A EMOÇÃO DE ENCONTRAR COM UM VELHO AMIGO
Ontem, como
geralmente acontece, estive mais uma vez na minha Pesqueira Secular, para
dentro do meu ofício de militante da advocacia, fazer mais uma audiência na
Justiça do Trabalho daquela cidade. Qual não foi a surpresa quando soube que o
meu velho amigo de longas datas, William Pôrto, se encontrava de férias, com à
família, passando uns dias por lá. Digo de férias, porque em sua aposentadoria,
ele mora no Recife, passa uns dias em Gravatá e outros tantos, em sua terra do
coração, Pesqueira, porque na verdade, ele é natural de Arcoverde. Chegando à
sua residência, fui de pronto recebido por sua esposa, que disse que ele não
estava, mas que se encontrava por perto, razão pela qual, uma senhora, que se fazia
acompanhar de sua esposa, disse “Seu Wila”, está aqui perto, na casa de Zé
Xerém! – Aguarde um pouco que vou chama-lo, coisa que o fez. Com poucos minutos
de espera, chega o velho amigo, como sempre de vestimentas simples, bermudão,
camiseta e cumprimentou-me com um afago de um abraço amigo, de uma pessoa que
fazia um certo tempo que não o via. Depois disso, cumprimentou Mucuim, que se
fazia acompanhar de minha pessoa. Vendo-o depois de todo esse tempo, percebi
que ele estava mais velho, de cabelos e barba esbranquiçados pela intempéries
do tempo e me veio logo a lembrança, do livro de Ernest Hemingway, escrito em
Cuba, em 1951, e publicado em 1952, “O Velho e o Mar” (The Old Man and the Sea) e percebi de verdade, que a gente estava
ficando velho mesmo, e isso é era de uma realidade irrefutável da qual ninguém
pode refrear ou negar. É a vida em seu decurso normal e pronto! – Fazer o que?
Acredito que como Ernest Hemingway nesse
livro descreveu, a gente vem remando desde que nascemos em um grande mar, para
num certo tempo, ficar parado na vida e somente contemplando o mar, como o
autor desse livro gostava de fazer nas belas paias da ilha cubana e, ao olhar
para os horizontes da vida, buscar inspiração para continuar no seu ofício da
arte de escrever. No momento, com certeza, meu velho amigo William, está
fazendo isso. Sua vida tem se limitado à família, seus filhos e,
principalmente, aos netinhos, que é o que na verdade estamos a fazer e
contemplando o mar, em busca de inspiração para escrever alguns rabiscos. Uma
única diferença entre eu e ele, é o fato de que continuo no batente da
militância da advocacia, encargo que só deixarei quando não puder mais ter
domínio próprio de mim mesmo, fato que jamais espero passar, ou me for desta
para outra, mas minha luta, vou continuar com ela até o fim. Ninguém pense que
vou me aposentar e a partir daí ficar calado ou parar na vida. Isso não.
William, depois de longos anos de trabalho no Banco do Nordeste do Brasil, ao
se aposentar, o que tem feito mesmo, é escrever sempre ou em jornais, como no
Jornal de Arcoverde, em seu Blog, Combate Popular, e livros, que mesmo sendo um
exímio escritor, até o momento não encontrou quem tivesse coragem de bancar um
excelente livro que ele escreveu, intitulado “Recuerdas de Canaã”, título
bastante sugestivo, que apesar de ficção, trata-se de uma realidade que ele tem
muito domínio de escrever, de falar e externar suas ideias. O livro tem cenário
centrado, como não poderia deixar de ser, no Golpe Militar de 1964. Só por aí, já
dar para se perceber da dimensão de sua obra, que se trata de um assunto
bastante palpitante. Infelizmente, para nós escritores, que permanecemos no
anonimato, se não bancarmos nossas mesmas criações literárias, ninguém se
aventura a bancar, porque o foco principal desse pessoal não é dá vez a novos
talentos, mas sim, financiar grandes nomes, mesmo com o apoio da lei Rouanet,
que tem financiado justamente quem não precisa de apoio, por ter o bastante e
suficiente para bancar suas próprias obras ou grandes editoras.
Já conhecia William, mesmo antes de vir
a morar em Pesqueira, na década de 80 e ambos, éramos bancários, ele do BNB e
eu, do BANDEPE e a partir daí, começamos a ter ligações e nos tornamos amigos.
Eu de Buíque, e ele de nossa vizinha Arcoverde, nada mais lógico do que nos
aproximarmos e nos tornarmos bons amigos. Essa ligação de afinidade veio
primeiramente, porque éramos bancários e depois, porque ambos escrevíamos, como
ainda continuamos escrevendo e fazendo as nossas críticas ácidas contra os
desmandos com os quais nos deparamos no nosso sempre, que muitas das nossas
mazelas, não só hoje existem, mas vem se prolongando no avançar dos tempos. Em
Pesqueira, nos finais de semana, era numa mesa de bar, ou quando precisa de
alguma troca de informação bancária, na própria agência do BNB, no meio da
semana. Nos finais de semana, geralmente, era para tomarmos umas e outras e até
mesmo todas e discutirmos sobre assuntos, em que o prato principal era política
e literatura, mas que sempre terminava se focando mais na política, que nunca,
eu e ele, concordávamos com as traquinagens da política daquela época, muito
menos, das de hoje, se bem que, ele ainda continua defendendo com unhas e
dentes o PT, pois segundo ele, esse partido vem sendo vítima de uma orquestração
dos poderosos em destruí-lo e colocá-lo na mesma vala comum dos demais partidos
políticos, com o que não concordo, porque o PT teve a chance de ser o
diferencial partidário da política brasileira, mas no poder, mostrou que não é
muito diferente dos demais partidos políticos e os escândalos pipocaram cada
vez com mais intensidade. William, claro, como toda pessoa autêntica, ainda
pensa da mesma forma como sempre pensou, afinal ele vem de raízes de políticos
da família “Pôrto” de Arcoverde, em que o seu pai, o Major Wilson Pôrto, acusado
de subversivo comunista, chegou a ser preso e torturado pela ditadura militar e
sofreu as agruras desse execrável regime, razão pela qual, tem ele, em manter
suas posições radicais que tanto defende com unhas e dentes e é isso que faz
dele, a pessoa autêntica, leal aos seus princípios e marcante que é. Agradeço
de coração por ter conhecido pessoas e de ter no meu rol de amizades, um
cidadão sério, honesto, digno, honrado e probo, a exemplo desse grande homem e
grande escritor William Pôrto, a quem devoto hoje e sempre o meu abraço.
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