O DIA EM QUE MEU MUNDO PAROU
Acordei numa certa
quarta-feira, como sempre faço, lá pela madrugada, fiz minha higiene pessoal de
rotina, preparei meu café, do meu filho que todos os dias vai para Arcoverde de
manhãzinha para estudar, e fui para o computador fazer algumas defesas da
campanha política de meu candidato e preparar alguma documentação de praxe do
andamento da campanha.
Desde o momento que coloquei o pés em minhas sandálias, me
dirigi ao banheiro, percebi de logo algo no ar, de que aquele não seria um dos melhores
dos meus dias, mesmo assim, achei por bem em cumprir minhas obrigações
rotineiras de meu dia-a-dia. Preparei tudo, deixei o filho no ponto de ônibus,
voltei e dei continuidade aos meus trabalhos de rotina, porque não é nada fácil
o sujeito comandar uma campanha política.
O assunto que iria desenvolver em meu computador, como não
poderia deixar de ser, era mais sobre Direito Eleitoral, porque numa campanha,
é só o que prevalece mesmo, é essa veia do direito. Não se poderia ter uma
diretriz xis ou ípsilon para se trabalhar o direito, a não ser quando aparecia
algo noutra área para fazer, mas o principal era a área eleitoral mesma. Nos
meus trabalhos, sempre procuro ir estruturando e desenvolvendo dentro dos
padrões do desenrolar da campanha, mas com um certo planejamento para que nada
venha a dar errado. É assim que sempre tenho trabalhado quando presto meus
serviços, mesmo sem ganhar um tostão furado, numa campanha eleitoral, como
àquela em que estava na linha de frente. Hoje não faço isso sem previamente
receber, nem para o Papa, se ele viesse a ser candidato a algum mandato
eletivo, porque não vale à pena trabalhar para essa cambada de malfeitores e
picaretas, porque nenhum deles, sem exceção, lhes agradece como o bom
profissional merece, a não ser que esteja inserido no mesmo conluio de lacaios
a dilacerar o patrimônio público.
Na vida da gente, como sempre acontece para quem busca agir
com honradez e retidão de conduta, nada vem com facilidade às mães e também,
jamais dentro de proporções facilitadas como acontece com os vivaldinos de
plantão que vivem de surrupiar o que não é seu, sobretudo, se o sujeito
pertence à esfera do poder público e foi eleito para algum mandato eletivo,
especialmente, o de alcaide de sua cidade. Ser prefeito de seu monturo de
moradia, é o mesmo que ganhar na sena, para os descarados que a gente vem a
encontrar em nossos caminhos, principalmente quem, como eu, é ligado à
política. Mas isso para mim, não mais vai acontece e, se tiver que defender
qualquer que seja o pilantra, antes porém, terá que pagar pelo meu serviço,
caso contrário, procure um outro serviçal de menor potencial de habilidade na
área de atuação.
Foi assim mesmo num certo ano de eleição, em que participava
de mais uma política em minha vida, agora com a esperança de ganhar mesmo, mas
como sigo uma linha de pensamento ideológico de uma filosofia de que tudo pode
ser modificado, embora prevaleça sempre a política da picaretagem e de se tirar
vantagens de tudo e de todos, pouco importando os meios, inclusive para se
ganhar um pleito eleitoral, que me deparei com um fato inusitado, que pensei
fosse coisa tão-somente de lorotice política e que na realidade certas coisas
não aconteciam de verdade, mas apenas no mundo do imaginário coletivo. Logo eu,
que embora buscasse ter um pouco de esperança na candidatura que estava
defendendo, não podia esperar que um fato tirado de filmes do submundo do crime,
montado de uma peça oriunda de pura invencionice e malandragem política, viesse
a acontecer justamente com um candidato que estava recebendo o meu apoio, mas
infelizmente, o fato aconteceu e era verdadeiro.
Pior é que numa certa madrugada, em um certo final de semana,
numa madrugada de sábado para domingo, por volta das três para às quatro da manhã,
recebi uma pessoa da área jurídica da campanha, toda descabelada, batendo
ofegantemente em minha porta e gritando por mim, fato que veio a me acordar
meio atordoado e de logo, assim como que balbuciando coisa com coisa,
desconexamente, me disse Doutor, se troque, ou melhor, venha assim mesmo, que
nosso candidato foi vítima de um atentado, com o que, fiquei pasmo, indignado,
mesmo assim reagi de imediato, atordoado por uma ressaca pesada, escovei os
dentes, passei uma água rápida no rosto, vesti de imediato uma roupa chinfrim
qualquer, mas lá com os meus botões, pensei comigo mesmo, será que esse
atentado aconteceu mesmo? – Será que isso foi de verdade? – Quer dizer,
imaginei isso, porque já tinha visto filme igual com um outro candidato a
mandato eletivo, que se aproveitando de uma maquinação desse tipo, se deu por
vítima e terminou por ganhar uma eleição para deputado estadual de graça, sem
gastar praticamente nada. Nosso candidato era principiante, mas pelo visto,
deve ter aprendido alguma coisa com outros malandros da política e pelo visto,
não diferentemente dos demais, era capaz também de dar nó em pingo d’água.
Professor era o que não faltava, os tinha por todos os lados, menos para ele
mesmo, aprender ou terminar o curso que fazia.
Depois de alguns tempos, tomando todas as medidas jurídicas
cabíveis, tanto comunicando ao Batalhão da PMPE, à Secretaria de Segurança Pública
do Estado e à Justiça Eleitoral pedindo garantias de vida ao meu candidato em
face de ter sofrido um atentado de morte, foi que vim a saber, mesmo no decurso
da campanha, que tudo não passara de uma montagem, uma fraude descarada, para,
em se criando um fato novo, se colocar a culpa para o candidato adversário,
inclusive, queriam até jogar a culpa num inocente, para que a coisa viesse a se
tornar um fato novo e assim, cair na comoção popular e com maior facilidade se
ganhar a eleição. Ao saber desses fatos, fiquei realmente decepcionado com essa
farsa, essa mentira criada com a conivência da maioria, menos com a minha, que
sempre fui contra a expedientes fora dos trâmites legais e limpos que se deve
levar adiante numa campanha política, se bem que, nesse meio, isso é fichinha
perto do que acontece, o que para mim, é uma descarada sem-vergonhice.
Foi aí que realmente para mim, quando tive à certeza e pior,
o atentado não era para ser desse jeito, mas sim, o combinado seria bem
diferente, em que teria que sair de um percurso em que se dirigia candidatos
para um bate-papo na zona rural, inclusive a vereadores, além do majoritário,
num mesmo veículo e um deles, numa emboscada
em um ponto previamente combinado, seria vítima de um tiro de verdade, para
dar mas um toque de realidade à coisa, só que, esse plano, foi colocado de
lado, porque se o atirador errasse, a suposta vítima poderia ao invés de levar
um tiro no braço, poderia vir a ter à cabeça acertada e não teria sido reeleito
vereador. Quando realmente tive certeza desse fato, digo com toda sinceridade
do mundo, foi justamente nessa quarta-feira, em que o meu mundo parou e fiquei
a matutar se continuaria ou não defendendo essa deslavada farsa, essa mentira
cabeluda, que na verdade ocorreu e que muitos, mesmo depois sabendo que tudo
não passara de uma encenação, ainda assim, continuaram calados, como se nada
tivesse acontecido, mas que para mim, quando tive a certeza, foi o dia em que o
meu mundo parou, porque não concordava com esse tipo de coisa, mas mesmo assim,
como já tinha tomado todas as providências para à segurança de meu candidato,
não citei sequer em meus discursos esse fato, porque achei por bem permanecer
calado, mas que desse fato nunca esqueci e foi a partir daquele momento, que
percebi que não estava defendo o que poderia ser o diferencial em mais uma
política, mas sim, mais uma deslavada mentira, como fora daquele candidato que
aproveitando-se de igual situação, terminou por se eleger em parte, diante de
uma comoção popular criada e da imagem desgastada do candidato adversário, como
em parte, veio a ocorrer também com esse sujeito, que na verdade, tudo que
existe nele é produto de uma mentira ou de um produto falsificado adquirido no
Paraguay, porque confiar nesse tipo de político, é o mesmo que imaginar que as
nuvens não venham a trocar de lugar em questão de segundos.
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