PASSANDO A LIMPO – SÉRIE DO
BLOG ENTREVISTA COM MANOEL MODESTO
SÉRIE BLOG DE ENTREVISTAS
Hoje, na série do Blog de Entrevistas com Manoel Modesto, o
que houve na realidade, foi uma conversa informal com um amigo de infância,
Edmilson Soares de Macêdo, filho de Zé Soares do Sinuca e de Dona Maria do
Espírito Santo. Edmilson é mais conhecido popularmente, desde aqueles tempos em
que brincávamos nas rústicas ruas buiquenses, de brincadeiras próprias de
nossas idades e hoje, achei por bem, ao invés de fazer uma entrevista seguindo
as formalidades de sempre, em termos uma conversa de amigos, cara à cara, olho
no olho, rememorando os tempos memoráveis de nossas infâncias e falarmos um
pouco do nosso passado e de como foi que veio até sua alma, seu eu interior, o
dom da arte de pintar. Primeiramente procuramos relembrar os tempos em que
assistíamos aos filmes que passavam no único cinema existente em Buíque
naqueles anos dourados do mundo de nossas infâncias vividas, e que,
costumeiramente, passava seriados, uma espécie de capítulo por semana,
geralmente filmes do gênero Far West americanos, de mocinhos, das mocinhas
melosas e apaixonadas, de índios e bandidos e que a cada semana que passava um
capítulo, ficávamos ansioso para assistirmos ao próximo que viria somente na
semana seguinte e, para não perdermos a emoção dos capítulos que sempre
terminava com uma cena de perigo, tipo de risco iminente de desastre impossível
de ser vencido, numa cena em que geralmente o mocinho, ou a mocinha, ficava
numa situação de dificuldade para ser salva pelo mocinho e com isso, buscávamos
no imaginário de cada um da gente, fazer dos filmes, uma brincadeira, em que
fazíamos arcos e flechas com galhos de madeiras dobráveis, revólveres de
madeira também e íamos brincar de mocinhos, bandidos, de índios pelas ruas
centrais de Buíque, principalmente nas proximidades da praça Vigário João
Inácio e da então Escola Duque de Caxias, que ainda existia entre as duas
praças e na extensão de um sítio de meu avô Manoel Modesto, que se alongava
desde onde hoje é a entrada do Campo de Futebol, ali do cemitério, e se
estendia até à esquina de Zé do Barraco. Era tudo um belo sítio dominado por
frondosas fruteiras de todas as espécies. Era emocionante as brincadeiras
imitativas da arte do cinema, que nos fazia viajar a um mundo imaginário de
emoções e por isso mesmo, queríamos sentir na própria pele a emoção vivida no
cinema. Naquela época o cinema que teve alguns donos como meu tio Zé Modesto,
Zé de Joca e Jurandir de João Grosso, era de uma forma rudimentar de tal
maneira, que em muitas ocasiões, a gente tinha que levar as cadeiras de casa,
para poder assistirmos aos nossos filmes de aventuras, entre os quais nos
deleitávamos com as bravuras de Zorro, Tonto, Flecha Ligeira, Billy The Kid, Bat
Masterson, Batman e Robin, entre outros. Cada um dos partícipes da brincadeira,
recebia um desses nomes ou dos mocinhos ou bandidos, geralmente a gente só
queria ser os mocinhos, mas apareciam os bandidos também. Edmilson, era Billy
Kid, daí o seu apelido até hoje, nome com o qual assina os quadros que pinta e
seus trabalhos em letreiros que desenvolve por nossa região. Até hoje, meu
irmão Miltinho Modesto, só manda pintar o letreiro de sua Panificadora Cardeal,
em Arcoverde, por Edmilson e isso vem desde o Bar Arizona, na década de 70, em
Buíque.
Billy Kid, desenvolveu à sua arte, a partir dos 10 para 11
anos de idade, que já começara a partir de então, na própria escola onde
aprendia as primeiras letras, a fazer desenhos, ao invés de fazer as lições impostas
pelas rigorosas professoras à época, a exemplo de Dona Aderita Cursino, Edvando
Modesto, entre outras, na mesma escola onde também aprendi as primeiras letras,
a Duque de Caxias, que ficava entre as duas praças, Vigário João Ignácio e Major
França, que por falta de visão histórica, foi varrida por Anibal Cursino quando
prefeito de Buíque, do nosso mapa, de nossa história, menos de nossa memória,
pelo menos enquanto existirmos, mas acredito, pelos movimentos culturais que
estão surgindo e nas próprias obras pintadas à óleo em tela por Billy Kid, esse
passado ainda vai perdurar por longas gerações em nossa história. Como
autodidata no aprender as habilidades de bem usar o pincel e misturar as cores
das tintas, quem primeiro lhes deu algumas dicas sobre o aprimoramento da
pintura, foi Zequinha, um exímio pintor de Arcoverde e a partir daí, com as “dicas”,
ele passou a desenvolver sua arte com mais perfeição. Não segue escola de
pintura alguma, apenas o seu tino de ver o mundo, principalmente a nossa Buíque
de nossas infâncias, e transferir as imagens vividas por nós, e através de sua
mente com suas hábeis mãos, passar para as belas telas que pinta sobre a nossa
Buíque bucólica, histórica, da saudade que não volta jamais. Logo de início,
como profissional, só veio a se firmar mesmo, pintando letreiros a partir do
governo do Prefeito João de Godoy Neiva, onde começou a para fazer os letreiros
de obras da prefeitura, indicado que fora, por Alberes França e depois, recomendado
por Público Vale de Oliveira, passou a fazer suas primeiras pinturas para João
Quinca, que era o representante à época, da Mercedes Benz em Arcoverde,
chegando, inclusive, em face de tanta procura, a morar por certo tempo, naquela
cidade, mas como não esquecia Buíque, para sua terra amada, voltou o filho
pródigo, onde vive até os dias atuais. Esta conversa mantivemos em seu atelier,
local onde desenvolve o seu trabalho, no centro de Buíque.
Edmilson Soares, ou nosso Billy Kid, como ficou conhecido
desde nossas brincadeiras de criança, até hoje faz as suas obras em tela, em
madeira, outras tipos de objetos ou materiais, mas é voltado principalmente para
as belas telas que pinta de improviso, de onde saem imagens que evocam o nosso
passado vivido, e que ainda povoam o seu inconsciente coletivo que vem lá de
trás, de sua infância vivida aqui em nossa terra e por isso mesmo, suas
principais obras se voltam mais para pinturas de nosso Buíque daqueles idos,
que não voltará jamais, até porque, muitas pessoas gananciosas, que só visam
lucros e riquezas, destruíram a maioria de nossos prédios históricos, de
construções de traços arquitetônicos fincados no colonialismo de nossos
colonizados portugueses e hoje, o que resta, são tão-somente, em torno de sete
ou oito prédios históricos de nosso passado vivido. Com isso nosso patrimônio
histórico, artístico e cultural, praticamente desapareceu do mapa e nos
transformamos nesse Buíque horrendo, pobre de história, que os ricos e
poderosos o transformaram até o momento e, se não houver um refreamento, uma
lei municipal protetiva imperiosa, essa destruição gananciosa de nossa história
ou que pouco que dela ainda resta, nada mais vai ficar como referencial de vida,
a não ser o sentimento de saudosismo, ao fitar o olhar nos belos quadros de
Edmilson, ou nosso querido e popular Billy Kid, que eternizou nossa história em
seus quadros, suas obras, embora a maior parte desta tenha sido destruída por
pessoas sem visão de mundo, porque a vida de cada um da gente, só pode ser
feita, de uma passado de vida como lição, um presente fincado no passado e um
futuro alicerçado no presente em que vivemos. Já diz o ditado popular, que
costumeiramente gosto de repetir: “povo sem passado, sem presente, é povo sem
história, povo sem memória e povo sem futuro”.
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