O MEU PÉ DE BANANEIRA
Nasci em um sítio, próximo
de minha cidade, umas seis léguas, acho, em que perto do casebre chinfrem em
que morava com minha família, existia uma cacimba de água potável de minação,
rodeada por bananeiras. A água brotava daquele pequeno buraco meio arredondado,
ora meio oval, em que a gente percebia a fluência do precioso líquido brotando
lá do fundo da cacimba, de tão límpida e translúcida que era a água, além de
muitas gias que ficavam em alguns buracos laterais da cacimba. Era molecote de
meus tenros cinco para seis anos de idade. A vida para mim, se resumia àquele
triste e limitado mundinho em que achava, que vivia à minha rude insignificância
de menino pobre e jogado à minha própria sorte. Tudo aquilo se resumia ao mundo
em que nasci, vivi até certa idade, mudei ainda com tenra idade, para à cidade,
para poder estudar e me preparar para a vida, se é que realmente, a essa altura
do campeonato, estou realmente preparado para o enfrentamento dos tropeços que
ainda haverão de vir pela frente, mas acredito que estou sim! - Será que para
morrer também? – Bem aí, é que vem a milenar dúvida humana, que não é só minha,
mas acredito, que ninguém se prepara para morte, assim como também, para
nascer, porque ninguém pede para vir ao mundo, mas se veio, que cumpra sua
missão como deve ser cumprida.
Voltando à minha cacimba de água doce e potável, sei que
tomávamos banho, não lembro bem quantas vezes por semana, embaixo e rodeado
pelos pés de bananeiras plantados em volta do olho d’água límpida como à luz
que nos ilumina. O sabonete era o pó da casca de uma árvore, chamada de juá,
que triturado pelas hábeis mãos de minha mãe, se tornava num bom espumante para
um banho com água fresca, gélida e translucida. Tinha lá o meu pé de bananeira
preferido. Só gostava de tomar banho embaixo de um determinado pé de bananeira.
Aliás, minha mãe, e lá alguma vez perdida, meu pai, era quem me dava banho.
Quando era meu pai, a coisa era mais grotesca, não tinha conversa mole para
medo de água fria. Não gostava muito de receber dos pés à cabeça, àquelas
pesadas pancadas de água fria, que mais parecia uma forte pancada, que se diluía
por todo meu corpo nu em pelo e depois, vinha quem me dava banho, com uma
toalha para me enxugar, que na verdade, não era bem uma toalha, mas um paninho
qualquer. Geralmente esses banhos, eram mais nos dias de feira, sábado de
manhãzinha, em que em alguns desses dias, também minha mãe me levava à feira de
rua, caminhando por uma estrada de dezoito léguas, à pés, até chegar à cidade
para fazer algumas comprinhas e fazer o caminho de volta. Sábado também, era o
dia em que comíamos arroz e carne cozida, porque nos demais dias da semana,
nada disso existia. Era um tempo rude, de um mundo estranho, mas era o meu
mundo envolto em uma redoma, que nem eu mesmo entendia. Entre o caminho de meu
rústico casebre e a cacimba, acredito, que não dava nem uns quinhentos metros.
Era bem pertinho e entre a cacimba, bem próxima, ficava um velho moedor de
cana-de-açúcar, daqueles que se pareciam com as moendas dos engenhos da época
da escravidão, que pertencia a meu tio, que tinha um plantio de cana na várzea
do Sítio Cigano e todos os anos, fazia uma espécie de ritual, quando chegava à
época de moer à cana para fazer mel de engenho e rapadura. Tudo para mim era
estranho, mas era algo diferente na época da moagem da cana.
Certa feita, ao me dirigir à cacimba para tomar banho embaixo
do meu preferido pé de bananeira, já com uma lata de água pronta e com uma
metade de uma cabaça, pegar água do balde e jogar à cabeça, eis que percebi que
o meu pé de bananeira, estava com um belo cacho de bananas, talvez o mais
bonito daquele pequeno bananal em volta da cacimba. Comecei a tomar meu banho e
eis que de repetente, desponta do cacho de bananas, uma cobra não sei bem de
que espécime, pois não sabia nada de cobras, apenas que era uma grande cobra
meio verde e amarelada e danei-me a gritar e sem sequer terminar o banho,
danei-me a correr até minha casa, mesmo nu em pelo e cheguei chorando e
assustado à minha casa, sem sequer balbuciar coisa com coisa, tamanho o medo,
mas minha mãe, logo me consolou, calei-me e depois de algum tempo, fomos até o
meu pé de bananeira para tentar matar à cobra, que pelo visto, não era nada de
venosa, mas quem não tinha medo daquele tipo de bicho, hem? - Minha mãe,
cuidadosa que era, olhou a área, pelo chão, no meu pé de bananeira e nos demais
e nada encontrou, foi quando vim a me tranquilizar. Depois do medo, o que fiz
foi pegar uma banana bem madurinha, diretamente do pé e a comi com muito gosto,
mas desse dia em diante, nunca mais fui tomar banho sozinho embaixo do meu pé
de bananeira.
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