A MENINA E AS VERRUGAS
Certa feita, andando pela
zona rural de Buíque, à cabala de votos para minha própria candidatura e de
meus candidatos à época, cheguei numa determinada localidade da zona rural, não
muito longe da cidade, porém numa localização meio desértica e esquecida e, ao
chegar numa casinha de barro, sustentada por toras de estacas, construída com
camadas de barro e coberta com palha de coqueiro, vi de perto, que a miséria de
fato ali existia. E adentrando dentro da rudimentar casinha, que era uma entre
tantas esquecidas pelas políticas públicas da época, como ainda hoje acontece,
e aí me deparei com uma cena ainda mais estarrecedora. Uma jovem com menos de
vinte anos de idade, acredito, com o corpo dos pés à cabeça, coberto de
verrugas e isso, me deixou impressionado até os dias atuais, quando lembro da
condição daquela jovem esquecida do mundo e da medicina. Evidente que não tinha
cura àquele mal, pelo qual a jovem fora, ainda na flor da idade, acometida.
Indaguei sem à presença dela à seus familiares, que pobres e sem ter
conhecimento da gravidade daquele fato, o que eles tinham feito, com o que
disseram que nada, porque já tinham andado por tudo que era médico e não
existia cura diante da dimensão de alcance daquele mal. Todo o corpo da moça
estava coberto por uma crosta interminável de verrugas.
Fiquei realmente deveras perturbado com a situação da jovem. Indagava
dentro de mim mesmo: como ela viver numa situação daquelas? – Como casar,
procriar, ter uma prole como qualquer pessoa normal, com o seu corpo coberto
por verrugas, hem? – Era realmente impressionante a situação da pobre jovem.
Ainda cheguei a expor à situação dela a alguns amigos médicos, mas pelo que me
disseram, em face do avanço da doença e por se tratar de um vírus
multiplicador, a ponto de terminar por matar a pessoa, não vi como vislumbrar
uma alternativa de cura para àquela pobre jovem esquecida do mundo. A questão é
o fato de que, as verrugas já se encontravam num estágio tão elevado, que não
tinha mais jeito algum a ser dado pela medicina, que já se formava amontoada crosta
de verrugas, inclusive na parte facial, que já tinha tomado todo o seu rosto. O
domínio houvera chegado a tal ponto, que certamente, até os órgãos de
necessidades fisiológicas já tinham sido afetados pela quantidade de verrugas
que existiam em seu corpo. Era realmente impressionante.
Ainda hoje me lembro daquela repugnante cena da moça ali num
cantinho da casa, de chão de puro barro, um potinho de água de beber em um dos
cantos, uma mesinha com algumas poucas cadeiras, e alguns apetrechos de
cozinhar dependurados pela extensão do teto do casebre. Era realmente de doer
ao se deparar com tanta pobreza, abandono e miséria. Coisa que a gente vê na
vida, mas impotente diante de fatores circunstâncias, fica inerte sem muito
poder fazer, até por que, sem posses suficientes, influência política
praticamente não tinha nenhuma, porque sempre houvera militado na oposição, por
isso mesmo, até pelo elevado estágio em que se encontrava à doença, pouca coisa
ou nada, podia se fazer em favor daquela pobre jovem, o que me condoia por
dentro de minha própria alma. Mas que fazer diante de uma situação em que a
gente se sente impotente, hem? – Só elevar às mãos para o Céu, para quem é crédulo,
e pedir à Deus, pois não havia outra solução de cura no mundo da ciência para o
elevado estágio em que a doença havia dominado o corpo da moiçola.
Não tive mais notícia dessa moça. Não sei se está ainda vida,
ou se já veio à óbito, mas pelas circunstância em que a encontrei, é mais provável
que não seja mais uma vivente no mundo dos vivos. Certo tempo depois, nos
caminhares de minha ebriedade de vida, cheguei a me deparar, num desses botecos
quaisquer da vida, aqui mesmo em Buíque, com um senhor, se não me engano, esse
ainda é vivo, e percebi que as suas mãos, seu rosto, seu nariz, era dominado
por crostas de verrugas e estava ali, normalmente, como quem nada sofria,
tomando umas talagadas sem sequer ligar para à vida, ou sei lá, tomando para esquecer
de seu infortúnio por ser detentor de um mal, que da mesma forma que a jovem
que algum tempo tinha me deparado, não mais ligava nem para à doença em estado
avançado, tampouco para sua vida, por isso mesmo, tinha que esquecer de tudo e
viver normalmente como se seu corpo não tivesse a aparência de um monstrengo
desses de filmes de ficção científica em que aprecem seres extraterrestres de
todas as formas. Era assim que parecia esse senhor que cheguei a ver alguns
anos passados.
É intensamente triste quando a gente se depara com
determinadas situações na vida da gente, que não sabemos como se encaminhar do
ponto de vista científico da medicina, uma solução. Certamente se o sujeito que
é portador de alguma deficiência dessa natureza e ao perceber que a cada dia
que passa a coisa vai se agravando e procurar meios de cura em tempo hábil,
acredito que poderá haver algum controle, caso contrário, ao deixar pra lá, não
ligar para nada, chega a um ponto em que não mais se terá solução alguma no
meio do mundo científico e da medicina, porque o mal chega a um estágio tal de
gravidade, que não há mais como se conter, se extirpar ou dar uma cura através
dos meios científicos, a não uma solução miraculosa, o que dificilmente
acontece.
O que na mente me restou, é o fato de que, essas cenas me chocaram
e me deixaram marcas de perplexidade até os dias atuais, e fico a me indagar:
será que no estágio de evolução científica em todos os campos a que chegamos,
ainda não se conseguir chegar a uma solução para à cura desse mal, quando já em
elevado estágio de proliferação? – Pelo visto, apesar de todos os avanços
científicos, ainda não se chegou a tanto, a exemplo de muitas doenças
degenerativas, apesar de se ter avançado em tantas outras, porém algumas
infrutíferas, que não tem quem dê jeito, mesmo que se procure os centros mais
avançados de estudos em qualquer parte do mundo, mesmo assim, quando acometido
por algum mal que a ciência ainda não tem domínio, não existe salvação e, quando
se há uma cura, se atribui a um milagre, que dificilmente se saberá explicar, a
não ser, justificar a responsabilizar o poder divino, o mistério insondável que
existe neste mundo de tantas coisas que apesar de tantos avanços, pouco
sabemos. Só sabemos mesmo, que em suma, de nada sabemos de verdade.
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