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BUÍQUE, NORDESTE/PERNAMBUCO, Brazil
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quarta-feira, 29 de abril de 2015

HOJE A PUBLICAÇÃO NO BLOG, É DE UM CONTO DE ASSOMBRAÇÃO NO CEMITÉRIO DE BUÍQUE. UMA HISTÓRIA INTERESSANTE E DE INSTIGAR O LEITOR A CADA PALAVRA DE LEITURA.

ASSOMBRAÇÃO DO CEMITÉRIO DE BUÍQUE


      Hoje até praça de saudade, com calçadas pintadas de coloração amarelada, o cemitério tem, mas noutros tempos, lá por volta da década de sessenta, nada disso existia. Até mesmo a atual murada em volta da chamada casa dos mortos, do sono eterno e de última morada de Buíque, parte era cercada pelo vegetal venenoso conhecido como aveloz. Era isso mesmo. Nada de muro de alvenaria como é hoje. Túmulos, não existiam muitos, a não ser os mais vultuosos e destacadas, lugar de sono eterno da coronelzada que ia morrendo à época, apesar de ainda existirem alguns ainda vivos, mas que pelo andor da carruagem, não chegariam se brincar, nos anos setenta ou um pouco mais. Era assim a morada dos mortos de Buíque daqueles idos. Agora quanto à pobreza, era enterrada mesmo em covas de sete palmos, com terra fria na cara mesmo.
  Existia um tradicional bebum, que era apelidado de “Zelito de Laloca”, não lembro ao certo o verdadeiro nome dele. Só sei que ele já amanhecia a madrugadinha, tomando suas talagadas, que era um copo americano cheio pela proa de cachaça, e bebia de uma só goelada e não fazia cara feia. Era o seu café da manhã. Não se alimentava praticamente de nada. Costumava tirar o gosto com uma pitomba, um embu, ou mesmo um limão azedo, mas de comida mesmo, nada ingeria. Como toda cidadezinha pequena, sempre tinha as suas figuras folclóricas tradicionais, que geralmente era um bebum, um doido de pedra, um maltrapilho sujo até a medula e uma prostituta de renome e conhecida de todos, porém só era visitada nas caladas da noite, assim mesmo, no maior sigilo do mundo, para ninguém saber que fulano, sicrano ou beltrano, fazia visitas furtivas à famosa prostituta local, que tudo isto existia em nossa rústica Buíque daquele tempo. Mesmo assim, era uma cidade telúrica, simples, acolhedora, que vez por outra um metido a valentão matava um, agredia outros, mas também, vez por outra, um ia para a casa de pés juntos, como também era chamado o cemitério. Embora furtivamente se visitasse à casa da prostituta no maior sigilo, Tia Florzinha, como era conhecida, mesmo assim, não deixava de ser conversa de rodinhas, de turminhas fofoqueiras que sempre existiram em determinadas localidades da cidade e, falar da vida alheia era o que mais acontecia, como se fosse nos dias atuais.
    Mas uma das coisas que deixou o povo em polvorosa, era que do cemitério, quem por perto passasse em determinadas horas da noite, poderia ser alvo de um assustador “malassombro”, que em elevadas horas noturnas estava saindo de sua moradia dos mortos, e assombrando o povo, a ponto de meter medo de o coração chegar a sair pela boca. A conversa, já que sempre existiram as fuxicagens às mil em Buíque, logo tomou conta de toda a cidade e o comentário de uma assombração era um prato cheio de quem geralmente não tinha lá muito o que fazer. Era um Deus-nos-acuda dos diachos! - Muitos que se diziam machões, chegavam até mesmo a dizer: Ah!, se eu encontrasse essa alma penada! – Ela ia se ver comigo! – A pegaria de jeito, primeiro pra ver se era uma alma mesmo, depois lhe iria torcer o pescoço, se vivo fosse, e tivesse fazendo assombração ao povo por fazer, somente para assustar à nossa população ordeira, porém sempre preguiçosa, iria acabar com ela, como se mata um bicho bruto. Nada iria sobrar dessa assombração. Tudo conversa fiada, porque esses ditos machões, não passavam de frouxos e amofinados na hora agá! – Buíque daquele tempo, quase não tinha o que fazer, porque era praticamente também, um cemitério em termos de vazio e mansidão e, quando caia à noite, aí sim, era que o vazio se tornava em breu mesmo, pela falta de gente nas ruas da cidade e pelo domínio da escuridão, em face da pouca iluminação existente. Se a noite em si, já metia medo no povo pela escuridão infinda, imagine com uma assombração à solta, hem!
   Depois de tantos sustos que muita gente passou, muitos chororôs, história de pessoas que até foram socorridas para o Posto de Saúde, único existente na cidade, que só tinha mesmo enfermeiros, isso quando tinha ou então se procurava um pessoal que trabalhava para um setor federal que se ocupava de combate à doenças infecto-contagiosas aqui, para atender as pessoas do município de Buíque, chegavam a se acalmar, mas o trauma por ter visto assombração tão assustadora, não deixava de existir como consequência traumática no inconsciente de quem chegou a presenciar essa tenebrosa e assustadora assombração do cemitério de Buíque.
    Isso durou muito tempo. Ninguém sabe ao certo, mas foi coisa de mais de ano que esse medo dominou muita gente que morava na cidade de Buíque. Depois de muito susto, muita assombração, foi que veio a se descobrir que a assombração era na realidade, o nosso tradicional “bebum”, Zezito de Laloca, que depois de tomar todas, na boquinha da noite, com um velho capote envolto em seu corpo, todas às noites ia dormir no cemitério, em um amparo próximo da igrejinha onde estão sepultados os restos mortais do Padre João Ignácio de Albuquerque e, quando chegava por volta de aproximadamente meia-noite, ele saia do cemitério, com o velho capote, presente de alguém piedoso, envolto em suas costas, para amparar do frio de congelar, que era muito comum naquela época em Buíque, à busca de tomar mais alguns goles de cachaça. Como não mais encontrava nenhum bar, bodega ou mercearia aberta, de novo voltava ao seu “luxuoso” dormitório improvisado no cemitério local. Depois de se desvendar esse mistério, pronto!, as assombrações de Buíque se acabaram. Zezito de Laloca, às vezes, por algum tempo, permanecia em estado de sobriedade, ficava, como se diz, um verdadeiro “gentleman”, “lord”, mas quando entrava na cachaça, ia pesado na danada e não a controlando, terminava como um farrapo humano ou como uma assombração do cemitério de Buíque. Morreu assim de repente. Não sei se de tanta cana ingerida, ou de um fulminante infarto, como sempre acontece, mas com certeza, a assombração de Zezito de Laloca, ainda hoje está por aí, depois da meia-noite, a vaguear e assombrar nas proximidades do cemitério de Buíque. Quem por lá passar depois desse horário, todo cuidado é pouco, porque poderá se surpreender com a velha assombração de nosso tradicional “bebum” mais tradicional e folclórico, que foi , Zezito de Laloca, principalmente se for numa sexta-feira treze, certo minha gente!.

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