QUEM REALMENTE SOU

Minha foto
BUÍQUE, NORDESTE/PERNAMBUCO, Brazil
A VERDADE SEMPRE FOI UMA CONSTANTE EM MINHA VIDA.

quinta-feira, 23 de abril de 2015

BUÍQUE TAMBÉM FOI UMA TERRA EM QUE NUMA ÉPOCA, TAMBÉM EXISTIRAM OS PAPAS-FIGOS, QUE ERAM COMEDORES DE FÍGADOS DE CRIANCINHAS, SUAS VÍTIMAS PRINCIPAIS. FOI UM TEMPO ASSUSTADOR TER VIVIDO ESSA ÉPOCA.

OS PAPAS-FIGOS DE BUÍQUE


Era um tempo assustador, mas segundo as pessoas, os papas-figos de Buíque, existiam de verdade e de vez em quando, sumia uma criancinha ou aparecia um corpo sem o fígado e o comentário geral, era o de que o pobre rebento houvera sido vítima do papa-figo, que tinha a mania de comer fígado de criancinhas. História um tanto esdrúxula, mas nos meus tenros anos de idade, acreditava piamente na existência desse monstro comedor de fígados de criancinhas e isso me fazia viver extremamente assustado. Para todos os lugares que me dirigia, sempre ficava atento para que um monstro desses não aparecesse para comer o meu fígado.
        O papa-figo era um tipo de pessoa já de meia-idade, meio corpulento, tinha orelhas grandes, olhar fixo e avermelhado, de meter medo com o seu rosto horripilante, em qualquer criancinha boba. Não tinha criança que não se assustasse com um monstrengo desses descritos pelos pais e pelas pessoas mais velhas. Quando desaparecia uma criança, a conversa não era outra: foi o papa-figo que pegou mais uma criança e comeu o seu fígado. O monstro tinha o vício de comer fígado de criancinhas, principalmente as más e desobedientes aos pais. Andar pela rústica cidade naqueles tempos, lá por volta da década de sessenta, era assustador e de meter medo em qualquer criança, principalmente as que vinham da zona rural, como eu mesmo. Morria de medo de papas-figos, monstros horrendos e comedores de fígados de indefesas criancinhas.
        A forma descrita como eles aliciavam às crianças, era de atraí-las com alguns confeitos, pirulitos, pipocas e algumas quinquilharias que tanto à meninada ainda hoje adora. Eles sempre andavam com um grande saco para prendere as crianças e carregá-las até o local onde viriam a sacrificá-las e matá-las impiedosamente. Depois disso, as levavam para algum esconderijo ou matagal qualquer ou para suas próprias casas, que geralmente ficavam afastadas da cidade e, ainda vivas, elas eram amarradas e, com uma faca-peixeira afiadíssima, cortavam os corpos da presa no local onde fica localizado o fígado, na parte do abdômen do corpo humano e de imediato, ainda com o sangue derramando, comiam, ingeriam como quem deglute um saboroso prato, o fígado daquela pobre e indefesa criancinha, que permanecia se debatendo até vir a morrer. Era uma forma cruel de matar uma criança, que ao ter ainda viva, o seu fígado arrancado, era digerido de imediato pelo papa-figo. Segundo se comentava, era para que essas pessoas de orelhas grandes, tivessem uma audição mais bem aguçada, por isso, de suas orelhas de abano e também, para lhes prolongar à vida, porque o fígado das crianças que se tornavam suas presas, tinha justamente esse poder, segundo o que o povo menos esclarecido alardeava pelos quatro cantos da cidade.
        Certa feita, ainda estudante das primeiras letras, qual não foi o medo, o susto horripilante que passei, quando em plena luz do dia, um desses indivíduos, que alguém já o tinha me apontado como sendo um papa-figo, ao se deparar comigo em pleno centro da cidade, me olhou, fez um gesto de se dirigir a mim com um olhar e cara horrendas, que não deu noutra, corri até os pés tocarem na bunda e de imediato, cheguei a me esconder numa casa não sei de quem, na avenida coronel Antonio Cavalcanti, morrendo de medo, com o coração batendo a ponto de sair pela boca e comecei a chorar e o papa-figo, chegou mesmo a se aproximar de mim, não me pegando, porque alguém da casa onde adentrei sem pedir licença, me deu abrigo e proteção. Depois de certo tempo, vi que o papa-figo tinha ido embora. A pessoa me deu um copo de água para atenuar o susto e eu fui para casa, com meu fardamento escolar formado por uma calça curta, um suspensório, uma camisa de tecido chinfrim e corri até chegar em minha casa, com um medo danado, de arrepiar. Depois disso, sempre tive cuidado para não mais me dar de cara com um monstrengo desses, o famigerado e abominável papa-figo.
        Depois de muito tempo foi que vim a saber, que essa história de papa-figo, embora alguns acreditassem que eles existiram de verdade em Buíque, era mais para assustar as crianças, a título de uma brincadeira de mau-gosto de gente grande que gostava de fazer pilherias assustadoras de pobres e indefesas criancinhas e, aproveitando-se dessa deixa, os pais para colocar mais freios em seus filhos, diziam que realmente os papas-figos existiam de verdade, principalmente para comer os fígados de crianças desobedientes, daí a monstruosa e amedrontadora imagem tenebrosa, criada na mentalidade infantil, do comedor de fígados de criancinhas, os papas-figos, que na verdade, nunca saíram de minha mente de infância. Na verdade, esse papa-figo que quis me pegar, me fez um susto dos diabos. Difícil de esquecer um susto assim quando a gente é criança, mesmo já em elevada idade. Será que os papas-figos de hoje são iguais os de minha infância?

NOTA: Mais um conto do meu inconsciente coletivo, que ficou incrustado em minha mente, desde à época de criança, sendo um misto de realidade, outro de ficção.

Nenhum comentário: