UM LOBISOMEM
EM BUÍQUE
Houvera chegado do Sítio
Cigano e passara a morar na cidade, para estudar e aprender as primeiras
letras, fazia pouco tempo. Nessa época, contava com meus oito para nove anos de
idade, não lembro bem. Era final da década de cinquenta. Num primeiro momento,
viemos a morar numa casa em frente à Cadeia Pública de Buíque, hoje Carrossel.
Depois moramos noutras rústicas casas na Rua Amélia Cavalcanti, depois outra em
que hoje é mais ou menos a casa de Deca, pai de meu amigo Luis Cláudio e, por
último, na atual casa onde hoje fixo residência.
Moleque novo, sem saber muito da vida. Matutinho do sítio,
recolhido à minha insignificância, não era de falar muito, nem mesmo com os
colegas, mesmo assim, se alguém pisasse no meu calo, não era levar desaforo
para casa, dava o troco na hora, porque meus pais sempre me diziam, para não
apanhar de ninguém e isso eu buscava cumprir à risca, porque apanhar, mesmo
criança, era uma desmoralização. Na verdade, era assim mesmo, mas na realiadade,
fomos bem educados, mesmo com as ferramentas da época, mas que ninguém veio a
se tornar, eu e meus irmãos e irmãs, em pessoas más para ou de que, viemos a sair
fora dos trilhos para à sociedade.
Buíque da época se limitava àquela cidadela de corpinho
aleijado, centrada somente no seu centro, rodeada por árvores frutíferas,
alguma vegetação mais rala, desde o Alto da Alegria, à Vila da Cruz, de São
José e o local do Posto de Dedinho, onde moro. Existiam muitas áreas cercadas
por um vegetal chamado de aveloz, que era uma planta tóxica, que cortada
expelia um líquido branco que se fazia visgo para pegar passarinho, às margens
de açudes e de barreiros. Era realmente mais vegetação do que residências. A
zona rural também não era muito povoada na época. A população nem de perto se
compara com a de hoje e os meios de transportes eram cavalos, jumentos, burros
e, daqui para outras cidades, a principal, Rio Branco (Arcoverde), era através
das famosas marionetes ou nos ônibus de Seu Zuquinha ou de Armando Cursino.
Outros meios de transportes a gente não podia contar. Era uma época telúrica,
que nem luz elétrica tinha na cidade, a não ser a de um posto em que existia um
motor que gerava energia para iluminar de seis da noite até por volta das nove
horas, na avenida Agamenon Magalhães (atual Jonas Camêlo), com uma luminosidade
fraquíssima, algumas luzes colocadas a dedo no centro da cidade. Fora isso era
um breu total de escuridão.
Foi nesse mundo tenebroso e de meter medo, que surgiu na
cidade a conversa de que estava saindo um lobisomem, que era metade homem,
metade animal e que tinha pisadas de lobos, o que deixou à cidade em polvorosa,
a ponto de ninguém sair às ruas com medo de a certas horas da noite, ser
atacado pelo perigoso lobisomem, que se pego pelo bicho do outro mundo,
dificilmente tinha escapatória. No outro dia, nos vilarejos, a conversa que
rolava, chegando ao centro da cidade, era de que, a Lua tinha sido cheia e de
que o lobisomem tinha saído e feito mais uma vítima. Bastava olhar e seguir
pistas, que se encontrava as pegadas do monstro, que eram semelhantes as de um
lobo, bem grandes, parecidas até com as de um leão ou tigre. Muitos até
imaginavam se é que tinha esses tipos de animais à solta em Buíque, mas essa
alternativa era de pronto descartada. Mas o assunto não sai do inconsciente
coletivo do povo e, vez por outra, voltava a se falar em mais um ataque do
lobisomem, que na maioria das vezes, se centrava mais, no Alto da Alegria,
entre outras localidades e até mesmo, no centro, coisa que deixava as forças
públicas, guarda municipal, inspetores de quarteirões e as forças policiais do
Estado, em polvorosa e atentos, para tentar pegar e prender esse bicho
estranho, que era metade gente e metade lobo, para acalmar à população que
estava amedrontada e com medo de ser atacada pelo lobisomem. Um detalhe
estranho é que esse animal só atacava as mulheres. Pelo visto, o bicho não
gostava de homem não!
Depois de muitas conversas de ataques inexplicáveis,
finalmente se veio a descobrir, que essa tal de lobisomem não passava mesmo, de
um sujeito meio vivo, metido a pegar mulheres casadas e botar ponta nos homens
casados e que, para saciar os seus desejos e a sua fama, colocava uns quengos
de coco adaptando-os amarrados aos sapatos e, quando de suas investidas, fazia
com que as suas pegadas parecessem com as de um lobisomem, daí saíram os boatos
entre à população, que de repente se espalhou por toda à cidade, deixando-a com
um medo danado, mas que esse lobisomem na verdade, não passava de um comilão de
mulheres casadas na época, que a pretexto de se justificar perante seus maridos,
se diziam ter sido vítimas desse bicho que só aparecia em época de Lua cheia,
tinha metade de corpo de homem e a outra, de lobo e que, as que eram atacadas,
ficaram abaladas psicologicamente, de mentirinha, para não dar bandeira aos
maridos enganados. Foi assim que se espalhou por toda a cidade, essa história
do Lobisomem de Buíque, que só gostava de atacar mulheres casadas. O estranho é
que depois se veio a descobrir quem realmente era o sujeito, mas que até hoje
ninguém sabe ao certo quem era o nosso lobisomem e assim, se um dia você
perceber algum rastro parecido com o de um lobo nas proximidades de sua porta,
todo cuidado, porque certamente o lobisomem de Buíque, voltou renascido das
cinzas a atacar novamente, se bem que, no mundo de hoje em dia, com ou sem
lobisomem, o que existe de corno por aí, não está no gibi e ninguém mais tem
medo desse bicho meio lobo e meio homem, pois ser corno pelo visto, se tornou
mais um modismo do mundo moderno.
NOTA: - Esse conto, parte é baseado em verdade, outra, fruto de minha criatividade, mas que esse fato se passou em Buíque, isso é a mais pura verdade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário