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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

FAGA, A VELHA SANFONERIA CEGA, QUE COMO NINGUÉM, DOMINAVA COM EXÍMIA HABILIDADE A SUA SANFONAZINHA DE OITO BAIXOS E SUA FAMA DE CEGA DOS OITO BAIXOS, SÓ SE RESTRINGIU MESMO AOS LIMITES DE BUÍQUE. FAGA, CHEGOU ATÉ MESMO A SER VISITADA POR LUIZ GONZAGA, QUANDO ESSE CHEGOU A FAZER UM SHOW AQUI EM BUÍQUE, POR VOLTA DE 1966. ESTE ARTIGO FOI UMA HOMENAGEM ESCRITA POR MIM E PUBLICADO NO JORNAL NOVA ERA DE PESQUEIRA E EM MEU PRIMEIRO LIVRO, MODESTO À PARTE, PUBLICADO EM 1988.

GENTE DE BUÍQUE – A CEGA SANFONEIRA FAGA


     Sanfoneira de oito baixos das melhores, apesar de cega, a velha “Faga”, como era conhecida, vez por outra, fazia os forrós juninos da zona rural de Buíque, levantar a poeira e pegar fogo até o sol raiá. Criança ainda, com certa frequência, costumava passar pela sua rústica casinha, localizada na ponta da Rua Amélia Cavalcanti, em Buíque, isolada, onde àquela época existia uma rala capoeira que se prolongava até à rodagem de piçarra. Gostava de vê-la pegar aquele pequenino fole velho de oito baixos, puxá-lo com as duas mãos como se fosse rasga-lo, dedilhando velozmente as suas teclas e dele extrair notas musicais dos mais famosos baiões do velho Lua, como Asa Branca, Assum Preto.... – Ficara horas a fita-la, admirando aquela pessoa cega manejar tão bem seu pequenino instrumento musical.
    Todo buiquense, de um modo geral, gostava da velha Faga. Cega inteligente, sanfoneira habilidosa como poucas. Entretanto, pouca coisa ou nada se fez por Faga, a não ser, quando moleques mal-educados, mexiam com ela, lhes faltavam com o devido respeito e ela, possuída de ira, dizia impropérios à molecada. Nunca admirei, na minha tenra idade, atos de vandalismo e desrespeito para com uma pessoa humana, principalmente, quando essa pessoa era indefesa e cega. Certa feita, acredito que por volta de 1966, Luiz Gonzaga veio fazer um show aqui em Buíque e o levaram até o pequenino casebre de Faga, para que ele a conhecesse. Chegando lá, a ouviu tocar e muito gostou do modo como a velha Faga interpretou suas músicas no velho fole de oito baixos. Acho que nenhum forrozeiro de Buíque, ou que por lá tenha passado, jamais esqueceu os tempos bons dos forrós dos mato, das pontas de ruas, tocados pela velha Faga e seu companheiro fiel, o velho fole de oito baixos.
   Hoje nem mais lembranças existem da velha sanfoneira cega, falecida há mais de quinze anos. Nem sequer menção alguma é feita, talvez quem sabe, pela sua condição de quase miserabilidade em que vivia e por seus oito baixos, ter ficados restritos nos limites de Buíque. A memória, a história de um município e suas mais polêmicas personagens, independentemente da origem e condição social, que de certa forma tenham contribuído para o engrandecimento cultural, promovendo a alegria do povo, devem vez por outra ser relembrados, no sentido de avivar a memória dos mais velhos e prover de conhecimentos os mais novos sobre seus antepassados. A finalidade de que fatos passados venham à tona é de suma importância, sobretudo quando vem proporcionar à juventude maiores esclarecimentos e direcionando-a para uma formação mais crítica sobre os fatos geradores das comunidades interioranas.

NOTA: Este artigo escrevi quando morei em Pesqueira e foi publicado pela primeira vez, no Jornal Nova Era, mantido pela Diocese da Igreja Católica, e que, em 1988, cheguei a incluí-lo entre tantos outros, no meu primeiro livro, MODESTO À PARTE, página 92. Foi uma homenagem que achei por bem fazer a velha sanfoneira cega, FAGA, que só os mais antigos ainda devem lembrar dela, mas que os mais jovens, de nada tem conhecimento sobre essa exímia sanfoneira de oito baixos buiquense, que fez parte de minha infância aqui em Buíque. Isso só prova, que minha preocupação com a cultura de nossa terra e de nossa gente, não vem de hoje, mas sempre foi uma constante em minha vida.

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