NOITE DE TEMOR EM BUÍQUE
A tristeza envolvida
na noite ampara as casas da cidade, estas, que durante o dia apresentavam um
aspecto de menosprezo. E agora que é noite? – Parece até que todos mergulharam
num conto de terror e estão inertes. É triste olhar essas ruas com velhas casas
de arquitetura rudimentar, onde uma luz em cada poste com brilho ofuscado pela
intensa neblina, dá uma aparência tenebrosa.
Postado a uma das portas do Arizona Bar,
olho para um lado e para outro das ruas e nada vejo: nem mesmo uma senhora, nem
uma criança, nem uma garota para se paquerar.... – Que horas são? – Vinte e uma
horas! – Mas tão cedo ainda e tudo parou: tudo cessou como por encanto! – Não! –
Não cessou totalmente, pois estou ouvindo um zunir do vento que mais parece uma
devastação total. É um furacão? – Não! – É o vento com sua fúria bravia que
involuntariamente veio brigar com a natureza. As árvores da praça Major França
balançam para um lado e para outro quase a tombar com o ataque furioso do
vento, entretanto, resistem; as casas zombam do vento, que furioso carrega-lhes
as telhas. As luzes apagam-se de repente e agora a escuridão é total e envolve
toda a cidade com o seu manto negro atemorizante. O zunir do vento é cada vez
mais penetrante e meus ouvidos, que em sua velocidade voraz e impiedosa briga
com a escuridão infinda.... – Mas após certo tempo a esperzinhar da cidade com
sua fúria bravia, prossegue devastador para outras paragens... – Acedem-se as
luzes e logo dá-se por conta dos estragos: uma casa lá na praça Vigário João
Inácio sem portas, o velho Mercado Público sem telhas, uma árvore caída acolá
na Rua Osório Galvão e por aí se vai...
Ao vento cessar, da porta de um rústico bar,
se ouve vulgar um poeta popular, estes belos versos declamar:
Por
água
Por
Pedra
Pela
noite acolhido
Que
sombria e atemorizante
Fez-me
precaver esta noite tenebrosa...
Ao
ouvir o zunir do vento
A
fúria surgia sorrateiramente
E
a cidade sombria contra ele lutou
E
não podendo subjuga-lo
Derrotada
ficou
Vencedor
e zombeteiro o vento
Em
direção Sul, furioso sumiu...
Deixando
a cidade
Arquejando
de agonia...
NOTA: Essa história é uma descrição de uma realidade de uma das “noites
sombrias de Buíque”, de 1972, que logo após esse vendaval com chuvas torrenciais,
me veio de repente a inspiração e escrevi esse pequeno conto, que foi publicado
no meu primeiro livro, MODESTO À PARTE, pág. 90, cuja edição foi esgotada,
publicado em 1988.
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