CEM ANOS DE
SOLIDÃO
Sempre quis ler o livro do
grande escritor espanhol, Gabriel Garcia Márquez. A curiosidade me prende ao
título, Cem Anos de Solidão. Fico a me perguntar, sem tocar no interior teor do
enredo e da narrativa, como se imaginar poder se passar por todo esse tempo de
solidão! – Sei que a história é de uma linhagem familiar, numa cidadezinha
espanhola, chamada Macondo, mas não passo daí, mas tenho curiosidade de ler
essa obra universal desse grande escritor de língua espanhola.
Imaginando nesses cem anos de solidão, fico por vezes a me
perguntar, será que não seria um determinado período na vida de alguém, que
passa a se sentir só, abandonado e por isso mesmo, achando que o tempo, por
mínimo que seja, mas por se encontrar na solidão infinda, se torna este em cem
anos de solidão! – Bem, talvez sim, talvez não, mas isso tem muito a ver com
muitas pessoas, que passam parte de suas vidas, envoltas por um período, ou até
mesmo por toda vida, por uma profunda solidão e infinda solidão interior.
Fazendo ilações no tempo, por alguns momentos, fico em minhas
viagens imaginárias, sem ninguém a me acompanhar e indago: será que não sou eu
mesmo que estou passando por esses cem anos de solidão? – Daí, olhe em minha
volta, nos meus livros acumulados, no meu computador, chegou ainda a reparar em
minha antiga máquina de datilografia em que escrevi o meu primeiro livro e
chego às vezes a concluir, que realmente estou vivendo esses cem anos de
solidão em minha vida. Penso até que isso é normal, porque meu pai, veio a
falecer também isoladamente, sem que com ele mais estivesse nenhum dos filhos
morando com ele. Circunstâncias da vida? – Talvez! – Mas foi assim que meu pai
veio a falecer, apesar dos esforços que ainda tivemos ao levá-lo para o
Hospital Português, onde por treze dias ainda conseguiu agonizar numa UTI até
vir a fechar os olhos para sempre. Não digo que o abandonamos, isso não, mas a
partir do momento de cada um buscou tomar o seu rumo de vida, não que tenhamos
esquecidos dele, mas meu pai, passou aos poucos a ficar sozinho, como eu estou
me sentindo.
Meu pensamento, ao divagar por muitas passagens de minha
vida, fica a fazer um comparativo entre meu pai e a mim mesmo e indago: será
que serei a repetição de meu pai? – Não que ele tenha sido abandonado, mas à
medida que cada filho vai adquirindo as suas próprias responsabilidades,
formando famílias diferenciadas, o afastamento regular, fatalmente acontece,
não propriamente que se deixe de se ter a mente voltada para o seu pai, como
nunca ocorreu com a gente, mas a natureza da vida é por demais cruel quando a
gente cria os filhos e aos poucos a gente vai percebendo que vamos terminando a
ficar a viver nesses cem anos de solidão, isolados, numa casa vazia, como se
tudo aos poucos esteja terminando antes do tempo, mas que parece tudo ser
interminável.
É assim que imagino quando faço ilações sobre o livro de
Gabriel Garcia Márquez, em seu livro, Cem Anos de Solidão. Imagino ser somente
um ano, que de tanto ser dolorosa à solidão, veio a se tornar em cem anos, é
assim que assimilo o título desse livro universal da criatividade com base na
vida real, desse exímio escritor espanhol. Na verdade, num dos livros dele que
li, que praticamente ele reflete a própria biografia de forma indireta, que foi
um dos mais recentes trabalhos deles, Memórias de Minhas Putas Tristes, em que
praticamente ele fala de si mesmo, já em avançada idade, mas ainda sempre em
busca de um rabo de saia, vindo a se apaixonar por uma jovem de tenra idade,
embora já beirando à casa de seus noventa anos de idade. Achei o livro muito
interessante, porque sozinho, isolado do mundo, mesmo em idade elevada, ainda
encontrou tempo para se apaixonar por uma linda jovem, mesmo que já não mais tivesse
o vigor da vida de sua própria juventude, como é comum ocorrer em todos nós
seres humanos.
Por isso mesmo, é que por vezes, me imagino, que talvez
esteja nessa fase de viver os meus cem anos de solidão, por imposição temporal
das intempéries da vida. Não sei se ainda terei mais tempo para amar, mas
certamente, ainda buscarei tempo para isso, mesmo vivendo os meus próprios cem
anos de solidão.
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