BUÍQUE DOS VELHOS CARNAVAIS
Na verdade, os
velhos carnavais de Buíque, sempre ficaram à margem de minha participação,
porque quando tinha doze anos, em 1964, eu e minha família, como todos sabem,
fomos para o Estado de São Paulo. Então minha passagem pelos carnavais de minha
terra, se deu em flash, antes dos doze anos de idade. A festa de clube ainda
era realizada no Mercado Público, que começava no sábado de Zé Pereira e só
vinha a terminar na terça-feira e, na quarta-feira de cinzas, se iniciava o
período da quaresma, para que o folião, viesse a rezar e tirar os atos
pecaminosos praticados na festa do Diabo. Era um carnaval simples, sem toda
essa parafernália e ostentação de grandiosidade de hoje. O próprio povo era
quem fazia o seu carnaval durante o dia, com brincadeiras de mela-mela,
papangus, muita bebida, que foi um ingrediente que sempre esteve presente em
todos os carnavais e cheguei até a presenciar, ainda na década de sessenta, o
lança-perfume, que na época era de uso livre, só vindo a se tornar proibido na
época do governo de Jânio Quadros. Mas era um carnaval simples e sadio e todo
mundo se divertia. Como ainda era uma criança, acima de tudo, matuta pra danar,
não entrava muito nessa da folia, que era coisa de gente grande e se resumia,
como já disse, à brincadeiras de rua e no clube do Mercado Público, com som de
metal e reproduzido através das famosas difusoras (hoje chamadas de cornetas),
mas era muito divertido, pular as marchinhas, o passo do frevo pernambucano e
as marchas do tipo samba canção. Era a época dos carnavais da pureza de nosso
tempo.
Só vim a entrar mesmo na farra do
carnaval, depois que voltei de São Paulo, em 1972, assim mesmo, de forma
tímida, mas nunca deixei de participar e, o formato ainda era o mesmo de quando
tinha saído de Buíque e as festas, até 1976, continuavam sendo no Mercado
Público, foi quando vim a me encantar com Paulinho de Clóvis, aos quinze anos
de idade, tocando na OARA, isso para mim, foi motivo de orgulho, porque tão
jovem e já demonstrava um grande talento musical. Quando nessa data, Blésman
Modesto veio a construir o Clube Municipal de Buíque, embora com uma engenharia
arquitetônica completamente grotesca e disforme, mesmo assim, o povo de nossa
terra passou a ter o seu próprio clube e, as grandes festas de épocas, a
exemplo do carnaval, que eram no Mercado Público, na Prefeitura de Buíque e em
algumas escolas públicas, passaram a ser no Clube Municipal. Hoje o clube ainda
permanece, mas jogado às baratas. Pior é que na época ainda da política do
chumbo grosso, quem era do lado contrário à Blésman Modesto, não frequentava o
ambiente, chegando até mesmo ao absurdo, de um ex—prefeito pular na piscina com
um cavalo, em demonstração de menosprezo pela obra que fora construída pelo
então na época, seu adversário. Na verdade, naquele Clube Municipal, o povo de
Buíque, ainda vivenciou grandes eventos festivos, principalmente as
tradicionais festas de época, a exemplo do baile de final de ano, das festas de
São João e de São Pedro, dos carnavais e tantas outras festas importantes que
ocorreram naquele local. Participei de praticamente todas elas, quando de meus
tempos em Buíque e, quando estava fora, ou por imposição do trabalho ou dos
estudos, mesmo assim sempre dava um jeito de me fazer presente, porque gostava
das festas dos moldes de minha época. Foi um tempo bom em minha vida e na vida
de tantas outras pessoas, que não voltarão jamais.
O carnaval de Buíque só veio mesmo a se
tornar grandioso, se não me engano, da década de noventa para cá, quando Julião
Guerra se tornou prefeito de Arcoverde, que acabou com o carnaval de lá, porque
era festa da elite falida daquela cidade e, oportunamente, não sei se Blésman
Modesto, aproveitando o ensejo, passou a investir mais no carnaval de Buíque,
que veio a se tornar um grande referencial de um dos maiores carnavais do
interior de Pernambuco, ensejando até mesmo o seu sucessor Dr. Dilson ou Arquimedes
Valença, a chegar a sacrificar uma tradicional praça de Buíque, a São
Sebastião, para em seu lugar, fazer um Pátio de Eventos, que está mais para um
Calçadão aleijado de Eventos, para que ali, viesse a ser realizada a grandiosa
festa carnavalesca, pelas proporções que ganhou além de nossos limites, o nosso
carnaval. Mas pensando de forma diferente dos demais, o atual prefeito, logo
que entrou, ainda promoveu alguns poucos grandes carnavais, mais a banalização
com gastos foi tamanha, que terminou inviabilizando esse grande festejo que já
estava inserido em nosso calendário de tradição e deixou cair o nosso carnaval,
a ponto de ano passado não ter realizado absolutamente nada e neste ano, só
está havendo por conta de parcerias entre Estado, Empetur, parte do comércio,
em menor grau de participação, da própria prefeitura, assim mesmo, um carnaval
do tamanho limitado tão-somente ao povo de Buíque, que na verdade é quem faz a
festa, mas deixou de atrair o turismo que de certa forma em períodos assim,
sempre traz emprego temporário e renda. Logo de início desse novo modelo
carnavalesco em nossa terra, a festa durante o dia era na rua e, à noite, vinha
a de clube, coisa que não mais acontece, porque foram sendo quebrados os
hábitos tradicionais. Sei que nem tudo pode perdurar para sempre, mas existem
coisas, que podem perfeitamente ser mescladas e não esquecidas ou destruídas ao
bel prazer de quem estiver no poder de mando. Claro que a gente tem pleno
conhecimento dos parcos recursos municipais, parcos, vírgula, quando mal gastos
ou não devidamente aplicados nos fins previstos, porque o que vem para os
municípios, não fossem as tantas bandalheiras da banda podre da política, com
toda certeza, daria para muita coisa. Basta olhar na riqueza externa que
esbanjam esses ocasionais ocupantes do poder de mando e, o pior, é o fato de
que, ainda ficam tirando onda, gozando da cara do povo, dizendo que são ricos,
que tem isso, tem aquilo, que todo mundo sabe a quem pertence, mas só um
detalhe, jamais aparece na declaração de imposto de renda, porque os bens são
colocados em nome de fantasmas ou de laranjas, mas com uma investigação
detalhada, aguçada a ponto de ir à fundo, acredito que muita gente saíra de
seus luares com uma par de algemas, esta é a verdade, se de outra forma acaso
venha a ser, gostaria de entender melhor essa contabilidade que enriquece muita
gente sem causa. Apesar de tudo, que o nosso carnaval seja uma festa feliz, de
paz e que todos brinquem como puderem, dentro de nossas limitações. Para nós,
que ainda somos saudosistas de nossos velhos carnavais, só nos resta observar
de longe e tirar as nossas próprias conclusões, mas quanto aos demais, que se
divirtam mesmo, porque a vida é passageira e a gente só vive mesmo o que curte
e usufruiu de bom no decurso da vida de todas as pessoas.
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