SEM CARNAVAL OFICIAL, ENTÃO QUE A PRÓPRIA
SOCIEDADE FAÇA O SEU CARNAVAL!
Claro que os tempos
eram outros. Não precisava de toda essa parafernália para se fazer um grande
carnaval aqui em Buíque, não senhor! – Nos meus tempos, não tinha axé-music
baiano, o pagode paulistano, entre outros ritmos que sempre aparecem na época
momesca e cositas mas... – Na verdade nosso carnaval era da brincadeira sadia,
do mela-mela durante o dia, das visitações de casa à casa de amigos, em
turminhas agrupadas em determinados lugares e assim por diante, para, no
período noturno, aí sim, ter o tradicional carnaval de clube, em que todos
adquiriam a sua mesa, pagavam a sua entrada, para poder se esbaldar de sábado
às terças-feiras de nossos carnavais e, na quarta-feira, de quebra, saía Carlos
de Neuda, com o seu eterno Carnaval particular, que seria o carnaval da
saideira. A música era de marchinhas, frevo, samba-canção, entre outros ritmos quentes,
mas só com instrumentos de sopro, nada mais que isso. Era um carnaval mais
família, mais aproximado, mais amigo e todos se divertiam, mas hoje, não existe
nada disso. Tem que ser uma bandoleiragem desmedida, uma verdadeira baderna com
todos os excessos que se permite ou não e a farra, que a gente já encarava como
um exagero, hoje não dá nem para se medir, com o diferencial, que hoje quem
banca tudo é o poder público e se o faz, só se tiver alguma gorda vantagem por
fora, caso contrário, que todo mundo vá para a casa do caralho brincar o seu
carnaval. Infelizmente, não privatizaram o nosso carnaval, o tornaram público,
quando na verdade, nos velhos carnavais, se havia uma participação do poder
público, essa era a mínima possível, de resto, quem fazia mesmo era o povo, a
chamada sociedade.
Com a parafernália que se tornou o
carnaval em cidades tradicionais, como se tornou à nossa, os gastos
orçamentários, incluindo grande parte para os que estão nos bastidores da
promoção, são astronômicos e hoje, para se fazer um grande carnaval em Buíque,
os gastos são exorbitantes, acredito que supera a casa de um milhão de reais,
então a coisa tá preta mesma, mas se realmente se quisesse fazer um carnaval a
gosto popular, atraindo inclusive turistas de vários municípios que estão
desistindo de fazer os seus carnavais, isso porque nunca tiveram tradição, só
fazem mesmo por conta da comilança do dinheiro público com a contratação de
bandas, o que viria a ser mais uma boa razão para Buíque fazer o seu carnaval,
mas a essa altura do campeonato, a menos de quinze dias dessa tradicional festa
do povo, acredito que não dá mais para fazer porra nenhuma, por que ninguém
teve criatividade. Falta de água! – Claro que existe esse fator, mas por
enquanto, não deixa de ter em nosso solo, pelo menos ainda, água do aquífero
subterrâneo, que é realmente quem está sustentando a população buiquense,
porque a depender da COMPESA ou da Adutora do Catimbau, pelo menos, ninguém
está recebendo uma gota desse precioso líquido não senhor, a não ser, todo
final de mês, a conta para ser paga, agora não sei a que pretexto, se não
existe fornecimento de água nos canos da COMPESA, então como pagar pelo que não
se é servido, hem minha gente? – A gente só pode pagar pelo que consome, agora
pelo que não, nunca vi em minha vida. O que não houve em Buíque, foi falta de
criatividade, porque se houvesse, a gente teria, não por causa de minha pessoa,
que não tenho o menor interesse em carnavais há um certo tempo, mas sempre
existem uma maioria de gente de minha faixa etária e da juventude, que quer ver
a folia rolar, mesmo nesse modelo atual, se bem que, se imaginação houvesse,
poderia se mesclar o passado com o presente e se promover um grande evento
carnavalesco, sem a necessidade de se gastar mais de um milhão de reais dos
combalidos cofres públicos.
Mas como muitas cidades estão desistindo
de seus carnavais, menos as tradicionais, a exemplo de Pesqueira, entre outras,
acredito que o carnaval de Buíque deveria ser realizado, não de última hora, à
toque de caixa, mas sim, junto com o povo, se houvesse em nossa terra, a
mistura de povo com o poder público, porque deste, o povo vive órfão há muito
tempo e mesmo se mudando as pessoas, ainda assim, continua do mesmo jeito, nada
na verdade mudou, apenas as pessoas, mas os hábitos políticos nocivos,
maléficos e prejudiciais à nossa população, continuam de vento em popa e, para
isso, não existe rigorismo de finanças públicas, porque para à corrupção
desbragada não existe tempo ruim, tampouco limites, esta é a realidade da qual
todos sabem que existe, mas muitos permanecem silentes, como se nada tivesse
acontecendo e como se tudo estivesse sob um reluzente Céu de Brigadeiro. Alguns
até chegaram a ensaiar algumas críticas, mas de uma hora para outra, emudeceram
como que misteriosamente. Ninguém sabe se houve algum puxão de orelha,
conveniências familiares para não deixar de usufruir das benesses públicas,
como vem acontecendo há vários anos, ou se alguma outra razão desconhecida
houve. Só sei que alguns dos que começaram a botar a boca no trombone, de
repente, não mais que de repente, se calaram de vez, como um mar em calmaria,
quando na verdade, todo mundo sabe, que o mar de Buíque, se nunca esteve para
peixe, agora é que não está mesmo de jeito nenhum. Que busquem a desculpa que
quiserem para a não realização de mais um carnaval de Buíque, afinal de contas,
o nosso povo é cordeiro, passivo e obediente, senão conivente, com toda sorte
de coisa que lhes jogam, ou será que um dia esse mesmo povo pode acordar de
vez, hem minha gente? – Um certo político sempre costumava alardear em
palanques, frases de efeito, com seu vozeirão, de ACORDA MEU BUÍQUE! – Então,
minha gente, por que ninguém quer ACORDAR DE VEZ, hem? – É o povo que é
letárgico mesmo ou é o som do vozeirão, que não merece credibilidade alguma?
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