEMPRE FOI UMA CONSTANTE EM MINHA VIDA.

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A MATÉRIA DE HOJE SAIU DO FUNDO DO BAÚ, POIS TRATA-SE DE UM CONTO DE MINHA VIDA, QUE ESCREVI EM 1971, QUANDO AINDA ESTAVA SAINDO DA ADOLESCÊNCIA E ENTRANDO NA JUVENTUDE, NA ÉPOCA EM QUE MORAVA NA VILA EMA, NA CIDADE DE SÃO PAULO.

O QUARTO


       Entro no quarto, olho o teto, este parece rústico e monótono. Olho para os lados, a mesma coisa. Procuro fitar às paredes, estas parecem mais quatro paredes de uma prisão, como se fora uma grande muralha. Tudo se encontra abafado, quase sem ar, sem brilho, nem luz. Em um gesto brusco, dirijo-me à janela e abro-a, debruçando-me sobre a mesma e procuro fitar a rua, as casas, as pessoas que passam, o Céu, que está quase envolto por nuvens escuras e espessas, como se fosse chover torrencialmente naquele exato momento. Tudo isso me confunde, a natureza, a vida do cotidiano sem encontrar uma saída...
    Agora as ruas são muralhas, feitas de enormes pedras, as pessoas parecem carrascos, olham-me como se eu fosse um condenado que não merece sequer perdão ou anistia... Ora, penso eu! – Todos nós somos condenados, eu por ser dessa maneira, vocês por serem dessa ou daquela. Enfim, todos nós precisamos de perdão e de anistia!
       Na solidão do quarto estas cenas ganham vida, eu me confundo com tudo, o meu quarto monótono, rústico e solitário e vejo como as pessoas são engraçadas, da janela do meu quarto eu posso vê-las, todas elas estão presas, exceto eu, na minha própria redoma, estou livre, para ir para aonde quiser, mas a muralha de dentro de mim, será derrubada?
       O meu quarto voará como um avião e eu conseguirei atravessar a muralha e mergulhar no infinito? – Mas será que esta não será mais uma maneira de prender-me ainda mais? – Oh, prender-me! – Sim, desta maneira prender-me-ei, sabes! – Nem sequer havia pensado nisso, em assim agindo, estarei aos poucos me destruindo e nada melhor, do que buscar agir, ir à luta, senão tudo definha nesta vida. É mesmo! – Desta feita, o melhor mesmo é sair de meu casulo, do meu quarto, conversar com as pessoas, contatar com outras mentalidades, que quem sabe, sairei desde grande vazio de meu quarto e talvez, virei a prender-me a uma dessas pessoas e dar continuidade à minha vida vazia, neste mundo de menosprezo, de dor e de solidão.

NOTA: Escrevi este conto sobre minha vida, quando vivi na cidade de São Paulo, especificamente na Vila Ema, em 1971, quando me sentido atordoado, sofrendo e angustiado naquela Selva de Pedra, em que sempre buscaram nos humilhar e esperzinhar como se nada fôssemos, a não ser meros Nordestinos, por isso mesmo, da minha tristeza, inquietude e me sentido dentro de uma prisão em meu pequeno mundo de minha prisão, dentro de meu próprio quarto, mas que mentalmente, tinha o poder de viajar para aonde bem quisesse, só que, sempre estaria preso naquele rústico e na penumbra de meu quarto.

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